É certo que cada time tem seu candidato a MVP. Até mais de um, em alguns casos. Os Oilers têm Chris Pronger e Mike Peca. Os Ducks, caso se recuperem, teriam Teemu Selanne, Scott Niedermayer e até mesmo Ilya Bryzgalov (!). Já os Sabres possuem um elenco diversificado demais para apontar um destaque. Nos Hurricanes o MVP atende pelo nome de Rod Brind'Amour.

Conheci Rod Brind'Amour na primeira temporada que acompanhei, a de 1996-97. Conheci, leia-se, tomei conhecimento da existência dele, não o conheci fisicamente falando. Sei que ele já tinha anos de NHL, sei que ele começou nos Blues, mas vamos começar das finais da Copa Stanley de 1997.

Lembro que, no dia do jogo 2 daquelas finais entre Detroit Red Wings e Philadelphia Flyers, eu estava no aeroporto JFK pra voltar ao Brasil, depois de uns dias de férias. Fui ligar pra casa para avisar e tal, e sobretudo para confirmar com meu irmão que ele estava gravando o jogo — que eu assistiria no dia quando chegasse, sem saber do resultado.

Liguei para ele:
"Não fala quanto está o jogo!"
"Tenho que falar, porque está muito bom. O Detroit estava 1-0, mas um tal de Brind'Amour meteu dois gols seguidos e virou o jogo!"

Ou seja, meu irmão estraga-prazeres me contou o primeiro período do jogo. E que raios aquele "tal de Brind'Amour" estava fazendo?! Chegando em casa, do dia seguinte, assisti ao jogo todo (os Wings viraram e venceram) e acredito que ali foi a primeira vez que eu reparei realmente no Rod. Afinal, em quatro períodos da final, ele havia marcado três gols (o primeiro gol dos Flyers no jogo 1 também havia sido dele). Dali até o final da série os Flyers marcariam apenas mais duas vezes, mas passei a sempre observar aquele cara jogando. E jogava com uma raça de dar gosto.

Elos que se ligam

Brind'Amour acabou negociado para os Hurricanes, fechando um estranho elo: em 1996 os Wings mandaram Keith Primeau e Paul Coffey para o então Hartford Whalers por Brendan Shanahan. Naquela mesma temporada Coffey foi parar no Philadelphia. Em 2000, foi a vez de Primeau parar no Phila. Em troca de Brind'Amour.

Os Flyers queriam um jogador que se impusesse fisicamente e que fosse um goleador, e acreditaram que Primeau fosse tudo isso — tanto que virou capitão da equipe. Naquela época eu já não conseguia ver de que forma um Primeau pode ser mais importante para um time do que um Brind'Amour, ainda mais com os dois sendo da mesma faixa etária. Podia ser uma questão de gosto...

De lá pra cá, Primeau seguia não convencendo, mas estava em ascensão nos Flyers. Até que finalmente o cara justificou as expectativas e arrebentou nos playoffs de 2004. Ok, foi só naquele ano, mas ao menos houve uma vez. Enquanto isso, Brind'Amour seguia em curva inversa nos Hurricanes. Mesmo com o time chegando nas finais de 2002, ele não foi tão bem quanto em 97 pelos Flyers. Ron Francis e Jeff O'Neil dominavam a cena do Carolina.

A hora é agora

Depois da curva descendente, o camisa 17 dos Hurricanes deu a volta por cima parece predestinado à Copa Stanley, arrebentando na temporada regular e arrebentando nesses playoffs. Agora é a hora de Brind'Amour.

São 15 temporadas na NHL (5,5 com os Canes), 36 anos incompletos e duas finais de Copa Stanley (e duas derrotas frente aos Red Wings). No Carolina ele é tido como um operário-padrão, daqueles que chegam antes do horário e que saem depois. Um guerreiro e um líder dentro e fora do gelo, exemplo para os demais jogadores, sejam jovens ou veteranos.

Líder, alma e coração dos Hurricanes, jogador de raça infindável, ele foi o atacante com mais tempo de jogo na temporada e é o atacante com mais tempo de jogo nesses playoffs. É sempre a primeira opção para face-offs importantes e para qualquer situação de times especiais.

Em sua melhor temporada em oito anos — a sua melhor na franquia — foi o jogador que mais disputou face-offs (terminou em terceiro em termos de aproveitamento) e ainda estabeleceu novo recorde pessoal na carreira com 19 gols em vantagem numérica.

Enfim, esse blablabla todo é só para dizer que, se há um jogador dessas finais que eu gostaria de ver levantar a Copa Stanley este ano, esse é Rod Brind'Amour. Se ele conseguir isso, o Conn Smythe também chega naturalmente às suas mãos. Sim, vai ser difícil — está sendo difícil — talvez os Sabres estejam quentes demais para os Hurricanes no momento. Mas... às favas com a razão: uma Copa para Brind'Amour!

Você já deve ter lido um milhão de vezes que todo time que quer ir longe nos playoffs deve ter um grande goleiro. Ou que todo time precisa de um grande goleiro. Ou que todo time se constrói a partir de um goleiro. Ou que você não vence a Copa Stanley sem um goleiro experimentado (exceto se o seu novato se chamar Patrick Roy). Enfim, qualquer coisa dessas. Ryan Miller, Cam Ward, Ilya Bryzgalov e Dwayne Roloson não são — ao menos não eram até os playoffs começarem — goleiros que se qualificariam para liderar um time que quisesse vencer a Copa, dentro dos tais preceitos.

Conclusão: desconfie sempre dessas frases feitas (inclusive desta!). E viva a nova NHL!

Marcelo Constantino recomenda Costa-Gavras. No momento, "O Corte".
O GRANDE O MVP dos Hurricanes segue na escalada para levantar a Copa Stanley e, como conseqüência, também o troféu Conn Smythe (Carolinahurricanes.com)
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Página publicada em 25 de maio de 2006.