Existem dois Capitals nessa temporada. Um é medíocre. O outro
excitante. Obviamente esse Washington Capitals excitante aparece,
apenas e tão somente, quando Alexander Ovechkin está com o disco.
Porém, por mais fantástico que seja o russo, isso não é —
e nem será — suficiente para dar credibilidade a essa limitadíssima
versão 2004-05 do time de Washington.
Bem, isso a maior parte de nossos sagazes leitores já sabia que
aconteceria, não falei nenhuma novidade. Até a direção da equipe
sabe que é tempo de acumular escolhas altas para ter um time forte
no futuro. Só que a coisa está ainda mais sofrível que o esperado
e apenas três coisas são motivos suficientes para colocar um tímido
sorriso na face dos torcedores de Washington hoje em dia: o já
citado fenômeno russo, a péssima campanha dos velhos rivais de
playoffs, Pittsburgh Penguins — este sim, investiu pesado
e poucos esperavam um início de temporada tão improdutivo —,
e o goleiro Olaf Kolzig.
De um modo resumido — se fôssemos aprofundar o tema, seria
necessária uma edição inteira — veremos o que faz esse cenário
ser tão desanimador.
Duas das três vitórias foram super zebras
Pelo início de temporada do time podemos dizer que os Capitals
podem considerar a pífia campanha de 2003-04 (23-46-10-3) um conto
de fadas. Pode parecer exagero, mas repare que, nas três vitórias
do time nessas nove partidas já disputadas, ficou claro que o
time foi, em duas oportunidades, muito inferior aos adversários
abatidos — Columbus e Tampa Bay — e na outra - contra
o New York Rangers —, um pouco mais equilibrada, a equipe
teve menos chutes e oportunidades reais de gol que o oponente.
E foi graças a Ovechkin e Kolzig que a equipe venceu esses jogos
e não está com um aproveitamento nulo até agora. Logo na estréia
contra o fraco Columbus Blue Jackets, o goleiro de 35 anos teve
que se virar e defender 35 das 37 tacadas do time de Ohio. Na
mesma partida, Ovechkin marcou duas vezes. Quando se leva 37 tacadas
de uma equipe fraca como os Blue Jackets — que hoje é um
dos lanternas da Conferência Oeste — atuando em casa e responde
com apenas 19 chutes é que algo já começou errado.
A segunda veio contra os Rangers do débil goleiro Kevin Weekes.
E, como na partida contra os Jackets, Kolzig foi decisivo. Pra
variar, Ovechkin marcou o gol da vitória. O último jogo em que
saíram como vencedores foi contra o atual campeão Lightning. Uma
partida onde o placar de chutes refletiu bem a diferença entre
as equipes: 40-14 para o time de Tampa, é claro. Kolzig não defendeu
apenas dois desses 40 chutes e Alexander Ovechkin marcou o gol
— que não contou pra a artilharia, mas valeu dois pontos
para o time — no shootout.
Indisciplina
É até compreensível que, por ser uma equipe jovem e com pouca
qualidade, o time cometa um número considerável de penalidades.
Mas os Capitals vêm exagerando na dose. Por vezes fica a idéia
que existe algo de muito interessante no banco de penalidades
para os atletas dos Caps irem tantas vezes lá. Talvez pôsteres
da Camila Pitanga, uma rodada grátis de milk shakes de Ovomaltine
ou até mesmo uma coleção completa da revista TheSlot.com.br estejam
disponíveis para os freqüentadores do lugar. Seja o que for, o
fato é que nenhuma equipe na NHL cometeu tantas penalidades na
temporada até agora quanto eles. Antes da última partida da equipe,
contra o Carolina Hurricanes, o treinador Glen Hanlon pediu mais
calma e concentração para diminuir essas infrações. O resultado?
Uma dúzia de vantagens numéricas a favor dos rápidos Hurricanes.
E na hora de matar as penalidades...
A equipe de matar penalidades dos Capitals é a segunda coisa mais
inoperante e incapaz da capital americana, perdendo apenas para
o cérebro do Sr. George W. Bush. Na citada partida acima, contra
Carolina, foram três gols sofridos em desvantagem numérica. Em
toda a NHL só existe uma equipe pior, em porcentagem, para matar
as oportunidades adversárias — os Mighty Ducks de Anaheim
— e a tendência é que brevemente o time passe a ter a questionável
honra de também liderar a liga neste quesito. Já em quantidade
reina absoluto com 78 vezes em desvantagem numérica no gelo. Nem
preciso dizer também que, quando essas situações acabam, o time
está bem mais fatigado que o adversário.
Kolzig: um alvo móvel
Quantidade e qualidade nos chutes contrários. Em todas as nove
partidas da equipe na temporada o time teve mais chutes contra
que a favor. Foram 303 chutes em apenas oito jogos contra Olaf,
e outros 60 foram disparados contra o reserva imediato Brent Johnson,
em 71 minutos de ação do ex-goleiro dos Blues e Coyotes na temporada.
