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2 de maio de 2003
O Anaheim Mighty Ducks é pra valer

Por Marcelo Constantino

Durante os últimos dias uma das frases que mais ficaram na minha cabeça foi "The Ducks are for real" ("Os Patos são pra valer", em tradução livre). Algumas vezes sob a forma exclamativa, outras sob a forma interrogativa. Era a dúvida na minha cabeça e, creio, na cabeça de vários dos que acompanham a NHL. Pois bem, independente do que vier a ocorrer daqui pra frente, é absolutamente certo que os Mighty Ducks são pra valer e que os retumbantes 4-0 sobre os favoritos Red Wings na primeira fase não foram mera obra do acaso.

Independente do jogo 3 da última segunda-feira, quando perdeu pela primeira vez nesses playoffs, o time é pra valer. Como em todas as vitórias do Anaheim, a derrota teve diferença de um gol. Petr Sykora teve o gol de empate no seu taco, quando faltava um minuto para o fim da partida, mas perdeu a chance; Marty Turco defendeu e os Stars respiraram na série.

Assistindo à histórica partida de cinco prorrogações, o jogo 1 contra o Dallas Stars, ficou claro que este time está com a vontade e o espírito ideais para um time nos playoffs. Está com sorte; aqueles discos que desviam aqui e ali perto do gol adversário estão caindo nos tacos dos jogadores do Anaheim.

"Talvez não tenhamos o devido respeito que o time merece", diz Jean-Sebastien Giguere. "Talvez porque ainda não vencemos nada ainda. Depois dos últimos anos serão necessárias várias vitórias para que as pessoas vejam que os Ducks são um bom time agora. Tenho certeza de que no outro vestiário eles estão nos levando a sério agora."

Talvez agora o time esteja se dando ao respeito, Giguere.

No jogo 2 Mike Modano reclamou dos árbitros porque não conseguia patinar em paz no gelo; Jason Arnott afirmou que o gol de empate de Rob Niedermayer foi uma questão de sorte; o técnico Dave Tippet diz que o time teve todas as chances de vencer. É o juiz, é a sorte, é o goleiro adversário, é a falta de pontaria. Em Dallas, como em Detroit, não é o Anaheim que vence, é o time local que perde. Não há méritos para os Ducks.

Mesmo na derrota no jogo 3, ali ficou claro que o Anaheim está sim, no mesmo patamar do melhor time do Oeste. Partida bastante disputada, desta vez foi Turco que segurou as pontas na primeira vez em que houve equilíbrio no número de chutes a gol. Em todos os jogos anteriores os Ducke incomodaram menos o gol adversário.

Quem é Jason Krog? --
Esta pergunta que ficou famosa em Detroit, esteve na cabeça de todo torcedor dos Wings e foi verbalizada por Mitch Albom em artigo sublime. Pois bem, Krog tem três gols nesses playoffs e me parece um Dave Lowry de 2003!

Poucos devem saber quem é ou o que fez Lowry em 1996. Jogando pelos também surpreendentes Florida Panthers, ele foi um daqueles jogdores que ninguém nunca ouviu falar que desandou a marcar gols importantes para o seu time na pós-temporada. Daqueles playoffs em diante voltou ao semi-ostracismo, mas foi inegável o importante papel que ele exerceu num time que eliminou os Flyers de Eric Lindros e os Penguins de Mario Lemieux e Jaromir Jagr, ambos favoritos a chegarem à final da Stanley Cup daquele ano.

Mais Panthers de 1996 --
Outro integrante daquela campanha de sonhos de 1996 dos Panthers que está em Anaheim é Niedermayer. Contratado no dia limite de trocas, Niedermayer vem recebendo papel de peso nos Ducks, conferido pela alta quantidade de tempo de jogo que o técnico Mike Babcock lhe tem concedido. E como tem exercido bem esse papel!

