Festa da alta cúpula pró-Leafs na redação da TheSlot.com.br. Motivo?
A única das equipes originais que nunca chegou às finais da Copa
Stanley desde o surgimento da TV a cores, venceu o segundo superclássico
do ano, dando o troco da derrota no primeiro jogo. Consequentemente
a ala Habitant da sua revista eletrônica de hóquei está
de luto. Porém, mesmo com as lágrimas da derrota ainda escorrendo
pelo meu rosto e inundando as teclas do meu jurássico computador,
tenho a obrigação de ser imparcial e levar ao nosso fiel leitor,
sempre ávido pela verdade, o que de melhor aconteceu durante a
partida.
Antes de se completar o primeiro minuto, as impressões digitais
de Darcy Tucker já estavam nas bordas do Bell Centre. Cortesia
de Komisarek que, não muito satisfeito, também levou a torcida
ao êxtase ao punir Tie Domi pouco tempo depois. Se o time de vantagem
numérica dos Habs não é hoje tão eficiente quanto o dos Leafs,
pelo menos tem ingredientes para ser um dos melhores da liga brevemente.
Foi dessa forma que o placar foi aberto no período inicial.
E foi um gol com sotaque russo, com Alexander Perezhogin criando
a jogada do primeiro gol de Alexei Kovalev na temporada. Eddie
Belfour, que no período final operou milagres, foi mais do que
vacilante nesse gol. Tentou segurar o disco atrás de sua meta
e, quando se livrou dele, deu de bandeja para que Perezhogin,
de costas, mandasse para Kovalev abrir o placar.
Mas se existe uma coisa a ser evitada hoje em dia na NHL, essa
coisa é cometer penalidades quando se tem pela frente Eric Lindros
e seus comparsas. Quando não evitou, o Montreal pagou o preço.
Na caótica partida contra o Atlanta Thrashers foram sete gols
em 18 oportunidades em vantagem numérica, recorde da franquia.
Contra os Canadiens os números foram menos generosos, mas o aproveitamento
foi ainda melhor: a equipe de Pat Quinn aproveitou a metade de
suas quatro oportunidades com um homem a mais no gelo. Em seis
jogos na temporada foram 15 discos nas redes adversárias nessas
situações favoráveis. Em quantidade, lidera a liga. Em aproveitamento
fica atrás apenas do Minnesota Wild.
Foi utilizando esse artifício que os Leafs marcaram duas vezes
e viraram a partida.
Primeiro com Jason Allison, que aproveitou rebote de Théodore
para empatar. Depois com um personagem odiado em toda a província
de Québec desde que, num ato típico de menino mimado, se recusou
a atuar pelo Québec Nordiques, equipe que o recrutou no início
dos anos 90: Eric Lindros, que ganhou vaias e mais vaias cada
vez que tocou no disco.
Pat Quinn deve estar surpreso ao ver que escalar uma molecada
com sede de mostrar serviço pode trazer benefícios consideráveis
ao time. O central Kyle Wellwood ganhou um bom espaço na equipe
depois que o capitão Sundin foi pra enfermaria e em breve dará
um saudável problema para o treinador quando o sueco voltar. Já
Alexander Steen vem se entendendo muito bem com o também jovem
Matthew Stajan. Da mesma forma que, quando atua ao lado de Lindros
nos times especiais, não deixa o nível cair. E foi com a colaboração
de Wellwood e Steen que Lindros virou a partida a favor dos visitantes.
Mas o Montreal tem mais time e encurralou o Toronto a partir do
gol sofrido. E isso rendeu dividendos logo no início do período
final com o elétrico atacante tcheco Tomas Plekanec. Mike Ribeiro
mostrou um pouco daquele atleta que liderou a equipe em pontos
na última temporada da NHL e serviu o novato Plekanec, que contabilizou
seu primeiro gol na NHL.
Não satisfeitos, os Canadiens foram atrás da vitória e o Toronto
Maple Leafs só foi dar um chute ao gol de Théodore aos 11:45 jogados
no período! Menos de um minuto depois, outro chute dos Leafs e,
para a infelicidade geral da nação quebequense, a desgraça estava
feita e o vilão Lindros mais uma vez comemorava no gelo do Bell
Centre. O lance decisivo surgiu após chute de Steen, que Théodore
mais uma vez deu rebote, e Lindros não desperdiçou a chance.
Os minutos restantes foram de uma pressão assustadora. A dupla
Berg-Belak foi desfeita para alívio da torcida dos Leafs, mas
contagiaram seus novos companheiros com ruindade. Principalmente
o russo Khavanov, que atuou ao lado de Belak. Confiança mesmo
a torcida só tem com a dupla Kaberle e McCabe. E, com boa parte
da defesa ainda frouxa, sobrou para Belfour defender tudo, em
especial quando Andrei Markov entrou na partida, exigindo o máximo
do veterano goleiro, que não decepcionou e garantiu a terceira
vitória consecutiva na temporada.
A citada excelência em vantagem numérica, somada à atual ótima
fase de Eric Lindros e o terceiro período dominante de Eddie Belfour
foram as razões maiores para que mais uma vez a torcida do Montreal
Canadiens saísse frustrada do Bell Centre. Os torcedores tricolores,
que vêem sua equipe com 100% de aproveitamento fora de casa (quatro
vitórias), ainda não viram a equipe vencer em seus domínios. Verdade
seja dita que os Canadiens não jogaram mal em seus dois cortejos
em solo quebequense. Contra os Senators, melhor time da NHL, o
jogo foi equilibrado e decidido em detalhes, e na partida desse
último sábado contra os Leafs, a equipe foi quase sempre melhor
quando tinha o mesmo número de atletas no gelo e deu dez chutes
a mais que os rivais. Não esquecendo também que mais uma vez não
teve o seu goleiro em noite inspirada.
Théodore agora é criticado por uma parcela considerável da torcida
e, se não elevar seu jogo em breve, começará a sentir na pele
o que acontecia com Patrice Brisebois. O goleiro é o que mais
recebe no time e a torcida espera mais do que boas partidas. Théodore
não vem jogando mediocremente para já ser massacrado, mas ninguém
paga mais de US$ 5 milhões a um goleiro para ele ser apenas regular.
É consenso geral em Montreal que se Théodore estivesse no topo
de seu jogo a equipe poderia estar até com um recorde perfeito
de seis vitórias em seis partidas nessa temporada.
O Montreal irá atuar nove de seus próximos 13 jogos em casa e
provavelmente irá reverter essa incômoda situação de não pontuar
no Bell Centre. Já o Toronto, com esse 3-2, se iguala em pontos
aos mesmíssimos Canadiens na vice-liderança da Divisão Nordeste,
e tentará, contra o surpreendente Carolina Hurricanes e sua estrela
emergente Eric Staal, sua quarta vitória consecutiva. Por enquanto
é isso. Agora vou engolir meu orgulho e me dirigir rumo à ala
VIP da TheSlot.com.br onde os "azuis" estão, e tentar alcançar
uma taça de Moët & Chandon e uma porção de salmão grelhado. Até
a próxima.
Eduardo Costa também é fã de Humberto Fernandes e, assim como Fabiano Pereira, não consegue entender como Bernie Nicholls não está no Hall da Fama do hóquei.