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7 de março de 2003
O Peca que faltava. E mais

Por Thomaz Alexandre

Ao adquirir Mike Peca no dia do Recrutamento de 2001, os Isles esperavam achar ali seu líder no gelo. Com uma final de Stanley Cup no currículo, Peca tem-se mostrado justamente isso após trazer os Isles de volta aos playoffs em 2002 e ajudar a salvar sua temporada de um começo desastroso em 2003 após voltar definitivamente de uma contusão já no 18.º jogo da temporada.

Ah, no mesmo dia eles também adquiriram o ex-candidato a MVP e duas vezes homem de 40 gols Alexei Yashin. Mas hoje, quem nota?

Ao reerguer mais uma vez o time em 2003, Peca, que ganha US$ 5 milhões anuais em salários, tem usado a ajuda do viajado goleiro reserva Garth Snow, US$ 1,2 milhões anuais, dos atacantes mais baratos, como Jason Blake, Jason Wiemer, Arron Asham, e de uma defesa em que as estrelas são Kenny Jonsson e Adrian Aucoin.

Yashin, central, US$ 9 milhões anuais, foi rebaixado à quarta linha devido à sua baixa produção. Chris Osgood, goleiro que ganha US$ 2,8 milhões por ano a mais que o reserva Snow, contundiu-se após 37 jogos e menos de 90% de defesas. Snow assumiu e, em 31 jogos, defendeu 91,8% dos chutes que viu. O badalado prospecto Rick DiPietro, num sobe e desce tremendo entre Islanders e seu afiliado Bridgeport Soundtigers, da AHL, também vai bem, com 92,2% em seus cinco jogos disputados.

Em 16 jogos, o caminho parecia rumo ao fracasso

Com seu capitão Michael Peca se recuperando de cirurgias de joelho e ombro realizadas nas férias, os Islanders precisariam de Alexei Yashin, seu principal pontuador em 2002, para liderá-los no início do campeonato.

E aí não fica difícil acreditar na péssima campanha que começaram fazendo. Com Yashin em uma de suas piores campanhas na NHL, onde até agora tem 45 pontos e gritantes –20 em 65 jogos, os Isles não iriam a lugar algum com ele nas rédeas. O goleiro Chris Osgood, mesmo que não passasse exatamente por uma má fase, precisava de muita ajuda ofensiva para vencer 17 jogos em 37, com números do tipo menos de 90% de defesas e 2,92 gols sofridos por partida.

Até que volta o MVP local

Após uma tentativa frustrada que não durou nem meia-dúzia de turnos, Mike Peca finalmente consegue voltar ao time dos Islanders.

Assumindo rapidamente o posto de principal central na rotação, Peca tomou conta também da unidade de matar penalidades e da tão ressentida liderança dentro do gelo. Ao voltar, encontrou os Isles com uma campanha de 5-10-1.

Conseguindo aos poucos voltar a seu ritmo de mais de 20 minutos de gelo por noite, Peca patinou ao lado de Mark Parrish e Shawn Bates, com a linha Blake-Wiemer-Scatchard logo atrás na rotação e na produção, e devolveu o hóquei ao time de Long Island. Com oito jogadores marcando 10 ou mais gols, o time de Long Island também usou um pouco de defesa para ajudar Osgood em suas batalhas: Adrian Aucoin têm jogado seus habituais e ridículos 29 minutos por jogo, Roman Hamrlik tem 37 pontos e +17 numa quieta e ótima temporada, Matthias Timander subiu ao time principal e se tornou um dos melhores defensores novatos. Kenny Johnsson, outro ferido da série contra Toronto no ano passado, ainda traz retrospecto negativo mas vem se aproximando de alguma consistência no jogo defensivo.

Desde a volta de Peca, e a mudança de atitude que ele trouxe, os Islanders têm uma campanha de 25-14-8-2. Quando ele marca um gol, e foram treze até então, o time está invicto com 8-0-1-1.

