Por
Marcelo Constantino
O grande evento da NHL este ano deverá ser o confronto entre
Detroit Red Wings e Colorado Avalanche nos playoffs. Tal qual ocorreu
em 1996 e 1997, são os melhores times da liga e os principais
candidatos ao título. Com isso, eu diria que o vencedor do confronto
entre ambos -- provavelmente a final da Conferência Oeste - será
o vencedor da Stanley Cup.
É evidente que a afirmação é pretensiosa.
Já li exatamente isso de alguns articulistas em 1999 e 2000,
com o Colorado vencendo os encontros com os Wings na semifinal de conferência
e perdendo logo depois na fase seguinte, no jogo 7, para o Dallas Stars.
Ainda assim, ouso afirmar que a verdadeira final será entre os
dois times. Desta vez o quadro está muito mais para 1996 do que
para 1997. Ou seja, Wings com uma campanha brilhante, liderando de ponta
a ponta e com grande folga para o segundo colocado, os Avs. É
assim agora, foi assim em 1996. Naquele ano, os Wings começaram
a encontrar dificuldades claras com o estilo de jogo bem mais duro dos
playoffs, tendo sido eliminados por um Colorado bem mais forte àquela
altura.
Reforçam esta impressão dois fatores: o primeiro, de que
os Wings passaram toda a temporada detectando que lhes faltava um defensor
que impusesse mais respeito e, principalmente, medo aos atacantes adversários.
Continuam e entrarão nos playoffs assim, mesmo tendo em Lidstrom
e Chelios uma das duplas mais respeitáveis que já se viu.
A presença física na frente está quase resumida
a Darren McCarty, já que este ano a gerência não
trouxe nenhum Joey Kocur.
Sabendo disso, os Avs correram atrás de Darius Kasparaitis, pelos
motivos já amplamente expostos por meus colegas: não deixar
que os Wings preenchessem a lacuna que lhes faltava e, com a defesa
formada por Blake, Foote e Kaspar, e a volta de Mike Keane, os Avs sentem
novamente o cheiro do título nos mesmos moldes de 1996.
Vamos aos times que devem estar com as turbinas ligadas.
Conferência Leste
Philadelphia Flyers -- Geralmente pouco incisivos quando se trata
de trocas, os Flyers trabalharam bem nesta temporada, livrando-se de
Eric Lindros, trazendo Jeremy Roenick e agora Adam Oates, que se somam
ao capitão Keith Primeau. Com três centrais de alta qualidade,
o time é forte candidato ao título, mas, com dois deles
saindo de contusão, é uma incógnita. Roenick é
o centro do time; sem estar em forma vai ser difícil até
do time chegar à final de conferência. Os goleiros são
outro problema, nunca se sabe quem estará bem.
Boston Bruins -- A grande surpresa da temporada, os Bruins fizeram
alguns investimentos claramente superfaturados, como Martin Lapointe
e seus US$ 5 milhões por ano, e deram certo. Ao menos para chegar
aos playoffs em grande estilo: avançar já é outra
história. Optaram por manter a harmonia que caracterizou o time
na temporada e não trouxeram -- ou não conseguiram trazer
-- jogadores de peso para reforçar o bom time no dia-limite de
trocas. Trouxeram dois razoáveis e baratos defensores, mas nada
que melhorasse essencialmente sua defesa. Os times especiais precisarão
melhorar. Dependem bastante do goleiro Byron Dafoe, mais uma vez fazendo
grande temporada, mas que ainda precisa provar sua excelência
nos playoffs.
Toronto Maple Leafs -- Precisam desesperadamente do goleiro Curtis
Joseph, o Cujo, se quiserem caminhar um pouco nos playoffs, mesmo que
estejam bem na temporada sem ele e outros jogadores importantes. Com
uma avenida na defesa e sem ter conseguido trazer um reforço
de qualidade neste setor, só o grande e tarimbado goleiro pode
fazer milagres lá atrás. Com o time completo nos playoffs,
os Leafs podem até sonhar com a final.
New York Islanders -- Só de estar nos playoffs já
é um avanço considerável para um time que recentemente
beirava as últimas colocações. Após um grande
começo, Chris Osgood demonstra resistir melhor às pressões
de Long Island do que às de Detroit, mas é sabido por
todos que ele não tem condições de liderar um time
para os playoffs. Com a chegada de Mike Peca e Alexei Yashin, Mark Parrish
teve uma temporada de ouro. Falta-lhes ainda outro bom defensor (Darren
Van Impe e Dave Roche devem ter sido 'para não dizer que não
fizemos nada no limite de trocas') para completar o grande trabalho
que o técnico estreante Peter Laviollete realizou na temporada.
