Por
Thomaz Alexandre Amaral
2001-2002 é o 66.º (sugestivo, não?) ano na história
da American Hockey League, a AHL. Durante sua história, a liga
tem preparado muitos jogadores e técnicos para atingir o palco
maior do hóquei: a NHL. Não é à toa que
98 membros do Salão da Fama deste esporte já passaram
pela AHL.
Nesta temporada a liga passou por sua maior expansão. Três
novas franquias (Bridgeport Sound Tigers, Cleveland Barons e Manchester
Monarchs), somadas a mais seis vindas da defunta IHL (Manitoba Moose,
Grand Rapids Griffins, Chicago Wolves, Houston Aeros, Milwaukee Admirals
e Utah Grizzlies), somam-se às 18 remanescentes de 2000-2001
para a disputa da Calder Cup, taça que, assim como o troféu
de calouro do ano da NHL, homenageia em seu nome Frank Calder. Ele foi
o primeiro presidente da NHL e peça fundamental na formação
da AHL na década de 30.
Expansão? -- Infelizmente, essa expansão nem sempre
é um bom sinal. Nessas quase sete décadas de história,
muitas equipes da AHL desapareceram ou tiveram de se desligar e migrar
para ligas inferiores, incluindo aí equipes ex-campeãs.
Isso porque numa liga de interesse secundário e sempre subordinada
a outra, que leva seus melhores jogadores quando quer, o sucesso comercial
nem sempre é uma garantia.
Do lado das equipes que têm seu público fiel e conseguem
manter o elenco balanceado, as coisas podem ser extremamente rentáveis.
Isso porque os jogadores que disputam a AHL em sua maioria têm
contratos com o time afiliado na NHL, que paga seus salários.
Sem esta despesa e sem precisar dar muitas das "mordomias"
existentes na NHL (muitos times da AHL não viajam de avião,
por exemplo), e com a venda de merchandising (os artigos são
tão caros quanto os da NHL) e de ingressos (mais baratos), a
entrada de capital e a manutenção do time por uma longa
existência é certa. O Wilkes-Barre/Scranton Penguins (ou
Baby Penguins), que se uniu à liga em 1999, atingiu as finais
da Calder Cup em seu segundo ano e conseguiu na mesma temporada 33 jogos
com casa lotada, para uma média de mais de 8 mil presentes por
partida.
O total de presentes em arenas de AHL em 2000-2001 foi de 4,7 milhões
e a projeção para o fim da temporada de 2001-2002 é
de 7 milhões, o maior crecimento percentual já experimentado
pela liga.
Desenvolvendo craques e cartolas -- A extinta International Hockey
League (IHL), quando existente, contava com equipes que eram as principais
afiliadas de times da NHL, logo rivalizando com a AHL. Nesta temporada,
porém, todos os times da NHL colocaram seus principais prospectos
profissionais a serviço da AHL, com exceção do
Florida Panthers, coisa que ocorrerá pela primeira vez com qualquer
liga menor.
As próprias regras da AHL obrigam os times a priorizar o desenvolvimento
de jovens. No mínimo dez jogadores, fora goleiros, escalados
para cada jogo devem ter menos de 261 jogos de experiência profissional,
medidos no início da temporada corrente. Como cada time pode
escalar de 16 a 18 jogadores para cada jogo, no máximo 8 veteranos
estarão no time. Antes de cada temporada, cada time pode designar
um jogador com um mínimo de 450 jogos de experiência profissional
para estar isento da "regra do veterano".
Os números gerados impressionam. Na última temporada,
74% dos jogadores da NHL eram ex-AHL, incluindo 16 membros do campeão
Colorado Avalanche, como Alex Tanguay, Adam Foote e Patrick Roy. Outros
notáveis produtos desta liga são Adam Oates e John Leclair,
dos Flyers, Brett Hull, dos Red Wings, Doug Weight, dos Blues, Olaf
Kolzig, dos Capitals, e Patrik Elias e Martin Brodeur, ambos dos Devils.
Fora do gelo, os frutos também foram colhidos. Peter Laviolette,
dos Islanders, Robie Ftorek, dos Bruins, e Bob Hartley, do Avalanche
(campeão da Stanley Cup 2001), foram campeões como treinadores
na AHL. Gerentes Gerais bem sucedidos, como Larry Pleau, dos Blues,
e Ken Holland, dos Red Wings (bicampeão da Stanley Cup em 1997
e 98), também começaram sua carreira nos escritóros
desta liga "menor".
Modelo de competição -- Assim como a NHL, os times
da AHL estão divididos em seis divisões e duas conferências.
Cada equipe disputa 82 partidas na temporada regular, duas a mais que
na temporada passada, e as regras de prorrogação e pontuação
são idênticas às da NHL.
Após a temporada, dez times em cada conferência classificam-se
para a fase eliminatória. Os seis primeiros de cada conferência
entram direto nas quartas-de-final. Os times colocados entre a sétima
e a décima posições são pareados e disputam
uma série-repescagem de três jogos na casa do time de melhor
campanha, com o vencedor avançando às quartas-de-final.
Nesta fase, em cada conferência os campeões de divisão
recebem as cabeças de chave 1 a 3, os três seguintes de
melhor campanha as de 4 a 6 e os sobreviventes da repescagem as duas
últimas. As séries são melhor de três, entre
os os cabeças 1 e 8, 2 e 7 e assim sucessivamente, sendo a vantagem
de jogar a maioria dos jogos em casa do time melhor encabeçado
na chave. As séries são em melhor de cinco jogos.
A partir daí, nas semifinais e finais de conferência, as
séries são em melhor de sete jogos, com vantagem de rinque
decidida ainda pelo encabeçamento anterior.
As finais da Calder Cup são disputadas entre os campeões
das Conferências Oeste e Leste. A vantagem de rinque nesta melhor
de sete é decidida pela pontuação na temporada
regular.
Algumas curiosidades:
Dois
times da AHL são afiliados de dois times da NHL ao mesmo tempo,
tendo a vantagem de receber os melhores prospectos de ambos. São
estes: Springfield Falcons (Coyotes, Lightning) e Cincinnati Mighty
Ducks (Mighty Ducks, Red Wings).
O
Hershey Bears, time mais antigo da AHL e maior vencedor, com oito Calder
Cups, possui uma arena para 7.225 fãs. A média de público
é de 6.347. Nada mal para uma cidade com menos de 12 mil (!)
habitantes.
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Thomaz Alexandre é colunista da The Slot BR. |
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CELEBRAÇÃO Jogadores
do Hershey Bears comemoram gol durante a noite do uniforme patriótico:
o time é um dos mais tradicionais da AHL (hersheybears.com) |
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