Por
Marcelo Constantino
Tal qual em 2001-2002, o Montreal Canadiens está na corrida por
uma vaga nos playoffs. Mas a situação de hoje é
bem pior, o bloco dos oito que se classificam estão com uma boa
vantagem à frente do time mais tradicional da NHL.
Depois do sonho alimentado ano passado, o pesadelo é que está
de volta. Quase nada do planejado deu certo nesta temporada. A lista
de decepções é grande, enquanto as surpresas positivas
(que podem ser resumidas praticamente em Saku Koivu, Andrei Markov,
Jan Bulis e Stephane Quintal) são poucas.
As esperanças que nasceram na campanha estelar de José Théodore
(MVP da temporada e vencedor do Vezina) e na emoção da
volta do capitão Koivu ao time depois de vencer um câncer,
esbarraram na realidade: os Habs não eram tudo aquilo que se
projetava e a campanha atual vem mostrando isso.
O time parece morto no gelo, sem confiança e sem esperança.
Koivu tem recebido um papel muito superior ao que deveria, considerando
que passou quase toda a temporada passada lutando contra o câncer.
O resultado disso é que ele parece exausto atualmente. Não
há mais química entre ele e Richard Zednik, os dois líderes
em pontos do time.
O mês de fevereiro tem sido um pesadelo sem fim para os Canadiens
e a baixa produtividade atual não poupa ninguém, seja
ele Yanic Perreault, Doug Gilmour, Oleg Petrov e mesmo Koivu e Zednik.
Para piorar o quadro, Stephane Quintal, o defensor que vinha suprindo
bem a ausência de Patrice Brisebois enquanto este esteve machucado
- machucou-se também.
Salve-nos, Théodore!
- Não tem jeito, o Montreal de hoje é um time de porte
médio, se tanto, e a esperança é mesmo que José
Théodore recupere a maestria do ano passado. Afinal, a ida aos
playoffs e a posterior passagem à segunda fase deveu-se sobretudo
a ele.
Talvez a maior diferença deste time de hoje para aquele que derrotou
os primeiros colocados e favoritos Boston Bruins na primeira fase dos
playoffs seja a confiança que havia no goleiro. Essa confiança
desabou logo no início desta temporada, com atuações
pífias do outrora MVP. Jeff Hackett ressurgiu das tumbas hospitalares
e fez algumas grandes apresentações, fazendo com que a
torcida e a gerência não se desesperassem com a situação
do goleiro número um. A idéia era que a má fase
logo passaria e que Théodore voltaria a liderar o time rumo aos
playoffs.
A má fase não passou e é certo que os Habs têm
perdido partidas que normalmente teriam vencido na temporada passada.
Times do quilate de um Colorado Avalanche, um Detroit Red Wings, um
Dallas Stars e até mesmo os três canadenses, Vancouver
Canucks, Ottawa Senators e Toronto Maple Leafs têm capacidade
de sair de um placar desfavorável em um ou dois gols. Os Canadiens
não. Eles não podem se dar ao luxo de ter um goleiro em
quem não confiam. Se não é todo dia que um time
grande vence a Stanley Cup com um Chris Osgood no gol, também
não é todo dia que um time mediano chega aos playoffs
com um goleiro que vaza em chutes defensáveis.
Quando o goleiro está num mau dia e você não tem
um grande time, pode esquecer a partida que é derrota certa.
Mas não é este exatamente o caso de Théodore. Ele
tem feito grandes defesas. Defesas pontuais, uma aqui, outra ali. Por
vezes, algumas numa mesma partida. Um período estelar, até.
Mas logo vem um chute defensável que acaba passando, daí
vem o efeito cascata.
Ao menos o goleiro admite que é um dos responsáveis, quando
afirma: "Nós temos de jogar melhor, a começar por
mim mesmo".
Na temporada passada ele teve 2,11 de média de gols sofridos
e percentual de aproveitamento de defesas de 93,1%. Este ano esses números
estão na casa dos 3,00 e 90%, respectivamente. Um gol a mais
por partida é absolutamente crucial para um time como o Montreal.
Com a saída de Hackett, as atenções podem até
se voltar para o novo reserva Mathieu Garon, que tem bons números
nas míseras partidas que disputou nesta temporada. Seria o momento
de tentar outro goleiro, nem que seja apenas para mudar alguma coisa?
Não há mal algum, coloquem Garon e vejam como ele se sai.
Não custa tentar.
Agora, é evidente que o técnico Claude Julien está
sob pressão para escalar Théodore. Ele foi o MVP do ano
passado, ele foi a principal razão do time ter surpreendido os
favoritos Bruins nos playoffs seguintes, ele assinou um contrato que
vale um conjunto de cheques que perfaz US$ 5 milhões por ano.
Normalmente é até plausível que você dê
uma descansada mais longa para seu goleiro principal quando ele nitidamente
não está correspondendo. Pergunte aos Red Wings, que têm
feito isso com Curtis Joseph e já o fizeram, em escala bem maior,
com Chris Osgood.
Só que as circunstâncias dos Canadiens não são
normais, é hora de desespero. O time que tem mais títulos
na NHL está para ficar de fora dos playoffs pela quarta vez em
cinco anos.
Certa vez perguntaram a Michael Jordan por que o Chicago Bulls sempre
buscava passar a bola para ele arremessar nos momentos mais decisivos
das partidas, sabendo que todo e qualquer time adversário esperaria
exatamente por isso. A resposta foi simples, algo assim: "Eu recebo
mais que todos os outros, logo a minha responsabilidade é maior,
e é para isso que eu sou pago."
É o caso de Théodore, em muito menor grau, claro. Ele
é o goleiro número um e recebe um alto salário
para os padrões do time. Ele deve assumir a responsabilidade.
Bom, ao menos verbalmente ele tem assumido.
O goleiro que fez defesas de outro mundo para vencer a série
contra os Bruins agora parece estar em outro mundo. E vai precisar de
mais ainda do que a poção mágica do ano passado
para conseguir colocar o Montreal nos playoffs. Uma verdadeira - e improvável
- empreitada heróica.
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Marcelo Constantino adora o Carnaval. Para viajar para bem longe
de qualquer folia. |
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O NÚMERO UM José Théodore
é uma das grandes decepções desta temporada.
Aqui ele descansa antes de uma partida contra o Boston Bruins, enquanto
Patrick Traverse patina (Paul Chiasson/CP - 11/02/2003) |
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O NÚMERO DOIS
- Mathieu Garon tem bons números e pouquíssimas apresentações.
Aqui ele leva um gol na
prorrogação contra o Buffalo Sabres, marcado por Miroslav
Satan (David Duprey/AP - 19/02/2003) |
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