Por
Fabiano Pereira
O primeiro nunca teve seus méritos
reconhecidos como deveria, nunca ganhou nenhum troféu individual, mas
foi peça chave em uma conquista da Copa Stanley. O outro chegou cheio
de badalação, "a nova vinda de Wayne Gretzky à Terra", mas nunca conseguiu
nada além de um Troféu Hart.
Adivinharam? Estou falando de dois grandes nomes na história do New
York Rangers. Mike Richter e Eric Lindros.
Chega a ser curioso notar a grande diferença entre estes dois jogadores,
que simbolizam a total mudança de atitude da equipe vencedora da Copa
Stanley de 1994 para a equipe atual. Já
falei daquela conquista, mas vamos rememorar um pouco isso. Aquele
time tinha como suas principais estrelas Mark Messier e Brian Leetch.
Mas, em compensação, tinha diversos jogadores que não tinham medo de
sujar as mãos. Um ótimo Adam Graves na esquerda, batendo o recorde de
gols de um Ranger em uma temporada, com 52, mas sem medo de ir às bordas
ou desferir um tranco. Um Jeff Beukeboom que protegia a defesa a cada
subida ao ataque de Leetch. E poderíamos citar os obreiros Steve Larmer,
Brian Noonan, Stephane Matteau, Craig MacTavish, Kevin Lowe, Sergei
Nemchinov, e por aí vai.
Mike Richter era a síntese desse time. Era um dos primeiros a chegar
nos treinamentos e um dos últimos a sair. Um homem dedicado ao time
e à família. Alguém que, após cada contusão, era tão workaholic
para tentar voltar ao gelo, que surpreendia até seus médicos com a recuperação.
Alguém que sentia perder sua vida, ao surgirem rumores sobre uma possível
troca para o St. Louis Blues, em mais de uma temporada. E aquele homem
que brilhou nos playoffs de 94, especialmente nas finais contra os Canucks.
Foi com uma defesa sua em um pênalti de Pavel Bure, ainda nos Canucks,
que mudou a série em favor dos Rangers.
E, finalmente, após praticamente perder seus dois joelhos e não conseguir
se livrar de sintomas pós-concussão, ele teve sua camisa número 35 aposentada
e elevada ao teto do Madison Square Garden, junto a lendas como Ed Giacomin
e Rod Gilbert. Além dessa honra, de ter sua camisa no ginásio mais famoso
do mundo, ele ainda foi escolhido como o melhor goleiro em toda a história
da franquia.
Bem, por outro lado, Eric Lindros veio à liga com todo o estardalhaço
do mundo. Selecionado pelo Quebec Nordiques (atual Colorado Avalanche),
com a primeira escolha do recrutamento de 1991, ele foi trocado para
o Philadelphia Flyers e para os Rangers. Após decisão judicial, foi
decidido que Lindros iria para os Flyers. Com eles, ele ganhou o Troféu
Hart em 1994-1995 (aquela temporada mais curta) e na temporada de 1996-1997
chegou com seus Flyers às finais contra o Detroit Red Wings, para serem
varridos. Após brigas esdrúxulas entre a direção do Philadelphia e os
pais de Lindros (isso mesmo, os pais), "The Next One" (alusão ao apelido
"The Great One", de Gretzky), ficou toda a temporada 2000-2001 parado,
até que os Rangers o quiseram.
Ah, sim. Existe um adendo importantíssimo na história de Lindros. Durante
seu tempo no Philadelphia, ele sofreu sete concussões diagnosticadas.
Ou seja, foi um investimento de grande risco para os Rangers. Em sua
primeira temporada, jogando numa linha com Theoren Fleury e Mike York,
ele foi bem. Mas não se expôs tanto ao jogo físico quanto era esperado
dele. Jogando no perímetro, os mais malvados dizem que os Rangers haviam
adquirido outro Petr Nedved: jogador grande, mas sem jogo físico. Na
temporada passada, Lindros participou de todos os jogos menos um dos
Rangers. Mas foi um desastre, pois foi a primeira temporada do "Big
E" em que ele fez menos de um ponto por jogo em média.
Nesta temporada, quando parecia que ele estava voltando a ser o Eric
Lindros que batia sem parar e ainda pontuava, veio o golpe de misericórdia:
um tranco limpo de Jason Doig provocou sua oitava concussão. O próprio
apontou porque o tranco acabou sendo tão forte e devastador: a velha
mania de Lindros patinar de cabeça baixa e não ver o adversário se aproximar.
Foi assim contra Scott Stevens nos playoffs de 94-95 e assim vai ser
se ele voltar. Voltará? Provavelmente sim. Mas sempre com limitações
e medo.
Lindros é apenas uma pequena parte da megalomania já citada pelo grande
Marcelo Constantino em um de seus últimos artigos. Ele é, na verdade,
a personalização do que viraram os Rangers após sua última visita aos
playoffs: um time de jogadores estrelas, caros, mas que não fazem o
trabalho sujo e esforçado. Algo, que um Mike Richter jamais deixaria
de fazer.
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Fabiano Pereira é fã tremendo de Mike Richter
e sempre será. Foi um dos que mais discutiu com a comunidade de
hóquei no Brasil sobre a grandiosidade desse goleiro. |
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OUCH A oitava concussão
de Lindros foi emblemática. Cai ele, caem os Rangers junto.
Desde 1997-1998 que os Rangers não vão aos playoffs
(Kathy Willens/AP - 28/01/04) |
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HONRA Em compensação,
os torcedores Rangers podem lembrar de Mike Richter como o melhor
goleiro norte-americano de todos os tempos (Kathy Willens/AP - 04/02/04) |
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