No final da última temporada jogada, o mundo do hóquei ficou chocado com a atitude covarde de Todd Bertuzzi ao atacar Steve Moore pelas costas, derrubando o jogador do Colorado e causando uma fratura em uma vértebra da coluna cervical do jogador. A lesão sofrida foi grave, ele ainda não se recuperou totalmente e, na verdade, ninguém sabe dizer com certeza se um dia ele voltará a jogar hóquei profissionalmente.

O restante todos já estão cansados de saber. Bertuzzi foi suspenso pelo restante daquela temporada, incluindo os playoffs, e foi proibido de jogar em outro lugar na última temporada. Fora do gelo, Bertuzzi foi processado judicialmente em Vancouver e acabou condenado a pagar uma multa e a prestar serviço comunitário.

Com a volta da NHL nesta temporada, Bertuzzi foi liberado para voltar a jogar. Desde a pré-temporada, quando joga fora de Vancouver ele é vaiado sempre que entra no gelo e quando está com o disco. Mas todos aguardavam o grande jogo. Aquele em que Bertuzzi voltaria a atuar em Denver, sede do Colorado Avalanche, pela primeira vez após o famoso ataque e a lesão sofrida pelo ex-jogador dos Avs.

Para aumentar o calvário de Bertuzzi, o novo calendário da liga agendou dois jogos consecutivos entre Vancouver Canucks e Colorado Avalanche na cidade de Denver. Desde a divulgação do calendário oficial da liga, muito se especulava sobre como seria a recepção a ele em Denver e como ele se comportaria, dentro e fora do gelo.

Na primeira partida, os Avs dominaram as ações e golearam os rivais de divisão por impiedosos 6-2. Em todas as vezes que esteve no gelo, Bertuzzi foi vaiado insistentemente pela torcida local, principalmente quando tocava no disco.

Todd conseguiu uma assistência em um dos gols dos Canucks e, quando o sistema de som anunciou a sua assistência, a resposta foi uma sonora vaia no estádio.

A torcida de Denver deixou a imaginação correr frouxa, e várias pessoas fantasiadas lembravam daquele triste momento da NHL. Um grupo de amigos estava fantasiado com uniformes de presidiários, com farda branca e listras pretas com o nome de Bertuzzi, e seguravam uma placa que dizia "Estamos fantasiados de Bertuzzi para o Halloween". Uma dupla, mais agressiva, procurou se fazer vista e ouvida por Bertuzzi ao aparecer com uniformes laranja de presidiários, e no aquecimento antes da partida se aproximou de Bertuzzi, gritando que seu lugar era na prisão.

Tudo bem que as pessoas têm o direito de se expressar, de demonstrar insatisfação e revolta com uma determinada situação, mas outros torcedores do Colorado passaram dos limites e acabaram criando situações no mínimo constrangedoras e demasiadamente agressivas. Um dos mais graves ocorreu no próprio estádio dos Avs, quando um torcedor mais exaltado derramou uma lata de cerveja numa mulher que vestia a camisa 44 de Bertuzzi dos Canucks. Quem foi o mais sem noção deles? A mulher que foi ao estádio com a camisa 44 ou os agressores?

Mesmo com os pequenos incidentes verificados, a reação da torcida não foi tão violenta quanto era previsto pela mídia local e pela própria torcida. Em nenhum momento a reação deles passou disso. Ninguém tentou atingir fisicamente o jogador dos Canucks.

Na segunda partida, Bertuzzi também conseguiu uma assistência e foi vaiado insistentemente pela torcida, mas já sem tanto afinco. É óbvio que a torcida não vai esquecer de uma hora para outra, mas já foi diferente o comportamento do primeiro para o segundo jogo. Mesmo apresentando-se melhor, os Canucks foram derrotados na prorrogação, depois de estar vencendo por 3-2 a 5 minutos do final da partida.

Depois de mais de 19 meses do acontecido, depois de tanto se falar nisso e do que deveria ter sido feito, depois de tanto tentarem julgar Bertuzzi e cada um sugerindo uma pena, os Canucks voltaram a Denver. A torcida teve seu momento de se expressar quanto à agressão, mas já é hora de seguir em frente.

Se os torcedores dos Avs estão tão chateados e enraivecidos com Todd Bertuzzi por ter socado e lesionado Steve Moore, por que não exigem de sua própria diretoria uma atitude diferente da que eles têm tido? Um tratamento mais adequado do que eles têm dispensado a Steve Moore?

A organização Colorado Avalanche basicamente abandonou o jogador. Nem mesmo um contrato foi oferecido a ele, que agora precisa arcar com todas as despesas da recuperação de uma agressão sofrida no exercício de seu trabalho. Pior é que o que ele sofreu foi uma resposta, exagerada, é certo, a uma agressão do mesmo Moore contra Markus Naslund no confronto anterior. A torcida de Denver não fala disso e adoraram quando Moore tirou Naslund da partida, com o jogador dos Canucks tendo sido agredido covardemente também e sofrido o risco de uma contusão mais séria.

Por que então só Bertuzzi deve pagar? Por que ele deveria carregar isso nas costas pelo resto da sua vida profissional?

Que fique bem claro: não se trata de defender a atitude covarde de Bertuzzi. Trata-se de ver todos os lados do problema. Bertuzzi é, no momento, tão culpado quanto aqueles que fazem o Colorado Avalanche. Toda ação gera uma reação. Nada justifica a atitude de Bertuzzi, mas se a diretoria do Colorado Avalanche exige tanto que ele se desculpe pessoalmente com Steve Moore, por que eles não começam a fazer a parte deles e não oferecem suporte médico e financeiro ao ex-jogador que se machucou jogando por eles e que recebeu o troco por uma atitude que tomou a favor deles?

Quando perguntado por um repórter de Denver o que significava aquela reação da torcida, a resposta de Betuzzi foi: "Entenda. Você é bem inteligente. O que eu vou fazer a respeito disso?"


Alessander Laurentino nunca se fantasiou de presidiário nem para uma festa a fantasia.
REAÇÕES DIVERSAS Acima, três momentos de protesto da torcida de Denver (Fotos: R.J. Sangosti/Denver Post, Don Pensinger/Getty Images, David Zalubowski/AP - 27/10/2005)
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Página publicada em 3 de novembro de 2005.