Por
Marco Aurelio Lopes
Na semana passada você conheceu um pouco da evolução
das equipes da NHL ao longo destas várias décadas. Viu,
por exemplo, que do tempo das "Seis Originais" aos dias das
30 equipes de hoje, muita coisa mudou. No pequeno histórico que
fizemos sobre a expansão da NHL, chegamos à conclusão
que o número de equipes aumentou, mas não necessariamente
o número de campeões, já que poucas das equipes
de expansão chegaram até hoje ao título da Stanley
Cup.
Porém, se até aqui você está achando que
a expansão é o maior barato, que a liga deveria ter 60
equipes, vamos falar agora sobre o que uma equipe de expansão
sofre até chegar ao status de equipe de ponta da NHL (antes mesmo
de citar fatos, saiba que hoje apenas duas delas podem ter este status:
San Jose e Ottawa. O Florida Panthers, que já foi até
vice-campeão da NHL, hoje voltou a ser um time medíocre):
Que caminho seguir? -- A primeira dúvida vem na hora de
montar as equipes. Ou a nova equipe segue por formar uma linha de novatos,
para ganhar experiência (e muitas derrotas) ou vai atrás
de veteranos medianos (e os poucos que se salvam fatalmente acabam sendo
negociados nos dias-limite de trocas). Mas saiba que, em ambos os casos,
a maioria deles são jogadores muitas vezes "desprezados"
nos seus clubes de origem, que jamais cederão às novas
equipes seus principais jogadores ou até mesmo jovens promessas.
Assim, já é sabido que o elenco não será
dos melhores.
Ah, o primeiro ano... -- Tudo bem, a nova equipe já montou
seu elenco. Agora, ao jogo! Mas nada mais difícil do que sobreviver
à primeira temporada. Contam-se nos dedos as vitórias,
as derrotas são algo costumeiro e por aí vai. E dificilmente
o quadro se reverte no ano seguinte.
Onde está a "química"? -- Como esporte
de equipe, o hóquei depende de um elenco coeso em torno de um
objetivo comum e de uma equipe bem entrosada no gelo para que as jogadas
fluam normalmente. Porém, como conseguir isso com um grupo que
acabou de se formar? Sem essa química, essa união dos
jogadores, fica difícil alçar vôos mais altos.
Você me conhece? -- Com a maioria das equipes de expansão
em cidades médias (os chamados pequenos mercados), a imprensa
pouco vai falar da sua equipe a menos que ela seja uma vencedora. Como
expansão e vitórias não combinam, as equipes de
expansão correm o sério risco de ficar no anonimato por
um bom tempo.
Grandes contratações? -- Nem pensar. Dificilmente,
mesmo que a equipe tenha um caminhão de dinheiro para investir
em jogadores de peso, esses jogadores terão a vontade de arriscar
seu prestígio jogando por uma equipe pequena, onde ficarão
relegados a segundo plano e, principalmente, fora da disputa pela Stanley
Cup.
A essas alturas, ter uma equipe de expansão já parece
um negócio de altíssimo risco. Mas também não
estamos aqui para desmerecê-las. Então, saiba que há
bons motivos também para a entrada de novas equipes na NHL:
Tudo é festa -- Sim, os torcedores de hóquei são
pacientes. Eles entendem que uma boa equipe leva tempo para ser formada.
Assim, nos primeiros anos tudo é motivo para comemorar. Desde
a escolha do nome, do mascote da equipe até os jogos em que a
equipe perde por 7-0 (!). Simplesmente por ser uma novidade na cidade,
a torcida trata seus jogadores como campeões, o estádio
está sempre cheio, e o carinho é imenso. Nem parece uma
equipe perdedora, tamanho o reconhecimento.
Celeiro de craques -- Com a crescente expansão do hóquei
no mundo todo, mais e mais jogadores novos aparecem a cada ano. Porém,
dificilmente eles terão muitas chances nas equipes que estão
brigando pelo título, que confiam seu destino aos veteranos.
