Por
Thomaz Alexandre Amaral
Maio de 2001: após uma temporada digna do President's Trophy,
dado ao time com mais pontos ao fim da temporada regular, o Colorado
Avalanche varre o Vancouver Canucks na abertura dos playoffs. Até
aí, tudo conforme o esperado, mesmo com uma performance nada
sólida de Patrick Roy nas quatro vitórias sobre o time
da Colúmbia Britânica.
Na série seguinte, o adversário seria o surpreendentes
Los Angeles Kings, que soube se aproveitar das contusões do Detroit
e eliminar os favoritos Wings na primeira rodada (quem esquece o gol
do asa americano e ex-Avs Adam Deadmarsh?). Em sete jogos, em que Roy
ainda não havia atingido seu ápice e Feliz Potvin se destacou,
o Avalanche achou o caminho para vencer. Vencer calcado numa estrelada
coleção de defensores, a tão falada linha um de
Tanguay-Sakic-Hejduk (arranjada no início dessa mesma temporada
após algumas contusões) e o trabalho de Forsberg e do
futuro capitão Drury na linha dois. Vale ressaltar nessa série
o destaque incomum da linha Podein-Yelle-Messier.
Na comemoração após a quarta vitória sobre
os Kings, veio o maior golpe contra o time (e não foi nenhum
soco de Darren McCarty) na pós-temporada: Forsberg, após
princípio de sangramento, foi levado às pressas a um hospital,
onde teve seu baço removido. Fim de playoffs para o jogador com
mais pontos de pós-temporada entre os anos de 1996 e 2000 (102).
Fim da segunda linha de ataque dos Avs, que, ao aliviar a pressão
sobre a linha um, era tão responsável pelo sucesso dessa
quanto o próprio? Fim dos times especiais? Fim do Avalanche na
temporada?
Ledo engano. A partir daí, a começar pela série
contra os Blues, todo mundo conhece a história. Contando com
excelentes novatos (por exemplo, Ville Nieminen) e peças secundárias
vindas em grandes trocas (como Steven Reinprecht), o time reformulou
as linhas dois (agora mais focada em Drury), quatro (geralmente conhecida
apenas pela mania de "Five For Fighting" dos quase cômicos
Dingman-Reid-Parker) e os times especiais. Daí o trabalho de
Bob Hartley (técnico já campeão da AHL pelos Bears)
e, principalmente, Pierre Lacroix, considerado por alguns como o maior
Gerente Geral dos quatro esportes mais importantes da América
do Norte, foi recompensado. O Colorado partiu para um 4-1 contra Saint
Louis, que vinha de varrida sobre o Dallas, e um 4-3 contra o New Jersey,
que acabara de atropelar a sensação de 2001: o Pittsburgh
Penguins de Mario Lemieux.
Após conquistar a Stanley Cup, Lacroix e Harley tiveram de encarar
mais batalhas na entre-safra das temporadas. Para começar, a
pendenga da renovação com Joe Sakic, Rob Blake e Patrick
Roy, simplesmente os principais da equipe em suas posições:
ataque, defesa e gol, respectivamente. Além de salários
altos, um mítico pacto entre os três astros, que diziam
só renovar se todos o fizessem, fez torcida e diretoria arrancar
os cabelos. Por fim, Lacroix conseguiu que as coisas corressem mais
ou menos facilmente com Blake e Roy e, no que diz respeito a Sakic,
teve de contrabalançar. De um lado, não deu ao central
ex-capitão do Quebec Nordiques o aumento esperado no salário,
porém, de outro, teve de assinar a tão evitada cláusula
"sem troca", que, como propõe o nome, impede que o
jogador seja trocado até a conclusão do contrato. Nota:
Sakic será agente livre irrestrito ao fim deste contrato, logo
não há possibilidade de ele ser negociado sem mais uma
senhora canetada após os próximos quatro anos.
Saindo do escritório e rumo ao gelo, mas duas pendências:
montar um time competitivo sem contar mais com o aposentado Ray Bourque
e o enrustidamente contundido Peter Forsberg (já recuperado da
cirurgia do baço). Mais tarde, já com a temporada em andamento,
Forsberg voltou à mão dos médicos e ficou sabendo
que não jogaria em 2001-2002, perdendo toda a temporada (apesar
de estar planejando voltar a patinar nesta semana) e a Olimpíada
de Salt Lake City, onde sua Suécia protagonizou um fiasco de
corar a nação.
Mas uma vez, o bom trabalho do GG (viu, Glen Sather?) nos quesitos trocas
e recrutamento, o susto passou. Passado um início de temporada
aquém do desejado, vendo os Oilers à frente na divisão
por um bom tempo, o time se reencontrou. Começando pelo gol,
Patrick Roy veio a apresentar números de MVP (jogador mais valioso)
e David Aebischer a ser um reserva muito confiável (inclusive
defendendo a Suíça em Utah); na defesa, o veterano Todd
Gill foi chamado, Rick Berry, do Hershey Bears, ascendeu ao time principal
e, na quarta mega-troca em datas-limite consecutiva, Darius Kasparaitis
tornou-se mais um "pé-grande"; já no ataque,
Sakic manteve-se entre os melhores da liga, Ville Nieminem evoluiu ainda
mais (apesar de em março ter deixado a equipe), Reinprecht ganhou
mais tempo no gelo e um novo favorito dos torcedores apareceu: o explosivo
calouro Radium Vrbata, novato do mês em fevereiro. A seqüência
de arenas lotadas vinda de 1995-96 se estendeu e os campeões
de Denver foram em frente.
As cartas que foram postas na mesa assustam e ninguem duvida que ainda
existam outras na manga do Sr. Lacroix. E ainda há aquela carta
marcada, que todos sabemos onde está: o próprio Forsberg.
Tudo bem, ele custa ao time US$ 10,5 milhões, mas neste ano não
está ganhando nada. Isso significa que esses milhões serão
adicionados à folha salarial do time nas próximas temporadas.
E quando Forsberg voltar? Bingo! Ou teremos a adição de
um dos melhores centrais possíveis ao time com a segunda melhor
campanha ou teremos trocado-o por algo que certamente será de
valor (lembram-se de Eric Lindros?). Nada mau.
Resultado: hoje o Colorado Avalanche tem a segunda melhor campanha do
Oeste e da liga, lembrando mais uma vez que o início de temporada
não havia sido nada de mais. O Detroit Red Wings já espera
ansioso por eles nas finais de conferência e os apreciadores do
melhor jogo e das mais amargas rivalidades também.
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Thomaz Alexandre, estudante de estatística e apreciador de artes,
tem na redação o seu hobby e profissão ideais. |
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CELEBRAÇÃO Jogadores
dos Wings à frente de Patrick Roy: esperança de que isso não
aconteça nos playoffs (David Zalubowski/AP - 23/03/2002) |
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