26 de junho de 2002
Giesbrecht: Quem conseguiu o quê

Por Alexandre Giesbrecht

Poucos times vão olhar para trás daqui a alguns anos e lembrar-se do recrutamento de 2002 como uma coisa boa. Alguns vão perceber o desperdício que foi comprar passagens para Toronto. Realmente, este recrutamento foi mesmo um dos mais fracos dos últimos anos e não é difícil perceber isso, mesmo olhando apenas para as previsões e o realizado: o que aconteceu no fim das contas foi muito mais imprevisível do que em outros anos. O que os times conseguiram ainda é difícil de saber, mas, como já é de praxe aqui na Slot, vou fazer as minhas. Estando aqui no Brasil, já é difícil analisar a NHL, que possui pouca cobertura, quanto mais os prospectos, mas vou fazer um balanço do que tenho lido por aí sobre o recrutamento (e não foi pouca coisa).

Anaheim -- Pode finalmente ter superado seus problemas de ataque ao adicionar Joffrey Lupul, Tim Brent e Joonas Vihko ao seu elenco. Lupul, principalmente, já mostrou ter faro de matador e chegou a ser surpreendente ver os Penguins e os Predators deixarem ele escapar. Também conseguiram um futuro intimidador em George Davis.

Atlanta -- Kari Lehtonen pode entrar direto na NHL ou então ser relegado (por um ano, não mais do que isso) à AHL, mas ele é exatamente o que os Thrashers queriam para o gol. Ao adquirir Vyacheslav Kozlov, ainda conseguiram um pouco mais de poder de fogo.

Boston -- Surpreenderam a todos selecionando o goleiro Hannu Toivonen, que não aparecia em praticamente nenhuma lista de primeira rodada. Não é a primeira vez que fazem isso (em 1994 fizeram a mesma coisa e selecionaram Evgeni Riabchikov, que hoje deve estar no gol de algum time de mineiros na Sibéria). Os Bruins selecionaram cinco jogadores europeus.

Buffalo -- Os Sabres conseguiram um goleador na troca por Jochen Hecht, mas perderam outro ao mandar Kozlov para o Atlanta. Por enquanto, o Buffalo economiza um precioso dinheirinho com a troca, mas o time ainda está em séries dificuldades financeiras. Ah, sim, eles também recrutaram. Até tentaram roubar a segunda escolha da mão dos Thrashers, mas acabaram se contentando com o zagueiro Keith Ballard e com o ponta esquerda Dan Paille na primeira rodada. Ballard deve vir a contribuir numa segunda linha de zaga, enquanto Paille deve acabar se tornando um atacante brigador.

Calgary -- Os Flames viram seu ex-prospecto Jarret Stoll ir para o arqui-rival Edmonton na segunda rodada e não conseguiram arrumar nenhuma melhora imediata para o ataque. O ponta Eric Nystrom deve ajudar um pouco, mas apenas no futuro. De resto, os Flames fizeram muitas apostas.

Carolina -- Os Canes tiveram apenas quatro escolhas (trocaram as demais para ir mais cedo para casa). Com a primeira delas, escolheram o goleiro Cam Ward, que não deve passar de reserva na NHL (algo como Ken Wregget). Isso porque eles não têm problemas no gol.

Chicago -- O zagueiro Anton Babchuk era esperado entre os dez primeiros, mas acabou caindo na mão dos Hawks na 21.ª posição, mas não conseguiram alguém para substituir o capitão Tony Amonte. Quem sabe no ano que vem?

Colorado -- Supresa: nenhuma grande troca por parte do gerente geral Pierre Lacroix. Com a primeira escolha, selecionaram um sueco — mas não espere um novo Peter Forsberg.

Columbus -- Conseguiram exatamente quem eles queriam, Rick Nash, para tentar solucionar o grave problema do time na frente: o pior ataque da liga. Os Jackets estavam morrendo de medo que os Panthers ou os Thrashers escolhessem Nash, por isso fizeram a troca com os Panthers e selecionaram Nash com a primeira escolha. No final das contas, os três ficaram com quem eles queriam.

