Depois de uma semana perfeita, o Buffalo Sabres protagonizou uma semana
péssima e agora tem o New Jersey Devils no cangote da liderança da Conferência
Leste. Quando esta matéria estava sendo escrita, na segunda-feira, apenas
um ponto separava os dois times. Oito pontos distanciam o New Jersey
do adversário mais próximo, o Pittsburgh Penguins, contra quem a equipe
briga pela conquista da Divisão do Atlântico.
Os Devils estão quentes e não é de agora. Lá em dezembro do ano passado
esta coluna já destacava uma situação muito semelhante à atual: os
Devils esquentando e ameaçando a liderança dos Sabres no Leste.
Porém, do Natal para cá a campanha é ótima:
23-6-5. Atualmente eles andam com problemas de contusão no elenco, mas
nesta semana mostraram novamente que sabem encarar e vencer jogos decisivos.
No caso, a vitória sobre o rival mais próximo de divisão — o Pittsburgh,
por 4-3 na prorrogação — seguida da vitória sobre o líder da conferência
— o Buffalo, por 3-2.
Em ambos os jogos os Devils estiveram com dois patinadores a menos durante
a maior parte do tempo, devido a contusões. Ainda haverá um último encontro
com ambos os times na temporada: contra os Pens no dia da publicação
desta edição, e contra os Sabres no próximo dia 28. Se a briga se mantiver
neste patamar até lá, eis um jogo imperdível.
No fim das contas a corrida pela liderança do Leste é meramente uma
disputa pela vantagem de jogar em casa, e não por supostamente pegar
um adversário mais fraco na primeira etapa. A disputa pelas últimas
vagas na conferência é tão feroz que, do 7º ao 11º colocado a diferença
de pontos é mínima atualmente. Mas a vantagem no gelo não é
pouca coisa, ainda mais em se tratando dos Devils. Lembrem-se eles venceram
uma Copa Stanley num jogo 7 atuando em casa, contra o Anaheim Mighty
Ducks, em 2003. E perderam uma Copa Stanley também num jogo 7,
jogando fora de casa, contra o Colorado Avalanche, em 2001. Vale a pena
esse esforço de fim de temporada.
E o técnico Claude Julien indica que o time quer mesmo chegar ao topo.
A idéia inicial era formar distância frente aos Penguins na divisão,
o que já foi feito, mas agora que a chance de ser o número 1 está próxima,
por que não?
Muito pouco se fala dos Devils de um modo geral. Todos entendem que
eles não jogam um hóquei empolgante de se assistir, mas todos também
sabem que nenhum outro time sabe executar tão bem aquele velho esquema
de jogo deles. Esquema este que lhes deu três Copas Stanley e um lugar
no pódio da supremacia da NHL entre 1995 e 2004. Por que mudar? Scott
Niedermayer se foi e Scott Stevens se aposentou, técnicos se alternaram,
mas o velho esquema introduzido por Jacques Lemaire — a famosa
armadilha da zona neutra — se manteve. E mais, foi sendo aperfeiçoado.
Por mais que alguém exclua os Devils de qualquer prognóstico futuro
sobre playoffs, lá estarão eles muitas vezes assombrando e demolindo
previsões sombrias.
Em grande parte isso se deve ao sempre fenomenal goleiro Martin Brodeur.
Entra ano, sai ano, Brodeur figura entre os possíveis candidatos a MVP
da temporada, entretanto sem jamais efetivamente figurar entre os favoritos.
Seguramente o mais sólido goleiro da NHL da atualidade e certamente
um dos maiores de todos os tempos, Brodeur vem sendo também um fenômeno
de resistência, tendo atuado em 66 partidas de um total de 70 disputadas
pelos Devils na temporada. Com 41 vitórias, é o líder nesse quesito
entre os goleiros.
Mas a grande revelação do time nesta temporada talvez seja o atacante
Zach Parise, que fez sua estréia na NHL na temporada pós-locaute e agora
já é um dos principais jogadores do time. Primeira escolha do recrutamento
de 2003, o diminuto (na estatura) jogador é o artilheiro do time na
temporada com 27 gols. Certamente terá um considerável aumento salarial
ao término da temporada, pulando dos atuais cerca de US$ 700 mil ao
ano para a casa dos milhões. O que gerará um efeito colateral nocivo:
este é também o último ano de contrato de Scott Gomez, que já ganha
na casa dos US$ 5 milhões ao ano. Um problema que o gerente Lou Lamoriello
saberá resolver, especialmente limitando o tamanho da garganta de Parise.
É interessante verificar que, mesmo com figurões como
Patrick Elias e Scott Gomez no ataque, o time não tem um jogador
sequer entre os 30 maiores pontuadores. Isso reforça a idéia
de que boa parte do segredo do sucesso dos Devils está no grupo
e no compromisso de se jogar em equipe.
Na última temporada jogando em East Rutherford, os Devils terão
13 jogos para brigar pela liderança no Leste — seria a
quinta vez em dez anos, além de um sétimo título
de divisão. Não será fácil, eles enfrentarão
ainda por duas vezes os desesperados Hurricanes e Islanders, assim com
os Leafs uma última vez na temporada, todos brigando asperamente
entre si por uma vaga nos playoffs.
Seja como for, os Devils entrarão nos playoffs como um dos favoritos
à conquista da Conferência Leste, não tão distantes assim do favorito-desde-o-começo
Buffalo Sabres.
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![]() Martin Brodeur, absoluto. |
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![]() Zach Parise é o artilheiro do time na temporada, uma bela revelação de um jovem talento. |
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![]() Cam Janssen tinha sido suspenso por uma entrada um tanto sinistra em Tomas Kaberle, do Toronto Maple Leafs. Na partida em que voltou, já arrumou logo um parceiro para brigar, Andrews Peters. |