Surpresa! O New York Rangers não está mal, não está decepcionando. Mais ainda: chegou a ser um dos principais times — na prática — da Conferência Leste nesse começo (a semana foi ruim para o time, mas essa já é outra história). E Jaromir Jagr parece ter voltado a ser o que era: o melhor.

Eu não sei se ele será assim até o fim da temporada, mas já posso dizer que esse é o Jagr que eu conheço. Desde que Mario Lemieux se aposentou que há a discussão sobre quem é o melhor jogador de hóquei da atualidade. De 2001 em diante, Jagr parecia adormecido, vendo outros jogadores dominando o recinto que deveria ser somente dele. Agora tudo indica que não mais.

Era intrigante ler a quantidade de desdém com que tratavam o famoso Tcheco Maravilha (créditos ao narrador André José Adler pelo termo em português). "Enganador", "presepeiro", "mercenário", era nessa linha.

O cara simplesmente foi o vencedor do Troféu Art Ross por cinco vezes — sendo quatro delas consecutivas (1998-2001) — e ainda uma vez do Troféu Hart (1998). E não estamos falando de uma época vazia de talentos, pelo contrário. Foi o único jogador a se meter na disputa pelo Art Ross entre dois dos maiores da história, Mario Lemieux e Wayne Gretzky, e isso em 1995. Tudo isso não é mero espasmo ou boa fase ("prolongada"), é produto de alguém que tem o dom. De alguém que tem vaga cativa entre os grandes do hóquei.

Goleador nato, Jagr lidera a NHL nesse começo de temporada em gols, pontos e gols em Vantagem numérica (VN) na temporada. Já tem impressionantes oito gols em VN!

A explosão do tcheco tem a ver com uma mexida que o técnico dos Rangers, Tom Renney, promoveu nas linhas do time. Ele retirou o novato Petr Prucha da linha de Jagr e trouxe seu conterrâneo Martin Straka. Caiu como uma luva para Jagr que, com incomum sinceridade, deu a entender que prefere não jogar ao lado de novatos: "Não é que seja fácil jogar comigo. Eu não quero o disco o tempo todo, mas quase sempre, e [Straka] é o cara que vai passá-lo pra mim e se movimentar para abrir espaços. Quando você joga com novos jogadores, você tem que explicar tudo e isso leva tempo."

A mexida começou a ter efeito na partida contra os Panthers, na segunda-feira retrasada. Lá pelo final do segundo período, os Rangers venciam o jogo por 1-0 e conseguiram uma VN de 5-contra-3. Lá foi Jagr e, pimba, gol dele. Meio minuto depois, outra penalidade dos Panthers, outra VN de 5-contra-3. Não demorou e Jagr marcou novamente. E os Rangers venceram por 4-0.

A linha mortal de VN do time nesse jogo estava sendo composta por cinco atacantes, com Jagr e Straka jogando atrás e Martin Rucinsky, Michael Nylander e Steve Rucchin na frente. Isso mesmo, Jaromir jogando atrás, atirando de longe.

Elétrico, Jagr não parou por aí. Marcou um gol no jogo seguinte, no clássico em que os Rangers perderam para o NY Islanders. No dia seguinte, jogo de volta contra os mesmos Isles, o tcheco marcou seu primeiro hat-trick com a camisa azul. Infernal quando o time está em VN, marcou dois deles nessa situação. Mesmo isso não foi suficiente para o time derrotar os rivais (perderam por 4-5), mas o belo jogo e a bela apresentação do camisa 68 certamente valeram o ingresso.

De todos os jogos disputados até aqui, apenas na derrota por 2-3 contra os Devils, no terceiro jogo da temporada, que Jagr não pontuou. Em todos os demais ele deixou sua marca. A começar pela estréia, quando ajudou os Rangers a derrotar o Philadelphia Flyers por 5-3, marcando dois gols (ambos em VN, pra variar).

Se ele está mortal quando o time tem vantagem numérica, em situação normal ainda há críticas. Especialmente por ele não estar chutando tanto quanto deveria ou poderia. O próprio Straka reconhece isso, mas diz que é simples questão de se buscar mais o gol. Jagr tem apenas dois gols jogando em 5-contra-5.

É certo que o novo formato do jogo, com as novas regras, está fazendo bem a ele — assim como a qualquer jogador mais habilidoso na NHL. Mas também é certo que não é apenas isso, trata-se de um conjunto de fatores, dentre os quais destaco mais dois: os Rangers não têm mais aquele peso nas costas de time-sempre-caro-que-sempre-se-presta-ao-ridículo e alguma coisa reacendeu Jagr, alguma coisa trouxe aquela vontade de volta a ele. Melhor para o hóquei.


Marcelo Constantino torce para um time que existia antigamente no Rio de Janeiro, e que se chamava Flamengo.
DE VOLTA AO TOPO Nesse início de temporada estamos assistindo a Jaromir Jagr de volta ao topo da lista de artilheiros da NHL (Tim Farrell/Corbis - 17/10/2005)
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Página publicada em 27 de outubro de 2005.