Dallas -- Os Stars renovaram seu estoque na defesa, principalmente com Martin Vagner na 26.ª posição, mas mandou o sempre regular Brad Lukowich para o Tampa Bay. Também fizeram apostas arriscadas em jogadores de Hungria e Noruega na segunda rodada.

Detroit -- A primeira escolha dos campeões veio na 58.ªposição, mas, ainda assim, conseguiram o central techeco Jiri Hudler, que poderia ter sido escolhido já na primeira rodada. Apenas sorte?

Edmonton -- Os Oilers também surpreenderam com Jesse Niinimaki na 15.ª posição e ao mandar Jochen Hecht para o Buffalo. Eles deixaram escapar muitos bons jogadores para escolher Niinimaki. Por quê? É provável que nunca venhamos a descobrir.

Florida -- Já iriam ficar em primeiro e escolher Jay Bouwmeester, mas acabaram com a terceira escolha e escolheram... Bouwmeester! E ainda vão trocar de posição na primeira rodada do ano que vem com o Columbus, que certamente vai ter uma escolha alta. E ainda, ao escolhê-lo somente com na terceira posição, devem ter economizado uns trocados na negociação de salário. Tudo que poderia ter dado certo para os Panthers deu até agora. Só falta ver se Bouwmeester é mesmo isso tudo. Quer dizer, bom ele é, mas parece não ter melhorado nos últimos dois anos. Alguns estão reclamando das escolhas que eles deram aos Thrashers para ter certeza de que eles não aprontariam nenhuma surpresa. Desnecessário? Pode ser, mas eles conseguiram quem eles queriam. E o preço não foi assim tão alto, principalmente levando-se em consideração que eles ainda conseguiram a nona escolha, com que selecionaram o central Petr Taticek, um jogador com muita vontade e algum estilo, embora às vezes fuja do trabalho duro.

Los Angeles -- Denis Grebeshkov, Sergei Anshakov e Petr Kanko dão aos Kings mais poder de fogo no futuro — no caso de Grebeshkov, se ele conseguir a motivação necessária. E ainda conseguiram quem levasse Cliff Ronning, que não voltaria de qualquer jeito.

Minnesota -- Para o curto prazo, Ronning. Para o futuro, Pierre-Marc Bouchard é um passo na direção certa para o ataque do Wild, que muitos não sabiam existir. Se crescer, pode vir a fazer sucesso na NHL.

Montreal -- No recrutamento, um jogador para a segunda ou terceira linha, Christopher Higgins, mas, para a próxima temporada, os dois anos restantes do contrato de Mariusz Czerkawski custaram apenas Arron Asham e uma escolha de quinta rodada.

Nashville -- Scottie Upshall tem espírito de liderança e deve se dar bem em Nashville. Não é de desmerecer o fato de o time ter recebido ofertas para a sua escolha — e o alvo do interessado não era outro jogador.

New Jersey -- Os Devils têm tradição de escolher bons jogadores mesmo com escolhas altas, por isso não se surpreenda se eles conseguirem algum jogador de destaque aqui. Sua primeira escolha, na 51.ª posição, foi o zagueiro Anton Kadeykin, que não tinha sido ranqueado. Apesar de alto, ainda não desenvolveu o aspecto físico de seu jogo.

NY Islanders -- O GG Mike Milbury não causou um frenesi neste ano, mas intrigou muitos ao mandar Czerkawski para o Montreal por Asham numa troca que teve como único motivo foi contenção de custos. No recrutamento, a primeira escolha foi o ponta finlandês Sean Bergenheim, baixo, mas brigador, que teve uma produção quase nula em 28 jogos na liga de elite finlandesa (dois gols e duas assistências).

NY Rangers -- Aguardando os agentes livres, os Rangers não tinham escolhas na primeira rodada. Com a 33.ª escolha, selecionaram o central Lee Falardeau, jogador grande que gosta de se plantar na frente do gol adversário. Teve apenas 14 pontos em 34 jogos na Universidade Michigan State, mas era seu primeiro ano. Apesar do tamanho, é muito rápido.

