Por
Alexandre Giesbrecht
Será que o destino dos Bruins agora é o título?
Há exatos três anos, os Devils espantaram o mundo do hóquei
ao demitir Robbie Ftorek a oito jogos do final da temporada. Acontece
que, nos playoffs, o time ficou com a Stanley Cup, com Larry Robinson
no banco.
Pois é. Na quarta-feira da semana passada, Ftorek foi demitido
dos Bruins, a nove jogos do final da temporada. De acordo com a explicação
do gerente geral Mike O'Connell, que assumiu interinamente o cargo de
técnico, foi o momento ideal, já que o time tinha uma
pequena folga entre jogos, quando poderia treinar e fazer a transição.
Ou seja, você vê um buraco no calendário e, como
que por mágica, decide que vai cortar a cabeça do técnico.
Não me parece um jeito lá muito profissional de tocar
um time. Mas ao menos garantiu à temporada de 2002-03 um lugar
na história: os oito técnicos demitidos neste ano já
são um recorde.
É bem verdade que os Bruins vêm numa queda livre desde
que começaram a temporada liderando a liga com 19-4-3-1, estando
agora apenas cinco jogos acima dos 50% (33-28-8-4). Mas, como em quase
todas as demissões de técnicos, o GG tem uma grande parcela
de culpa. Foi ele que deu um contrato de US$ 5 milhões por ano
para o mediano Martin Lapointe. Foi ele que permitiu que Jason Allison
fosse brilhar em Los Angeles. Foi ele que deixou Bill Guerin e Byron
Dafoe sair do time sem receber nada em troca.
E o time ainda começou como o melhor da liga nos primeiros 27
jogos!
O filme de Ftorek estava meio queimado em Boston desde os playoffs do
ano passado, quando o time foi eliminado na primeira rodada pelo Montreal
depois de ter conquistado o primeiro lugar no Leste. Mas apenas os boatos
indicavam que ele fosse ser demitido. Pelo menos antes do fim da temporada.
Ele recebeu até um voto de confiança de O'Connell no último
dia 12. Como no futebol brasileiro, o voto de confiança foi escrito
na areia.
Aparentemente, a gota d'água foi o jogo do dia anterior à
demissão, uma derrota por 2-1 para os Coyotes em Phoenix. O'Connell
vinha dizendo com freqüência que a única coisa consistente
nas atuações do time era... a inconsistência.
"Foram as atuações inconsistentes", disse o
GG na entrevista coletiva. "E já faz um bom tempo. Eu não
vi praticamente nenhuma mudança e acho que, se for para irmos
bem nos playoffs, temos de ser consistentes. No meu trabalho, se eu
vir algo errado no time, eu tenho de tentar consertar. Se eu souber
que algo está errado e não consertar ou não tentar
consertar, então não estou fazendo o meu trabalho."
Boa sorte, então, fazendo o trabalho dos outros. O'Connell nunca
treinou um time na NHL. Sua última vez no banco? Em 1992-93 e
1993-94, com o Providence Bruins, time afiliado ao Boston. Antes disso,
só o San Diego Gulls, da defunta International Hockey League,
em 1990-91. Para ajudá-lo na tarefa de manter os Bruins entre
os classificados, foi trazido Mike Sullivan, que estava treinando o
Providence, já que o técnico-assistente Jim Hughes foi
demitido junto com Ftorek.
Não é lá muito fácil os Bruins ficarem de
fora dos playoffs. Eles estão muito à frente dos Rangers,
aparentemente o único time que pode representar algum tipo de
ameaça para eles. Mas o risco de mais um fiasco na primeira rodada,
já grande com as ausências em relação à
temporada passada, está muito maior.
Como era de se esperar, os jogadores vêm com frases prontas, como
se isso não mudasse nada para eles. Mike Knuble: "Como jogadores,
sempre que alguém perde seu emprego, você deve se sentir
culpado." Brian Rolston: "Há muitos sentimentos, mas
no fim das contas você tem de continuar." Sean O'Donnell:
"É nossa culpa como jogadores, mas acho que [O'Connell]
sentiu que precisava acertar nossos traseiros e, infelizmente, Robbie
e Jimmy foram os que tiveram de pagar por isso."
É duro, sim, mas os Bruins não têm outra opção
senão continuar lutando para garantir a vaga nos playoffs. Se
o time sentir demais a demissão, corre o risco de acabar perdendo
a vaga, o que seria um desastre de proporções bíblicas,
afinal isso depende muito mais de uma má atuação
do time de Boston que de uma eventual superação de Rangers
ou Canadiens. Canadiens? Bem, eles já eliminaram os Bruins no
ano passado...
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Alexandre Giesbrecht, publicitário, presenciou no fim de
semana a atuação de "sniper" de um ex-guru
de volta à ativa. |
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DEMISSÃO AINDA ESTAVA LONGE
Robbie Ftorek apresentando-se como técnico do Boston (Jim
Bourg/Reuters - 09/05/2001) |
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