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20 de novembro de 2002
Maple Leafs: para muitos, os mais odiados. Por quê?

Por Eduardo Costa

Ser eliminado pelos Hurricanes na final da Conferência Leste na última temporada, ver o ídolo Curtis Joseph atravessar os grandes lagos rumo a Detroit, e ainda começar a atual temporada de maneira desastrosa (6-10-2-0 até o fechamento desta edição). Diante de tantos fatores negativos, uma simples matéria na conceituada revista norte-americana Sports Illustrated foi o estopim em Toronto.

Na última edição semanal da revista, lançada na última quarta-feira, o analista esportivo Michael Farber deu o título "Por que todo mundo odeia os Leafs" à sua reportagem. Escreveu que os torcedores e a equipe da cidade mais populosa do Canadá são tão arrogantes, a ponto de serem considerados o New York Yankees da NHL, mas sem os títulos, marca registrada da equipe da MLB. E mais: "Toronto, a capital do hóquei mundial, é a casa para o bando mais notório de chorões, mergulhadores e catimbeiros da National Hockey League".

Os jogadores mais citados — e que receberam a alcunha de anti-éticos — foram Tie Domi, Darcy Tucker e Shayne Corson. Este trio contribuiu, e muito, para que a legião de detratores da equipe aumentasse consideravelmente nas últimas temporadas. A teoria de que "somente é preciso um par de maçãs ruins para estragar o cesto todo" também não se aplica aqui, onde quase todo o elenco tem passagens polêmicas, segundo o escritor.

A matéria transmite, também, que existe um claro favorecimento dos árbitros para com o clube de Ontário — a província que mais fornece jogadores para a liga. Até mesmo o histórico programa "Hockey Night in Canada" entrou na roda, acusado de dar demasiada atenção ao clube e deixar de lado equipes de outras partes do país. E, ainda, o Departamento de Operações de Hóquei da NHL está na torre de escritórios do Air Canada Centre, sede dos Maple Leafs. O ex-goleiro do próprio Toronto, Glenn Healy, concorda com a tese: "Até mesmo os sujeitos de quarta linha em Toronto conseguem grandes contratos. Em Atlanta, os jogadores de quarta linha têm sorte se puderem comprar um carro".

Alguns jogadores em atividade assinam embaixo as "acusações". Nenhum deles conhecido por ser santo, é verdade, mas com opiniões válidas. Para o defensor dos Canadiens Sheldon Souray, não há duvidas: "Os Leafs têm bons jogadores, alguns com muita habilidade, mas os mergulhos no gelo e os berros bagunçam o jogo".

Ian Moran, defensor do Pittsburgh Penguins acrescenta: "Eles esperam que sejam marcadas faltas em qualquer jogada mais ríspida contra algum jogador deles, mas, quando a penalidade é contra, só faltam chorar no gelo. Isso é uma constante dos Leafs".

No antepenúltimo encontro da equipe, diante do Los Angeles Kings, o capitão Mats Sundin esmagou contra as bordas o defensor Lubomir Visnovsky, jogada que merece aparecer no Não Pisque do próximo NHL Power Week. Uma penalidade óbvia, mesmo assim protestada por Pat Quinn e suas gigantescas bochechas avermelhadas — ainda mais rubras após as penalidades marcadas contra sua equipe. O DJ do Air Canada Centre entrou na onda e colocou uma popular canção dos anos 80 que possui um refrão dizendo "It's a mistake", algo como "isso é um engano".

Na verdade, Sundin ganhou apenas dois minutos de castigo na jogada que foi encarada pela arbitragem como uma cotovelada, quando poderia ser muito bem marcado um choque atravessado, daquele bem sórdido, o que valeria mais tempo de penalidade para o sueco. Por falar em penalidades, a imprensa de Toronto, assim como Quinn, é uma das raras exceções que desaprovam a rigidez adotada pela liga contra as obstruções.

O golpe baixo de Darcy Tucker nos joelhos de Mike Peca nos últimos playoffs não poderia ficar de fora. Tucker não recebeu nenhuma punição, mas o lance foi exibido — junto a outros — em uma fita que a NHL enviou para todas as franquias na pré-temporada, onde exemplificava jogadas inaceitáveis. Rob Ray, intimidador dos Sabres, ao ser consultado pela SI, disse não entender: "Primeiro, não o puniram e nem multaram, e agora nos mandam uma fita dizendo que aquilo é inaceitável".

