Por
Thomaz Alexandre
Mesmo tendo dado início à sua via-crucis muito mais tarde,
durante os primeiros 24 jogos da atual temporada, Darryl Sutter concluiu-a
mais rapidamente e foi o primeiro a pagar pelos pecados de seus mais
de 20 atletas. Sutter recebeu o recado bombástico do GG do San
Jose Sharks Dean Lombardi, e, a partir daí, era mais um treinador
da NHL sem emprego.
Já Greg Gilbert, após duas temporadas e meia com os Flames,
vem carregando seu ícone de madeira pesada há bem mais
tempo. Há todo o tempo, provavelmente, já que nem mesmo
na época em que assistia Don Hay atrás do banco ele viu
o Calgary passar tantos anos fora da pós-temporada. Mas em 2001-02,
sua única temporada completa como treinador do time, usou seus
reforços Roman Turek e Rob Niedermayer para elevar o time no
início da temporada. No fim da mesma, estava lá o Calgary
Flames na fila de espera dos playoffs por 17 pontos.
Além de ter carregado a cruz por muito pouco tempo até
atingir o fim da linha, Sutter também teve um período
muito mais significativo como operador de milagres, passando mais de
cinco temporadas pelas bandas de San Jose e sendo capaz de aumentar
o total de pontos da equipe ao fim de cada uma delas. O que faz de Sutter
muito mais experimentado para estrelar uma peça na Sexta-Feira
Santa ou Alto De Natal do que Gilbert. Até porque, por mais ilhas
de talento que se encontre em Calgary, todos sabiam que seus meninos
não passavam de lutadores bem intencionados, mas sem os recursos
para vencer. Drury, Gelinas e Yelle não fizeram de um time ainda
sem defesa, sem goleiro quem é Turek? , e sem liderança
quem é Niedermayer? , um candidato aos playoffs.
As verdadeiras decepções, o pecado, estão em San
Jose.
O que é o "capitão" Owen Nolan num momento desses?
Não se pronuncia, não é com ele, deixa a apatia
do time rolar e o homem que lhe confiou a liderança do time ser
punido? Será que o "erro" pelo qual Sutter está
pagando é, na verdade, ter atribuído funções
tão importantes a veteranos que, à vista de alguma adversidade
(no caso deste ano, a demora para assinar com o goleiro número
1 e um defensor do time), deixam a intensidade cair até o mais
abissal dos níveis?
Para reflexão: Nolan vinha apresentando sintomas de uma concussão
nos últimos momentos de Sutter na equipe e continuou fora do
time no primeiro e único jogo com o treinador interino.
Se uns vão, outros vêm -- A vaga de Sutter já
está preenchida, tudo de acordo com a promessa do GG californiano
de que não perderia mais do que poucos dias procurando pelo substituto.
E ele só precisou de um candidato e cinco minutos com este no
escritório para fechar a contratação: Ron Wilson
era a escolha mais previsível e correta que poderiam tomar.
Wilson já tem uma década em suas costas na NHL, tendo
passado quase metade de uma em Anaheim e mais do que a metade da mesma
em Washington. Com os Ducks, foi o primeiro a levar a eterna piada a
estender sua temporada além do meio de abril. Com o Washington,
atingiu as finais da Stanley Cup, venceu dois títulos de divisão
e estabeleceu o time como um vencedor crível na Conferência
Leste. Pelo menos durante a temporada regular. Pelo menos antes de Jagr...
Em Calgary, fala-se de Jimmy Playfair, 38 anos, que venceu a Calder
Cup como campeão da AHL em 2000, seu primeiro ano pelo Saint
John Flames. Esses Flames são o time de desenvolvimento dos Flames
da NHL.
Enquanto a experiência e o estilo disciplinador de Wilson são
necessários para lidar tanto com os veteranos difíceis
quanto com os atordoados novatos, a novidade iminente em Playfair deve
aclimatar melhor os inexperientes Flames. Não a ponto de fazerem
um mundo além do que faziam por Gilbert, até porque sua
abordagem deve ser semelhante, mas pelo menos para trazer o público
de volta ao Saddledome.
E, com Wilson, podem os Sharks revalidar os prognósticos dos
muitos que os deram como favoritos este ano? Podem. Ele é um
treinador que gosta de dar mais tempo aos jogadores mais experientes,
de colocar um sistema simples e eficaz e de começar pelo básico:
acertar a defesa. Nada mal quando Nabokov e toda a rotação
têm tido atuações sub-qualificadas. Wilson também
conhece bem Selanne e provavelmente sabe como fazer ele voltar a marcar
como em Anaheim. Agora que o finlandês está tão
fora da mídia, ele tem tudo para assumir uma faceta mais "Peter
Bondra". Tudo bem que alguns dos novatos podem se desesperar com
a recente fama de Wilson não revelar ninguém e de aconselhar
GGs a negociar blocos de bons prospectos com quem abra mão de
um veterano. Mas não há problema: Ron promete ser flexível,
e Lombardi já responde mandando Lynn Loins para as ligas menores.
Mas os resultados também serão cobrados rápido.
Os Sharks não assinam contratos de muitos anos com treinadores.
E não têm medo de rescindir os curtos bem antes de acabar.
Balançando -- E a ciranda acabou? Não... O que
não falta é gente produzindo abaixo do esperado neste
ano. Como nenhum GG tem coragem de penalizar dezenas de jogadores milionários,
alguns dos engravatados a seguir podem pagar o preço.
