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20 de dezembro de 2002
Thornton é a ameaça a Lemieux na corrida pelo Art Ross

Por Marcelo Constantino

O Troféu Art Ross é concedido ao jogador que obtém mais pontos ao longo da temporada. Durante duas décadas, este prêmio foi vencido exclusivamente por três jogadores: Wayne Gretzky (dez vezes, sendo sete consecutivamente), Mario Lemieux (seis vezes) e Jaromir Jagr (cinco vezes). Na temporada passada, Jarome Iginla quebrou este tabu.

Estamos próximos do fim do ano, e é praticamente incontestável que Mario Lemieux é o MVP desta temporada até aqui, possivelmente vindo a vencer mais um Art Ross para sua coleção em junho. Ainda assim, boa parte da liga ainda espera por uma contusão que o retire do gelo por algum tempo, uma constante infelicidade que assola sua brilhante carreira.

Ainda que Lemieux já tenha liderado a NHL em pontos sem precisar jogar a temporada inteira, vamos fazer uma conjectura: Super Mario fora, quem seria o maior pontuador desta temporada?

Sem Mario ao lado, Alexei Kovalev deve sofrer alguma queda de rendimento. Jagr ainda não se encontrou em Washington da mesma forma que o fazia em Pittsburgh. Desta forma, até aqui o maior candidato seria Joe Thornton, do Boston Bruins, jogador que estava apenas nascendo quando Lemieux desenvolvia suas habilidades na adolescência.

Eu me recordo de quando Thornton foi recrutado como a escolha número 1, em 1997. Havia um grande estardalhaço em torno dele; alguns diziam que seria um dos grandes jogadores da liga em pouco tempo. Os Bruins decidiram colocá-lo de cara na NHL, sem fazer estágio pelas ligas menores, o que valeu algumas críticas. Hoje em dia isso tem ocorrido bastante, afinal de lá pra cá tivemos a entrada de uma penca de times de expansão, que fez cair o nível médio da liga.

Hoje Joe Thornton está jogando o que os analistas da NHL previram para ele cinco anos atrás. Com apenas 23 anos de idade, já pode ser considerado um dos centrais mais valiosos da liga, podendo ainda chegar a ser o número 1 algum dia.

A surpresa aqui não é exatamente o que Thornton se tornou, mas quão rápido ele chegou aonde está. No começo de 2001 o então técnico do time Mike Keenan questionou abertamente se a carreira dele algum dia iria deslanchar. Há muitas controvérsias quanto às atitudes de Keenan, mas ele tinha razão naquele momento. Thornton estava seguindo os mesmos passos de um Alexandre Daigle da vida, o recruta número 1 de 1993, que, naquele ponto, estava no primeiro ano de sua aposentadoria da NHL.

"Não creio que ele seja tão ruim assim", disse Keenan sobre Thornton, focando nas estatísticas do jogador, que nem eram ruins necessariamente.

O pior é que as estatísticas dos dois jogadores eram realmente parecidas. Nas três primeiras temporadas com os Senators, Daigle marcou 105 pontos. Thornton marcou 108 pontos no mesmo período pelos Bruins. Onde quer que o central do Boston estivesse indo, ou não chegaria alto ou demoraria muito para chegar lá.

"Ele não tem desculpas", seguiu reclamando Keenan. "É hora de ele decidir o que quer ser, se o jogador de hóquei que ele é capaz de ser ou se ele quer apenas participar. Ele vai ser um daqueles jogadores que mais tarde nós dizemos 'ele tem potencial, mas...'?"

Antes daquele dia, Thornton tinha uma média de meio ponto por partida. Se zerássemos sua pontuação naquele exato momento, ele teria hoje uma média superior a um ponto por jogo. O fato é que sua produção ofensiva simplesmente dobrou de um período para outro.

De apenas grato e deslumbrado por estar na NHL aos 18 anos de idade, ele caiu na real depois da chamada pública de Keenan. "Eu preciso mostrar o meu valor", disse naquele mesmo dia, em resposta. "Há noites em que eu apareço, outras, não. Eu sei que um dia serei um dos dez maiores pontuadores da liga, talvez um dos cinco".

Dois anos depois, ele está entre os três maiores pontuadores da temporada.

Da maneira como está jogando, ele poderá chegar facilmente aos cem pontos nesta temporada. Caso Lemieux não sofra contusões, é certo que ele deixará esta marca longe atrás. Kovalev também tem tudo para ultrapassar esta marca e quem sabe Jagr não reencontra o encanto? Teremos de volta uma temporada em que ao menos dois jogadores ultrapassam a marca dos cem pontos? Tomara.

Desde a aposentadoria de Mario Lemieux, muito se falou sobre quem apareceria no seu vácuo, ao menos para a corrida pelo Art Ross. Jagr era o nome mais comum, mas Joe Sakic, Peter Forsberg, Paul Karyia e Eric Lindros (sim, estamos falando de 1997) eram nomes que também figuravam como candidatos.

A atenção agora está em Joe Thornton. E ele tem apenas 23 anos de idade.

Marcelo Constantino já ouviu muita coisa na vida, mas nada igual ao Led Zeppelin.
COTIDIANO Joe Thornton (19) celebra um gol ao lado de Glen Murray (27), marcado contra o Pittsburgh Penguins (Gene J. Puskar/AP - 30/11/2002)
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Página publicada em 18 de dezembro de 2002.