Por
Alexandre Giesbrecht
Talvez os Sharks não fossem tão bons quanto se pressupunha
antes do início da temporada, quando muitos "experts"
previram que eles ganhariam a Stanley Cup ao fim desta temporada. Mas
eles certamente não são o 23.º melhor time da liga.
O problema é que era esta a posição que eles ocupavam
no último domingo de novembro, quando o gerente geral Dean Lombardi
demitiu o técnico Darryl Sutter. Simplesmente o melhor técnico
da relativamente curta história do time. Aquele que levou os
Sharks a cinco playoffs seguidos. Mais: a cinco temporadas melhores
que a anterior. Uma das poucas pessoas que nunca ficou de fora dos playoffs
da NHL, seja como jogador, seja como treinador.
E Lombardi jogou isso no lixo depois de um início capenga. Tudo
bem que o início foi realmente desastroso ainda mais para
um time tido como favorito e que ficou a uma vitória de alcançar
as finais da Conferência Oeste nos últimos playoffs ,
mas a decisão de demitir Sutter provavelmente é algo de
que a diretoria dos Sharks ainda vai se arrepender. Talvez mais até
do que se arrependeram de, em 1995, ter demitido Kevin Constantine,
o técnico que os levou a seus dois primeiros playoffs.
Entre as razões que levaram à demissão de Constantine,
estava o seu excesso de disciplina, quase ao nível da perversidade.
Mas, depois de sua saída, o time jogou pior, e levou mais de
dois anos para se recuperar. Já Constantine levou os surpreendentes
Penguins, sem Mario Lemieux e depois sem Ron Francis e Petr Nedved,
aos playoffs por dois anos, até ser demitido, também por
excesso de disciplina, que o levou a comprar briga com a então
estrela do time Jaromir Jagr.
A gota d'água mais provável foram as dezenas de telefonemas
que Lombardi e o diretor Greg Jamison devem ter recebido, dos donos
e de outras pessoas que dirigem o clube. Sutter não é
nenhum coitado, claro. Desde que aceitou o emprego, ele sabia que sua
profissão tem riscos inerentes. Mas não deixa de ser uma
surpresa que os Sharks não tenham dado a Sutter mais duas ou
três semanas para tentar consolidar uma reação que
se esboçava.
E, numa análise mais extensa, Lombardi (e os donos do time, que
delimitaram seu orçamento) tem uma parcela razoável de
culpa pela má campanha. Foi ele que não conseguiu assinar
contrato a tempo com duas peças-chave do time, o goleiro Evgeni
Nabokov e o zagueiro Brad Stuart, que só foram estrear semanas
depois de iniciada a temporada. Sutter só foi ter o time completo
em 15 de novembro. Permitiram a ele treinar o time por oito jogos depois
disso, sendo sete fora de casa, e ele, ainda assim, ganhou três
desses jogos.
Seria tão ruim assim esperar o fim do ano? Se o time continuasse
mal, é bem provável que o próprio Sutter pedisse
demissão. Lombardi economizaria uns trocados. Só uns trocados,
mesmo, já que demitir Sutter não saiu tão caro
assim para o clube, já que ele estava com um contrato de apenas
um ano, que ele só assinou a pedido de alguns veteranos do time.
Vamos ver como esses veteranos reagem ao novo técnico, Ron Wilson.
Seria de se esperar um técnico com algumas Stanley Cups no currículo,
mas, como Scotty Bowman e Al Albour não estavam disponíveis,
ficaram com Wilson. Ele mesmo, um técnico com mais baixos que
altos, embora com mais fama do que merece.
Em Anaheim, ele tornou-se um herói, tanto para seus jogadores
quanto para a torcida, depois de levar o time à segunda fase
dos playoffs em 1997. Só que foi demitido três semanas
depois, por causa de "diferenças filosóficas"
com a diretoria. Ele levou a seleção americana a um impressionante
título da Copa do Mundo de Hóquei em 1996, mas também
estava no comando na decepcionante campanha nas Olimpíadas de
1998.
Neste mesmo ano, levou o Washington às finais da Stanley Cup,
onde foi varrido pelo Detroit. Claro que o caminho foi bastante facilitado
pela precoce eliminação de New Jersey, Pittsburgh e Philadelphia,
os três primeiros colocados na conferência. Quatro anos
e dois títulos da fraca Divisão Sudeste depois, foi demitido
porque seu time, cheio de problemas de contusão, ficou de fora
dos playoffs por dois pontos e porque havia a impressão de que
os jogadores o estavam boicotando.
E agora Wilson, também conhecido pelos seus métodos high-tech,
desembarca no Vale do Silício, terra da tecnologia e dos desmandos
da "bolha da Internet", para o que Lombardi espera ser o casamento
perfeito. Mas o novo técnico ainda tem que entrar no vestiário,
ganhar a confiança de um elenco que quase idolatrava seu antigo
treinador e, de alguma maneira, transformar um time inconsistente em
uma máquina digna dos fortes playoffs do Oeste.
Será que ele consegue, sem criar divergências e, pior,
apatia total? Chance ele tem. Só que ele terá de demonstrar
uma competência que ainda não demonstrou. É melhor
ele tomar cuidado, pois.
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Alexandre Giesbrecht é publicitário e anda entusiasmado
com o sucesso inicial da revista Futebol
Expresso, que pode ser encontrada nas melhores padarias de São
Paulo. |
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CENA DO PASSADO O ex-técnico
dos Sharks Darryl Sutter, atrás de Stephane Matteau e Brad
Stuart (Paul Sakuma/AP - 08/01/2002) |
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