Assim, as equipes de expansão acabam servindo para revelar bons
jogadores que estão sempre jogando bastante e mostrando dia sim
dia não suas habilidades.
Um dia vai -- Claro que alguns vão mais rápido
que outros, mas no final das contas todos terão seu dia de estrelato.
É um processo a longo prazo na maioria das vezes, mas um dia,
quando essas equipes estiverem nos playoffs, disputando títulos,
será a prova que valeu a pena esperar e que há espaço
para todos. Mesmo as equipes de expansão do início dos
anos 90, por exemplo, que continuam sofrendo hoje em dia, já
conseguiram pelo menos uma vez chegar à pós-temporada.
Divulgando a NHL -- Cada vez que a NHL cria uma nova equipe,
significa que o hóquei está precisando de mais espaço
e que em mais lugares há o interesse pelo esporte. Só
por essa razão já vale a pena o surgimento de novas equipes.
Dentre os times de expansão dos anos 90, podemos citar os vários
caminhos que uma equipe nova pode trilhar na sua vida na NHL. Alguns
vencedores, outros nem tanto. Logo em seu terceiro ano, na temporada
1995-96, o Florida Panthers, por exemplo, surpreendeu o mundo do hóquei
com seu grupo de veteranos, derrotando nos playoffs os dois melhores
times do Leste, Philadelphia Flyers e Pittsburgh Penguins, caindo somente
na final da Stanley Cup para o Colorado Avalanche. Porém, os
interesses da direção da equipe não pareciam estar
em formar uma equipe para o futuro. Assim, o time de 96 se desfez e
hoje a equipe está amargando temporadas de fracassos.
Destino similar ao do Anaheim Mighty Ducks e do Tampa Bay Lightning.
Os Ducks, sempre confiando no talento de Paul Kariya e Teemu Selanne,
jamais pensaram no restante do elenco, que, sempre repleto de novatos
ou veteranos que não acrescentariam muito, viu o segundo partir
na temporada passada e, após participações nos
playoffs de 1997 e 1998, jamais voltou a ser um time competitivo. O
Lightning, por sua vez, sempre pareceu viver à sombra dos Panthers
no estado da Flórida e, com péssimas administrações,
que insistiam em reformular o elenco a cada temporada, nunca conseguiu
colocar no gelo uma equipe competitiva, além de "queimar"
alguns promissores novatos que por lá passaram.
E chegamos aos dois melhores times de expansão da década:
San Jose Sharks e Ottawa Senators. Curiosamente, essas equipes tiveram
temporadas iniciais desastrosas, entre as piores da história
da liga, e hoje, passados dez anos, parecem ter encontrado a fórmula
mágica. Cada uma a seu jeito, Sharks e Senators hoje são
equipes respeitadas pela NHL e brigam de igual para igual com os papões
de títulos. Os Sharks, na rica San Jose, apostam na contratação
de jogadores caros, mas talentosos, que, aliados aos jovens saídos
das ligas menores, podem colocar no gelo uma equipe de salários
altos, o que não é problema para os Sharks, mas competitiva,
que traz retorno da torcida que lota o Compaq Center nos jogos em casa
e garante a briga por títulos de divisões e constantes
presenças nos playoffs nos últimos anos. Já os
Senators sofrem constantemente com a falta de dinheiro, que impede a
equipe de manter seus principais nomes. Mas, com competência,
a equipe da capital canadense consegue buscar sempre jogadores baratos
que entram e dão conta do recado, especialmente jovens europeus,
que se somam às estrelas da equipe que ainda não foram
seduzidas pelos dólares dos Estados Unidos, fusão que
faz dos Senators uma equipe de hóquei bonito e competitivo.
Entre as mais recentes equipes da NHL, Nashville e Atlanta ainda não
conseguiram estabelecer seus nomes no topo das classificações.