Autêntico líder no gelo, Rob é daqueles jogadores moldados para playoffs. Forte, distribui trancos, briga pelo disco nas bordas, atua bem defensivamente, faz gols. Quando ele chegou, em troca do goleiro Jean-Francois Damphousse e do defensor Mike Commodore, escrevi o seguinte, na edição 37: "Ninguém ganha muita coisa aqui. Os Ducks adicionam presença física, mas Niedermayer tem seus melhores momentos no retrovisor de uns cinco anos atrás. Commodore e Damphousse não valem muita coisa, então dá no mesmo." Rob Niedermayer me fez morder a língua.

Outro verdadeiro líder do time no gelo é Steve Thomas, mais um que chegou no dia limite em troca de nada, ou melhor, de uma escolha de quinta rodada. Beirando os 40 anos de idade, ele é outra peça bem colocada no time, trazendo ainda mais experiência a um grupo pouco acostumado a playoffs.

Olhe para Sandis Ozolinsh. Nem de longe é aquele defensor irresponsável, que não perdia qualquer chance de avançar ao ataque. Olhe para Paul Kariya. Aparece bem menos nas ações ofensivas do time. Consideram isso ruim? Nada disso, Kariya aprimorou seu jogo defensivo e ajustou-se bem no esquema montado por Babcock.

Até onde chegarão os Mighty Ducks eu não sei, palpites na NHL definitivamente não são o meu forte. Ainda custo a acreditar que eles tenham cacife para vencer a Stanley Cup, muito embora tenham vencido um verdadeiro favorito e estejam vencendo uma série de outro. Eles podem até mesmo perder esta série para os Stars, mas que eles podem chegar às finais, disso eu não tenho mais qualquer dúvida.

...

Em tempo I -- Com esse festival inédito de jogos ao vivo que a ESPN nos tem presenteado, quem tem conseguido assistir às partidas já evidenciou que a rigidez da NHL contra as obstruções foi jogada no lixo. O agarra-agarra está presente em qualquer jogada, até mesmo na zona neutra. Nada que não fosse esperado; nada mudou na forma de arbitragem nos playoffs. Quando o jogo está na prorrogação então, aí é que penalidade por interferência simplesmente deixa de existir. Tem vezes que eu penso que só mesmo um estupro no gelo para ser marcada uma penalidade na prorrogação.

Em tempo II -- Há um excesso de esculhambação pra cima de Curtis Joseph em Detroit. É certo que a contratação dele foi um fracasso e que os Wings pareciam reviver os tempos de Chris Osgood nos playoffs. Mas definitivamente ele não foi o responsável pela eliminação do time. Não foi ele que marcou apenas seis gols em quatro jogos contra os Ducks. Olhem para os números dele na série: são ótimos. Em cada partida ele deu ao menos uma chance aos Wings de vencerem. Só que Giguere deu várias chances aos Ducks, e eles souberam utilizá-las.

Em tempo III -- Quando uma partida entre New Jersey Devils e Tampa Bay Lightning, dois times que nunca foram lá muito atraentes de se assistir, torna-se empolgante como a da última segunda-feira, é a prova viva de que nada é como os playoffs da Stanley Cup.

Marcelo Constantino sugere a leitura do livro "Mulheres que foram à luta armada", de Luiz M. Carvalho.
  A GLÓRIA NAS PRORROGAÇÕES:
 
  ENFIM, O GOL Peter Sykora comemora com Kurt Sauer (34) o gol da vitória que ele marcou na quinta prorrogação do jogo 1, um dos mais longos da história da NHL (Ronald Martinez/Getty Images - 24/04/2003)
   
 
  AINDA COMEMORANDO Agora no final do jogo 2, vencido novamente na prorrogação pelos Mighty Ducks (LM Otero/AP - 26/04/2003)
   
 
  NÃO MAIS No jogo 3, pela primeira vez nesses playoffs, os Mighty Ducks não comemoraram no fim (Chris Carlson/AP - 28/04/2003)
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Página publicada em 30 de abril de 2003.