Por
Eduardo Costa
Ser eliminado pelos Hurricanes na final da Conferência Leste na
última temporada, ver o ídolo Curtis Joseph atravessar
os grandes lagos rumo a Detroit, e ainda começar a atual temporada
de maneira desastrosa (6-10-2-0 até o fechamento desta edição).
Diante de tantos fatores negativos, uma simples matéria na conceituada
revista norte-americana Sports Illustrated foi o estopim em Toronto.
Na última edição semanal da revista, lançada
na última quarta-feira, o analista esportivo Michael Farber deu
o título "Por que todo mundo odeia os Leafs" à
sua reportagem. Escreveu que os torcedores e a equipe da cidade mais
populosa do Canadá são tão arrogantes, a ponto
de serem considerados o New York Yankees da NHL, mas sem os títulos,
marca registrada da equipe da MLB. E mais: "Toronto, a capital
do hóquei mundial, é a casa para o bando mais notório
de chorões, mergulhadores e catimbeiros da National Hockey League".
Os jogadores mais citados e que receberam a alcunha de anti-éticos
foram Tie Domi, Darcy Tucker e Shayne Corson. Este trio contribuiu,
e muito, para que a legião de detratores da equipe aumentasse
consideravelmente nas últimas temporadas. A teoria de que "somente
é preciso um par de maçãs ruins para estragar o
cesto todo" também não se aplica aqui, onde quase
todo o elenco tem passagens polêmicas, segundo o escritor.
A matéria transmite, também, que existe um claro favorecimento
dos árbitros para com o clube de Ontário a província
que mais fornece jogadores para a liga. Até mesmo o histórico
programa "Hockey Night in Canada" entrou na roda, acusado
de dar demasiada atenção ao clube e deixar de lado equipes
de outras partes do país. E, ainda, o Departamento de Operações
de Hóquei da NHL está na torre de escritórios do
Air Canada Centre, sede dos Maple Leafs. O ex-goleiro do próprio
Toronto, Glenn Healy, concorda com a tese: "Até mesmo os
sujeitos de quarta linha em Toronto conseguem grandes contratos. Em
Atlanta, os jogadores de quarta linha têm sorte se puderem comprar
um carro".
Alguns jogadores em atividade assinam embaixo as "acusações".
Nenhum deles conhecido por ser santo, é verdade, mas com opiniões
válidas. Para o defensor dos Canadiens Sheldon Souray, não
há duvidas: "Os Leafs têm bons jogadores, alguns com
muita habilidade, mas os mergulhos no gelo e os berros bagunçam
o jogo".
Ian Moran, defensor do Pittsburgh Penguins acrescenta: "Eles esperam
que sejam marcadas faltas em qualquer jogada mais ríspida contra
algum jogador deles, mas, quando a penalidade é contra, só
faltam chorar no gelo. Isso é uma constante dos Leafs".
No antepenúltimo encontro da equipe, diante do Los Angeles Kings,
o capitão Mats Sundin esmagou contra as bordas o defensor Lubomir
Visnovsky, jogada que merece aparecer no Não Pisque do
próximo NHL Power Week. Uma penalidade óbvia, mesmo assim
protestada por Pat Quinn e suas gigantescas bochechas avermelhadas
ainda mais rubras após as penalidades marcadas contra sua equipe.
O DJ do Air Canada Centre entrou na onda e colocou uma popular canção
dos anos 80 que possui um refrão dizendo "It's a mistake",
algo como "isso é um engano".
Na verdade, Sundin ganhou apenas dois minutos de castigo na jogada que
foi encarada pela arbitragem como uma cotovelada, quando poderia ser
muito bem marcado um choque atravessado, daquele bem sórdido,
o que valeria mais tempo de penalidade para o sueco. Por falar em penalidades,
a imprensa de Toronto, assim como Quinn, é uma das raras exceções
que desaprovam a rigidez adotada pela liga contra as obstruções.
O golpe baixo de Darcy Tucker nos joelhos de Mike Peca nos últimos
playoffs não poderia ficar de fora. Tucker não recebeu
nenhuma punição, mas o lance foi exibido junto
a outros em uma fita que a NHL enviou para todas as franquias
na pré-temporada, onde exemplificava jogadas inaceitáveis.
Rob Ray, intimidador dos Sabres, ao ser consultado pela SI, disse não
entender: "Primeiro, não o puniram e nem multaram, e agora
nos mandam uma fita dizendo que aquilo é inaceitável".
Com a débil campanha da equipe neste início de temporada,
Quinn não se furtou de declarar em público seu descontentamento
com alguns jogadores do elenco. Alyn McCauley, de tão criticado,
passou a figurar diariamente nas listas de jogadores negociáveis.