Já Columbus e Minnesota ainda estão na sua segunda temporada
e ainda não mostraram seu potencial. Mas o Minnesota já
mostrou que tem tudo para ser a próxima equipe de expansão
de sucesso na NHL, já que conta com uma torcida apaixonada (Minnesota
é uma das capitais americanas do hóquei), tradição
no esporte (lembrem-se de que o Dallas Stars veio de Minnesota) e um
treinador reconhecido na NHL (Jacques Lemaire, especialista em formar
defesas sólidas e esquemas defensivos, mas de muita competência,
como quando levou os Devils ao título em 1995).
E, assim, a NHL vai crescendo. Com seus prós e contras. Há
quem diga que a inflação de equipes impede a formação
de esquadrões, com o talento se espalhando por várias
equipes. Mas, ao mesmo tempo, há os que dizem que várias
equipes são necessárias para abrigar tantos novatos que
surgem a cada ano. Para cada ponto existirá uma resposta. Mas
a verdade é que a NHL de hoje cresceu e tende a crescer ainda
mais. A que preço? Só o tempo dirá.
ERRATA - Na última edição, informamos que o Hartford
Whalers se mudou para Colorado e que o Quebec Nordiques se mudou para
Carolina. Na verdade, a informação está trocada.
Os Whalers é que foram para Carolina e os Nordiques, para Colorado.
Agradecemos a Rafael Roberto, de Recife, pelo aviso.
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OTTAWA E SAN JOSE As melhores
equipes de expansão da última década, após
começos difíceis, podem, quem sabe, repetir essa cena
aí em cima em uma final de Stanley Cup em breve (The Slot
BR - Arquivo) |
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TAMPA BAY Má administração
e constantes reformulações no elenco impediram que
o Lightning conseguisse se incluir na elite da NHL, amarganda sempre
a lanterna da liga (The Slot BR - Arquivo) |
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FLORIDA A equipe, que em seu
terceiro ano surpreendeu ao chegar à final da Stanley Cup,
infelizmente não manteve-se no topo por muito tempo e hoje
busca trilhar de volta o caminho do sucesso (The Slot BR - Arquivo) |
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MINNESOTA E COLUMBUS Os caçulas
da NHL ainda não tiveram muito sucesso, mas a torcida espera
que em breve os playoffs sejam um realidade (The Slot BR - Arquivo) |
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EQUIPES DE EXPANSÃO DESDE 1991 |
San Jose Sharks (1991-92) |
17-58-5 - 39 PG - 219 GP - 359
GC
Playoffs em 1993-94 (6 participações) |
Ottawa Senators (1992-93) - 1 |
10-70-4 - 24 PG - 202 GP - 395 GC
Playoffs em 1996-97 (5 participações) |
Tampa Bay Lightning (1992-93) |
23-54-7 - 53 PG - 245 GP - 332 GC
Playoffs em 1995-96 (1 participação) |
Florida Panthers (1993-94) - 2 |
33-34-17 - 83 PG - 233 GP - 233 GC
Playoffs em 1995-96 (2 participações) |
Anaheim Mighty Ducks (1993-94) |
33-46-5 - 71 PG - 229 GP - 251 GC
Playoffs em 1996-97 (2 participações) |
Nashville Predators (1998-99) |
28-47-7 - 63 PG - 190 GP - 161 GC
Nunca chegou aos playoffs |
Atlanta Thrashers (1999-2000) |
14-61-7-4 - 39 PG - 170 GP - 313 GC
Nunca chegou aos playoffs |
Columbus Blue Jackets (2000-01) |
28-39-9-6 - 71 PG - 190 GP - 233 GC
Nunca chegou aos playoffs |
Minnesota Wild (2000-01) |
25-39-13-5 - 68 PG - 168 GP - 210 GC
Nunca chegou aos playoffs |
OBSERVAÇÕES |
(1) Conseguiu 2 títulos de divisão (em 1998-99
e 2000-01)
(2) Chegou às finais da Stanley Cup em 1995-96 |
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