26 de junho de 2002
Fabiano: O show dos defensores invisíveis

Por Fabiano Pereira

Iniciado o jogo 5 das finais desta temporada, o título já era considerado do Detroit Red Wings, que vencia a série por 3-1. Dificilmente os Hurricanes conseguiriam virar, pois, em toda a história das finais da Stanley Cup, nenhum time havia conseguido virar tamanha adversidade. Mas uma dúvida pairava em todos: quem ganharia o troféu Conn Smythe em um time repleto de tantas estrelas?

Seria o capitão, Steve Yzerman, jogando machucado e com uma boa média de um ponto por jogo? Ou o veterano asa direito, Brett Hull, com dez gols, liderando todos os jogadores? Ou então o goleiro Dominik Hasek, que, após um começo não muito bom nos playoffs, virou novamente o Dominador e fechou o gol, terminando os playoffs com seis shutouts? Ou ainda, arriscando longe, o central russo Sergei Fedorov, que apavorou as defesas adversárias com toda sua velocidade e chute preciso?

Não. Nenhum deles ganhou. Quem recebeu o troféu foi o exímio defensor sueco Nicklas Lidstrom, garantidamente o melhor defensor de toda a liga. Mas... Justo Lidstrom? Ele não fez muitos pontos. Não marcou muitos gols. Nem fez defesas excepcionais. Por que ele então?

Primeiramente, deixemos claro que Lidstrom é um defensor. Ele não vai ser o artilheiro de seu time e nem liderá-lo em pontos. Muito menos fazer defesas com sua luva ou taco. Mas um defensor não dá várias porradas de corpo, não intimida fisicamente? Não necessariamente. É necessário que os times tenham jogadores assim, mas quando só têm jogadores assim (estão ouvindo, Boston Bruins?), mal conseguem sair da defesa.

Nicklas Lidstrom não é responsável pelos melhores momentos da liga. Você não o verá fazendo um dos dez melhores gols, dez melhores porradas e, claro, dez melhores defesas. Em certos momentos, parece até que ele some do jogo. Mas, ao contrário dos atacantes, ele não desaparece por omissão ou por estar bem marcado: ele está buscando o melhor posicionamento para uma interceptação, preparando-se para evitar um contra-ataque, encontrando a melhor posição para um chute no ataque ou subindo despercebidamente numa vantagem numérica ou contra-ataque de sua equipe. Tudo isso jogando em torno de 30 minutos por partida. Sem cansar e sem cometer erros. Um defensor invisível, mas com a presença notada pelos adversários.

Defensores como Lidstrom dificilmente são valorizados pela liga. Excetuando as duas últimas premiações do troféu James Norris, oferecido ao melhor defensor da liga (de que, inclusive, ele foi o vencedor), vamos reparar que geralmente aparecem aqueles extremamente ofensivos ou que dominam fisicamente qualquer partida (mas com alguma contribuição ofensiva), como Brian Leetch, Paul Coffey, Rob Blake, Chris Pronger, Chris Chelios ou Al MacInnis. Ou seja: jogadores que aparecem para a torcida, para os críticos.

Os defensores invisíveis são liderados por Lidstrom, mas têm também representantes em Kimmo Timonen (Nashville Predators), Brian Rafalski (New Jersey Devils), Teppo Numminen (Phoenix Coyotes), Matt Schneider (Los Angeles Kings), Wade Redden (Ottawa Senators) e Darryl Sydor (Dallas Stars). Existem outros jogadores que se enquadram nesta categoria, mas certamente estes são os mais desvalorizados. Enquanto os Brian Leetchs brilham com sua subidas ofensivas, os Rob Blakes e Scott Stevens com suas porradas monstruosas, e os Al MacInnis com seus chutes poderosos, estes defensores fazem as pequenas coisas que ninguém quer fazer. E, de maneira invisível, ganham admiração, mesmo que seja apenas de seus companheiros e adversários.

Quem sabe em breve os "defensores highlight" não dêem lugar aos "defensores invisíveis"? Seria a substituição do show pela eficiência. E os Red Wings sabem muito bem o quanto isso é importante...

Fabiano Pereira é admirador de defensores. E, apesar de ser fã de Brian Leetch, sabe muito bem a importância dos "defensores invisíveis".
 
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Página publicada em 24 de junho de 2002.