Com a débil campanha da equipe neste início de temporada, Quinn não se furtou de declarar em público seu descontentamento com alguns jogadores do elenco. Alyn McCauley, de tão criticado, passou a figurar diariamente nas listas de jogadores negociáveis. "É injusto", limitou-se a dizer o asa direita. O defensor Jyrki Lumme não se surpreende mais em abrir os jornais e ver seus erros expostos em manchetes garrafais, alimentados por críticas do treinador da equipe.

Perguntado como Curtis Joseph deveria se comportar no jogo de sábado passado — devidamente vencido pelos Wings, e com Manny Legace no gol — frente aos Leafs em sua antiga casa, Chris Chelios, em entrevista ao Detroit Free Press, foi categórico: "Se fosse eu, ficaria em casa ou no vestiário, apenas para não ter que dar satisfações. Eu não gosto de Toronto. Eu não gosto do jeito que a imprensa trata os outros lá, eles levam para o lado pessoal. Basta ver o que eles fazem com os jogadores que ainda estão lá. CuJo é uma pessoa muito boa para se sujeitar a esse tipo de coisa".

Chelios tem razão nesse ponto; basta voltarmos no tempo. No último dia 2 de maio, CuJo — ainda se recuperando de uma mão quebrada — foi para o sacrifício frente aos Senators na primeira partida da segunda rodada dos playoffs e saiu derrotado por 5-0. No dia seguinte, o Toronto Sun, jornal local, estampou na capa "Joe-Sieve". Traduzindo ao pé da letra, algo como "Joe-Peneira".

O lado criticado foi consultado por vários meios de comunicação, logo após a revista chegar às bancas.

Eddie Belfour relembrou os dias em que atuou diante dos Maple Leafs: "Mais odiados? Por quem, pelos árbitros? Quando jogava nos Blackhawks, não tínhamos nada contra os Leafs, apenas a rivalidade normal entre duas equipes originais".

O treinador Pat Quinn afirmou não ter lido a matéria e, por isso, não tem dado importância à repercussão da mesma. No entanto, diz-se cansado de ouvir dizer que a equipe é favorecida pelo fato de a liga ter sede em Toronto. O mais irônico foi o "albanês assassino", Tie Domi, que, com uma cara de surpreso, declarou: "Sports Illustrated? Eles escrevem sobre hóquei?" Em seguida, deu outra alfinetada na publicação: "Eu não sabia disso... É a primeira vez que eu ouço dizer que esta revista escreve sobre hóquei. Eles devem possuir boas fontes".

Esse também é um argumento utilizado por muitos fãs. A revista geralmente dedica míseras páginas para a cobertura da NHL e não deveria ser levada a sério. Outra é que Michael Farber, autor da polêmica coluna, trabalhou por mais de dez anos no jornal Montreal Gazette, sendo considerado um "inimigo" natural dos Leafs.

Mas a polêmica avançou de forma que cada esquina de Toronto e de outras grandes cidades do Canadá virou uma mesa redonda com opiniões das mais diversas: "Eles falam sobre o tranco de Darcy Tucker em Peca, mas nada foi dito sobre o golpe que Daniel Alfredsson deu em Tucker nos playoffs; nada foi marcado, e, no mesmo lance, o sueco marcou um gol para os Senators", disse um militante pró-Leafs. "A atitude de alguns jogadores, mesmo quando marcam um gol, chega a ser vexatória, digna de um time em desespero. Sundin comemorou de modo exagerado um gol contra os Kings, que sofrem com contusões nessa temporada. Quando perdem, buscam logo algumas desculpas que não más atuações no gelo. Verdadeiros campeões não fazem isso", declarou um dos que dão razão a Farber.

Fica a pergunta: se a liga é tão favorável à equipe, por que a seca de Stanley Cups já dura 35 anos? Difícil dizer, não?

Neste período, os rivais Canadiens somaram 10 títulos, mas agora suam sangue para se manter competitivos na liga, enquanto o Toronto se dá ao luxo de algumas excentricidades. Calcula-se que os Leafs tenham a sétima maior folha de pagamento da liga, com gastos próximos a US$ 54 milhões de dólares. Em contrapartida, os cinco canadenses restantes na liga invariavelmente vivem envoltos a problemas como complicadas renovações de contrato, êxodo de ídolos, impostos ou o fraco dólar canadense. Não é difícil para um torcedor dos Flames, por exemplo, odiar os Leafs por isso, mesmo que eles não sejam os responsáveis por esta situação. Ou são?

Eduardo Costa não tem nada contra o Toronto Maple Leafs, muito menos contra lado "sangrento" do hóquei; somente não admite encenações.
PORNOGRAFIA? Não, um mergulho de Corson (Don Heupel/AP - 12/11/2002)
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Página publicada em 18 de novembro de 2002.