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28 de fevereiro de 2003
As sugestões de Roenick para melhorar a NHL

Por Humberto Fernandes

Jeremy Roenick, reconhecidamente um dos melhores jogadores da NHL, é do tipo que não foge de polêmica e não pensa duas vezes antes de desferir um tranco em seu oponente, seja ele quem for — e pode ser um amigo, como Mike Modano — ou onde esteja — até mesmo no Jogo das Estrelas.

A nova empreitada de Roenick é tentar melhorar o hóquei ao seu gosto. E ele não é o primeiro jogador a fazer isso recentemente. As declarações de Brett Hull sobre o que está errado no jogo e as sugestões para melhorá-lo já percorreram jornais e revistas que cobrem o esporte.

Sem dúvida alguma, tanto Roenick quanto Hull são vozes às quais não se pode simplesmente bater a porta. Experiência e inteligência não lhes faltam.

A seguir, as dez sugestões comentadas de Roenick:

Livre-nos da atitude "sem diversão, é tudo negócio" da NHL
"Nós somos os artistas, deixe-nos entreter. Não nos chame de showboats porque nós prestamos atenção aos fãs. E o que há de errado em conversar com os oponentes?".

Showboat era um barco fluvial com teatro e atores que se exibiam (no próprio barco) para as populações ribeirinhas, especialmente no Mississippi. Roenick quer tornar o jogo mais divertido, entre amigos — mesmo que ele não tenha o ideal conceito de amigo, que o diga Modano.

Anule a prerrogativa da liga em punir os jogadores pelas coisas que eles dizem
"Nosso país tem liberdade de expressão dada a nós pela Declaração de Direitos e a Constituição. Não há nenhuma razão para que quatro ou cinco pessoas possam multar alguém por crítica verbal, a qual se faz desesperadamente necessária".

Sim, existe censura na NHL.

Diminua o calendário ou sofra as conseqüências
"O calendário é muito longo para o desgaste que temos. São 82 jogos, pré-temporada, mais playoffs. Sim, nós recebemos muito dinheiro pra isso, mas não há um meio termo? Eu penso que sim".

Talvez aqui esteja uma das saídas para aliviar, mesmo que minimamente, a crise financeira da liga: diminuir o trabalho dos atletas — e conseqüentemente, também o salário.

Por que há dois pesos, duas medidas em suspensões e penalidades?
"Elas existem, não importa o que qualquer pessoa diz. Quando se fala em suspensões e penalidades, quem decide o resultado? Tenha alguma consistência e um pouco de justiça".

O velho problema da falta de critério dos árbitros, algo presente em qualquer esporte. Um apita tudo, outro não apita nada. Mas a ira de Roenick pode ter algum motivo pessoal: punição não é novidade pra ele.

Remova a regra do impedimento e traga a regra tag-up de volta ao jogo
"Permita que os jogadores deixem o ataque para manter a jogada viva".

A regra tag-up é como um impedimento atrasado. Ela permite que o jogador impedido saia do ataque, entre novamente na linha azul adversária e lute pelo disco, sem que o jogo seja paralisado. É uma maneira de favorecer a agressividade, trazendo mais entretenimento ao torcedor. Adotá-la novamente, como no passado, pode devolver ao jogo mais ação.

Deixe os goleiros estarem "em jogo"
"Eles são os mais protegidos. Se deixam o crease, deveriam poder sofrer trancos. Um jogo duro deveria ter jogadores duros".

Caso se candidate a comissário, Roenick terá o meu apoio nesta idéia. Lugar de goleiro é dentro da área. Após deixá-la, deveria estar sujeito ao contato físico como qualquer outro jogador.

A pré-temporada deveria ser reduzida de um mês para duas semanas
"Os jogadores hoje em dia ficam em grande forma durante o intervalo entre temporadas. Duas semanas e cinco jogos são o bastante. Só jogar".

Um mês de treinamento intenso não é algo que agrade um atleta. Se eles realmente não fogem muito da forma ideal durante as férias, então o trabalho poderia ser feito em duas ou três semanas.

Elimine a armadilha da zona-neutra
"Adquira liberdade da linha vermelha ou faça penalidades por defesa ilegal, como é feito no basquete. Faça qualquer coisa que liberte da miserável armadilha".

Já tem o meu voto, futuro comissário Roenick. O maldito trap merece ser banido da liga — mas que não seja com idéia proveniente da detestável NBA.

Faça as penalidades de dois minutos terem total duração
"Na minha opinião, o jogador deveria sentar-se na caixa de penalidade por dois minutos independentemente de quantos gols fossem marcados. Mais gols, mais excitação".

Então uma penalidade mal marcada iria prejudicar ainda mais do que já o faz atualmente. Não constitui uma boa idéia, Roenick.

Deixe os jogadores venderem mais o jogo
"Eu colocaria microfones ao vivo nos jogadores, permitiria câmeras no vestiário, qualquer coisa para deixar as pessoas saberem como os grandes jogadores da NHL realmente são. Talvez o público seja atraído a assistir ao jogo quando percebe que pessoas tão boas quanto eles praticam o esporte deles".

Quem viu o documentário "The Season", sobre o Detroit Red Wings, exibido pela ESPN Internacional, sabe do que Roenick está falando. E ele tem razão. Se há algo que consegue emocionar profundamente um torcedor, esse algo é o seu time, a convivência dos seus ídolos, a luta interna pela vitória.

Não há palavras para descrever o vestiário de uma equipe após a conquista da Stanley Cup, elas (as palavras) não são necessárias. Tudo que se precisa é uma câmera. E o resto é fácil.

Diante de dez interessantes sugestões de Roenick, saiba que a NHL aparentemente não tem nenhuma delas entre suas principais. A liga insiste em coibir as brigas e impedir um maior contato físico, através de mais penalidades. O torcedor não pensa assim. Ele quer ação e entretenimento. No fim, não é difícil entender porque a audiência do jogo cai cada vez mais.

Resta-nos esperar a aposentadoria de Roenick e a demissão de Gary Bettman. Quem sabe o central não continua sua vida no hóquei, mas com outra função.

Humberto Fernandes vibrou intensamente com o retorno do Capitão Steve Yzerman ao Detroit Red Wings
ESSE EU QUERIA NO MEU TIME O audacioso Jeremy Roenick, acima, durante a coletiva de apresentação ao seu novo time, o Philadelphia Flyers, em 2 de julho de 2001 (www.jeremyroenick.com)
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Página publicada em 26 de fevereiro de 2003.