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21 de março de 2003
Red Wings quentes na reta final

Por Marcelo Constantino

Escolha um dos cenários abaixo para fazer analogia com o momento atual do Detroit Red Wings:

1997:
Wings contratam o defensor Larry Murphy do Toronto Maple Leafs em troca de nada no dia limite de trocas. O time fazia uma boa campanha (era o terceiro na conferência), mas passava longe do favoritismo. Murphy, que vinha sendo execrado pela imprensa e torcida de Toronto, formou uma memorável e duradoura dupla com Nicklas Lidstrom. O time sagrou-se campeão da Stanley Cup.

1998:
No dia limite a gerência contrata o desvalorizadíssimo defensor Jamie Macoun, também do Toronto, e o enganador Dmitri Mironov, e cede Jamie Pushor e escolhas no recrutamento. Macoun surpreende e tem sólidas atuações ao lado de Bob Rouse. O time conquista o bicampeonato.

1999:
Os Wings definitivamente puxam o gatilho e protagonizam um dos maiores negócios já vistos num dia limite de trocas: trazem o consagrado defensor Chris Chelios, o atacante Wendell Clark (então numa brilhante temporada em Tampa Bay), o defensor assustador Ulf Samuelsson e o goleiro Bill Ranford. Cedem várias escolhas altas, inclusive duas de primeira rodada, o goleiro reserva Kevin Hodson e o defensor Anders Eriksson. O impacto é visível, o time começa avassalador nos playoffs, elimina os Kings em quatro jogos e vence as duas primeiras do Colorado Avalanche na fase seguinte. Exagerados especulam sobre 16 vitórias seguidas, mas o time sofre um colapso impressionante na terceira partida, perde tudo dali em diante e é eliminado.

2001:
Detroit tem um fim de temporada excelente, ultrapassando o St. Louis Blues na liderança da Divisão Central. Na terceira partida dos playoffs, ocorre um colapso idêntico ao de 1999 e o time cai na primeira fase para o Los Angeles Kings.

2002:
Wings fazem campanha memorável, não encontram adversários na temporada, mas caem vertiginosamente na reta final. Encontram sérias dificuldades para superar o Vancouver Canucks na primeira fase dos playoffs, até que um chute do meio da rua disparado por Nicklas Lidstrom, muda a história. O time ruma até o título da Stanley Cup, passando inclusive por uma série classe A de sete jogos na final de conferência, contra o Colorado Avalanche.

Escolheu? Pronto, agora esqueça: nenhuma das situações acima pode ser aplicada à atual. O time não é o mesmo, o estilo de jogo está cada vez mais distante do left wing lock e Schneider não é Murphy nem Chelios nem Macoun nem Mironov. É praxe da gerência do Detroit contratar defensores no dia-limite, ou mesmo ao longo da temporada.

Red Wings pegando fogo: Último mês de temporada regular, briga pelos playoffs se acirrando, briga pela Divisão Central também se acirrando. Nesse contexto é que o Detroit Red Wings entrou numa ótima seqüência vitórias com boas atuações. Já deixaram para trás o St. Louis Blues, que liderava a divisão, e atualmente chega a disputar a liderança da Conferência Oeste.

A boa fase começou pouco depois da parada para o Jogo das Estrelas. Precisamente quando Brett Hull conseguiu marcar o seu gol número 700 contra os Sharks, numa vitória por 5-4 em 10 de fevereiro. De lá pra cá, foram 17 jogos, 15 vitórias (incluindo uma seqüência de oito vitórias seguidas) e apenas duas derrotas. Para completar, venceram o rival Colorado Avalanche no sábado e os líderes da NHL, Ottawa Senators, no domingo.

Já tendo se distanciado do fantasma de enfrentar o Colorado Avalanche na primeira fase dos playoffs, os Wings ainda receberam a volta de seu capitão e líder incontestável após uma cirurgia que poderia tê-lo retirado definitivamente do hóquei. Steve Yzerman retonrou e demonstra progressos a cada partida, mas nada que garanta a solidez necessária a um jogador na longa estrada dos playoffs. Entretanto toda a cidade de Detroit sabe que sem Yzerman o time não vence uma outra Stanley Cup este ano. Basta ver o que ele fez, com uma perna somente, nos playoffs de 2002.

