Por
Humberto Fernandes
Nos últimos anos, citar o Calgary Flames numa conversa descontraída
sobre hóquei tem sido motivo certo de risadas. A equipe não
sabe o que são playoffs desde 1996, quando foi varrida pelo Chicago
Blackhawks de Jeremy Roenick e Chris Chelios na primeira rodada e, com
exceção dos dois últimos jogos daquela série
no jogo 3, os Flames quase empataram após estarem perdendo
por 5-0, e no jogo 4, Roenick empatou faltando nove segundos para o
fim e os Blackhawks venceram na terceira prorrogação ,
os Flames estiveram nos playoffs a passeio.
Nos anos seguintes, o mais próximo que estiveram dos playoffs
foi a seis pontos do oitavo colocado, na temporada 1998-99. Mas as esperanças
renasceram em 2001-02, quando tudo apontava para o retorno dos Flames
à pós-temporada, conduzido pelo ano fenomenal de Jarome
Iginla. Com 52 gols e 96 pontos, Iginla recebeu os prêmios de
maior goleador e maior artilheiro, concedidos pela NHL, e de jogador
mais destacado, concedido pela NHLPA. Apenas não conseguiu uma
"varrida" nos prêmios porque José Théodore
ficou com o de jogador mais valioso da temporada, embora muitos preferissem
o atacante de Calgary e sua impressionante marca de quase 26% dos gols
de sua equipe.
A atual temporada não lembra a de 2001-02, por diversos fatores.
Naquele ano, até o dia 10 de dezembro, Iginla havia marcado 24
vezes; até o fechamento dessa edição de The Slot
BR, o atacante possuía apenas oito gols. Quando as atuações
da principal arma do time caem drasticamente, é sinal de que
as coisas não andam nada bem. E mais: o goleiro titular Roman
Turek não está nem próximo dos números que
conseguiu obter dois anos atrás. Suas estatísticas não
eram a oitava maravilha do mundo, mas ainda assim a cada noite carregava
a confiança dos companheiros e da maior parte da torcida.
A "curta retrospectiva 1996, 2002" termina aqui. O objetivo
inicial do artigo era retratar apenas a boa semana dos Flames, merecedores
até da capa dessa edição.
A rotina em Calgary está diferente desde o dia 15 de novembro,
quando a equipe foi derrotada pelo Edmonton Oilers por 2-1 na prorrogação.
Foi o primeiro ponto dos muitos que viriam a seguir, em sete vitórias,
um empate e duas derrotas na prorrogação. Em Edmonton
tivemos o começo da boa sequência dos Flames, mas até
hoje não tivemos o fim do desrespeito a esse time.
Parece não ser o bastante ocupar a sexta colocação
na Conferência Oeste, estar cinco jogos acima do aproveitamento
de 50% ou ter marcado ponto em todos os últimos dez jogos. Agora,
não receber o devido respeito vira motivo de risadas e desabafo.
O maior exemplo disso aconteceu na quinta-feira, quando o Vancouver
Canucks, no auge do seu hóquei, deveria enfrentar os Flames.
Mas não parecia que o jogo seria exatamente este. A maior parte
da mídia e dois dos principais jogadores do time discutiam abertamente
sobre o par de jogos que teriam contra o Colorado Avalanche até
o fim desse mês. O problema é que o Vancouver teria que
enfrentar o Calgary naquela noite e perdeu por 4-1.
Por que os Canucks deveriam preocupar-se com os Flames? Eles nunca fizeram
isso antes! Além do mais, estavam ocupados com aparições
em público... e o resultado foi mais do que justo.
A seguir, uma rádio sediada em Toronto comentou o fato dos Flames
conseguirem uma boa sequência ao mesmo tempo em que o
Toronto Maple Leafs varre a liga. Então fizeram uma maldosa
pergunta: quem pode assistir aos Flames? "Eu não",
respondeu um deles, "é muito chato".
Além da surra sobre os Canucks, a semana do Calgary apresentou
mais três boas vitórias, contra San Jose Sharks, Minnesota
Wild e Pittsburgh Penguins. Como esse time pôde melhorar tanto
em pouco tempo? As respostas vieram quando a National Hockey League
anunciou seus prêmios semanais.
O asa direito Shean Donovan, autor de seis gols sendo três
deles gols da vitória nos quatro jogos, foi nomeado o
jogador ofensivo da semana, enquanto o goleiro Miikka Kiprusoff, com
média de um gol sofrido por jogo e 95.7% de defesas nas quatro
vitórias, foi eleito o jogador defensivo da semana.
Donovan marcou o gol da vitória em um pênalti contra os
Sharks (3-1), decidiu o jogo contra os Canucks (4-1), anotou mais um
gol contra o Wild (2-1) e teve a noite de sua vida quando marcou um
hat-trick e uma assistência contra os Penguins (6-1).
O atacante lidera os Flames em gols (11), gols de vitória (quatro)
e em desvantagem numérica (dois). Curiosamente, seu máximo
de gols em uma temporada foi 13, com o San Jose Sharks em 1995-96. Essa
marca pessoal não deve demorar a ser batida.
Em sete jogos desde que chegou a Calgary, adquirido por uma mísera
escolha condicional no recrutamento, Kiprusoff venceu seis, com média
de 1,71 gol sofrido por jogo e 92.8% de defesas. Quando Turek retornar
de sua contusão possivelmente terá que batalhar para voltar
ao posto de número um desse time.
Esse é um dos "bons problemas" enfrentados pelo
ótimo treinador Darryl Sutter, ter dois goleiros talentosos.
Antes da chegada de Kiprusoff, quem vinha segurando as pontas na ausência
de Turek era o veterano Jamie McLennan. Ele até não teve
números ruins, mas definitivamente não é capaz
de proteger o time tanto quanto os outros dois.
Os "maus problemas" perseguiram o time até mesmo durante
a semana perfeita. Steven Reinprecht, que vinha sendo o central da linha
um, foi re-examinado após atuar duas vezes com dores e constatou-se
uma fratura no tornozelo esquerdo. Três dias depois outro central,
Craig Conroy, machucou o joelho e deve ausentar-se entre duas semanas
e um mês. No mesmo dia, o defensor Tony Lidman sofreu uma contusão
no ombro. Como se não bastasse, Andrew Ference, também
defensor, tem jogado com dores na virilha. Junte ao hospital do Calgary
o goleiro Turek e o central defensivo Blair Betts.
Essas últimas semanas não farão os torcedores esquecerem
dos sete obscuros anos anteriores, mas pelo menos servem para trazer
à tona velhas memórias e a esperança de que esse
pode ser o ano da redenção. Se os Flames conseguirem resistir
ao difícil calendário que terão pela frente nos
próximos meses e sobreviverem às contusões, o sucesso
pode continuar. E aí, quem sabe, a mídia de Toronto e
os jogadores dos Canucks passem a respeitar mais essa equipe que ressurge
no cenário das vitórias.
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Humberto Fernandes aprovou o documentário
"Bowling For Columbine" e o livro "No Ar Rarefeito",
duas das valiosas indicações de Marcelo Constantino. |
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ARROGÂNCIA PUNIDA O
Vancouver Canucks pagou caro por desrespeitar o Calgary Flames.
Seus jogadores falaram demais antes e depois da surra (Chuck Stoody/AP
- 04/12/2003) |
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APOSTA QUENTE Miikka Kiprusoff
faz valer seu preço - uma escolha condicional. Os Sharks
ainda vão se arrepender por isso (Lyle Stafford/Reuters -
04/12/2003) |
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