Por: Humberto Fernandes

O confronto entre San Jose Sharks e Detroit Red Wings colocou frente a frente os dois maiores amarelões em playoffs da última década. Vários foram os anos em que essas equipes foram eliminadas por adversários bem inferiores, justificando a alcunha.

As boas campanhas recentes do Detroit (finais de conferência em 2007, campeão em 2008 e finalista em 2009) em contraste com as más campanhas do San Jose (eliminado na segunda fase em 2006, 2007 e 2008 e na primeira fase em 2009) trouxeram um equilíbrio para as apostas, que sem esse fator penderiam a favor dos Sharks pela ótima temporada regular.

No jogo 1, mesmo desfalcados de Patrick Marleau, os Sharks derrotaram os Red Wings por 4-3. A equipe não precisou jogar por 60 minutos para sair vitoriosa do gelo, bastou apertar o da direita com toda a força durante 79 segundos. Esse foi o tempo necessário para Joe Paveslki, Dany Heatley e Devin Setoguchi marcarem três gols no primeiro período, o primeiro deles em vantagem numérica nascida da falha de passes de jogadores do Detroit na zona de ataque.

Os Red Wings poderiam ter voltado ao jogo, depois de marcar o seu primeiro gol, nas oportunidades de vantagem numérica, mas em 5-contra-4 eles sequer ameaçaram os Sharks, que se defendiam muito bem com um jogador a menos no gelo.

Com boa atuação no segundo período e gol de Johan Franzen, os Wings diminuíram o placar para um gol, mostrando que seriam capazes de derrotar o San Jose em algum momento.

Mas os Sharks têm um ataque muito bom e seu estilo de jogo é basicamente o mesmo do Detroit. Essas equipes privilegiam a posse do disco, jogam e deixam jogar e não são de forma alguma focados na defesa. A maior diferença entre eles está nos times especiais. Em qualquer situação, com jogador a mais ou a menos, os Sharks são melhores que os Red Wings.

No começo do terceiro período, Pavelski marcou o que seria o gol da vitória com menos de um minuto, aproveitando o 5-contra-3.

Não foram os Red Wings do jogo 7 contra o Phoenix Coyotes, mas a atuação não foi das piores.

Depois do jogo 2, vencido novamente pelos Sharks por 4-3, ficou claro para todo mundo qual é o melhor time do confronto. Em diversos aspectos (times especiais, faceoffs e características dos jogadores como altura e força) eles são superiores. Os Wings conseguiam equilibrar os jogos quando os Sharks sofriam com seus apagões.

Nem mesmo o fato de marcar o primeiro gol do jogo, algo decisivo nos playoffs, mudou a sorte do Detroit. O gol de Pavel Datsyuk (em erro de passe de Joe Thornton) colocou os Wings na liderança, mas por apenas dois minutos, porque Pavelski estava lá para empatar o jogo em vantagem numérica. Noventa e um segundos depois, os Sharks viraram o placar. O período terminou empatado em 2-2.

Com o gol sofrido no começo do segundo período, os Sharks se perderam no gelo. A equipe até teve boas oportunidades, sempre defendidas por Jimmy Howard, mas no geral o time ficou devendo muito. Não foi pior porque os Wings não aproveitaram as suas chances.

No terceiro período, o Detroit jogou fora a vitória ao passar tanto tempo no banco de penalidades. Dos 20 minutos finais, em 5:56 os Red Wings tiveram ou ou dois jogadores a menos no gelo. A indisciplina custou ao time o empate na série (os Sharks tiveram dez vantagens numéricas no jogo). Pavelski, sempre ele, marcou seu quarto gol em dois jogos, tornando-se o primeiro jogador desde Mario Lemieux (1992) a marcar mais de um gol em três jogos seguidos nos playoffs. O gol da vitória foi marcado por Thornton, logo depois de Nicklas Lidstrom ver o seu taco se partir em dois numa jogada de ataque dos Red Wings. O contra-ataque foi mortal.

Para quem está perdia a série por 2-0, o jogo 3 tinha a mesma importância do jogo 7. Uma derrota decretaria a eliminação, porque ninguém vira um confronto em que perdia por três jogos.

O primeiro período dos Red Wings foi típico de quem joga em casa para vencer. A equipe marcou três gols, mas só dois valeram. O primeiro deles, de Henrik Zetterberg, foi anulado porque o jogador usou o pé para marcar. O segundo, de Holmstrom e curiosamente também com o pé, valeu. Mas o lance que deixou a torcida realmente de pé foi a cobrança de pênalti de Zetterberg. O sueco até fez um belo movimento, mas Evgeni Nabokov leu a jogada com perfeição e parou o chute com a luva. O período terminou com liderança dos Red Wings por 2-1.

Logo no começo do segundo período, o Detroit recuperou a vantagem por dois gols de diferença em um lance de pura sorte. Sem ângulo para marcar e com muita gente à frente de Nabokov, Zetterberg chutou para que o disco desviasse em alguém. Funcionou. A jogada ilustra a estratégia ofensiva do time, de sempre posicionar alguém próximo ao goleiro para cobrir sua visão e eventualmente desviar o disco.

Os Sharks vieram para o terceiro período com fome. Entraram para matar e pressionaram os Red Wings a ponto de parecer que o gol sairia no lance a seguir. Várias vezes não saiu, devido às intervenções de Howard ou da defesa. Até que Thornton marcou um gol de viradinha, que é muito bonito para quem faz e uma vergonha para quem sofre. Deixar um atacante dar a volta atrás da rede e marcar um gol é o cúmulo da passividade.

Tubarão duro em asa mole tanto bate até que fura. O empate era questão de tempo e os Sharks igualaram o placar em uma falha de Howard. O chute sem ângulo passou por entre as pernas do goleiro. No gelo, o constraste era gritante: enquanto os Sharks se matavam como se do jogo 3 dependesse a continuidade da série, os Wings assistiam a tudo como se o resultado do jogo não importasse.

Na prorrogação, em uma má troca de linha dos Sharks, os Red Wings tiveram um contra-ataque de 4-contra-3, que imediatamente virou um 1-contra-2 na arrancada de Thornton. O gol de Marleau garantiu a sexta vitória seguida do time nos playoffs.

Com 3-0 na série, os Sharks ficaram a uma vitória em quatro jogos (sendo dois em casa) de eliminar os Red Wings e avançar às finais de conferência.

O curioso é que o time que mais tempo liderou os jogos até agora foi o Detroit (34,5%). Somando-se os jogos 2 e 3, os Sharks lideraram por apenas dez minutos e ainda assim saíram com as vitórias.

Humberto Fernandes quer voltar a malhar.

Ezra Shaw/Getty Images
O San Jose Sharks está a uma vitória da classificação para as finais de conferência.
(02/05/2010)

Ezra Shaw/Getty Images
Henrik Zetterberg tem jogado muito bem, mas o Detroit Red Wings está por baixo dos Sharks.
(02/05/2010)

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Página publicada em 7 de maio de 2010.