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13 de dezembro de 2002
Um antigo ídolo retorna ao antigo lar

Por Humberto Fernandes

Quando você olha a escalação de um time e encontra juntos David Karpa e Darius Kasparaitis, tenha certeza que este será um jogo especial — e que provavelmente você verá o time deles ser derrotado. Nenhuma surpresa, já que se trata do New York Rangers.

Com transmissão da ESPN para o Brasil, tivemos a oportunidade de conferir um clássico entre equipes da Divisão do Atlântico. E com um motivo a mais para se odiarem: Eric Lindros, ex-ídolo em Philadelphia durante oito temporadas, está agora nos Rangers.

O First Union Center encontrava-se lotado para vaiar Lindros, e os times entravam desfalcados, curiosamente, por seus melhores defensores: Eric Desjardins, dos Flyers, e Brian Leetch, dos Rangers. Como se isso não bastasse, John LeClair e Mike Richter, gravemente contundidos, também não jogariam. Dan Blackburn seria o goleiro dos Rangers pela 14.ª vez consecutiva.

Não poderia haver um melhor início de jogo. Com 2:25 de jogo, 16 bons trancos aplicados, sendo 9 dos Flyers. Não é pouca coisa. Geralmente, este é o tempo que os torcedores levam para encontrar seus assentos na arena. Houve ainda dois princípios de confusão, um em cada lado do rinque, imediatamente impedidos pela arbitragem.

Os Flyers dominaram o primeiro período, com poucos lampejos de hóquei dos Rangers. Foram 15 chutes defendidos por Blackburn, nenhum com grande dificuldade. Roman Cechmanek não precisou trabalhar muito. Mesmo com uma defesa inexistente, os Rangers conseguiram matar duas vantagens numéricas do adversário.

Com 24 segundos de segundo período, o defensor Vladimir Malakhov foi penalizado por segurar Keith Primeau com o taco. Àquela altura, os Flyers haviam marcado apenas um gol em vantagem numérica nos 6 jogos anteriores (17 oportunidades). Tudo mudou quando o defensor Kim Johnsson — ex-Rangers e integrante da troca que levou Lindros para Nova York — dominou o disco na defesa e patinou com liberdade, até entrar no gelo do adversário e passar o disco para Justin Williams. Este, marcado por dois, encontrou Mark Recchi sem marcação frente ao goleiro e encerrou sua seqüência negativa de dez jogos sem marcar gol. O disco foi chutado por entre as pernas de Blackburn.

Pouco mais de cinco minutos depois, os Rangers pressionavam incessantemente, até que Matthew Barnaby recuperou o disco e se enrolou com Lindros e os defensores próximos ao gol. Caprichosamente, o disco sobrou no meio do caminho e Bobby Holik marcou seu segundo gol na temporada. O ex-jogador dos Devils retornava ao hóquei após ausentar-se de 18 jogos por contusão nas costelas.

O jogo tornou-se menos ofensivo que no período anterior, mas prosseguia com domínio dos Flyers. Faltando cinco minutos para o fim do período, Pavel Bure — sim, ele esteve no gelo — tentou rifar o disco da defesa dos Rangers, mas Recchi não permitiu que cruzasse a linha azul, passando em seguida a Simon Gagne, e este a Jeremy Roenick. Sofrendo inútil marcação do "ex-jogador em atividade" Kasparaitis, Roenick mandou um belíssimo chute no ângulo de Blackburn, sem qualquer chance de defesa.

Dois minutos e meio depois, novo empate dos Rangers. Barnaby passou o disco para Holik, que o conduziu pela zona neutra, até invadir a defesa adversária. Marcado por dois, Holik deixou de costas para Lindros e, antes que a torcida pudesse vaiá-lo — como em todas as outras vezes que tocou no disco —, mandou o disco para as redes, quase da linha azul. Com este gol, Lindros manteve sua média de um gol por jogo contra o antigo time.

O terceiro período foi atípico: os Rangers exerceram completo domínio e, por pouco, não conseguiram o terceiro gol. Obtiveram uma vantagem numérica nos primeiros minutos, mas Cechmanek defendeu os dois chutes a gol na situação e todos os 12 do período. Entretanto, sua melhor defesa ainda estaria por vir.

