Por
Marcelo Constantino
O Detroit Red Wings é o único time que não perdeu
duas vezes seguidas nesta temporada. Bom, pelo menos até o fechamento
desta edição, na segunda-feira. Isto não é
nem próximo do irrelevante e é incomum até mesmo
para o próprio time. Por outro lado, ultimamente o time tem enveredado
pelo inconsistente caminho do ganha-uma-perde-outra, o famoso aproveitamento
50%.
É normal que o Detroit siga num certo tipo de gangorra - ora
estão bem, ora estão sem interesse - a esta altura, trata-se
de um time que está acostumado a grandes confrontos nos playoffs.
Entretanto, é relativamente surpreendente que ainda esteja entre
os líderes. Ao final das contas, os Red Wings podem não
estar dominantes, mas vêm muito bem na temporada. Se já
é difícil manter o alto nível na maratona de 82
jogos, boa parte deles contra um bando de times inexpressivos - seja
pela tradição, seja pela colocação -, adicione
a isso o fato de que todo time na NHL quer desbancar o atual campeão
da Copa Stanley. Colocando a fase atual um pouco de lado, é de
se tirar o chapéu para a intensidade com que os jogadores do
time têm atuado ao longo desta temporada, principalmente os mais
veteranos.
Olhe para Nicklas Lidstrom, por exemplo. Venceu três Copas Stanley,
foi o vencedor do Conn Smythe do terceiro título e atua metade
de cada jogo, ou mais, desde que Paul Coffey foi negociado, ou seja,
há seis anos. Onde ele ainda encontra motivação
para jogar bem toda noite, contra os Predators, Lightning, Mighty Ducks,
Blue Jackets e etc. da vida?
Sim, é evidente que os Red Wings têm tudo para repetir
a conquista da Copa Stanley, ainda mais se o brilho do Avalanche - sempre
o real adversário a ser batido nos playoffs - não surgir
em tempo. O time tem uma ótima combinação de experiência
(dois jogadores do time têm mais de 40 anos de idade) e juventude,
com o surpreendente surgimento de bons novatos nos últimos anos.
Henrik Zetterberg e Dmitri Bykov são as duas maiores surpresas
positivas do time nesta temporada. Os dois, mais Jiri Fischer e Pavel
Datsyuk, estão demonstrando que a concessão generalizada
de escolhas das primeiras rodadas, que os Wings acostumaram-se a fazer
nos últimos anos, pode não ter sido de todo negativa.
Afinal, os olheiros do time conseguem encontrar essas preciosidades
sobrando nas escolhas mais baixas.
Sean Avery é outro novato em ascensão e tem tudo para
se tornar o sucessor de Darren McCarty nas graças da torcida.
Ambos têm estilos semelhantes, briguentos. McCarty fez seu nome
também com grandes, inesquecíveis e decisivos gols, e
é isso que falta a Avery, que terá tempo de sobra para
construir algo semelhante. A surpreendente declaração
pública de que não gosta do Colorado Avalanche ("I
really, really dislike the Colorado Avalanche") já
lhe garante um lugar especial em Detroit.
Em Detroit, é normal buscar uma motivação extra
para a conquista da Copa Stanley. Algo inspirador, mais do que a Copa
em si. Em 1997, essa motivação era finalmente vencer,
para acabar com o jejum de décadas sem título. Em 1998,
era um tributo a Vladimir Konstantinov. Em 2002, era algo como "uma
Copa para Dominik Hasek e Luc Robitaille", dois consagrados jogadores
que nunca haviam sido campeões.
Este ano há duas "opções" para essa motivação
extra: Steve Yzerman e, em muito menor grau, Dave Lewis.
Volte ele a jogar ou não, é certo que o capitão
será um fator para o time nos playoffs. Voltando, aleijado que
seja, é um incremento surpreendente ao time, haja visto suas
atuações contra o Vancouver Canucks na pós-temporada
de 2002.
Não voltando, o time vai querer vencer para dedicar-lhe o título.
Algo como um "Believe II", um repeteco do que foi
feito por Konstantinov.
Além disso, os jogadores certamente querem ver Dave Lewis vencer
o título como um técnico novato, depois de tanto tempo
trabalhando na organização. Todos gostam do estilo mais
amigável do atual técnico no comando do time.