"É injusto", limitou-se a dizer o asa direita. O defensor
Jyrki Lumme não se surpreende mais em abrir os jornais e ver
seus erros expostos em manchetes garrafais, alimentados por críticas
do treinador da equipe.
Perguntado como Curtis Joseph deveria se comportar no jogo de sábado
passado devidamente vencido pelos Wings, e com Manny Legace no
gol frente aos Leafs em sua antiga casa, Chris Chelios, em entrevista
ao Detroit Free Press, foi categórico: "Se fosse eu, ficaria
em casa ou no vestiário, apenas para não ter que dar satisfações.
Eu não gosto de Toronto. Eu não gosto do jeito que a imprensa
trata os outros lá, eles levam para o lado pessoal. Basta ver
o que eles fazem com os jogadores que ainda estão lá.
CuJo é uma pessoa muito boa para se sujeitar a esse tipo de coisa".
Chelios tem razão nesse ponto; basta voltarmos no tempo. No último
dia 2 de maio, CuJo ainda se recuperando de uma mão quebrada
foi para o sacrifício frente aos Senators na primeira
partida da segunda rodada dos playoffs e saiu derrotado por 5-0. No
dia seguinte, o Toronto Sun, jornal local, estampou na capa "Joe-Sieve".
Traduzindo ao pé da letra, algo como "Joe-Peneira".
O lado criticado foi consultado por vários meios de comunicação,
logo após a revista chegar às bancas.
Eddie Belfour relembrou os dias em que atuou diante dos Maple Leafs:
"Mais odiados? Por quem, pelos árbitros? Quando jogava nos
Blackhawks, não tínhamos nada contra os Leafs, apenas
a rivalidade normal entre duas equipes originais".
O treinador Pat Quinn afirmou não ter lido a matéria e,
por isso, não tem dado importância à repercussão
da mesma. No entanto, diz-se cansado de ouvir dizer que a equipe é
favorecida pelo fato de a liga ter sede em Toronto. O mais irônico
foi o "albanês assassino", Tie Domi, que, com uma cara
de surpreso, declarou: "Sports Illustrated? Eles escrevem sobre
hóquei?" Em seguida, deu outra alfinetada na publicação:
"Eu não sabia disso... É a primeira vez que eu ouço
dizer que esta revista escreve sobre hóquei. Eles devem possuir
boas fontes".
Esse também é um argumento utilizado por muitos fãs.
A revista geralmente dedica míseras páginas para a cobertura
da NHL e não deveria ser levada a sério. Outra é
que Michael Farber, autor da polêmica coluna, trabalhou por mais
de dez anos no jornal Montreal Gazette, sendo considerado um "inimigo"
natural dos Leafs.
Mas a polêmica avançou de forma que cada esquina de Toronto
e de outras grandes cidades do Canadá virou uma mesa redonda
com opiniões das mais diversas: "Eles falam sobre o tranco
de Darcy Tucker em Peca, mas nada foi dito sobre o golpe que Daniel
Alfredsson deu em Tucker nos playoffs; nada foi marcado, e, no mesmo
lance, o sueco marcou um gol para os Senators", disse um militante
pró-Leafs. "A atitude de alguns jogadores, mesmo quando
marcam um gol, chega a ser vexatória, digna de um time em desespero.
Sundin comemorou de modo exagerado um gol contra os Kings, que sofrem
com contusões nessa temporada. Quando perdem, buscam logo algumas
desculpas que não más atuações no gelo.
Verdadeiros campeões não fazem isso", declarou um
dos que dão razão a Farber.
Fica a pergunta: se a liga é tão favorável à
equipe, por que a seca de Stanley Cups já dura 35 anos? Difícil
dizer, não?
Neste período, os rivais Canadiens somaram 10 títulos,
mas agora suam sangue para se manter competitivos na liga, enquanto
o Toronto se dá ao luxo de algumas excentricidades. Calcula-se
que os Leafs tenham a sétima maior folha de pagamento da liga,
com gastos próximos a US$ 54 milhões de dólares.
Em contrapartida, os cinco canadenses restantes na liga invariavelmente
vivem envoltos a problemas como complicadas renovações
de contrato, êxodo de ídolos, impostos ou o fraco dólar
canadense. Não é difícil para um torcedor dos Flames,
por exemplo, odiar os Leafs por isso, mesmo que eles não sejam
os responsáveis por esta situação. Ou são?
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Eduardo Costa não tem nada contra o Toronto Maple Leafs,
muito menos contra lado "sangrento" do hóquei;
somente não admite encenações. |
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PORNOGRAFIA? Não, um
mergulho de Corson (Don Heupel/AP - 12/11/2002) |
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