Na prorrogação, a mais clara chance de gol aconteceu com menos de dois minutos para o fim. Bure derrubou um jogador dos Flyers — irreconhecíveis no ridículo uniforme laranja da equipe e seus números em preto com listras brancas — na defesa e partiu em 2-contra-1 com Petr Nedved. Próximo ao gol, Bure fez o passe e Nedved bateu de primeira, mas Cechmanek fez uma incrível defesa à queima-roupa e garantiu o prosseguimento do jogo.

Um minuto depois, Tom Poti segurou Michal Handzus com o taco diante de uma nítida oportunidade de gol e um polêmico pênalti foi marcado. As câmeras mostraram Cechmanek se aproximando de Handzus e passando instruções.

"Realmente, não há muito o que se pensar", disse Handzus. "Eu falei com Cechmanek, e ele me disse para tentar fingir um chute, mas que voltasse e chutasse no alto, com a parte de trás do taco. Eu concluí que deveria ouvir o goleiro... Em prorrogação, não há nada mais emocionante".

O movimento de Handzus foi exatamente como o descreveu e a ingenuidade dos 19 anos de Blackburn não permitiu que ele o defendesse: vitória dos Flyers por 3-2.

Foi apenas o segundo pênalti convertido em prorrogação na história da NHL. O primeiro, em 23 de dezembro de 2000, também em cima dos Rangers, foi marcado por David Legwand, dos Predators.

Blackburn terminou o jogo com 32 defesas, enquanto Cechmanek teve 24.

Por ter decidido o jogo, Handzus foi escolhido como a estrela da partida. Lindros ficou em segundo e Roenick em terceiro.

Nota: a equipe da Slot BR novamente agradece o apoio dado pelo narrador André José Adler.

DE PÊNALTI Michal Handzus dribla o inexperiente e ingênuo Dan Blackburn para decretar a vitória dos Flyers na prorrogação (Miles Kennedy/AP - 05/12/2002)
 
HOSPITALIDADE Os jogadores dos Flyers se prepararam especialmente para receber Eric Lindros (à direita) de uma maneira diferente (Miles Kennedy/AP - 05/12/2002)
 
New York Rangers 0 2 0 0 2
Philadelphia Flyers 0 2 0 1 3

PRIMEIRO PERÍODO -- Gols: Nenhum. Penalidades: R Dvorak, Nyr (holding stick), 3:40; Bench, Nyr (too many men served by P Bure), 8:39; B St. Jacques, Phi (roughing), 13:27.

SEGUNDO PERÍODO -- Gols: 1, Philadelphia, Mark Recchi 7 (vantagem numérica) (Justin Williams, Kim Johnsson), 2:02. 2, Ny Rangers, Bobby Holik 2 (Matthew Barnaby, Dale Purinton), 7:40. 3, Philadelphia, Jeremy Roenick 10 (Simon Gagne, Mark Recchi), 15:32. 4, Ny Rangers, Eric Lindros 7 (Bobby Holik, Matthew Barnaby), 18:00. Penalidades: V Malakhov, Nyr (holding), 0:24.

TERCEIRO PERÍODO -- Gols: Nenhum. Penalidades: R Dvorak, Nyr (holding stick), 3:40; Bench, Nyr (too many men served by P Bure), 8:39; B St. Jacques, Phi (roughing), 13:27.
PRORROGAÇÃO -- Gols: 5, Philadelphia, Michal Handzus 8 (pênalti), 4:23.. Penalidades: T Poti, Nyr (hooking), 4:23.
New York Rangers 7 5 12 2 26
Philadelphia Flyers 15 10 6 4 35

Vantagem numérica: NYR - 0 de 2, PHI - 1 de 4. Goleiros: Ny Rangers, Dan Blackburn (35 chutes, 32 defesas; campanha: 7-7-3). Philadelphia, Roman Cechmanek (26, 24; campanha: 9-6-4). Público: 19.537. Árbitros: Kevin Pollock, Mick Mcgeough. Assistentes de linha: Lonnie Cameron, Mike Cvik.

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Página publicada em 11 de dezembro de 2002.