Ottawa -- Mais profundidade ao centro ou excesso de centrais? Jakub Klepis, 16.ª escolha, e Alexei Kaigorodov, 47.ª, são centrais (se bem que Kaigorodov também é ponta direita). Klepis deve ser um atacante defensivo, mas da terceira linha no máximo.

Philadelphia -- De nenhuma escolha na primeira rodada a detentores da quarta, ainda conseguiram o último dos "quatro grandes jogadores" deste recrutamento, o zagueiro Joni Pitkanen. Não esperem dele muita ajuda no ataque, mas lá atrás. O preço? Ruslan Fedotenko e mais umas escolhazinhas.

Phoenix -- Com várias escolhas na mão, escolheram demais baseados em tamanho. Com a 19.ª escolha, uma ovelha negra que pode vir a ser a surpresa deste recrutamento: Jakub Koreis, central grande e talentoso com o disco. Com a 23.ª, ainda na primeira rodada, selecionaram o ponta Ben Eager, que tem muita garra para mostrar.

Pittsburgh -- Tudo bem que a maior parte dos problemas dos Pens vem da defesa, mas Mario Lemieux não vai jogar para sempre. O zagueiro Ryan Whitney, que ainda precisa crescer um pouco, é daqueles jogadores que ou vai ser muito bom ou simplesmente vai sumir rapidinho. Os Pens deixaram passar dois jogadores de impacto, Lupul e Bouchard.

San Jose -- Nenhuma escolha de impacto; o que os Sharks escolheram está bem voltado para o longo prazo. O ponta Mark Morris já mostrou faro de artilheiro e, com o desenvolvimento que as categorias de baixo dos Sharks costumam dar, pode ser outra grata surpresa.

St. Louis -- Os Blues foram atrás de talento europeu e, com sua primeira escolha (48.ª no geral), trouxeram Alexei Shkotov, um ponta baixo, mas rápido e ágil, projetado como especialista em vantagens numéricas. Enquanto muitos times procuraram ajuda imediata na primeira rodada, os Blues acharam na sétima e na oitava, com o central Jonas Jonsson, de 32 anos, o jogador mais velho disponível, e o zagueiro Tom Koivisto, de 28.

Tampa Bay -- É unânime. O Lightning jogou fora o recrutamento. De novo. Ao invés de conseguir um jogador de impacto com a quarta escolha, trocou-a pela terceira vez em quatro anos. Pior: por Fedotenko e uns trocados. Sobrou como primeira escolha a 60.ª, a mais alta primeira escolha entre os times neste ano. O Tampa Bay escolheu três goleiros e um deles, Fredrik Norrena, de 28 anos, pode fazer parte do elenco já na próxima temporada.

Toronto -- Legal escolher o goleiro Todd Ford, mesmo que apenas na 74.ª escolha, mas todos esperavam que eles já selecionassem um goleiro na primeira rodada. Ao invés disso, escolheram Alexander Steen, filho de Thomas Steen, que jogou no Winnipeg Jets nos anos 80. Mesmo com potencial ofensivo, foi recebido com frieza pela platéia de sua nova casa — talvez pelo fato de não ser canadense.

Vancouver -- Os Canucks adicionaram três zagueiros nas três primeiras rodadas, incluindo os russos Kirill Koltsov (que muitos esperavam que fosse escolhido na primeira rodada), com a 49.ª escolha, e Denis Grot, com a 55.ª.

Washington -- Com 4 escolhas entre as primeiras 59, os Caps conseguiram profundidade em todas as posições. Só na primeira rodada, três escolhas. A primeira, na 12.ª posição, foi o zagueiro Steve Eminger, forte no ataque, nem tanto na defesa. Na 13.ª, um jogador que parece ser certo chegar à NHL (se crescer mais um pouco), o ponta Alexander Semin. Na 17.ª, outro ponta, Boyd Gordon, até uma surpresa, mas, com tantas escolhas, os Caps podiam dar-se ao luxo.

Alexandre Giesbrecht, 26 anos, não gostou muito da primeira escolha dos Penguins, mas espera queimar a sua língua no futuro.
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Página publicada em 24 de junho de 2002.