Na recente tour pela Califórnia onde os Isles saíram invictos pela primeira vez, Peca marcou 2 gols no 3-0 sobre os Sharks. De volta ao leste, garantiu o empate contra os Bruins na disputa por classificação com mais 2 gols num 4-4.

O que poderia estar errado com Yashin?

Alexei Yashin é um jogador que tem tido em média quase um ponto por jogo na carreira de nove anos na NHL. Em suas últimas temporadas em Ottawa, que foram 1999 e 2001 devido à disputa contratual que o deixou fora em 2000, ele marcou mais de 40 gols em cada. E era exatamente atrás disso que estava o Gerente Geral Mike Milbury ao assina-lo por 10 anos para jogar no New York Islanders.

Com 45 pontos em 65 jogos (menos de 0,7 por partida) e um retrospecto de –20 que é o pior do time, Alexei não está exatamente correspondendo.

Se a seca de Yashin foi um dos motivos do miserável primeiro quarto dos Islanders, seria bastante irresponsável apesar de cômodo associar a permanência de Yashin no buraco à chegada de Peca, que levou os asas Shawn Bates e Mark Parrish para sua linha.

Até porque ainda sobraram opções como o jovem Arron Asham, contratado na entresafra, e o veloz Oleg Kvasha, tido por muitos como o companheiro ideal de Yashin. Às vezes, como diz o relatório de olheiros sobre Kvasha, rápido de mais.

Não foi uma cena rara este ano ver Kvasha entrar na zona ofensiva, e ao olhar ao redor se ver só e ter de patinar em círculos se expondo ao choque ou simplesmente entregar o disco ao adversário isolando-o ao fundo do rink.

Yashin, enquanto isso, estava atrasado em sua lenta patinação. Ao finalmente se colocar na zona ofensiva, ficava sempre às costas de seu companheiro esperando que um disco sobrasse limpinho para ele. Tentar desenterra-lo das bordas? Não, isso “não é para ele”.

Os Isles já pensaram em adquirir mais um asa de impacto para salvar a química de Yashin, hoje na quarta linha, com o time. O ex-Islander Ziggy Palffy, o veterano companheiro de Peca em pós-temporada Miro Satan, o bem articulado Slava Kozlov dos Thrashers, Ray Whitney ou Geoff Sanderson dos Blue Jackets. Todos pontas artilheiros que já provaram seu valor na liga e poderiam ajudar os Islanders. Nos últimos jogos, inclusive, têm sido vistos olheiros do Calgary Flames em jogos no Nassau Coliseum. Calgary pode estar movendo Jarome Iginla, ou mais provavelmente Chris Drury, para um time do leste.

Mas não esperem nada desesperado de Milbury. Ele não vai fazer valer o apelido Milburro mais uma vez para salvar Yashin, seu investimento de US$ 90 milhões. A não ser que o movimento desesperado para salva-lo seja mover o russo. O que não deve acontecer tão cedo.

Osgood cai, e Snow também começa a cair por toda parte

O dia é 21 de janeiro, o palco é o Nassau, o adversário é o New York Rangers, então comandado pelo ídolo Islander Bryan Trottier.

Briga entre Jason Blake e Matthew Barnaby na sessão de patinação anterior à partida. O rival mais odiado comandado por quem anos atrás foi peça fundamental no sucesso do time. Uma atuação pífia, desatenta, em que os suaves e desinteressados Rangers dominaram fisicamente.

Se castigo pouco é a humilhação, que venha então mais. E veio. Chris Osgood, goleiro titular dos Isles, se contundiu na noite. Garth Snow, que o treinador Peter Laviolette descreve como "bom soldado", estava então incunbido da titularidade e o garoto DiPietro voltaria das minors para o banco de reservas.

Ao contrário da queda de produção que poderia se prever, Snow tem ajudado o time a se manter num certo nível.

Mesmo que com ele, 11-11-4, a campanha do time seja pior do que com Ozzie, 17-13-4, seu percentual de 91,8 em defesas e média de 2,21 gols cedidos por jogo superam em muito os 89,5% e 2,92 gols em média do ex-Wing.