Barry Trotz, Nashville Predators: O que fazer se o time só mantém
e contrata atacantes de terceira linha, se seu maior artilheiro se contunde
e se você, dia sim, dia não, perde por um gol? Não
muito, mas, mesmo assim, a diretoria no Tennessee deve achar que os
Preds já deveriam ser um concorrente aos playoffs após
quatro anos completos. Pobre Trotz, outro que faz seu melhor...
Brian Trottier, New York Rangers: Aqui nem se pode falar em balançar
o elenco, pois poucos desses superfaturados jogadores seriam acomodados
em alguma outra folha salarial da liga. E quando esses Rangers dão
segurança a um técnico? Maior folha de pagamento e capa
da edição passada como fracassados. Estar em sétimo
da conferência, um ponto à frente do 11.º não
é maravilhoso, mas deixaria de ser péssimo se os Rangers
não precisassem de três jogos a mais para consegui-lo (e
ainda têm quatro jogos a mais que o oitavo e o nono, e cinco a
mais que o décimo). Alguns acham que o jeito de Trottier é
realmente lento e que ele vai endireitar o time. Vamos ver se Glen Sather
tem esse entendimento. Ou essa paciência.
Bob Hartley, Colorado Avalanche: Não adianta dizer que a situação
deles não é tão ruim quanto a dos Sharks. Pois
as expectativas aqui eram de se manter decidindo títulos, e não
começar a disputá-los. O nono lugar na conferência
não é bom indicador de sucesso, e os ouvidos dos jogadores
parecem estar fechados para Robert. Pois talento naquela escalação
é o que não falta, vaza até para as ligas menores.
Por ora, ele diz não haver motivo para pânico.
Bobby Francis, Phoenix Coyotes: Sean Burke faz falta, mas será
esse um bom álibi frente a um Gretzky ávido por se mostrar
valioso como administrador?
Peter Laviolette, New York Islanders: Peca tanto tempo fora, Yashin
pouco se importando, Osgood emulando uma peneira, Mike Milburry como
GG. Não, nenhum dos quatro paga o preço. Até porque
o último deles é quem aperta o botão vermelho.
Curt Fraser, Atlanta Thrashers: O elenco do Atlanta não é
tão ruim como se pensa. Fora Heatley e Kovalchuk, há jogadores
de respeito, como McEachern, Kozlov, Smehlik, Stefan, Nurminem e, agora,
Dafoe. Se formos inferir pelas ameaças que o GG Don Wadell faz,
ou a defesa dos Thrashers sai da 30.ª posição ou
Fraser sai para o seguro-desemprego.
Bruce Cassidy, Washington Capitals: Jagr, Lang, Bondra, Gonchar. Gols?
Nada. Só mesmo Kolzig segurando tudo. Ele já prometeu
que seu esquema de dar liberdade aos atacantes no início da temporada
deve mudar. E é bom para ele que funcione.
Na fila - E alguns nomes fora vão precisar ser acionados
para aliviar parte dessa carnificina. Peso, a esses nomes, não
falta.
Bob Gainey: Ex-técnico e GG dos Stars/North Stars, assistiu Pat
Quinn na campanha da medalha de ouro em 2002, onze anos após
disputar a Stanley Cup pelo Minessota. Como jogador, venceu cinco títulos
pelo Montreal e, como grande atacante defensivo, foi nomeado membro
do Hall Da Fama. Canadense, sabe lidar bem com times jovens e poderia
ser um bom nome para o Calgary se Playfair fosse descartado.
Larry Robinson: Companheiro de Gainey, ganhou um título a mais
que ele pelo Montreal e também terminou no Hall Da Fama. Como
treinador, foi discreto nos Kings, mas despontou pelo New Jersey Devils,
onde ganhou a Stanley Cup de 1999-2000 após salvar um time que
caía vertiginosamente ao fim da temporada, que Robbie Ftorek
começou comandando. Dá muita liberdade aos jogadores,
faca de dois gumes que se virou contra ele ainda em New Jersey, e é
um nome para quem quer apenas voltar aos eixos. Washington e Colorado
lhe caem bem.
Barry Melrose: Levou os Kings às finais em 1993. Já disse
que poderia ir para os Caps se Ron Wilson fosse para a ESPN. E disputar
uma Stanley Cup contra o próprio, ele encara?
Darryl Sutter: Para não mais nadar com tubarões. Poderia
estar com um grande time, precisando este ou não de um pouco
mais de disciplina e respeitabilidade, coisas que Sutter constrói.
Rangers, Caps, Avs ou Isles para ele.
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Thomaz Alexandre desenvolveu essa coluna pelo interesse do assunto
e pela saudade dos pitacos coletivos na Slot. |
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NADANDO COM OS TUBARÕES Ron
Wilson comanda o San Jose em sua estréia vitoriosa sobre
o Columbus. Marchment, Harvey, Thornton e Smith esperam para mostrar
serviço (John Todd/AP - 06/12/2002) |
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O QUE É QUE HÁ, VELHINHO?
Greg Gilbert não entende o árbitro Stephen Walkom.
Seus patrões não entenderam as 13 derrotas do time,
incluindo esta aí, por 4-2, para os Caps (Joe Giza/Reuters
- 27/11/2002) |
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