Por Marcelo Constantino

Esta é uma final relativamente atípica. Não necessariamente por termos um azarão - já tivemos azarões, em maior ou menor intensidade, nas finais do ano passado, de 1998 e de 1999. A diferença é que o azarão sempre estava do lado Leste. Desta vez ele vem do Oeste, quebrando a hegemonia de dez anos de Dallas, Detroit e Colorado.

Vamos então a uma pequena diversão com vários pontos sobre essas finais.

Situação -- New Jersey Devils e Anaheim Mighty Ducks enfrentam-se nas finais da Stanley Cup de 2003. O New Jersey foi o segundo colocado em sua conferência e eliminou em sete jogos o vencedor do Troféu dos Presidentes, Ottawa Senators. O Anaheim foi sétimo colocado no Oeste e eliminou favoritos como Detroit e Dallas, sem precisar chegar a sete jogos.

Comparando números:

Os times têm as duas menores médias de gols sofridos dentre todos os times dos playoffs deste ano. A média de chutes sofridos pelos Ducks é a segunda maior da liga, ficando atrás apenas dos Leafs de Ed Belfour, eliminados na prmeira fase. Em média o Anaheim deixa chutar bastante em Giguere, mas dispara a gol um pouco mais que os Devils, embora marque menos gols.

Ainda há alguma surpresa com o esquema dos Ducks ou com os números de Giguere? Basta ver que na temporada regular o Anaheim obteve o segundo melhor aproveitamento de defesas de toda a NHL. Os Devils de Brodeur não ficam muito atrás, o que comprova a eficiência defensiva de ambas as equipes. Teremos um duelo de grandes sistemas defensivos.

Então, os dois melhores times de matar penalidades da temporada regular agora se encontram nas finais da Stanley Cup. Ambos mantiveram bom aproveitamento neste ponto durante os playoffs.

Já os times de vantagem numérica não metem medo em ninguém. O dos Devils até melhorou nos playoffs -- foi o pior da temporada regular --, enquanto o dos Ducks segue muito fraco (eliminou os Red Wings sem marcar um gol sequer em vantagem numérica).

Concluindo, teremos um duelo desigual entre ótimos times especiais para matar penalidades e sofríveis times especiais para aproveitar as chances de vantagem numérica. É bom ressaltar também que ambos os times têm cometido poucas penalidades nesses playoffs. Enfim, times especiais não decidirão esta série.

Goleiros -- De um lado um clássico futuro integrante do Salão da Fama, goleiro consagrado, detentor de duas Stanley Cups, previsível vencedor do Vezina deste ano e concorrente inclusive ao Hart, Martin Brodeur. Do outro o MVP desses playoffs, Jean-Sébastien Giguere. Duelo de Titãs.

Técnicos -- Pat Burns é um técnico que já tem nome na NHL, enquanto Mike Babcock, acreditem, faz sua primeira temporada na liga. Em princípio parece até covardia, mas o técnico do Anaheim tem o time nas mãos como poucos já o tiveram. É aquela coisa, eles têm um plano de jogo e o seguem fielmente.

Fatos interessantes:
- O encontro dos irmãos Niedermayer, Rob e Scott. Rob vem sendo possivelmente o melhor atacante dos Ducks e faz sua segunda final de Stanley Cup, sem nunca ter vencido; Scott já venceu por duas vezes com os Devils.

- Os defensores Fredrik Olausson, dos Ducks e Oleg Tverdovsky, dos Devils, já jogaram juntos no Anaheim e têm estado barrados por seus times nesses playoffs; ambos já tiveram dias bem melhores na NHL e Olausson foi campeão da Stanley Cup no ano passado jogando ao lado de Nicklas Lidstrom.

- Jeff Friesen era do Anaheim e foi trocado por Petr Sykora com os Devils antes desta temporada, numa negociação que envolveu também o envio de Tverdovsky para New Jersey. Não parece haver arrependimento da troca, de qualquer parte.

Quem está quente -- Giguere, Giguere, Giguere. Jeff Friesen marcou os três últimos gols da vitória dos Devils nesses playoffs, inclusive o do jogo 1 dessas finais.

Quem está frio -- Alguém está entrando frio nessas finais?

Momentum -- Os Ducks são os azarões absolutos destes playoffs, precisaram de apenas 14 jogos para chegarem às finais e isso derrubando pela frente pesos-pesados como Detroit e Dallas. Os Devils eliminaram, aos 17:46 do terceiro período do jogo 7, os vencedores do Troféu dos Presidentes, que chegaram a empatar uma série em que perdiam por 3-1. Difícil escolher, mas o calendário da NHL favoreceu claramente o time que teve uma série mais longa.

O que os Devils devem fazer -- Quem tem uma defesa como a deles e com Martin Brodeur atrás não pode se preocupar com o ataque dos Ducks, deve é se preocupar em conseguir superar Giguere. No mais é fazer aquele estilo de jogo de sempre, amarrado, isolando disco, fechando espaços e nos fazendo dormir.

O que os Ducks devem fazer -- Rezar para que Giguere siga com suas atuações anômalas; conseguir os dois gols por jogo necessários para vencer as partidas. Enfim, seguir fielmente o plano de jogo de Babcock.

Por que os Devils irão vencer -- Porque trata-se de um time tarimbado, que faz sua terceira final de Stanley Cup em quatro anos, além de tentar sua terceira taça em oito temporadas. Porque têm um conjunto defensivo pra lá de eficiente - a velha armadilha da zona neutra jogada por um elenco de defensores que sabem sobretudo defender (!) e um goleiro com sobrenome Brodeur atrás. Porque são francos favoritos.

Por que os Ducks irão vencer -- Porque são a novidade dos playoffs e têm boa parte da torcida a seu lado. Porque ninguém esperava que eles vencessem sequer uma série, e lá estão eles nas finais. Mas sobretudo porque têm Giguere.