Por
Marcelo Constantino
Vou aqui bater pela enésima vez na tecla do "como é
que pode um time com todo o talento do Colorado Avalanche estar tão
mal?". Sim, também, não há como escapar. Afinal,
estamos perto da parada para o Jogo das Estrelas, e o time ainda não
decolou como esperado, não entrou definitivamente no grupo dos
oito que vão aos playoffs.
Humberto Fernandes já tocou num ponto que parece ter conseqüências
até hoje em Denver: a derrota de 7-0 para os Red Wings no decisivo
jogo das finais de conferência de 2002, precedida pelo espalhafatoso
lance "estátua da liberdade" de Patrick Roy no jogo
6.
O outro ponto que enxergo que parece estar contaminando os Avs é
a famosa síndrome do "que saco é jogar a temporada
regular". Há uma terceira hipótese, a de que eles
estão cansados, depois de tantos anos chegando sempre às
finais de conferência, mas essa não cola. Seus rivais Red
Wings têm atuado bastante nos playoffs, possuem um bom número
de jogadores mais velhos e seguem entre os líderes da Conferência
Oeste.
Voltando à síndrome, esses jogos de temporada regular
são realmente um tormento para um time que está acostumado
a grandes batalhas pelo título, acostumado aos playoffs, séries
de melhor de sete onde apenas um sobrevive. Nos últimos anos,
precisamente desde 1995, Detroit e Colorado encaixam-se nessa característica.
Nos playoffs, esses times não têm de ficar jogando toda
hora contra Columbus e Nashville, por exemplo, e ainda contra aqueles
times lamentáveis da Divisão Sudeste, com exceções
para os Capitals e, talvez, os Hurricanes.
Assim é a temporada. São longas 82 partidas de uma maratona
costurada para gerar a receita necessária aos times para pagarem
os salários dos jogadores. Times como Avs e Wings naturalmente
já se sentem nos playoffs na partida de estréia da temporada.
Só que o Avalanche está exagerando no desleixo.
Quando a vontade é mínima, passa a ser insuportável
jogar contra times que fazem forte marcação, torna-se
difícil brigar para manter a liderança numa partida. Os
Avs estavam e parecem ainda estar assim. Podem parecer brilhantes por
um momento e logo perdem o foco.
Eles começaram mal em outubro e seguiram horríveis em
novembro. Nada funcionava, e era nítido que a confiança
dos jogadores estava indo embora. Peças importantes como Steven
Reinprecht, Martin Skoula e Alex Tanguay sofriam disso claramente, e
Derek Morris não estava se encaixando bem no time. Tony Granato
entrou em dezembro, e o time melhorou bastante. Isso durou até
mais ou menos o começo de janeiro, quando os goleiros começaram
a fazer a diferença. Para pior.
David Aebischer e Patrick Roy fizeram partidas sofríveis recentemente,
contra Panthers e Stars (em 11 de janeiro), respectivamente. Roy não
faz uma temporada à altura de sua carreira vitoriosa e recordista
e chegou a ser substituído na partida contra o Dallas.
"Todos nós temos de fazer um pouco mais", diz o goleiro.
"Do meu ponto de vista, eu tenho de ser mais consistente. (...)
Eu sei que muita gente está comparando minha performance com
o ano passado, mas aquele foi o melhor ano da minha carreira."
Saiu do vinho para a água. Nesta temporada, nenhum shutout, percentual
de defesa abaixo dos 90%, média de gols sofridos na casa dos
2,60. Se ele não retornar à sua maestria, um abraço
para qualquer pretensão do Colorado. Se retornar, e o time fizer
pequenos acertos, principalmente quanto à motivação
e à confiança dos jogadores, tudo deverá estar
resolvido, e o time segue rumo a mais uma disputa pelo título.
Senão, o perigo de ficar de fora dos playoffs será cada
vez mais real. Ou então de enfrentar um Dallas ou Detroit logo
de cara, na primeira fase.
Este é o cenário atual, que não é nada animador:
lutar para chegar aos playoffs e, caso consiga, enfrentar um dos maiores
candidatos ao título logo na primeira série. Somente uma
verdadeira escalada nesta segunda metade, algo no estilo do Vancouver
Canucks de 2002, poderá levar os Avs a uma posição
confortável, ou seja, entre a terceira e a sexta colocação
geral na conferência.
O talento do Avalanche é o mesmo do ano passado, com pequenas
mudanças, e isso é indiscutível. Se duvidar, em
tese é até melhor. Vejamos: no gol, é a mesma coisa.
No papel, o time tem uma grande defesa, mas no gelo é um horror.
As péssimas partidas de Rob Blake, Adam Foote e Greg deVries
no começo da temporada contribuíram, e muito, pra um saldo
negativo que está sendo pago até hoje. Estão bem
melhores agora, e Foote vem sendo o melhor defensor da equipe. Derek
Morris, a despeito das controvérsias todas de sua troca por Chris
Drury, é um incremento à já excelente defesa do
time do ano passado.
No ataque, o time tem Peter Forsberg, Dean McAmmond, Jeff Shantz e um
Milan Hejduk o melhor do time em plenas condições
de jogo, no lugar de Drury e Stephane Yelle. Evidentemente, é
um enorme avanço em relação à temporada
passada, mesmo que McAmmond e Shantz não signifiquem grande coisa.
Enfim, este time é muito mais talentoso do que sua classificação
demonstra. Tudo bem, isso não quer dizer muita coisa, o San Jose
também é e está bem pior que o Colorado, numa situação
absurdamente crítica. Mas isso indica que a recuperação
depende apenas do time, não de uma troca que agregue mais talento
ainda algo que, naturalmente, todos voltam a cogitar, em se tratando
de Pierre Lacroix e da proximidade do dia-limite de trocas.
O primeiro reencontro contra o Detroit, na quinta-feira passada, era
um ótimo momento para o começo de uma real virada. Mais
uma chance desperdiçada. De qualquer forma, chegando aos playoffs,
nenhum time irá subestimá-los.
Em tempo: O colunista Terry Frei, baseado em Denver,
mas que contribui freqüentemente com a ESPN, soltou a seguinte
pérola num de seus últimos artigos: "Se (Darren)
McCarty assinasse como agente livre com o Colorado, ele seria um dos
jogadores mais populares da cidade em 15 minutos". Uma proposição
absurda só poderia mesmo gerar uma conclusão absurda.
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Marcelo Constantino ainda acredita que o Avalanche chegará
aos playoffs. Já o San Jose Sharks deve ser a mais incrível
ausência já vista nos últimos anos. |
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ESFORÇO NÃO RECOMPENSADO
Dan Hinote dá um duro tranco em Dmitri Bykov e o joga para
o banco dos Wings, durante o primeiro período (Marc Piscotty/Rocky
Mountain News) |
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ARTIGO SOBRE O DETROIT RED WINGS |
Considerações
gerais |
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