26 de junho de 2002
Constantino: Assistindo à NHL 'ao vivo' nas madrugadas da ESPN

Por Marcelo Constantino

Desde a primeira partida a que assisti do meu time, o Detroit Red Wings, na ESPN, em meados de novembro de 1996, um empate de 2-2 contra o Vancouver Canucks, que incorporei este estranho hábito de assistir aos jogos da madrugada da ESPN como se fossem ao vivo. Quer dizer, assistir sem saber do resultado final.

Trata-se de uma tradição desde então. Como são cada vez mais raros jogos do meu time — não, eu não acordo de madrugada para ver jogos de outros times na temporada normal e nem os gravo para ver depois —, qualquer jogo do Detroit é motivo para mobilização de véspera. Dormir cedo dois dias antes e no dia também, para não ficar com sono durante a madrugada. Acordar no horário marcado, assistir, voltar a dormir — se o jogo não acabar às 6 da manhã —, acordar novamente e ir trabalhar.

Ah, é terminantemente proibido gravar um jogo para ver no dia seguinte. O prazer está em assistir de madrugada mesmo.

Assisti a muitos jogos em 1996-1997, quando a ESPN transmitia geralmente duas partidas por semana e ainda eram bem generosos com os Wings. Outros tempos aqueles: nem sempre eu precisava acordar cedo, tinha outro horário de trabalho. Pra se ter uma idéia, pude assistir a três dos quatro confrontos entre Detroit e Colorado Avalanche daquela temporada. Do ano seguinte em diante a quantidade de partidas transmitidas foi caindo, a ponto de eu poder contar em poucos dedos quantos jogos dos Wings a ESPN passou nesta temporada normal de 2001-2002.

Durante este intervalo, sempre se discutiu entre os torcedores brasileiros uma forma de pressionar a ESPN para que transmita mais jogos para o Brasil. Diversas são as sugestões, mas que sempre esbarram no evidente pouco apelo que o esporte ainda tem no país. Entretanto, custo a crer que golfe e outras aberrações que vemos freqüentemente na emissora tenham mais audiência do que a NHL no Brasil. Existe alguma publicação em português como a The Slot BR de algum desses esportes menos conhecidos no país?

Neste ano pude assistir a três partidas da final de conferência entre Detroit e Colorado. Jogos 3, 6 e o derradeiro 7. Nos playoffs de 1997 a ESPN transmitiu os jogos 1, 3 e 4 entre os mesmos times e em 1998 não transmitiu nenhum entre Detroit e Dallas Stars. Ou seja, algo melhorou de lá para cá.

Principalmente a decisão de transmitir o jogo 7 da final de conferência deste ano, algo que não estava na programação e que só entrou no dia anterior. Agradeço ao amigo Humberto Fernandes, que avisou a todos da sábia decisão da ESPN.

Quem assistiu aos playoffs deste ano — eu assisti a todos os jogos dos Wings e todos os que passaram ao vivo — deve ter ficado de saco cheio de tanta paralisação e tanto comercial da mesma coisa. "Perfis", corrida de cavalo, Strongest Man, X-games, Copa do Mundo, a "emoção" do PGA, o escambau. Sempre as mesmas chamadas em todo santo intervalo.

Eu mesmo não agüentava mais ver Simeone, Batistuta, Crespo, Gáudio, Sanchez e Romário falando a mesma coisa uma dúzia de vezes por partida naquele raio de "Perfis". De fato, foi uma piada ver os jogadores argentinos falando aquilo e a Argentina sendo eliminada da Copa. Mas a piada contada dezenas de vezes perde a graça e irrita.

Sem contar o incorrigível mau hábito de cortar parte dos jogos e manter a "cobertura completa" dos intervalos. Quer dizer, "por premência de tempo", ao invés de cortarem os cerca de 15 minutos de intervalos entre períodos ou aqueles momentos em que os juízes ficam esperando o pessoal do vídeo dizer se foi gol ou não ou quando cai uma parte das bordas e ficam mostrando toda a recolocação ou mesmo quando o treinador pede tempo, qualquer coisa assim. Não, isso continua, corta-se mesmo é o disco rolando no gelo.

Isso para não dizer quando a ESPN programa uma partida, anuncia e... Não passa! Não é raro: aconteceu nos playoffs deste ano.

Ah, ainda temos o Sporscenter argentino, que nos faz o favor de colocar o placar final da partida que iremos ver daqui a alguns minutos! Os desavisados que se previnam: escureçam a imagem, desfoquem, retirem o som, evitem olhar para a TV. De todas as formas eles tentarão dizer-lhe o resultado e tirar o prazer de assistir à partida como se fosse "ao vivo". Depois de acontecer comigo num Detroit 5-0 Chicago nesta temporada, nunca mais caí na armadilha.

Boa parte dos torcedores da NHL no Brasil tem no locutor André José Adler o grande referencial. Querido por todos e carismático, talvez seja o maior incentivador da transmissão do esporte para o Brasil dentro da emissora. Outra parte dos torcedores já foi formada antes, nos tempos em que raros eram os jogos narrados em português. Estes já estão acostumados com as vozes de Gary Thorne, Dave Strader e Steve Levy e, sempre que podem, acionam a tecla SAP.

De qualquer forma, as lembranças de estar assistindo à ESPN no silêncio da madrugada em casa, na sala, bebendo alguma coisa, são, na verdade, muito mais um prazer do que um martírio.

Marcelo Constantino Monteiro reconhece que a qualidade da transmissão dos jogos da NHL pela ESPN é incomparável. Pena que não podemos desfrutar uma quantidade razoável deles.
"PERFILES" Alguém ainda aguentava rever pela enésima vez as chamadas para o "Perfis" durante os playoffs? (Reprodução)
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Página publicada em 24 de junho de 2002.