10 de abril de 2002
Constantino: Turbinas ligadas, porque os playoffs vêm aí

Por Marcelo Constantino

O grande evento da NHL este ano deverá ser o confronto entre Detroit Red Wings e Colorado Avalanche nos playoffs. Tal qual ocorreu em 1996 e 1997, são os melhores times da liga e os principais candidatos ao título. Com isso, eu diria que o vencedor do confronto entre ambos -- provavelmente a final da Conferência Oeste - será o vencedor da Stanley Cup.

É evidente que a afirmação é pretensiosa. Já li exatamente isso de alguns articulistas em 1999 e 2000, com o Colorado vencendo os encontros com os Wings na semifinal de conferência e perdendo logo depois na fase seguinte, no jogo 7, para o Dallas Stars.

Ainda assim, ouso afirmar que a verdadeira final será entre os dois times. Desta vez o quadro está muito mais para 1996 do que para 1997. Ou seja, Wings com uma campanha brilhante, liderando de ponta a ponta e com grande folga para o segundo colocado, os Avs. É assim agora, foi assim em 1996. Naquele ano, os Wings começaram a encontrar dificuldades claras com o estilo de jogo bem mais duro dos playoffs, tendo sido eliminados por um Colorado bem mais forte àquela altura.

Reforçam esta impressão dois fatores: o primeiro, de que os Wings passaram toda a temporada detectando que lhes faltava um defensor que impusesse mais respeito e, principalmente, medo aos atacantes adversários. Continuam e entrarão nos playoffs assim, mesmo tendo em Lidstrom e Chelios uma das duplas mais respeitáveis que já se viu. A presença física na frente está quase resumida a Darren McCarty, já que este ano a gerência não trouxe nenhum Joey Kocur.

Sabendo disso, os Avs correram atrás de Darius Kasparaitis, pelos motivos já amplamente expostos por meus colegas: não deixar que os Wings preenchessem a lacuna que lhes faltava e, com a defesa formada por Blake, Foote e Kaspar, e a volta de Mike Keane, os Avs sentem novamente o cheiro do título nos mesmos moldes de 1996.

Vamos aos times que devem estar com as turbinas ligadas.

Conferência Leste

Philadelphia Flyers -- Geralmente pouco incisivos quando se trata de trocas, os Flyers trabalharam bem nesta temporada, livrando-se de Eric Lindros, trazendo Jeremy Roenick e agora Adam Oates, que se somam ao capitão Keith Primeau. Com três centrais de alta qualidade, o time é forte candidato ao título, mas, com dois deles saindo de contusão, é uma incógnita. Roenick é o centro do time; sem estar em forma vai ser difícil até do time chegar à final de conferência. Os goleiros são outro problema, nunca se sabe quem estará bem.

Boston Bruins -- A grande surpresa da temporada, os Bruins fizeram alguns investimentos claramente superfaturados, como Martin Lapointe e seus US$ 5 milhões por ano, e deram certo. Ao menos para chegar aos playoffs em grande estilo: avançar já é outra história. Optaram por manter a harmonia que caracterizou o time na temporada e não trouxeram -- ou não conseguiram trazer -- jogadores de peso para reforçar o bom time no dia-limite de trocas. Trouxeram dois razoáveis e baratos defensores, mas nada que melhorasse essencialmente sua defesa. Os times especiais precisarão melhorar. Dependem bastante do goleiro Byron Dafoe, mais uma vez fazendo grande temporada, mas que ainda precisa provar sua excelência nos playoffs.

Toronto Maple Leafs -- Precisam desesperadamente do goleiro Curtis Joseph, o Cujo, se quiserem caminhar um pouco nos playoffs, mesmo que estejam bem na temporada sem ele e outros jogadores importantes. Com uma avenida na defesa e sem ter conseguido trazer um reforço de qualidade neste setor, só o grande e tarimbado goleiro pode fazer milagres lá atrás. Com o time completo nos playoffs, os Leafs podem até sonhar com a final.