Fica para a próxima.
New Jersey Devils -- A chegada do vencedor do Conn Smythe de
99, Joe Nieuwendyk, e do eficiente Jamie Langenbrunner deve injetar
novo ânimo na equipe. Nieuwendyk tem condições inclusive
de liderar este time até as finais. Este não tem sido
o ano dos Devils, mas, com o talento renovado, Martin Brodeur no gol
e o time que possuem -- experiente e sempre chato de se jogar contra
--, podem surpreender e atrapalhar a festa de qualquer um no Leste.
Ottawa Senators -- Mais uma boa temporada e novamente nenhuma
troca de impacto. Time baseado em seus valores médios, tem sofrido
bastante com jogadores contundidos. Sabe-se lá o que será
dos Senators nesses playoffs, mesmo sabendo que geralmente eles vêm
melhorando a cada ano. Aposto numa corrida um pouco mais longa que a
do ano passado. E só.
Carolina Hurricanes -- Um bom papel nos playoffs, passando para
a semi-final de conferência, deverá ser o objetivo dos
Canes. Ainda assim, isso parece estar longe. Não há Ron
Francis ou até Arturs Irbe e Jeff O'Neill que façam alguém
acreditar em sucesso do Carolina sobre qualquer time em sete jogos.
Montreal Canadiens -- Disputando uma vaga nos playoffs, os Canadiens
pouco fizeram, enquanto seu concorrente direto, os Rangers, fizeram
até demais. Stephane Fiset é alguma coisa para um time
que luta pra acabar com a fome de playoffs? Todo amante de hóquei
deve torcer para os Canadiens chegarem aos playoffs, ainda mais com
os problemas que toda hora surgem na temporada, principalmente Saku
Koivu.
New York Rangers -- No papel, os Rangers têm time para
vencer a Stanley Cup. Mas só no papel mesmo. Afinal, sua estrela
Eric Lindros vive de ser a grande arma do time em que está, mas
isso fica só no papel também. Na prática, os Rangers
continuam mostrando ao mundo que hóquei é conjunto e time:
não basta juntar meia dúzia de bons jogadores -- ainda
mais quando um deles é Lindros e quando nunca se sabe como estará
Mike Richter. Uma linha de Pavel Bure, Lindros e Theoren Fleury meteria
medo em qualquer time da NHL. Claro, isso se esta linha não fosse
dos Rangers e se Lindros jogasse o que todos dizem que ele joga. Mais
um capítulo lamentável do time que é como um espelho
do Flamengo na NHL.
Washington Capitals -- O conjunto de defensores sofre com pequenas
contusões atualmente, mas Jaromir Jagr voltou a ser o jogador
vencedor do Art Ross que todos conheceram em Pittsburgh. Eles ainda
brigam por uma vaga nos playoffs e já demonstraram que sequer
pensam em título, mas, deste jeito, podem facilmente estragar
a festa de alguém nas oitavas-de-final, ainda mais se este alguém
for os Bruins.
Buffalo Sabres -- Alguém ainda acredita nos Sabres?
Conferência Oeste
Detroit Red Wings -- Bem que Ken Holland gostaria de ter contratado
Darius Kasparaitis. Era tudo de que os Wings precisavam para os playoffs:
um defensor forte que intimidasse atacantes. Mas o preço pedido
pelos Penguins (as revelações Pavel Datsyuk ou Jiri Fischer)
era impensável. O único jogador que andava envolvido em
boatos de trocas, Darren McCarty, ficou e deverá ser o único
intimidador clássico da equipe. Ponto fraco: o time não
faz uma grande partida desde o ano passado, até porque nem precisa.
E deverá enfrentar um time que estará quente na briga
por uma vaga. O fator bom: toda a liga teme jogar contra os Wings.
Colorado Avalanche -- Uma defesa com Blake, Foote e Kasparaitis
faz qualquer atacante pensar duas vezes antes de querer ficar um tempo
na frente da área adversária. Kaspar foi a grande jogada
do dia-limite de trocas, mas está longe de ser como seu compatriota
aposentado Vladimir Konstantinov quanto a ser duro e não cometer
penalidades. Ao menos é para isso que torcem os Wings. Agora,
se Forsberg voltar, nem que seja para jogar as finais de conferência,
o favoritismo terá residência fixa em Denver.
