Por: Marco Aurelio Lopes

Quando resolvi iniciar esta série sobre grandes nomes do passado, a idéia era trazer ao leitor da TheSlot.com.br um pouco mais da história da NHL, relembrando jogadores e linhas que marcaram história em uma época onde nem éramos nascidos, ou ao menos o hóquei não era muito conhecido por aqui. Mas quando lembramos do New York Islanders do início dos anos 80, aquela que ao lado dos Canadiens do final dos anos 70 e dos Oilers do final dos anos 80 foram as três maiores dinastias pós-expansão. No entanto, enquanto os Habs ainda traziam um estilo mais durão e os Oilers eram adeptos do jogo altamente ofensivo, os Islanders conseguiram uma mescla perfeita entre estas duas formas de jogar, foram responsáveis por essa transição que a NHL assistiu, uma equipe completa, nos dois pólos do rinque. Um dos mais completos esquadrões da história. Então seria difícil não homenagear um membro dos Islanders, mas a grande dúvida ainda existia. Quem? Grandes nomes não faltam, Smith, Morrow, Goring, Gillies, Trottier, Bossy, etc. Mas para tentarmos ser mais justos, vamos homenagear o capitão da equipe nesses anos dourados. Com vocês, Denis Potvin.

Em 1973, Bobby Orr, dos Bruins, era um dos maiores jogadores da NHL, seguramente o maior defensor da liga, enquanto o jovem Islanders era apenas uma equipe medícore que embora com alguns jovens promissores, acabava sua primeira temporada de vida com a última colocação da temporada, em uma das piores campanhas de um equipe na NHL. No entanto, nessa época, um outro jovem de Ottawa começava a chamar a atenção jogando pelos 67´s de sua cidade natal. Denis Potvin era tido como o próximo Bobby Orr, (desde quando ainda era um garoto de 13 anos). Ao lado de outro grande futuro nome da NHL, Ian Turnbull, Potvin alcançou números inéditos para um defensor na Associação de Hóquei de Ontario, totalizando 329 pontos em 5 temporadas, 123 destes na temporada 1972-73, sua última como júnior. A comparação com Orr tornava-se justificada, e com a chegada do recrutamento de 1973, o sábio gerente geral Bill Torrey, começava a vislumbrar em Potvin o pilar de um novo Islanders. Sabendo que o prospecto era pretendido por outras equipes, Torrey trouxe para Long Island durante a temporada 72-73 seu irmão Jean Potvin, que jogava pelos Flyers. Tudo para convencer Denis a aceitar a proposta dos Islanders, que o fez a primeira escolha daquele recrutamento.

Já na NHL, Potvin parecia não sentir a transição do jogo mais aberto da OHA para o jogo duro e violento da NHL. 54 pontos em 77 jogos em sua primeira temporada mostraram o talento ofensivo de Potvin, e seus 175 minutos em penalidades mostraram que ele sabia a dureza das partidas daqueles tempos. Combinando vocação para o gol e garra para defender, Denis foi eleito o calouro do ano de 1974, faturando o Troféu Calder, mas seu jogo em nada parecia o de um calouro. Torrey acertara em cheio ao recusar as ofertas pela sua jóia escondida (diz-se que os Canadiens ofereceram aos pobres Islanders da época um punhado de veteranos em troca da primeira escolha do recutamento de 1973, o que supostamente reforçaria os Isles a curto prazo e aumentaria o público nos jogos da equipe), e ao investir no futuro da franquia. Naquele mesmo ano, Al Arbour, o lendário treinador, assumira o comando técnico do time, e embora o último lugar da temporada de estréia tenha sido bisado, uma campanha bem superior à anterior, e Potvin despontando como grande revelação, os Islanders pareciam estar no caminho certo.

O ano de 1975 chegava e Denis Potvin começava a liderar uma equipe que chegava aos playoffs pela primeira vez em sua história, e que apresentava outros nomes que surgiam com destaque como Clark Gillies e Bryan Trottier no ataque (ambos selecionados no recrtuamento de 1974) e Billy Smith (selecionado no draft de expansão de 1972) no gol. Uma temporada onde Potvin superava as 50 assistências pela primeira vez na carreira (foram 55 ao todo), e onde os Isles começavam a fazer história, em um playoff inaugural memorável, onde venceram os rivais da cidade, os Rangers, e principalmente, se tornaram a segunda equipe na história da NHL a reverter uma série que perdiam por 3 jogos a 0 (contra o Pittsburgh Penguins). Outra série onde perdiam por 3 a 0 quase foi igualmente revertida, mas o Philadelphia Flyers conseguiu vencer o sétimo jogo (e posteriormente venceriam também a Copa Stanley). Mas o recado já estava dado: os Islanders eram uma realidade, e Potvin era um líder dentro do gelo, além de já ser um dos grandes defensores da liga, mesmo em seu segundo ano de carreira.

