INÍCIO DE ALEGRIA Pisani começa a comemorar o gol que decidiu o jogo 5 (Karl DeBlaker/AP - 14/06/2006)
por Michael Farber
O final da tempestade tropical Alberto assolou Raleigh ontem, inundando áreas mais baixas, bloqueando acessos ao estádio, cri-ando o caos e dando à região, tão desesperada por atenção, algum destaque no Weather Channel e até na NBC. Se a inundação da manhã de ontem tivesse sido mais grave, o Carolina Hurricanes poderia ter chegado para a patinação matinal de canoa.
Só que, logo quando as coisas pareciam mais pretas — e estar a um jogo de perder as finais da Copa Stanley é algo bem preto —, o Edmonton Oilers achou uma brecha e decidiu mudar o nome da tempestade tropical Alberto para Furacão Alberta.
"Então", disse o defensor Chris Pronger, dos Oilers, que jogou 33:46 e teve um mais/menos de +3, "foi legal ver que estávamos ganhando um pouco de simpatia por parte do clima."
À 0h07 de Brasília, a tempestade foi reclassificada para depressão sofrida por quase 19 mil pessoas preparadas para festejar em um estádio de hóquei na Carolina do Norte.
Você não tem de ser um homem do tempo para saber a direção do vento depois desse desastre natural particular em Raleigh. Para os Hurricanes, perder o jogo 5 em casa, por 4-3, na prorrogação, significa mais um vôo de cinco horas, mais um jogo, ou dois, contra um Edmonton Oilers que teima em se manter à tona.
Foi o jeito menos provável de encerrar o jogo, contudo. Nunca houvera um gol da vitória em desvantagem numérica em prorrogações de finais da Copa Stanley, talvez porque nunca houve uma penalidade apitada na prorrogação antes (brincadeira... quer dizer, mais ou menos). Mas não deixa de ser curioso que tenha levado menos de quatro minutos na primei-ra prorrogação das finais da "Nova NHL" para um acontecer. O gol da vitória foi marcado por Fernando Pisani, o filho favorito de Edmonton mesmo antes de ele mandar uma bomba por sobre a luva do goleiro do Carolina, Cam Ward, aos 3:31 da prorrogação, livrando a cara do defensor Steve Staios — ele tinha sido penalizado por passar o taco — e da cidade inteira. Talvez do Canadá inteiro. Ninguém dá nada de graça nas finais da Copa Stanley, mas é possível que Pisani nunca mais tenha de pagar o jantar no bairro da Pequena Itália, em Edmonton, pelo resto de sua vida. Graças à jogada, um truque de prestidigitação perpetrado sobre a estimável dupla formada por Eric Staal e Cory Stillman, dois atacantes que têm sido os mais perigosos dos Hurricanes no ataque.
(Como muitos times, os Hurricanes usam um atacante na linha azul duran-te a vantagem numérica. O único defensor que o Carolina tinha no gelo era Frantisek Kaberle, e ele não estava nem perto.)
O problema é que Staal e Cory Stillman estavam brincando de passa-anel com o disco: Staal para Stillman e de volta para Staal perto da linha azul, passes tão sem vida que tinham até data de validade. Pisani, que tinha desviado para o gol uma bomba de Pronger da linha azul com 16 segun-dos de jogo, anunciando que os Oilers realmente estavam dispostos a jogar a sério, lançou-se sobre Staal, que usa um dos tacos mais longos da NHL, e conseguiu desviar um passe. O disco acabou na calça de Pisani — certamente um corpo estranho —, de onde ele conseguiu tirar, patinando com tempo o suficiente para conseguir um bom ângulo contra Ward, que estava tentando chamar o chute para o lado do taco. Então, whoosh.
Ele não cometeu nenhum erro [ontem], só correu para o abraço", obser-vou o técnico dos Oilers, Craig MacTavish, quando comentava sobre o gol de Pisani. "Ele tem jogado incrivelmente bem nestes playoffs [Pisani está empatado com Rod Brind'Amour, dos Hurricanes, na artilharia dos playoffs, com 12 gols]. Era esse tipo de gol na hora certa que faltou nos quatro primeiros jogos da série. Ele está em um patamar em que esperamos que ele marque a qualquer hora, mas, antes da última fase ou da anterior, [estávamos conseguindo gols] de fontes inesperadas, e [ultimamente] essas fontes não estavam aparecendo. E quando sua vantagem numérica não está funcionando" — quando Ales Hemsky marcou na primeira oportunidade dos Oilers com um homem a mais no jogo, quebrou uma série de 1-em-25 — "isso é uma combinação difícil de se superar. [Ontem] conseguimos um gol em vantagem numérica, conseguimos gols de várias fontes, e é por isso que ganhamos o jogo."
É calro. Por isso e pelo Furacão Alberta.
Aparentemente, "Oilers" e água se misturam, sim.
Michael Farber é jornalista da revista Sports Illustrated. O artigo foi traduzido por Alexandre Giesbrecht.