10 de abril de 2002
O Preço da Expansão

Por Marco Aurelio Lopes

Na semana passada você conheceu um pouco da evolução das equipes da NHL ao longo destas várias décadas. Viu, por exemplo, que do tempo das "Seis Originais" aos dias das 30 equipes de hoje, muita coisa mudou. No pequeno histórico que fizemos sobre a expansão da NHL, chegamos à conclusão que o número de equipes aumentou, mas não necessariamente o número de campeões, já que poucas das equipes de expansão chegaram até hoje ao título da Stanley Cup.

Porém, se até aqui você está achando que a expansão é o maior barato, que a liga deveria ter 60 equipes, vamos falar agora sobre o que uma equipe de expansão sofre até chegar ao status de equipe de ponta da NHL (antes mesmo de citar fatos, saiba que hoje apenas duas delas podem ter este status: San Jose e Ottawa. O Florida Panthers, que já foi até vice-campeão da NHL, hoje voltou a ser um time medíocre):

Que caminho seguir? -- A primeira dúvida vem na hora de montar as equipes. Ou a nova equipe segue por formar uma linha de novatos, para ganhar experiência (e muitas derrotas) ou vai atrás de veteranos medianos (e os poucos que se salvam fatalmente acabam sendo negociados nos dias-limite de trocas). Mas saiba que, em ambos os casos, a maioria deles são jogadores muitas vezes "desprezados" nos seus clubes de origem, que jamais cederão às novas equipes seus principais jogadores ou até mesmo jovens promessas. Assim, já é sabido que o elenco não será dos melhores.

Ah, o primeiro ano... -- Tudo bem, a nova equipe já montou seu elenco. Agora, ao jogo! Mas nada mais difícil do que sobreviver à primeira temporada. Contam-se nos dedos as vitórias, as derrotas são algo costumeiro e por aí vai. E dificilmente o quadro se reverte no ano seguinte.

Onde está a "química"? -- Como esporte de equipe, o hóquei depende de um elenco coeso em torno de um objetivo comum e de uma equipe bem entrosada no gelo para que as jogadas fluam normalmente. Porém, como conseguir isso com um grupo que acabou de se formar? Sem essa química, essa união dos jogadores, fica difícil alçar vôos mais altos.

Você me conhece? -- Com a maioria das equipes de expansão em cidades médias (os chamados pequenos mercados), a imprensa pouco vai falar da sua equipe a menos que ela seja uma vencedora. Como expansão e vitórias não combinam, as equipes de expansão correm o sério risco de ficar no anonimato por um bom tempo.

Grandes contratações? -- Nem pensar. Dificilmente, mesmo que a equipe tenha um caminhão de dinheiro para investir em jogadores de peso, esses jogadores terão a vontade de arriscar seu prestígio jogando por uma equipe pequena, onde ficarão relegados a segundo plano e, principalmente, fora da disputa pela Stanley Cup.

A essas alturas, ter uma equipe de expansão já parece um negócio de altíssimo risco. Mas também não estamos aqui para desmerecê-las. Então, saiba que há bons motivos também para a entrada de novas equipes na NHL:

Tudo é festa -- Sim, os torcedores de hóquei são pacientes. Eles entendem que uma boa equipe leva tempo para ser formada. Assim, nos primeiros anos tudo é motivo para comemorar. Desde a escolha do nome, do mascote da equipe até os jogos em que a equipe perde por 7-0 (!). Simplesmente por ser uma novidade na cidade, a torcida trata seus jogadores como campeões, o estádio está sempre cheio, e o carinho é imenso. Nem parece uma equipe perdedora, tamanho o reconhecimento.

Celeiro de craques -- Com a crescente expansão do hóquei no mundo todo, mais e mais jogadores novos aparecem a cada ano. Porém, dificilmente eles terão muitas chances nas equipes que estão brigando pelo título, que confiam seu destino aos veteranos. Assim, as equipes de expansão acabam servindo para revelar bons jogadores que estão sempre jogando bastante e mostrando dia sim dia não suas habilidades.

Um dia vai -- Claro que alguns vão mais rápido que outros, mas no final das contas todos terão seu dia de estrelato. É um processo a longo prazo na maioria das vezes, mas um dia, quando essas equipes estiverem nos playoffs, disputando títulos, será a prova que valeu a pena esperar e que há espaço para todos. Mesmo as equipes de expansão do início dos anos 90, por exemplo, que continuam sofrendo hoje em dia, já conseguiram pelo menos uma vez chegar à pós-temporada.

Divulgando a NHL -- Cada vez que a NHL cria uma nova equipe, significa que o hóquei está precisando de mais espaço e que em mais lugares há o interesse pelo esporte. Só por essa razão já vale a pena o surgimento de novas equipes.

Dentre os times de expansão dos anos 90, podemos citar os vários caminhos que uma equipe nova pode trilhar na sua vida na NHL. Alguns vencedores, outros nem tanto. Logo em seu terceiro ano, na temporada 1995-96, o Florida Panthers, por exemplo, surpreendeu o mundo do hóquei com seu grupo de veteranos, derrotando nos playoffs os dois melhores times do Leste, Philadelphia Flyers e Pittsburgh Penguins, caindo somente na final da Stanley Cup para o Colorado Avalanche. Porém, os interesses da direção da equipe não pareciam estar em formar uma equipe para o futuro. Assim, o time de 96 se desfez e hoje a equipe está amargando temporadas de fracassos.