A média beira os 40 chutes por jogo e geralmente o time chuta
apenas a metade disso ao arco adversário. Contra os Panthers veio
o recorde de tacadas sofridas em um único período (28, no segundo)
da franquia.
Mais do que a quantidade, o que vem tirando do sério o veterano
Kolzig é a qualidade dos chutes que vem enfrentando. Um massacre
sem resistência alguma, já que em boa parte desses chutes o atirador
tinha múltiplas escolhas de finalização. Seria como se apenas
um homem tivesse que defender a cidade de São Petersburgo do exército
alemão durante a Segunda Guerra Mundial, usando um espanador de
pó. Não tem como. Por isso a meta dos Caps é a mais vazada da
liga, com 40 gols contra. E é por isso também que Kolzig tem a
segunda pior média de gols sofridos por jogo (4,08).
Coadjuvantes insatisfeitos
Dois jogadores do elenco que teriam vaga em muitas equipes da
NHL não vêem a hora de fazer as malas e ir embora de Washington.
Brandon Witt é bem claro na sua idéia de buscar seu sonho —
vencer a Copa Stanley — em outro lugar. O que o defensor
não pode fazer é ser displicente e cometer penalidades estúpidas
e ridículas quando ele, na condição de homem de defesa mais experiente
do grupo, deveria dar o exemplo aos mais jovens defensores da
equipe, em especial o promissor Steve Eminger. Jeff Friesen, é
menos direto em suas intenções, mas apenas duas assistências em
nove jogos mostra que a cabeça do ex-Devils está longe de DC.
Inexperiência
Juventude é ótimo, mas tem seu preço. Contra o Tampa Bay Lightning
a defesa, excluindo Witt e o fraco Jamie Heward, teve uma média
de idade de menos de 22 anos e levou um baile que só não terminou
em goleada porque forças ocultas e Olaf Kolzig não deixaram. Outro
fator é que os jogadores jovens, em sua maioria, têm dificuldades
em lidar e absorver as críticas que certamente virão com as derrotas.
Se bem que esse último problema é questionável, já que a imprensa
de Washington tem dado tanto destaque ao hóquei quanto ao alto
consumo de jujuba nas escolas municipais de Palmas, no Tocantins.
Química? Onde?
O melhor exemplo veio contra os Panthers. Ovechkin marcou duas
vezes e numa delas teve que passar por todos os adversários, até
bater Luongo. Ajuda zero. Na última partida, contra o Carolina,
Glen Hanlon mudou as linhas: Dainius Zubrus foi centrar Ovechkin,
relegando Jeff Halpern à linha de Jeff Friesen e Chris Clark.
Nenhuma delas funcionou e pela primeira vez na temporada Ovechkin
não pontuou, quebrando a seqüência de 10 pontos em oito jogos.
E também não mudou a rotina de sofrer um caminhão de chutes (41)
e ameaçar pouco (18) a meta adversária. A única ajuda considerável
que o russo vem recebendo é a de Zubrus, só que fora do gelo.
Afinal, um interprete é preciso.
Público de campeonato brasileiro no MCI Center
Pra não ficar feio, o cara que comanda o sistema de som da arena
dos Capitals fala um número qualquer entre dez e doze mil para
anunciar o número de presentes durante os jogos do time em casa.
Contra os Canes o número escolhido foi 13.374, mas quem viu jura
que os presentes não chegavam a dez mil. Agora, imagina se acontece
uma desgraça e Alexander Ovechkin se machuca e fique fora. A coisa
ficaria ainda mais preta e teríamos público de Olaria e Bangu
no MCI Center! A possibilidade da equipe sair de Washington é
remota, mas não pelo apoio ou pressão de fãs e da mídia, e sim
porque sem os Capitals sobrariam 41 vagas para preencher no calendário
da arena.
Luz no fim do túnel? Vai demorar um pouco
Primeiro depende da sorte para ter o mesmo destino dos Penguins
e conseguir a primeira escolha geral dessa temporada. Depois selecionar
o aclamado prospecto ianque Phil Kessel, da Universidade de Minnesota.
Aguardar que Alexander Semin e Eric Feher sejam dominantes na
NHL assim como são na liga russa e na WHL, respectivamente. Torcer
para que Maxime Ouellet seja um substituto à altura de Kolzig.
Para que os defensores Shaone Morrison e Steve Eminger tornem
a defesa dos Capitals no futuro uma coisa respeitável. E, é claro,
contar com um Ovechkin cada vez mais decisivo e brilhante.
Para os Capitals é isso que vale. Esperar por dias melhores e,
quando eles chegarem, esquecer o cenário atual. Como dizem aqueles
versos da bela canção da banda mineira Jota Quest: "Vivemos esperando,
dias melhores. Dias de paz, dias a mais. Dias que não deixaremos
para trás". Mas do que nunca o torcedor dos Capitals terá que
esperar.
Eduardo Costa esclarece
aos milhares de leitores ávidos pela segunda parte do especial
Dallas Drake, que ela sairá em breve. Assim que for liberado
o visto de entrada de EC no Canadá, onde ele irá em
busca de novas informações sobre o mito Drake.