Pontos altos
-- A linha mais quente neste período, de longe, é a formada por Henrik Zetterberg-Pavel Datsyuk-Brett Hull. Datsyuk e Hull atuam juntos deste a temporada passada, mas era Boyd Devereaux que atuava pela esquerda, brigando pelo disco nas bordas e trazendo mais velocidade à linha. Zetterberg faz tudo isso e com muito mais qualidade. Trata-se de um dos melhores novatos desta temporada, atua em todos os times especiais e vem sendo tratado com o mesmo cuidado com que Datsyuk foi tratado em 2002. Ambos estavam descartados de qualquer negociação no dia limite de trocas.

O trio é basicamente este; o prospecto do ano de um lado, o prospecto do ano anterior no centro e uma lenda viva do outro lado. Se marcar ao menos 35 gols nesta temporada Hull obtém uma automática renovação de contrato. Com o hat-trick contra os Sens no domingo, ele já chegou aos 33. "Nós queremos que ele fique", diz o gerente Ken Holland sobre uma possível renovação de contrato, independente da quantidade de gols, antes do Golden Brett tornar-se um agente livre novamente.

Se a linha mais quente é a de Datsyuk, a mais sólida, aquela que esteve bem durante toda a temporada, é a Grind Line. Não é novidade para ninguém, trata-se da linha mais antiga e entrosada dos Wings. Atuando juntos em boa parte das últimas seis temporadas e playoffs, Kirk Maltby, Kris Draper e Darren McCarty seguem com sua forte característica defensiva, mas sem jamais se limitar a isso. O tempo de jogo deste trio é superior a qualquer outra considerada terceira ou quarta linha na NHL e raras são as noites ruins para eles.

Pontos fracos:
Os pontos que andavam mal no time durante a temporada, goleiro e defesa, se acertaram nessa seqüência pós-Jogo das Estrelas. Curtis Joseph parece ter conseguido dar a volta por cima, depois de meses de atuações inconsistentes. A chegada de Mathieu Schneider, o melhor defensor negociado no dia limite de trocas, traz a segurança necessária ao corpo defensivo e deverá dar dor de cabeça a Lewis caso Jiri Fisher volte em tempo (e em forma) para os playoffs. Quem sairá para a chegada dele?

Atualmente os seis defensores principais do time estão definidos: Nicklas Lidstrom, Chris Chelios (se o joelho deixar), Schneider, Jason Wooley, Mathieu Dandenault e Dmitri Bykov.

Com a dupla Chelios e Fisher fora do páreo pela maior parte da temporada, o espaço foi aberto para que os jovens Bykov, Maxim Kuznetsov e Jesse Wallin aparecessem. O novato Bykov é das boas novidades do time em sua primeira temporada na NHL, mas Kuznetsov e Wallin não convenceram, mesmo já tendo alguma experiência anterior na liga. Este último, quando não está contundido, não aproveita as chances nas poucas partidas em que consegue ser escalado. Kuznetsov era útil como tradutor de Bykov e Datsyuk.

Com tantas contusões na defesa (além de Chelios e Fisher, Dandenault e Wallin estiveram um tempo de fora), a gerência convocou o defensor Patrick Boileau, veterano das ligas menores. Suas atuações o colocaram à frente de Wallin e Kuznetsov na preferência de Lewis. Entretanto, nenhum dos três jamais gozou da confiança necessária para estar entre os seis principais defensores do time nos playoffs.

Fora isso, é necessário registrar também a baixíssima produção de um artilheiro do quilate de Luc Robitaille. Como os gols andam cada vez mais escassos, Luc é dos jogadores que tem recebido menos tempo de jogo no time nesta temporada. Dificilmente esta não será sua última temporada em Detroit. Deverá ser a última também do mestre Igor Larionov, para o bem dele e do time.

Enfim, os Red Wings vêm quentes nesta reta final rumo à definição dos playoffs, num ano que será bem mais difícil que 2002. Além do mesmo Avalanche do ano passado, Dallas Stars e Vancouver Canucks despontam como sérios candidatos à final da Stanley Cup.

Marcelo Constantino é dos raros colunistas de hóquei a defender a contratação de Sergei Berezin pelo Washington Capitals.
 
  O MAIS QUENTE - Em sua segunda temporada na NHL, Pavel Datsyuk atingiu uma média de duas assistências numa seqüência de sete jogos, recorde na franquia dos Red Wings (Kevork Djansezian/AP - 10/03/2003)
   
 
  CALDER PARA ELE? - Henrik Zetterberg tem feito uma temporada de estréia digna de Calder, atuando regularmente em qualquer situação (Bill Kostroun/AP - 28/01/2003)
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Página publicada em 19 de março de 2003.