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13 de dezembro de 2002
Wilson no tanque dos tubarões

Por Alexandre Giesbrecht

Talvez os Sharks não fossem tão bons quanto se pressupunha antes do início da temporada, quando muitos "experts" previram que eles ganhariam a Stanley Cup ao fim desta temporada. Mas eles certamente não são o 23.º melhor time da liga.

O problema é que era esta a posição que eles ocupavam no último domingo de novembro, quando o gerente geral Dean Lombardi demitiu o técnico Darryl Sutter. Simplesmente o melhor técnico da relativamente curta história do time. Aquele que levou os Sharks a cinco playoffs seguidos. Mais: a cinco temporadas melhores que a anterior. Uma das poucas pessoas que nunca ficou de fora dos playoffs da NHL, seja como jogador, seja como treinador.

E Lombardi jogou isso no lixo depois de um início capenga. Tudo bem que o início foi realmente desastroso — ainda mais para um time tido como favorito e que ficou a uma vitória de alcançar as finais da Conferência Oeste nos últimos playoffs —, mas a decisão de demitir Sutter provavelmente é algo de que a diretoria dos Sharks ainda vai se arrepender. Talvez mais até do que se arrependeram de, em 1995, ter demitido Kevin Constantine, o técnico que os levou a seus dois primeiros playoffs.

Entre as razões que levaram à demissão de Constantine, estava o seu excesso de disciplina, quase ao nível da perversidade. Mas, depois de sua saída, o time jogou pior, e levou mais de dois anos para se recuperar. Já Constantine levou os surpreendentes Penguins, sem Mario Lemieux e depois sem Ron Francis e Petr Nedved, aos playoffs por dois anos, até ser demitido, também por excesso de disciplina, que o levou a comprar briga com a então estrela do time Jaromir Jagr.

A gota d'água mais provável foram as dezenas de telefonemas que Lombardi e o diretor Greg Jamison devem ter recebido, dos donos e de outras pessoas que dirigem o clube. Sutter não é nenhum coitado, claro. Desde que aceitou o emprego, ele sabia que sua profissão tem riscos inerentes. Mas não deixa de ser uma surpresa que os Sharks não tenham dado a Sutter mais duas ou três semanas para tentar consolidar uma reação que se esboçava.

E, numa análise mais extensa, Lombardi (e os donos do time, que delimitaram seu orçamento) tem uma parcela razoável de culpa pela má campanha. Foi ele que não conseguiu assinar contrato a tempo com duas peças-chave do time, o goleiro Evgeni Nabokov e o zagueiro Brad Stuart, que só foram estrear semanas depois de iniciada a temporada. Sutter só foi ter o time completo em 15 de novembro. Permitiram a ele treinar o time por oito jogos depois disso, sendo sete fora de casa, e ele, ainda assim, ganhou três desses jogos.

Seria tão ruim assim esperar o fim do ano? Se o time continuasse mal, é bem provável que o próprio Sutter pedisse demissão. Lombardi economizaria uns trocados. Só uns trocados, mesmo, já que demitir Sutter não saiu tão caro assim para o clube, já que ele estava com um contrato de apenas um ano, que ele só assinou a pedido de alguns veteranos do time.

Vamos ver como esses veteranos reagem ao novo técnico, Ron Wilson. Seria de se esperar um técnico com algumas Stanley Cups no currículo, mas, como Scotty Bowman e Al Albour não estavam disponíveis, ficaram com Wilson. Ele mesmo, um técnico com mais baixos que altos, embora com mais fama do que merece.

Em Anaheim, ele tornou-se um herói, tanto para seus jogadores quanto para a torcida, depois de levar o time à segunda fase dos playoffs em 1997. Só que foi demitido três semanas depois, por causa de "diferenças filosóficas" com a diretoria. Ele levou a seleção americana a um impressionante título da Copa do Mundo de Hóquei em 1996, mas também estava no comando na decepcionante campanha nas Olimpíadas de 1998.

Neste mesmo ano, levou o Washington às finais da Stanley Cup, onde foi varrido pelo Detroit. Claro que o caminho foi bastante facilitado pela precoce eliminação de New Jersey, Pittsburgh e Philadelphia, os três primeiros colocados na conferência. Quatro anos e dois títulos da fraca Divisão Sudeste depois, foi demitido porque seu time, cheio de problemas de contusão, ficou de fora dos playoffs por dois pontos e porque havia a impressão de que os jogadores o estavam boicotando.

E agora Wilson, também conhecido pelos seus métodos high-tech, desembarca no Vale do Silício, terra da tecnologia e dos desmandos da "bolha da Internet", para o que Lombardi espera ser o casamento perfeito. Mas o novo técnico ainda tem que entrar no vestiário, ganhar a confiança de um elenco que quase idolatrava seu antigo treinador e, de alguma maneira, transformar um time inconsistente em uma máquina digna dos fortes playoffs do Oeste.

Será que ele consegue, sem criar divergências e, pior, apatia total? Chance ele tem. Só que ele terá de demonstrar uma competência que ainda não demonstrou. É melhor ele tomar cuidado, pois.

Alexandre Giesbrecht é publicitário e anda entusiasmado com o sucesso inicial da revista Futebol Expresso, que pode ser encontrada nas melhores padarias de São Paulo.
CENA DO PASSADO O ex-técnico dos Sharks Darryl Sutter, atrás de Stephane Matteau e Brad Stuart (Paul Sakuma/AP - 08/01/2002)
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Página publicada em 11 de dezembro de 2002.