Por ALAN MUIR

A temporada já tinha quatro jogos, e Ilya Kovalchuk ainda não tinha acendido a lâmpada. Ainda assim, seu Atlanta Thrashers começou a temporada com a melhor campanha de sua história, 3-0-1. Kovalchuk tem aquele tipo de talento dominador que pode valer, só por si próprio, dois pontos na tabela, e, quando ele engrenar, os Thrashers serão um adversário bem mais perigoso. Mas, enquanto isso não acontece, eles parecem não estar sentindo falta do poderio ofensivo dele. Por enquanto, Atlanta é o lar do Show de Kari Lehtonen.

Segunda escolha geral do recrutamento de 2002, Lehtonen foi descrito por anos como o goleiro do futuro do Atlanta. Se levarmos em consideração suas atuações nesta temporada — e sim, eu dei uma olhada na data do calendário e vi que ainda estamos em outubro —, já é praticamente seguro dizer que o futuro é agora.

Quatro jogos como titular. Dois shutouts. Uma média de 0,71 gol sofrido. 97,1% de defesas. Três vitórias. É fácil se perder nos números, especialmente quando eles pintam um cenário tão bonito. Mas não se consegue ter uma prova dos passos que Lehtonen está dando na página de estatísticas. Isso só se dá quando se o vê fazer sua mágica.

O que ele está fazendo pelos Thrashers é o que Martin Brodeur does faz pelos Devils, ou Miikka Kiprusoff faz pelos Flames. Com sua postura calma e firme, Lehtonen faz os Thrashers parecer melhores do que eles parecem no papel. Não é só que ele faz as grandes defesas; é que ele as faz parecer simples. Ao fazer o seu papel tão rotineiramente, ele dá a seus colegas de time tranqüilidade para jogar.

Os resultados não são glamurosos. Ao final de cada jogo, há poucas cenas para os melhores momentos, porque melhores momentos são feitos de erros aproveitados. E, até agora, Lehtonen não os está cometendo (nem ele nem sua desconhecida defesa, liderada por Andy Sutton, Niclas Havelid e Vitali Vishnevski).

Lehtonen usa uma técnica quase infalível misturada com um posicionamento obediente e seu corpanzil de 1,93 m e 88 kg para não deixar espaços onde atacantes adversários possam mirar. Defesas que podem ser perigosas para outro goleiro são corriqueiras para Lehtonen, com o disco batendo em seu peito ou nas suas proteções de pernas, antes de ele rapidamente tirá-las do caminho.

Esse domínio de sua arte foi evidenciado na quarta-feira passada, nos 4-1 sobre os Bruins. 23 chutes, 22 defesas, sendo só uma delas memorável: uma agressiva antecipação a uma bela finta de Phil Kessel no terceiro período, que tirou do novato seu primeiro gol na NHL.

Um elemento impressionante das caracte rísticas de Lehtonen é que ele não blefa. Patrick Roy, por exemplo, adorava provocar os adversários mostrando a luz do dia por entre suas proteções de pernas ou por sobre a sua luva, fazendo o atacante ter a tentação de colocar o disco exatamente onde Roy o queria. Lehtonen, por outro lado, simplesmente não dá nada ao atacante.

Depois de shutouts consecutivos contra Florida e Tampa Bay, Lehtonen construiu o recorde da franquia para minutos sem tomar gols: 167:56. O único gol que ele sofreu na quarta-feira foi um ricocheteio digno de fliperama que só teria sido parado por uma tábua do tamanho do gol. E mesmo naquele lance, Lehtonen ficou só a um fio de cabelo de fazer a defesa. Foi parecido com os outros dois gols que ele tinha sofrido na temporada até ali: ambos foram desvios de sorte que teriam passado por um lutador de sumô deitado.

A presença de Lehtonen não é sentida só na coluna de vitórias; é também na desvantagem numérica. Com o jovem finlândês no departamento médico por boa parte de 2005-06, os Thrashers ficaram em 26.°, com sucesso em apenas 79,2% das ocasiões. Nesta temporada, eles mataram 23 das 25 penalidades. Parte do crédito vai para a postura mais disciplinada dos jogadores de linha, mas não dá para ignorar a importância do melhor matador de penalidades do Atlanta.

A emergência prematura de Lehtonen sugere que os Thrashers serão capazes de disputar o título da Divisão Sudeste. Este é, afinal, essencialmente o mesmo time que ficou a apenas dois pontos dos playoffs no ano passado, apesar de um início de temporada medonho e com um carrossel de goleiros da ECHL no gol.

Se bem que é difícil levá-los a sério quando eles alinham quatro centrais de terceira linha todas as noites. Fora sua eficiência em face-offs — eles são bons nisso —, o grupo formado por Steve Rucchin, Glen Metropolit, Bobby Holik e Niko Kapanen é quase que um freio de mão para o ataque dos Thrashers. O desafio do gerente geral Don Waddell será achar ao menos um, mas de preferência dois pivôs capazes de maximizar pontas excelentes como Kovalchuk e Marian Hossa, para dar continuidade ao Show de Kari Lehtonen.


Alan Muir é jornalista do SI.com. O artigo foi traduzido por Alexandre Giesbrecht.
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Página publicada em 18 de outubro de 2006.