Em teoria, deveria ser o lugar onde os grandes jogadores são honrados, reconhecidos como os melhores de todos os tempos em seu esporte. Como escrevi na semana passada, Mark Messier, Ron Francis, Al MacInnis e Scott Stevens certamente farão parte dele quando o tempo de eligibilidade espirar (dois anos). Juntar-se-ão a outras lendas do hóquei, como Wayne Gretzky, Gordie Howe, Jean Beliveau, Ken Dryden e tantos outros. Aliás, uma visita ao Hall sempre é válida.
Mas se vocês se lembrarem de meu artigo da semana passada, falei sobre a probabilidade de um grande jogador como Vincent Damphousse não ser escolhido para o Hall no mesmo ano que eles, exatamente pela qualidade de seus companheiros de aposendoria. Ou mesmo não vir a ser escolhido nunca. Exatamente: muitos grandes jogadores simplesmente não entram no hall. E sem motivos óbvios.
"Mas, Fabiano, os melhores não deveriam ser honrados?"
Claro que sim! Mas nem sempre os jogadores dão sorte de cair em uma turma fraca, ou simplesmente são esquecidos porque seus números não são tão marcantes. Alguns são acusados ainda de apenas fazer parte de linhas mais fortes e por isso pontuar. O que, convenhamos, é pura maldade.
Vou falar sobre alguns apenas, mas tenho certeza que vocês se lembrarão de outros. Quero começar com o ótimo asa direito Dino Ciccarelli. Os fãs de Wings e Bolts certamente se lembrarão dele. Era um jogador extremamente explosivo. Irritava os demais jogadores e ainda marcava gols (muitos), chegando até a ser preso (por agredir outro jogador no gelo com o taco). Terminou sua carreira com 1.200 pontos, e seus 608 gols colocam-no em 13.º na lista, à frente até do monstro Guy Lafleur. Aposentou-se em 1999. Ou seja, já elegível. Mas cadê ele na lista? Como um cara com mais de 600 gols pode estar de fora? Ainda que nunca tenha ganho uma Stanley Cup, é difícil entender sua ausência.
Outro difícil de entender é o esforçado Glenn Anderson, que sempre foi o escudeiro de Mark Messier nos Oilers e na campanha do título dos Rangers em 1994. Seus números não chamam a atenção tanto quanto os de Ciccarelli e, além disso, sempre jogou em grandes linhas, mas o próprio Messier uma vez declarou que, se não fosse o trabalho sujo de Anderson, nunca ele próprio teria produzido tanto quanto produziu. Fora isso, este bom asa direita tem também seis Copas Stanley, como Messier. É possível ignorar alguém assim?
E o que dizer de Brian Bellows? Lembram-se daqueles Canadiens que foram campeões em 1992-93? Um dos famosos times guiados por Patrick Roy nos playoffs? Pois bem, ele era o asa direita de uma linha completada por Kirk Muller e o já citado Damphousse. Tenham certeza de uma coisa: a linha inteira será ignorada no Hall. Bellows sempre foi discreto e, assim como Anderson, um brigador, disputando discos nas bordas, apanhando dos defensores. E isso parece não contar muito, mesmo com seus 1.022 pontos em 1.188 jogos.
É por essas e outras que o animal Dale Hunter (os fãs do hóquei das antigas certamente o conhecem), apesar de seus números absurdos, nunca passará perto do Hall da Fama. Na verdade, Hunter não entrará por sua fama de criminoso (que o digam os joelhos de Jeremy Roenick e Pierre Turgeon). Hunter é o único jogador de toda a história a ter mais de mil pontos (1.020) e 3.000 minutos de penalidade (3.565). O típico jogador que não existe mais na NHL, capaz de pontuar e ainda causar tumulto no gelo. Como diria nosso colunista Eduardo Costa, o Hall só indica patinadores artísticos.
Tudo bem, é de se entender que alguém que não tem uma imagem muito positiva não entre, mas o que dizer de Bernie Nicholls, um central extremamente ofensivo e que ainda sabia ser agressivo, que terminou a carreira com uma média de mais de um ponto por jogo (1.127 jogos, 1.209 pontos)? Talvez as pessoas conheçam-no mais por ter sido um dos jogadores que fizeram parte da famosa troca que trouxe Mark Messier para Nova York. Acho que um jogador deste calibre, ainda que não tenha ganho uma Copa Stanley, merece, sim, um lugar no Hall.
Para fechar, que tal falarmos de Brian Propp? Quem? Propp foi um jogador muito mais conhecido por suas boas atuações nos playoffs, uma espécie de Claude Lemieux, ainda que não tenha erguido a Copa Stanley.
No artigo que escrevi na semana passada, eu disse que Mike Gartner não fazia parte do Hall da Fama. Errado, e assumo que errei. Ele faz parte, sim, só que demorou muito para entrar. Após uma pressão enorme, ficou inevitável que entrasse, ainda que não tivesse levantado a taça. Porém, como argumentar contra 708 gols? Neste caso, entende-se por que ele foi admitido, mas como justificar outras indicações que não chegam perto desse número?
Prefiro parar aqui, pois poderia ainda citar Bobby Smith, Dave Taylor, Steve Larmer, Brent Sutter e tantos outros. Queria mesmo poder entender quais são os critérios, já que mesmo jogadores que não conseguiram ter uma carreira consistente (seja por contusões ou por motivos técnicos, mesmo), como Pat LaFontaine ou Clark Gillies (por essa o Mec me mata), fazem parte.
Por isso, Vincent Damphousse, prepare-se para anos e anos com seu nome em meio a artigos questionando o porquê de você não fazer parte deste tão injusto Hall da Fama do Hóquei.
Fabiano Pereira não gosta de pessoas que usam o Hall da Fama para justificar a boa ou não carreira de um jogador.