1.º de maio de 2002
Giesbrecht: A desculpa número 88 não está disponível desta vez

Por Alexandre Giesbrecht

Como tem sido costumeiro nos últimos anos (pela quarta vez em cinco anos, para ser mais exato), os Flyers passaram o mês de abril procurando não vitórias, mas dignidade. Desta vez, no entanto, foi um pouco diferente -- simplesmente porque agora eles não tinham mais Eric Lindros para culpar. E isso os deve estar atormentando, mesmo que eles não reconheçam em voz alta. Porque eles estavam convencidos de que, com Lindros fora da organização, o doloroso colapso total e a procura por resposta no escuro nunca mais aconteceriam.

Mas estão acontecendo de novo. Eles estão eliminados dos playoffs logo de cara. A última ignomínia foi completada na última sexta-feira, com a derrota por 2-1 na prorrogação para o Ottawa Senators, um time menor e supostamente mole, que os Flyers deveriam ter jogado de um lado para o outro com desdém, atropelando-os rumo à Stanley Cup.

Ao invés disso, os Flyers foram humilhados em proporções bíblicas. Não apenas perderam: eles não conseguiam sequer marcar gols. Eles estraçalharam recordes de anemia ofensiva. Dois gols em cinco jogos, dois em mais de 300 minutos, isso para um time cuja folha de pagamento, de US$ 55,8 milhões, está entre as maiores do hóquei.

Sabemos que a cidade está acostumada à futilidade, ainda sendo a casa do time de basquete que teve a pior campanha da história da NBA (9-73), do time de beisebol que já sofreu mais derrotas que qualquer time nos esportes americanos e do time de futebol americano que, apesar de jogar há mais de 65 anos, não consegue ter mais vitórias que derrotas em todos os tempos.

Some-se a isso os Flyers de 2002, que deveriam ter sido finalistas e não conseguiram sequer passar pelo time que foi por anos e anos o mais patético da liga. Isso sem falar que, no processo, eles ficaram sem marcar por mais tem que qualquer time da NHL. Em todos os tempos.

Claro, eles poderiam ter perdido na primeira fase -- acontece o tempo todo com times bons, por várias razões diferentes --, mas eles já tinham aprendido com experiências anteriores. Os Flyers seriam diferentes nessa era pós-Lindros. Eles seriam novamente um time, com todas as coisas boas que jogadas coletivas trazem. Eles poderiam não vencer, mas lutariam. Juntos.

Não era essa a mensagem em 2000? Eles tomaram os playoffs de 2000 como um sinal. Quando Lindros estava fora do time depois da grande confusão -- aquela foi a primavera das concussões controversas e das danças com os médicos --, o time chegou às semifinais.

Na verdade, os Flyers eram um time melhor com Lindros do que sem ele, mas não havia como negar a injeção de entusiasmo que tomou conta do time na sua ausência. Todos a viram. Melhor; todos a sentiram. Era algo real. Para os Flyers, tantas séries de playoffs haviam se tornado horríveis marchas fúnebres ao longo da era Lindros, dias e semanas em que os favoritos de Philadelphia não conseguiam confirmar sua superioridade. E, quando conseguiam, como nas finais da Stanley Cup em 1997 contra o Detroit, tudo se acabava em controvérsia e desalento.

Era fácil culpar os goleiros -- e muitos de fora faziam exatamente isso --, mas o sentimento dentro do time era de que o buraco era mais embaixo. Muito mais embaixo, muito mais fundamental. Muitos concluíam que era a grande e pensativa presença de Lindros, chamando os holofotes para si, que impedia o time de ser, bem, um time.

Então, nos playoffs de 2000, aconteceu. Depois de passar fácil pelo Buffalo na primeira fase, os Flyers perderam os dois primeiros jogos em casa para o Pittsburgh na segunda fase -- e foi aí que acharam sua alma. Foi tudo que todos sempre quiseram: o retorno da mentalidade que os tinha feito famosos, a mentalidade de cair lutando.

Eles estavam convencidos que era o fato de Lindros estar fora do time que causava esta mudança de mentalidade, do mesmo jeito que se convenceram que foi culpa de Lindros a queda nas semifinais para o New Jersey (ele voltou ao time para os jogos 6 e 7). Muitos acreditavam memso nisso. Ora, Ed Snider, presidente do conselho do time, até falou isso para a imprensa.

No ano passado, sem Lindros, os Flyers caíram fora na primeira fase, mas essa foi a típica exceção em que os Flyers estavam com problemas de contusões. Este ano representaria um teste melhor, porque o mix de jogadores era muito diferente do da época de Lindros e porque o nível de talento era reconhecido ao redor da liga como bem alto.

Só que aqui estamos, com os Flyers humilhados por um time que eles deveriam massacrar. E sem uma resposta agora que eles não têm mais o nome Eric Lindros em sua folha de pagamento.

Alexandre Giesbrecht, publicitário, digitou cada palavra com um sorriso nos lábios, graças à sua conhecida simpatia pelo Pittsburgh Penguins.
SEM MARCAR É DIFÍCIL Os Flyers de Eric Desjardins marcaram dois gols em mais de 300 minutos de hóquei, estabelecendo um novo recorde de futilidade (Rusty Kennedy/AP - 26/04/2002)
 
DESOLAÇÃO John LeClair (ao centro) e os Flyers mostram todo o seu desapontamento com a falta de gols, enquanto a torcida de Ottawa se delicia com o fato (Jonathan Hayward/AP - 24/04/2002)
Edição atual | Edições anteriores | Sobre The Slot BR | Contato
© 2002 The Slot BR. Todos os direitos reservados.
É permitida a republicação do conteúdo escrito, desde que citada a fonte.
Página publicada em 30 de abril de 2002.