New York Islanders -- Só de estar nos playoffs já é um avanço considerável para um time que recentemente beirava as últimas colocações. Após um grande começo, Chris Osgood demonstra resistir melhor às pressões de Long Island do que às de Detroit, mas é sabido por todos que ele não tem condições de liderar um time para os playoffs. Com a chegada de Mike Peca e Alexei Yashin, Mark Parrish teve uma temporada de ouro. Falta-lhes ainda outro bom defensor (Darren Van Impe e Dave Roche devem ter sido 'para não dizer que não fizemos nada no limite de trocas') para completar o grande trabalho que o técnico estreante Peter Laviollete realizou na temporada. Fica para a próxima.

New Jersey Devils -- A chegada do vencedor do Conn Smythe de 99, Joe Nieuwendyk, e do eficiente Jamie Langenbrunner deve injetar novo ânimo na equipe. Nieuwendyk tem condições inclusive de liderar este time até as finais. Este não tem sido o ano dos Devils, mas, com o talento renovado, Martin Brodeur no gol e o time que possuem -- experiente e sempre chato de se jogar contra --, podem surpreender e atrapalhar a festa de qualquer um no Leste.

Ottawa Senators -- Mais uma boa temporada e novamente nenhuma troca de impacto. Time baseado em seus valores médios, tem sofrido bastante com jogadores contundidos. Sabe-se lá o que será dos Senators nesses playoffs, mesmo sabendo que geralmente eles vêm melhorando a cada ano. Aposto numa corrida um pouco mais longa que a do ano passado. E só.

Carolina Hurricanes -- Um bom papel nos playoffs, passando para a semi-final de conferência, deverá ser o objetivo dos Canes. Ainda assim, isso parece estar longe. Não há Ron Francis ou até Arturs Irbe e Jeff O'Neill que façam alguém acreditar em sucesso do Carolina sobre qualquer time em sete jogos.

Montreal Canadiens -- Disputando uma vaga nos playoffs, os Canadiens pouco fizeram, enquanto seu concorrente direto, os Rangers, fizeram até demais. Stephane Fiset é alguma coisa para um time que luta pra acabar com a fome de playoffs? Todo amante de hóquei deve torcer para os Canadiens chegarem aos playoffs, ainda mais com os problemas que toda hora surgem na temporada, principalmente Saku Koivu.

New York Rangers -- No papel, os Rangers têm time para vencer a Stanley Cup. Mas só no papel mesmo. Afinal, sua estrela Eric Lindros vive de ser a grande arma do time em que está, mas isso fica só no papel também. Na prática, os Rangers continuam mostrando ao mundo que hóquei é conjunto e time: não basta juntar meia dúzia de bons jogadores -- ainda mais quando um deles é Lindros e quando nunca se sabe como estará Mike Richter. Uma linha de Pavel Bure, Lindros e Theoren Fleury meteria medo em qualquer time da NHL. Claro, isso se esta linha não fosse dos Rangers e se Lindros jogasse o que todos dizem que ele joga. Mais um capítulo lamentável do time que é como um espelho do Flamengo na NHL.

Washington Capitals -- O conjunto de defensores sofre com pequenas contusões atualmente, mas Jaromir Jagr voltou a ser o jogador vencedor do Art Ross que todos conheceram em Pittsburgh. Eles ainda brigam por uma vaga nos playoffs e já demonstraram que sequer pensam em título, mas, deste jeito, podem facilmente estragar a festa de alguém nas oitavas-de-final, ainda mais se este alguém for os Bruins.

Buffalo Sabres -- Alguém ainda acredita nos Sabres?

Conferência Oeste

Detroit Red Wings -- Bem que Ken Holland gostaria de ter contratado Darius Kasparaitis. Era tudo de que os Wings precisavam para os playoffs: um defensor forte que intimidasse atacantes. Mas o preço pedido pelos Penguins (as revelações Pavel Datsyuk ou Jiri Fischer) era impensável. O único jogador que andava envolvido em boatos de trocas, Darren McCarty, ficou e deverá ser o único intimidador clássico da equipe. Ponto fraco: o time não faz uma grande partida desde o ano passado, até porque nem precisa. E deverá enfrentar um time que estará quente na briga por uma vaga. O fator bom: toda a liga teme jogar contra os Wings.

Colorado Avalanche -- Uma defesa com Blake, Foote e Kasparaitis faz qualquer atacante pensar duas vezes antes de querer ficar um tempo na frente da área adversária. Kaspar foi a grande jogada do dia-limite de trocas, mas está longe de ser como seu compatriota aposentado Vladimir Konstantinov quanto a ser duro e não cometer penalidades. Ao menos é para isso que torcem os Wings. Agora, se Forsberg voltar, nem que seja para jogar as finais de conferência, o favoritismo terá residência fixa em Denver.