No ano seguinte, os Islanders obtiveram o 5°. melhor desempenho na liga, com 101 pontos, embora não tenham repetido o êxito dos playoffs do ano anterior, sendo eliminados pelos Canadiens. No entanto, mais uma sólida temporada, onde marcou 98 pontos, rendeu a Potvin seu primeiro Troféu Norris de melhor defensor da liga. Performances similiares nos anos seguintes, ainda que com o mesmo destino cruel reservado nos playoffs, deram aos Islanders o reconhecimento de todos como um time capaz de levar a Copa Stanley, e a Potvin seu segundo Norris, em 1978. No ano seguinte, mais uma marca pessoal, ao ser o primeiro defensor desde quem mais a não ser Bobby Orr, a conseguir 30 gols (31 ao todo) e 100 pontos (101 no final da campanha) em uma temporada, culminando com seu terceiro Norris. Os Isles terminaram a temporada com a melhor performance de liga e a Copa era possível, até que os arqui-rivais Rangers vestiram o preto e branco da zebra e eliminaram os jovens vizinhos em 6 jogos nas semi-finais.

A lição foi assimilada, e como. O grupo comandado por Arbour já estava pronto, e, no início da temporada 1979-80, o então capitão Gillies renunciou ao seu posto, no qual não se sentia a vontade, ainda mais após os fracassos em pós-temporada e após as críticas sobre a falta de agressividade do time. Assim, Potvin, que já era uma das vozes mais ativas nos vestiário, além de uma pessoa bem articulada e que se expressava com habilidade na mídia, se tornou a escolha natural para usar o "C" na sua camisa 5. E ele não decepcionou, ao contrário, liderou um Islanders que apresentava uma mentalidade mais voltada para a preparação durante a temporada regular, a fim de estarem prontos quando as batalhas dos playoffs chegassem. Dessa forma, os Isles chegaram à decisão contra os Flyers com Potvin — que inclusive ficara de fora a maior parte da temporada regular por lesão — marcando um gol em prorrogação no primeiro jogo da série. E após o famoso gol de Bobby Nystrom em outra prorrogação, os Isles fecharam em 6 jogos a série final, e o sonho de Potvin se tornou realidade, quando ergueu a Copa Stanley em frente à sua torcida frenética no Nassau Coliseum. No ano seguinte, para provar que não uma equipe de uma temporada, os Isles repetiram a dose, com Potvin levantando novamente a Copa, desta vez após derrubarem os North Stars de Minnesota em 5 jogos, coroando sua melhor produção ofensiva em playoffs, com 25 pontos em 18 jogos, além de ser nomeado pela 5ª. vez para a primeira seleção da NHL. O termo "dinastia" já começava a se associar ao time de Long Island, e ficou gravado definitivamente após a temporada 1982-83, quando, após o tri-campeonato em 1983 (conseguido inapelavelmente com uma varrida sobre o Vancouver Canucks, fechando uma campanha que já incluía o Troféu dos Presidentes pelo melhor recorde na temporada regular), os Islanders mostraram ao então emergente Edmonton Oilers que estes precisariam esperar mais um pouco para devolver a Copa Stanley ao Canadá. Um período de glórias para os Islanders, sempre com Denis Potvin capitaneando a equipe e erguendo a Copa ao alto.

Após essa quarta conquista no entanto, os Islanders começaram a perdeu um pouco da aura imortal e imbatível que possuíam. Não no entanto sem chegar à quinta final consecutiva de Copa Stanley e a chance de igualar o recorde até hoje só alcançado pelos Canadiens dos anos 50 de vencer cinco finais em seqüência. Mas os Oilers, que havia sido destruídos na final anterior, e ajudados por uma mudança no formato da final, que permitiu aos Oilers jogarem 3 partidas seguidas em Edmonton, acabaram por impedir o sonho dos nova-iorquinos. A vitória por 4 a 1 na série marcava a primeira derrota em uma série de playoffs após 19 triunfos seguidos, um recorde até hoje na história esportiva norte-americana. A mítica dinastia começava a se desfazer, com a perda de alguns jogadores importantes, como Nystrom em 1986 e Mike Bossy em 1987, e do técnico Al Arbour em 1986, e a perda da hegemonia na Divisão Patrick para os Flyers e os Capitals, que inclusive foram responsáveis pela primeira eliminiação dos Isles em uma primeira rodada de playoff desde 1978. Mesmo Denis Potvin, que àquelas alturas já sofria com séries de lesões que limitavam suas aparições e principalmente, seu jogo físico, já começava a dar sinais que o futuro da equipe já começava a ser escrito por jovens talentos que já surgiram ainda durante os anos da dinastia, mas ainda eram inexperientes.

