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3 de janeiro de 2003
GGs andam demitindo sem olhar para o espelho

Por Alexandre Giesbrecht

Há alguns dias, quando os Penguins estavam no meio de uma seqüência de dez derrotas, perguntaram ao gerente geral Craig Patrick sobre o "prestígio" do técnico Rick Kehoe. Patrick sorriu e respondeu: "Eu não sei se o meu emprego está a salvo". Foi uma mostra espontânea de responsabilidade de Patrick, um conceito que parece perdido no mundo do hóquei ultimamente.

Apenas quatro dos 30 técnicos da NHL estão no cargo há mais de cinco anos, ninguém por mais tempo que Paul Maurice, dos Hurricanes, que já soma sete. Apenas nove estavam nas suas posições atuais antes de 1.º de janeiro de 2000. Apenas 17 estavam nas suas posições atuais no início da última temporada.

Em contraste, 13 gerentes gerais estão por aí há pelo menos cinco anos, destacando-se Lou Lamoriello, dos Devils, há 16 anos no cargo, e Patrick, há 12. Apenas seis times trocaram de gerentes gerais nas últimas duas temporadas. Mesmo o espinafrado Mike Milbury, dos Islanders, está com seu empregador atual desde um mês antes que Maurice.

Será que é tudo mesmo culpa do treinador?

Nenhum técnico foi demitido nos primeiros dois meses desta temporada, mas quatro foram decapitados em dezembro (nada menos que por três vezes um técnico novo acabou na capa da Slot BR só neste mês): Darryl Sutter, do San Jose, Greg Gilbert, do Calgary, Bob Hartley, do Colorado, e, agora, Curt Fraser, do Atlanta. Em todos os casos, exceto, talvez, o dos Flames, pode-se dizer que o gerente geral teve um papel fundamental nas atuações sofríveis de seu time.

Comecemos com os Sharks. Muitos os consideravam favoritos à Stanley Cup para esta temporada, e isso graças ao GG Dean Lombardi, que construiu um elenco tão completo quanto poucos na liga. Mas sua única tarefa nas últimas férias – garantir que todos os seus jogadores voltassem para a nova temporada – não foi cumprida. Evgeni Nabokov e Brad Stuart ficaram sem contrato por boa parte do péssimo início dos Sharks, forçando Lombardi a, no fim das contas, dar a eles o dinheiro que pediam. Vários jogadores têm apontado as ausências de Nabokov e Stuart como o motivo pela produção decepcionante do time.

Já o Colorado é sempre visto como favorito, e foi isso que levou o GG Pierre Lacroix a chocar o mundo do hóquei ao substituir Hartley depois de um início não tão ruim quanto o dos Sharks. Aqui, de novo, a principal diferença entre o Avalanche do ano passado e o deste ano foi uma troca que Lacroix fez com os Flames durante as férias, que mandou para Calgary o artilheiro Chris Drury e o raçudo Stephane Yelle, em troca do talentoso, mas "delicado" zagueiro Derek Morris. Perder jogadores como Drury, Yelle e, anteriormente, Shjon Podein e Jon Klemm foi o que fez com que o Avalanche passasse a perder dentes, ao invés de arrancá-los dos adversários. O mesmo vale por ceder Ville Nieminen e Rick Berry para os Penguins só para alugar Darius Kasparaitis por três meses.

A demissão em Atlanta é a mais questionável destas três. Quando o GG Don Waddell estava respondendo a questões da imprensa sobre a demissão de Fraser, entre as suas frases estava esta pérola: "Vamos ser um pouco mais agressivos defensivamente". Fraser, o técnico demitido, não deve ter conseguido conter o riso quando leu isso.

Nas suas mais de três temporadas como técnico do Atlanta, Fraser nunca recebeu sequer um zagueiro que pudesse patinar bem o suficiente para empregar qualquer nível de estilo agressivo. Mesmo neste último verão norte-americano, quando os donos do time deram a Waddell sinal verde para gastar, suas aquisições para a linha azul foram Uwe Krupp e Richard Smehlik, cujas reputações são de estarem sempre machucados e serem extremamente lentos. Nesta temporada, ambos... bem, ambos têm estado sempre machucados e continuam extremamente lentos.

Agora, Waddell está treinando o time, e isso pode ser bastante engraçado. Talvez ele sinta o gostinho do que é mandar Chris Tamer para o gelo umas 24 vezes por jogo.

Alexandre Giesbrecht, publicitário, estava escutando "In bloom", do Nirvana, quando finalizava este artigo.
ELE VALE UM DRURY? Derek Morris (à esquerda) chega e não substitui o que Chris Drury representava para os Avs: a culpa é de Hartley? (David Zalubowski/AP - 21/12/2002)
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Página publicada em 1.º de janeiro de 2003.