O que mostra uma ligeira queda na produção ofensiva do time, que tem precisado de mais ajuda do goleiro para conseguir resultados não tão vistosos. Se Snowie entrasse e jogasse como Osgood, provavelmente a caminhada rumo aos playoffs estaria bastante prejudicada nesse momento.

Em uma seqüência de cinco jogos, Snow chegou a marcar 4-0-1, 1.36 GAA, um shutout e 94,7% de defesas. Venceu San Jose por 3-0 com 29 defesas, Kings por 3-2 com 31, Avs por 4-1 Avs com 25.

Na partida contra o Colorado Avalanche, Snow parou um contra-ataque um contra um de Steven Reinprecht num lance polêmico. Vendo Reinprecht vencer seu marcador na velocidade, Snow foi até sua linha azul e se atirou contra o disco, isolando o mesmo à frente com seu taco. O defensor de Colorado Rob Blake foi o destinatário do disco, mas com Reinprecht impedido ele não pôde chutar contra o gol vazio. Rapidamente o central estava de volta em posição legal, e Blake atirou. Também rapidamente, Snow chega mergulhando na área e intercepta o disco com sua luva. Graças a essas e mais 24 defesas de Snow, Os Islanders foram o primeiro time em 15 jogos a vencer o Avalanche no tempo regulamente. Olé, Higuita!

No intervalo de 16 e 22 de fevereiro, Snow não foi nem mencionado na escolha do jogador da semana. 2-0-2 com 94% de defesas foram seus números no período.

Fonte inesperada de contribuição

Se um antigo recruta de primeira rodada não ajuda, o que dizer de um que nem recrutado foi?

Que ele lidera o time em pontos, com 45, e disparado o melhor em mais/menos, com +20, 40 à frente dos –20 de Yashin.

Quanto os Kings assinaram Jason Blake após vê-lo disputando cinco jogos pelo finado Orlando da extinta International Hockey League (IHL), eles esperavam ter uma peste em mãos.

Do alto de seus 1,77 m e 87 kg aos 26 anos, Blake não seria mais que outro Mike Ricci. Nem um Mike Ricci, provavelmente.

E assim ele passou três infelizes anos com os Kings, em meio a pouco tempo de gelo e discussões com o treinador Andy Murray. Blake, como ser inteligente, gosta de ter e dar opiniões, e não hesitava em faze-lo mesmo que a respeito das decisões de seu treinador. Segundo Murray, aquele "falatório" e o olhar de "você vai me mandar ao gelo no próximo turno, não é treinador?" o irritavam mais do que a qualquer artilheiro adversário que Blake tentasse desconcentrar. Geralmente é assim mesmo entre quem acha que sua posição é alguma coisa e alguém confiante que sabe defender seus pontos.

Hoje, Murray arrasta seus Kings numa temporada medíocre enquanto Blake está a caminho dos playoffs com os melhores números entre todos os Islanders.

Um pouco da trajetória desse "garoto", hoje com 29 anos: Blake é natural de Moorhead, Minnesota, e defendeu o time da escola secundária local. Na faculdade, entrou para o time do Waterloo Hawks onde marcou 100 pontos em 47 jogos na temporada 93-94. Após mais um ano, resolveu se mudar e ir para uma Escola onde pudesse jogar pensando em se profissionalizar no seu esporte favorito, o golfe. Perdeu vários anos na tentativa, apesar de hoje ainda jogar em alto nível contra Mike Peca e almejar o profissionalismo quando se aposentar do hóquei.

Quando um amigo da família Blake foi anunciado como novo treinador dos Hawks, Blake voltou ao time para marcar 69 pontos em 38 jogos na temporada de 1998-99. Foi finalista do Prêmio Hobey Baker, dado ao melhor jogador universitário da temporada.

