Por: Alexandre Giesbrecht

Quando a situação está ruim, costuma-se dizer que a esperança é a última que morre. Quando está boa, então a esperança é onipresente. Foi o que se viu na noite de quarta-feira. Em uma série onde se esperava um confronto absoluatemente parelho entre dois times talentosos, o time um pouco menos talentoso continua mostrando uma garra impressionante e deixou a série sob seu controle com três convincentes vitórias.
Nada menos que 20 mil pessoas encheram o Scotiabank Place na esperança de ver seus Senators varrer o Buffalo Sabres dos playoffs naquela noite.

Essa introdução faz até parecer que se começa a falar de uma espetacular virada dos Sabres, a fagulha que daria início a uma reviravolta que se viu apenas duas vezes na história da NHL. Mas não é o caso. É bem verdade que os Sabres deram sinais de vida e provaram que ainda há testosterona dentro de seu organismo.

Mas a verdade é que os Senators não ficaram tão longe de vencer um jogo em que chegaram a estar perdendo por 3-0. Com dois gols em menos de dois minutos no segundo período e um terceiro período com traços de massacre em vantagem numérica, o time canadense chegou perto da varrida, que só não aconteceu por causa dos lapsos que lhes custaram três gols sofridos.

Se os Sabres continuarem jogando exatamente como jogaram no jogo 4, vão ter chance apenas de roubar mais um joguinho, no máximo. Ainda sem uma determinação que se aproxime da de seus adversários, é difícil imaginar que os Sens tenham muitos outros lapsos — ou que os Sabres consigam muitos outros gols de presente, como foi o gol de Chris Drury, o terceiro.

A única chance que os Sabres têm de quebrar o jejum eterno de títulos de sua cidade é seguir a fórmula dos Senators: raça, muita raça. Porque talento o Buffalo tem de sobra, em quantidade até maior que os rivais. O problema é que só talento em playoffs não costuma resolver.

Qualquer time que chega a um jogo 4 depois de três derrotas está em maus lençóis, com a lei das probabilidades contra si. Há um pouquinho de esperança — a última que morre, está lembrado? —, mas sabe-se que as chances são minúsculas, pois um mau jogo nos quatro seguintes é o suficiente para ser eliminado.

Por outro lado, o primeiro desafio já foi superado. É verdade que meio aos trancos e barrancos, mas foi. As circunstâncias dessa primeira vitória não foram tão animadores quanto muitos no Interior do estado de Nova York queriam, mas há que se jogar com as cartas que se tem na mão. No caso dos Sabres, isso significa esquecer os quatro últimos jogos. Aliás, esquecer todos os jogos destes playoffs, já que raramente o time pôs em prática todo o seu poder de fogo.

O negócio é se recompor e jogar (prepare-se para o clichê) como se fosse o último jogo de suas vidas. Pode até não vir a ser, mas, qualquer esforço menor que o máximo significa ao menos o último jogo da temporada.

Do lado do Ottawa, a receita é bem mais simples, resultado não só do placar folgado como também do estilo de jogo que o time está adotando. É só não subir no salto alto, não deixar a peteca cair. Se você parar para analisar a campanha dos Senatos no último mês e meio, não há quase nada a se tentar melhorar. É claro que não existe time tão perfeito que não precise de nenhum retoque, mas estes Sens estão jogando bem demais.

Tão bem que desequilibraram bastante uma série que tinha tudo para ser equilibradíssima.

Alexandre Giesbrecht, publicitário, odeia burocracia.

Elsa, Pool/AP
Este gol de Chris Drury foi um verdadeiro presente do goleiro Ray Emery: os Sabres não podem contar com muitos outros presentes dos Senators.
(16/05/2007)

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Página publicada em 17 de maio de 2007.