Los Angeles Kings -- Talvez o time que mais esteja melhorando
dentro da competição, não duvido que os Kings possam
surpreender qualquer time nos playoffs. Possuem uma excelente linha
de vantagem numérica, o que pode ser decisivo nos apertados jogos
dos playoffs. Trouxeram Cliff Ronning sem precisar se desfazer de uma
peça importante do elenco, o que já é suficiente
para reforçar o bom e pouco comentado time. Ah, reparem na média
de gols de Zigmund Palffy nesta temporada.
San Jose Sharks -- Segue com seu time cada vez melhor. Fora os
Kings, só consigo enxergar os Sharks como azarões que
possam colocar gelo no chope de Detroit e Colorado. Com Teemu Selanne
jogando tudo o que sabe, o San Jose deve ser uma pedreira para quem
o pegar nas semifinais, desde que pare com a mania de cometer penalidades
a torto e a direito.
Chicago Blackhawks -- A campanha em casa impressiona, o que deve
ajudar caso fiquem entre os quatro primeiros. Uma boa mexida ter trazido
Lyle Odelein, indicando que os Hawks acreditam em alguma coisa nesses
playoffs. Eu não acredito.
St. Louis Blues -- Os Blues vinham melhorando a cada ano e parecem
ter piorado significativamente neste. Com Doug Weight fora, Chris Pronger
ora bem, ora apagado e Al MacInnis pouco exercitando o seu forte, chutes
a gol, não há como este time ir longe. Incrível
mesmo é que passou a temporada inteira e não contrataram
um goleiro decente pra vencer a Stanley Cup.
Dallas Stars -- Time que disputa vaga nos playoffs e na reta
final perde para Minnesota e Anaheim merece alguma coisa? Os Stars tentaram
Pavel Bure, mas desistiram espertamente. Acabaram por fazer uma boa
troca, trazendo mais força física ao time e reforçando
ainda mais um ponto onde já eram fortes. Com a bagagem que possuem,
poderiam fazer bonito nos playoffs, mas estão cada vez mais longe.
Quem imaginaria isso no início da temporada, quando era alardeado
o fato de os Stars terem "o melhor trio de centrais da NHL"?
Se conseguirem o feito, Joe Nieuwendyk fará muita falta neste
ano.
Edmonton Oilers -- O excelente negócio feito com os Rangers,
trazendo Mike York, deverá render bons resultados nos próximos
anos. No mais, Georges Laraque deverá fazer o trabalho de "segurança"
dos leves York e Mike Comrie. Há uns cinco anos que os Oilers
caminham bem, mas sempre falta alguma coisa para vôos mais altos.
Goleiro, Tommy Salo já mostrou que é suficiente. Este
ano a única coisa boa que pode acontecer é o time avançar
uma fase nos playoffs. Milagre é chegar às finais de conferência.
Phoenix Coyotes -- O reclamão das Olimpíadas Wayne
Gretzky deve estar todo feliz com sua surpreendentemente boa campanha
na temporada, com um time que não teria tanto pra isso. Chegando
aos playoffs, será um bom sparring pra qualquer um dos quatro
primeiros colocados.
Vancouver Canucks -- A luta é pra chegar aos playoffs,
nada além disso.
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Marcelo Constantino até gosta de escrever esse rodapé,
mas acabou não mandando nada. |
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ROLINHO? QUASE No duelo dos
dois grandes da Conferência Leste, Sergei Samsonov, do Boston
Bruins, tenta colocar o disco entre as pernas do goleiro do Philadelphia
Flyers, Brian Boucher (33). Boucher conseguiu defender, mas os Bruins
venceram e avançaram na liderança. (George Widman/AP
- 02/04/2002) |
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GOL DA VITÓRIA Marc
Bergevin, do St. Louis Blues, comemora gol marcado por Pavol Demitra
na prorrogação, enquanto o goleiro Ed Belfour e o
zagueiro Richard Matvichuk (24), ambos do Dallas Stars, se lamentam.
A derrota ajudou a enterrar ainda mais as chances dos Stars de chegarem
aos playoffs (Tim Sharp/AP - 03/04/2002) |
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MAIS SOBRE AS CHANCES DE CADA UM |
Análise de Bruno Bernardo |
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