Por
Alexandre Giesbrecht
A capa desta edição traz como título "Retorno
do século". Eu vou mais além. É o maior retorno
de todos os tempos em todos os esportes. Mario Lemieux já comeu
o pão que o diabo amassou, mas está aí, aos 37
anos, já disparando na corrida pela artilharia da NHL. Após
oito jogos, ele tem 18 pontos, cinco a mais do que o segundo colocado,
que também defende o preto, branco e dourado: Alexei Kovalev.
O outro membro da primeira linha dos Penguins, Aleksey Morozov, vem
um pouco atrás.
Lemieux já enfrentou câncer, problemas intermináveis
nas costas e nos quadris, além, claro, de defesas mais fechadas
que aquele tupperware na sua geladeira. E, ainda assim, ele é
um dos maiores senão o maior jogadores de hóquei
de todos os tempos.
Por todo esse histórico, principalmente seus problemas de saúde,
talvez a mais impressionante de suas estatísticas nesta temporada
não sejam os 18 pontos ou as 14 assistências. É
bem provável que sejam as oito partidas jogadas. Um número
que impressiona ainda mais quando se descobre que é igual ao
número de partidas do time, incluindo jogos em dias seguidos
no último fim de semana.
Parece que ele não está mais sentindo os problemas que
o afastaram da última temporada depois de apenas 24 jogos disputados.
Ele está jogando confortavelmente e já acumula pontos
em sete jogos seguidos, o que exclui o jogo de estréia, os desastrosos
6-0 que os Maple Leafs impuseram em Pittsburgh. Lemieux foi, disparado,
o melhor jogador dos Penguins. Ele criou jogadas e chances, que acabaram
desperdiçadas.
Depois disso, sua atuação mais fraca foi contra o Lightning,
quando teve apenas uma assistência. Na revanche contra os Leafs,
em Toronto, Mario assumiu a responsabilidade e, com dois gols e duas
assistências, ajudou os Penguins a ganhar o jogo por 5-4. Ele
ainda marcou três pontos contra Rangers, Thrashers e Canadiens.
E ele não pára nos números. Suas atuações
têm sido excelentes mesmo. Ele está dominando os jogos
como não se via desde metade da temporada passada, quando ele
teve três jogos sensacionais seguidos e pareceu estar livre da
contusão nos quadris, que foi o que de fato acabou com seu ano.
Depois disso, o nível de dor nos quadris se aproximou do insuportável.
Ele ainda conseguiu liderar a seleção do Canadá
à medalha de ouro nas Olimpíadas de Inverno, mas jogou
apenas mais uma partida da NHL na temporada.
A preferência que ele deu à seleção canadense,
inclusive, reudeu-lhe severas críticas em Pittsburgh. Obviamente,
não se ouve mais críticas, ainda mais com suas seguidas
atuações que, surpreendentemente, ainda não renderam
um estádio cheio. Isso vem da falta de confiança da torcida
no time, que ficou de fora dos playoffs em 2001-02 depois de 12 anos.
A saúde de Lemieux também preocupou a torcida, já
que ele não chegou a jogar sequer uma partida de pré-temporada
antes da estréia contra os Leafs.
Se havia alguma dúvida, ela já se dissipou. Se Lemieux
mantiver o ritmo atual, conseguirá empilhar 55 gols e 137 assistências
se jogar todos os 82 jogos. Este total de 192 pontos somaria apenas
sete a menos do que o seu recorde pessoal, de 199, estabelecido em 1988-89,
quando ele tinha apenas 23 anos. Se ele terminar a temporada como artilheiro,
será o jogador mais velho a ganhar o Troféu Art Ross.
E também o primeiro dono de time. Sempre é bom lembrar
que ele é o dono dos Penguins, e não estou falando em
sentido figurado. Um de seus retornos mais espetaculares ocorreu na
metade da temporada de 2000-01, quando ele já tinha "assumido
o poder". Depois de três anos e meio de aposentadoria, ele
retornou e, de cara, marcou um gol e duas assistências contra
os Leafs. O primeiro ponto do jogo veio aos 33 segundos do primeiro
período.
Até sua primeira aposentadoria, ele era o único jogador
da história a encerrar sua carreira com uma média superior
a dois pontos por jogo. Com a sua volta, em meio a algumas das mais
baixas médias de gol da história da NHL, sua média
caiu um pouco, mas não o suficiente para ele deixar a liderança
neste quesito. Seus números deixam sempre margem a comparações
com Wayne Gretzky. Será que, se Lemieux tivesse jogado todas
as partidas que perdeu devido a inúmeras contusões, ele
bateria alguns recordes de Gretzky?
Provavelmente, sim, ao menos alguns deles, mas é algo que nunca
vamos saber. Ele não tem muito tempo de hóquei pela frente.
Embora, aos 37 anos, esteja bem à frente de todos os atacantes
mais jovens.
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Alexandre Giesbrecht, publicitário, tem Mario Lemieux como
ídolo praticamente desde que começou a acompanhar
a NHL, em 1992. |
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FELICIDADE Lemieux comemora
com Aleksey Morozov (Jason Cohn/Reuters - 26/10/2002) |
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