Los Angeles Kings -- Talvez o time que mais esteja melhorando dentro da competição, não duvido que os Kings possam surpreender qualquer time nos playoffs. Possuem uma excelente linha de vantagem numérica, o que pode ser decisivo nos apertados jogos dos playoffs. Trouxeram Cliff Ronning sem precisar se desfazer de uma peça importante do elenco, o que já é suficiente para reforçar o bom e pouco comentado time. Ah, reparem na média de gols de Zigmund Palffy nesta temporada.

San Jose Sharks -- Segue com seu time cada vez melhor. Fora os Kings, só consigo enxergar os Sharks como azarões que possam colocar gelo no chope de Detroit e Colorado. Com Teemu Selanne jogando tudo o que sabe, o San Jose deve ser uma pedreira para quem o pegar nas semifinais, desde que pare com a mania de cometer penalidades a torto e a direito.

Chicago Blackhawks -- A campanha em casa impressiona, o que deve ajudar caso fiquem entre os quatro primeiros. Uma boa mexida ter trazido Lyle Odelein, indicando que os Hawks acreditam em alguma coisa nesses playoffs. Eu não acredito.

St. Louis Blues -- Os Blues vinham melhorando a cada ano e parecem ter piorado significativamente neste. Com Doug Weight fora, Chris Pronger ora bem, ora apagado e Al MacInnis pouco exercitando o seu forte, chutes a gol, não há como este time ir longe. Incrível mesmo é que passou a temporada inteira e não contrataram um goleiro decente pra vencer a Stanley Cup.

Dallas Stars -- Time que disputa vaga nos playoffs e na reta final perde para Minnesota e Anaheim merece alguma coisa? Os Stars tentaram Pavel Bure, mas desistiram espertamente. Acabaram por fazer uma boa troca, trazendo mais força física ao time e reforçando ainda mais um ponto onde já eram fortes. Com a bagagem que possuem, poderiam fazer bonito nos playoffs, mas estão cada vez mais longe. Quem imaginaria isso no início da temporada, quando era alardeado o fato de os Stars terem "o melhor trio de centrais da NHL"? Se conseguirem o feito, Joe Nieuwendyk fará muita falta neste ano.

Edmonton Oilers -- O excelente negócio feito com os Rangers, trazendo Mike York, deverá render bons resultados nos próximos anos. No mais, Georges Laraque deverá fazer o trabalho de "segurança" dos leves York e Mike Comrie. Há uns cinco anos que os Oilers caminham bem, mas sempre falta alguma coisa para vôos mais altos. Goleiro, Tommy Salo já mostrou que é suficiente. Este ano a única coisa boa que pode acontecer é o time avançar uma fase nos playoffs. Milagre é chegar às finais de conferência.

Phoenix Coyotes -- O reclamão das Olimpíadas Wayne Gretzky deve estar todo feliz com sua surpreendentemente boa campanha na temporada, com um time que não teria tanto pra isso. Chegando aos playoffs, será um bom sparring pra qualquer um dos quatro primeiros colocados.

Vancouver Canucks -- A luta é pra chegar aos playoffs, nada além disso.

Marcelo Constantino até gosta de escrever esse rodapé, mas acabou não mandando nada.
 
ROLINHO? QUASE No duelo dos dois grandes da Conferência Leste, Sergei Samsonov, do Boston Bruins, tenta colocar o disco entre as pernas do goleiro do Philadelphia Flyers, Brian Boucher (33). Boucher conseguiu defender, mas os Bruins venceram e avançaram na liderança. (George Widman/AP - 02/04/2002)
 
GOL DA VITÓRIA Marc Bergevin, do St. Louis Blues, comemora gol marcado por Pavol Demitra na prorrogação, enquanto o goleiro Ed Belfour e o zagueiro Richard Matvichuk (24), ambos do Dallas Stars, se lamentam. A derrota ajudou a enterrar ainda mais as chances dos Stars de chegarem aos playoffs (Tim Sharp/AP - 03/04/2002)
 
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Página publicada em 08 de abril de 2002.