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28 de março de 2003
Folga: Hora "certa" para demitir o técnico

Por Alexandre Giesbrecht

Será que o destino dos Bruins agora é o título? Há exatos três anos, os Devils espantaram o mundo do hóquei ao demitir Robbie Ftorek a oito jogos do final da temporada. Acontece que, nos playoffs, o time ficou com a Stanley Cup, com Larry Robinson no banco.

Pois é. Na quarta-feira da semana passada, Ftorek foi demitido dos Bruins, a nove jogos do final da temporada. De acordo com a explicação do gerente geral Mike O'Connell, que assumiu interinamente o cargo de técnico, foi o momento ideal, já que o time tinha uma pequena folga entre jogos, quando poderia treinar e fazer a transição.

Ou seja, você vê um buraco no calendário e, como que por mágica, decide que vai cortar a cabeça do técnico. Não me parece um jeito lá muito profissional de tocar um time. Mas ao menos garantiu à temporada de 2002-03 um lugar na história: os oito técnicos demitidos neste ano já são um recorde.

É bem verdade que os Bruins vêm numa queda livre desde que começaram a temporada liderando a liga com 19-4-3-1, estando agora apenas cinco jogos acima dos 50% (33-28-8-4). Mas, como em quase todas as demissões de técnicos, o GG tem uma grande parcela de culpa. Foi ele que deu um contrato de US$ 5 milhões por ano para o mediano Martin Lapointe. Foi ele que permitiu que Jason Allison fosse brilhar em Los Angeles. Foi ele que deixou Bill Guerin e Byron Dafoe sair do time sem receber nada em troca.

E o time ainda começou como o melhor da liga nos primeiros 27 jogos!

O filme de Ftorek estava meio queimado em Boston desde os playoffs do ano passado, quando o time foi eliminado na primeira rodada pelo Montreal depois de ter conquistado o primeiro lugar no Leste. Mas apenas os boatos indicavam que ele fosse ser demitido. Pelo menos antes do fim da temporada. Ele recebeu até um voto de confiança de O'Connell no último dia 12. Como no futebol brasileiro, o voto de confiança foi escrito na areia.

Aparentemente, a gota d'água foi o jogo do dia anterior à demissão, uma derrota por 2-1 para os Coyotes em Phoenix. O'Connell vinha dizendo com freqüência que a única coisa consistente nas atuações do time era... a inconsistência.

"Foram as atuações inconsistentes", disse o GG na entrevista coletiva. "E já faz um bom tempo. Eu não vi praticamente nenhuma mudança e acho que, se for para irmos bem nos playoffs, temos de ser consistentes. No meu trabalho, se eu vir algo errado no time, eu tenho de tentar consertar. Se eu souber que algo está errado e não consertar ou não tentar consertar, então não estou fazendo o meu trabalho."

Boa sorte, então, fazendo o trabalho dos outros. O'Connell nunca treinou um time na NHL. Sua última vez no banco? Em 1992-93 e 1993-94, com o Providence Bruins, time afiliado ao Boston. Antes disso, só o San Diego Gulls, da defunta International Hockey League, em 1990-91. Para ajudá-lo na tarefa de manter os Bruins entre os classificados, foi trazido Mike Sullivan, que estava treinando o Providence, já que o técnico-assistente Jim Hughes foi demitido junto com Ftorek.

Não é lá muito fácil os Bruins ficarem de fora dos playoffs. Eles estão muito à frente dos Rangers, aparentemente o único time que pode representar algum tipo de ameaça para eles. Mas o risco de mais um fiasco na primeira rodada, já grande com as ausências em relação à temporada passada, está muito maior.

Como era de se esperar, os jogadores vêm com frases prontas, como se isso não mudasse nada para eles. Mike Knuble: "Como jogadores, sempre que alguém perde seu emprego, você deve se sentir culpado." Brian Rolston: "Há muitos sentimentos, mas no fim das contas você tem de continuar." Sean O'Donnell: "É nossa culpa como jogadores, mas acho que [O'Connell] sentiu que precisava acertar nossos traseiros e, infelizmente, Robbie e Jimmy foram os que tiveram de pagar por isso."

É duro, sim, mas os Bruins não têm outra opção senão continuar lutando para garantir a vaga nos playoffs. Se o time sentir demais a demissão, corre o risco de acabar perdendo a vaga, o que seria um desastre de proporções bíblicas, afinal isso depende muito mais de uma má atuação do time de Boston que de uma eventual superação de Rangers ou Canadiens. Canadiens? Bem, eles já eliminaram os Bruins no ano passado...

Alexandre Giesbrecht, publicitário, presenciou no fim de semana a atuação de "sniper" de um ex-guru de volta à ativa.
DEMISSÃO AINDA ESTAVA LONGE Robbie Ftorek apresentando-se como técnico do Boston (Jim Bourg/Reuters - 09/05/2001)
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Página publicada em 26 de março de 2003.