Para vencer mais uma vez, as armas são as mesmas de sempre. Graças
principalmente a tantos anos de Scotty Bowman, os Red Wings jogam como
equipe como poucos na NHL o fazem, mesmo que Sergei Fedorov tenha seus
ataques de 'vou fazer tudo sozinho' de vez em quando. As quatro linhas
rolam sem uma clara hierarquia.
Se Fedorov começou arrasador e já deu a sua habitual caída
de rendimento na temporada, Brett Hull estourou como poucos ultimamente.
Aliás, alguém consegue entender como é que o Dallas
Stars deixou Hull sair do time? Mike Modano com ele ao lado seria aterrorizante
para qualquer time hoje em dia. Lidstrom segue incansável. Os
novatos enchem os olhos. E ainda tem gente de qualidade pra ser liberada
pelo departamento médico.
É imprevisível saber o que acontecerá com os Wings
diante das ausências de Yzerman e Fischer, caso elas se prolonguem
playoffs adentro. Se voltarem a tempo, trata-se de um brutal reforço
para o time na reta decisiva. Se não, pode ser preocupante. Mesmo
com a "motivação extra" de querer vencer a Copa
para ele, o histórico é cruel: em todas as vezes que Yzerman
não pôde jogar pelos Wings, o time foi eliminado dos playoffs
na mesma série.
Sem Fischer na defesa, possivelmente Lewis teria de usar dois novatos
nos playoffs, o que dificilmente acontecerá. Bykov faz uma temporada
de estréia excelente, mas ainda há um longo caminho a
trilhar até a reta final para o título, quando o estilo
e a atmosfera de jogo é completamente diferente da atual. Maxim
Kuznetsov vem melhorando bastante, mas nada que o faça ser uma
presença segura na defesa de um time que vá disputar o
título. Jesse Wallin, além de novato, está machucado
há muito tempo. Mathieu Dandenault faz uma temporada abaixo da
média. Ou seja, se Fischer não voltar, podem apostar suas
fichas que Ken Holland sairá em busca de algum sólido,
e inevitavelmente veterano, defensor para "alugar". Aliás,
isso pode ocorrer mesmo que Fischer retorne, é praxe em Detroit
contratar um defensor veterano no dia limite de trocas.
No gol pode haver problemas, já que Curtis Joseph não
é Hasek. Sim, ele está cambaleante como o Dominador esteve
durante parte da temporada passada. Mas há uma diferença
básica: Hasek é muito mais goleiro. O tcheco não
dava tanto rebote como CuJo tem permitido nesta temporada, o que é
paradisíaco para times que jogam no estilo "crash the
net".
Além da eventual aquisição de mais um defensor
veterano, pode ser necessário realizar alguma troca no dia limite
para melhorar o time, nem que seja para sacudi-lo um pouco. O candidato
mais forte a ser negociado seria Luc Robitaille, que está numa
incrível má temporada, apesar do nítido esforço
para acertar. Se ele não faz o trabalho pelo o qual está
no time, fazer gols, então há uma vaga sendo incomodamente
ocupada. Ele precisa estourar, tanto para relaxar como para se garantir.
Para piorar, a má fase de Robitaille não é de hoje,
ela data dos playoffs passados, quando ele já estava muito abaixo
de qualquer expectativa. O aviso já foi dado, Luc ficou de fora
da partida entre Red Wings e Avalanche. O último boato o envolvia
numa troca por Teppo Numminen, do Phoenix Coyotes.
Os adversários são conhecidos. Avalanche e Stars no Oeste.
No Leste, embora isso não tenha sido problema para Detroit nas
três últimas conquistas, há Flyers, Devils, Senators,
Leafs, Bruins... seja lá quem for, ninguém está
num estágio necessariamente superior ao dos Red Wings.
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Marcelo Constantino eliminaria uma meia dúzia de times
da NHL, se pudesse. No mínimo. |
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FIM DE JOGO Brendan Shanahan
marca o gol em rede vazia, que definiu a vitória dos Red
Wings sobre o Avalanche (David Zalubowski/AP - 16/01/2003) |
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ARTIGO SOBRE O COLORADO AVALANCHE |
Considerações
gerais |
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