Destino similar ao do Anaheim Mighty Ducks e do Tampa Bay Lightning. Os Ducks, sempre confiando no talento de Paul Kariya e Teemu Selanne, jamais pensaram no restante do elenco, que, sempre repleto de novatos ou veteranos que não acrescentariam muito, viu o segundo partir na temporada passada e, após participações nos playoffs de 1997 e 1998, jamais voltou a ser um time competitivo. O Lightning, por sua vez, sempre pareceu viver à sombra dos Panthers no estado da Flórida e, com péssimas administrações, que insistiam em reformular o elenco a cada temporada, nunca conseguiu colocar no gelo uma equipe competitiva, além de "queimar" alguns promissores novatos que por lá passaram.

E chegamos aos dois melhores times de expansão da década: San Jose Sharks e Ottawa Senators. Curiosamente, essas equipes tiveram temporadas iniciais desastrosas, entre as piores da história da liga, e hoje, passados dez anos, parecem ter encontrado a fórmula mágica. Cada uma a seu jeito, Sharks e Senators hoje são equipes respeitadas pela NHL e brigam de igual para igual com os papões de títulos. Os Sharks, na rica San Jose, apostam na contratação de jogadores caros, mas talentosos, que, aliados aos jovens saídos das ligas menores, podem colocar no gelo uma equipe de salários altos, o que não é problema para os Sharks, mas competitiva, que traz retorno da torcida que lota o Compaq Center nos jogos em casa e garante a briga por títulos de divisões e constantes presenças nos playoffs nos últimos anos. Já os Senators sofrem constantemente com a falta de dinheiro, que impede a equipe de manter seus principais nomes. Mas, com competência, a equipe da capital canadense consegue buscar sempre jogadores baratos que entram e dão conta do recado, especialmente jovens europeus, que se somam às estrelas da equipe que ainda não foram seduzidas pelos dólares dos Estados Unidos, fusão que faz dos Senators uma equipe de hóquei bonito e competitivo.

Entre as mais recentes equipes da NHL, Nashville e Atlanta ainda não conseguiram estabelecer seus nomes no topo das classificações. Já Columbus e Minnesota ainda estão na sua segunda temporada e ainda não mostraram seu potencial. Mas o Minnesota já mostrou que tem tudo para ser a próxima equipe de expansão de sucesso na NHL, já que conta com uma torcida apaixonada (Minnesota é uma das capitais americanas do hóquei), tradição no esporte (lembrem-se de que o Dallas Stars veio de Minnesota) e um treinador reconhecido na NHL (Jacques Lemaire, especialista em formar defesas sólidas e esquemas defensivos, mas de muita competência, como quando levou os Devils ao título em 1995).

E, assim, a NHL vai crescendo. Com seus prós e contras. Há quem diga que a inflação de equipes impede a formação de esquadrões, com o talento se espalhando por várias equipes. Mas, ao mesmo tempo, há os que dizem que várias equipes são necessárias para abrigar tantos novatos que surgem a cada ano. Para cada ponto existirá uma resposta. Mas a verdade é que a NHL de hoje cresceu e tende a crescer ainda mais. A que preço? Só o tempo dirá.

ERRATA - Na última edição, informamos que o Hartford Whalers se mudou para Colorado e que o Quebec Nordiques se mudou para Carolina. Na verdade, a informação está trocada. Os Whalers é que foram para Carolina e os Nordiques, para Colorado. Agradecemos a Rafael Roberto, de Recife, pelo aviso.

OTTAWA E SAN JOSE As melhores equipes de expansão da última década, após começos difíceis, podem, quem sabe, repetir essa cena aí em cima em uma final de Stanley Cup em breve (The Slot BR - Arquivo)
 
TAMPA BAY Má administração e constantes reformulações no elenco impediram que o Lightning conseguisse se incluir na elite da NHL, amarganda sempre a lanterna da liga (The Slot BR - Arquivo)
 
FLORIDA A equipe, que em seu terceiro ano surpreendeu ao chegar à final da Stanley Cup, infelizmente não manteve-se no topo por muito tempo e hoje busca trilhar de volta o caminho do sucesso (The Slot BR - Arquivo)
 
MINNESOTA E COLUMBUS Os caçulas da NHL ainda não tiveram muito sucesso, mas a torcida espera que em breve os playoffs sejam um realidade (The Slot BR - Arquivo)
 
EQUIPES DE EXPANSÃO DESDE 1991
San Jose Sharks (1991-92)
17-58-5 - 39 PG - 219 GP - 359 GC
Playoffs em 1993-94 (6 participações)
Ottawa Senators (1992-93) - 1
10-70-4 - 24 PG - 202 GP - 395 GC
Playoffs em 1996-97 (5 participações)
Tampa Bay Lightning (1992-93)
23-54-7 - 53 PG - 245 GP - 332 GC
Playoffs em 1995-96 (1 participação)
Florida Panthers (1993-94) - 2
33-34-17 - 83 PG - 233 GP - 233 GC
Playoffs em 1995-96 (2 participações)
Anaheim Mighty Ducks (1993-94)
33-46-5 - 71 PG - 229 GP - 251 GC
Playoffs em 1996-97 (2 participações)
Nashville Predators (1998-99)
28-47-7 - 63 PG - 190 GP - 161 GC
Nunca chegou aos playoffs
Atlanta Thrashers (1999-2000)
14-61-7-4 - 39 PG - 170 GP - 313 GC
Nunca chegou aos playoffs
Columbus Blue Jackets (2000-01)
28-39-9-6 - 71 PG - 190 GP - 233 GC
Nunca chegou aos playoffs
Minnesota Wild (2000-01)
25-39-13-5 - 68 PG - 168 GP - 210 GC
Nunca chegou aos playoffs
OBSERVAÇÕES
(1) Conseguiu 2 títulos de divisão (em 1998-99 e 2000-01)
(2) Chegou às finais da Stanley Cup em 1995-96
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Página publicada em 08 de abril de 2002.