Até quarta-feira à tarde o St. Louis Blues era uma das mais propaladas surpresas da temporada. É bem verdade que o ótimo começo do time (9-1-2) não era exatamente surpresa para todos -- muita gente apostou numa boa temporada da equipe --, mas a corrente majoritária via a equipe com desconfiança.
O time brigava para chegar à liderança da Conferência Oeste, então nas mãos do Los Angeles Kings.
Até quarta-feira eu acreditava que os Blues eram para valer. Mas só até quarta-feira. Porque naquele dia, à noite, o time foi enfrentar o Columbus Blue Jackets em busca da oitava vitória consecutiva. Eram sete vitórias em sequência, vejam só. E o resultado foi um dos jogos mais fáceis da temporada, com a maior goleada até aqui: Estrondosos 8-1 para o time da casa, os Blue Jackets.
Foi a maior vitória da história do Columbus. Até então nesta temporada, os Blue Jackets sequer haviam conseguido marcar mais que três gols num mesmo jogo. Até então, o St Louis havia sofrido apenas quatro gols nos seis jogos anteriores.
Jaroslav Halak era provavelmente o MVP da temporada até quarta-feira. Tinha nada menos que três shutouts nos cinco últimos jogos. Só havia perdido uma partida no tempo normal, tinha 94,4% de aproveitamento de defesas e média de 1,46 gols sofridos por jogo. Era um monstro. Até quarta-feira. Contra o Columbus, tomou três gols no primeiro período e, quando levou o quarto, no início do segundo período e apenas no 15º disparo que sofreu, foi sacado do time. Não adiantou muito, porque Ty Conklin levou outros quatro gols. Halak pode até dizer que o problema era do time, e não exatamente dele, o que é verdade. Mas, até então, Halak era o goleiro que vinha roubando vitórias. A magia foi perdida naquele jogo.
Não foi apenas a segunda derrota no tempo normal nesta temporada. Foi o pior dos Blues em muito tempo, e talvez o melhor jogo da história dos Blue Jackets. A equipe de St. Louis esteve tão irreconhecível (ao menos frente ao que vinha jogando até então), que fez o Columbus parecer um favorito à Copa..., ou talvez nem tanto assim. Na verdade, o que o Columbus fez foi seguir atirando em cachorro morto. Estava fácil demais, o St. Louis parecia um adversário patético demais, e o time não perdoou, não entrou na onda idiota politicamente correta de “não humilhar o adversário” (em outras palavras, parar de fazer gols). Humilhou.
É claro que o discurso pós-jogo dos Blues é “esquecer o ocorrido” e “pensar no dia seguinte”, quando logo haveria um jogo em casa contra o Nashville Predators. Afinal, era “apenas a segunda derrota na temporada”, blábláblá, “que esta derrota sirva de alerta ao time”, blábláblá, “vamos olhar para frente, isso é passado”, blábláblá. Boa parte disso é verdade, mas somente se o time tiver o equilíbrio necessário para extrair lições de um vexame daquele nível.
Pouco importa se no dia seguinte a equipe voltou a jogar bem, apesar da derrota na disputa de pênaltis para o Nashville. Pouco importa se o time segue na briga pela liderança da Divisão Central e da Conferência Oeste. Aquela derrota marcou. Tomar de oito é marcante pra qualquer um.
Para sacralizar o desastre completo, o lidero do time em pontos na temporada, T.J. Oshie, quebrou o tornozelo no jogo. É o tipo de contusão que deve deixá-lo fora dos rinques por alguns meses, possivelmente por todo o resto da temporada. Oshie despontava não apenas como o líder do time nas estatísticas, mas dentro do gelo também -- ainda que Halak fosse o MVP. Oshie também é daqueles que não aparecem somente nos números ofensivos, ele joga bem defensivamente e distribui trancos que empolgam a torcida (e o time) -- tal qual o “kronwalled” criado nos playoffs retrasados para os trancos de Nicklas Kronwall (e tantos outros “verbos” criados ao redor da liga), em St. Louis criou-se o “oshied” para quando alguém sofre um tranco espetacular do jovem atacante. Imagine perder um jogador desse por toda a temporada.
Também não é tanto assim!
Entretanto, a história recente da NHL nos mostra que, apesar de este colunista estar fazendo todo esse carnaval em cima de uma goleada, já houve um time que levou de oito -- e por duas vezes. Era o Detroit Red Wings em 2009, então campeão da Copa Stanley de 2008. Tomou goleadas quase seguidas de 8-0 do Nashville e de 8-2 para o mesmo Columbus que agora meteu oito nos Blues. Naquela mesma temporada os Red Wings seguiram até o fim e só foram cair no mais dramático jogo 7 de final de Copa Stanley dos últimos tempos.
Marcelo Constantino gostaria de ter presenciado mais e melhor a carreira do grande Dino Ciccarelli, que entrou para o Hall da Fama na semana passada.
John Grieshop/Getty Images |