Depois disso foi esnobado no draft de 99 da NHL por ser muito pequeno, leve e "velho para começar", e assinou com um time de liga menor. Foi contratado pelos Kings, e insatisfeito com Andy Murray, pediu e conseguiu ser negociado aos Islanders na temporada 2000-2001. Numa manhã de março de 2001, recebeu a notícia de que sua esposa grávida à época tinha um tumor do tamanho de uma bola de golfe na garganta. Marcou um gol e uma assistência num 5-2 sobre os Rangers na mesma data, e foi dispensado da temporada pelos Isles para estar com a família.

A filha de Jason, Lauren Blake, nasceu saudável e o tumor de sua esposa foi removido com sucesso. Voltou na pré-temporada em 2001-2002 e o resto é história.

Equipes especiais e nem tanto

Na temporada que colocou Long Island de volta ao mapa do hóquei, a equipe de vantagem numérica dos Islanders foi uma força entre as 10 melhores durante a sua maior parte. Escorregou um pouco nas últimas semanas, é verdade, mas terminou na 10.ª posição com 16,4% de efetividade.

Em um ano, a efetividade não caiu tanto como mostram os 14,2% atuais, mas num ano mais condescendente com as vantagens numéricas (alguns times já se sustentaram acima dos 30% por um longo período), isso é um mau sinal. Os Islanders são o 23º time da liga na categoria.

Com Mark Parrish sendo a única presença física efetiva em frente ao gol adversário, ele tem nove tentos na situação, a seta pode apontar mais uma vez para Yashin.

Uma presença de força em seus anos passados, o jogador de 1,90m e 95kg tem sido constantemente afastado do disco pelos marcadores. Seus oito gols em vantagem numérica o colocam em segundo no time assim como em pontos, mas novamente esperava-se mais no quesito.

Na desvantagem numérica, a situação é menos desconfortável. Se mantendo no bloco intermediário com 83,8% de efetividade, a equipe de matar penalidades se destaca também pelos gols que marca. Só Shawn Bates tem seis em 55 jogos, e dez em seus últimos 120 jogos na NHL.

O que o fim reserva

Os Islanders vão de uma seqüência contra times desesperados do leste. New York Rangers e Boston Bruins, todos disputando vagas com os próprios Isles na pós-temporada, estão no caminho.

Vamos ver se a recente turnê de oito dias que terminou num 2-1-1 esgotou a equipe, que se prepara para outra viagem. Após o jogo contra Boston, fazem seis jogos em dez dias vindo do Oeste ao leste, com um desvio pelo Madison Square Garden no caminho.

Com Osgood voltando de contusão, é difícil acreditar que eles arrisquem o momento de Snow. Como DiPietro é o futuro da franquia e ponto, Osgood não é das mais improváeis moedas de troca. É sabido que eles desejam um goleiro, e podem oferecer um asa como Stillman que jogaria com Yashin e um defensor para adicionar profundidade como Bruce Salvador. Esta especulação é 100% original da redação de The Slot BR.

Porém, o mais provável ainda é que os Islanders não façam nenhum negócio da grandeza de um Kovalev esse ano. O próprio Peter Laviolette já declarou estar pronto para a corrida com o material que tem.

E disse bem: material ele tem. Um líder e jogador muito versátil em Peca. Profundidade no ataque com Blake, Parrish, Bates, Kvasha, Asham e as subidas de Jonsson e Hamrlik. Hamrlik ainda traz solidez na defesa ao lado de Adrian Aucoin e o novato Timander. Aspereza e luta nos grandões Jason Wiemer, Dave Scatchard e Eric Cairns. Um goleiro quente, acreditem, em Garth Snow. Uma razoável unidade de matar penalidades, e uma vantagem numérica que pode ser tão boa quanto a do ano passado com os mesmos atletas. Para ser, só falta um homem para colocar o disco na rede independente das dificuldades apresentadas pelas defesas adversárias.

Em suma, só falta que Alexei Yashin jogue como, hum, digamos, Alexei Yashin.

Thomaz Alexandre clama a volta de Fabiano Pereira e J.J. Júnior, o Mec, como colunistas oficiais de Rangers e Islanders, respectivamente
 
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Página publicada em 5 de março de 2003.