Apesar de não chegar à decisão, 1985 foi um ano de glória para Denis, já que contra o arqui-rival Rangers, em pleno Madison Square Garden — onde ele tanto ouviu o coro revoltado da torcida por uma lesão que causara ao "blueshirt" Ulf Nilsson em 1979, quebrando-lhe o tornozelo —, ele ao assistir em um gol de Bossy em dezembro de 1985, superou o ídolo Bobby Orr e se tornou o defensor com mais pontos na história da NHL. Um mês depois, seu 271º. gol superaria Orr novamente, desta vez no ranking de gols marcados. Após a temporada 1986-87, onde disputou apenas 58 jogos, mas que foram suficientes para que alcançasse a marca dos 1.000 pontos na gloriosa carreira (em abril de 87, contra os Sabres), Potvin então deciciu por jogar sua temporada de despedida no ano seguinte. Foram 72 e mais 51 pontos, além de 112 minutos em penalidades, seu maior índice desde sua temporada como calouro, superando os 1300 na carreira e mostrando que além de talentoso no gelo, ainda sabia como usar o corpo para o embate contra o adversário. Para culminar esta carreira marcada por recordes, em janeiro de 1988 Potvin se tornou o primeiro defensor da liga a anotar 300 gols. E assim, na vitória sobre os Capitals em março de 1988, os fãs do Nassau Coliseum assistiram ao último jogo de Potvin na NHL.

Era óbvio que Potvin seguiria a trilha de Orr e receber todas as homenagens que os grandes nomes merecem. Em 1992, Denis foi o primeiro Islander a ter seu número retirado pela franquia, mesmo gesto promovido pelo seu Ottawa 67s, onde brilhoara nos tempor de junior. No ano anterior, já havia sido imortalizado no Salão da Fama do Hóquei, em uma cerimônia que pela primeira vez foi realizada na sua Ottawa natal. Na eleição dos 100 maiores jogadores da história da revista "The Hockey News", ficou com a 19ª. colocação. E para encerrar, o condado de Nassau, onde fica localizada a sede dos Islanders, o elegeu para o seu Salão de Fama em 2002. Duas participações na Canada Cup pela sua seleção canadense, Cinco indicações para o primeiro time da NHL, duas para o segundo time, calouro do ano, três vezes o melhor defensor da liga, quatro Copas Stanley, inúmeros recordes. Uma carreira que impressionou, onde Denis Potvin, hoje comentarista dos Panthers para a televisão local, mostrou saber jogar o jogo de todas as formas, atacando quando possível, agredindo quando necessário. Sempre com um espírito de liderança que o fez capitão de uma das maiores dinastias da NHL. É certo que o Boston Bruins procura ainda hoje o seu novo Bobby Orr, e que outras 28 equipes procuram um novo Bobby Orr também. Exceto os New York Islanders. Estes estão procurando mesmo é um novo Denis Potvin.


Denis Charles Potvin
Defensor, Nascido em 29/10/1953 em Ottawa, Ontario, Canadá.
1,83 m e 93 kg.

Carreira na NHL — Sempre no New York Islanders (1973 a 1988):

Temporada regular: 1.060 jogos, 310 gols, 742 assistências, 1.052 pontos e 1.356 minutos de penalidades.
Playoffs: 185 jogos, 56 gols, 108 assistências, 164 pontos e 253 minutos de penalidades.

Títulos e Premiações:
Troféu Calder: um (1974).
Troféu Norris: dois (1976, 1978 e 1979).
Primeiro Time da NHL: cinco vezes (1975, 1976, 1978, 1979 e 1981).
Segundo Time da NHL: duas vezes (1977 e 1984).
Copa Stanley: quatro (1980, 1981, 1982e 1983).
Indicações para o Jogo das Estrelas: oito vezes (1974, 1975, 1976, 1977, 1978 e 1983).

Marco Aurelio Lopes teria um desgosto profundo se faltasse o Flamengo no mundo. Ele também defende a liberdade de expressão e critica toda forma de censura.
Fonte: LegendsofHockey.net
Denis Potvin (direita) entrou na NHL recebido por seu irmão Jean, a quem o time de Nova York contratou para convencer o jovem Denis a ser um Islander.
Fonte: LegendsofHockey.net
Ainda sem o "C" bordado na camisa, mas já com o senso de liderança, Potvin logo se tornou ídolo em Long Island.
Fonte: LegendsofHockey.net
O completo Potvin sabia usar seu tamanho para limpar a área e proteger seu goleiro dos rivais...
Fonte: LegendsofHockey.net
... mas era dotado de uma vocação para o gol que poucos defensores tinham. Aqui, Denis comemora mais um gol na carreira.
Fonte: LegendsofHockey.net
O já capitão Potvin foi o primeiro a erguer a Copa Stanley em 1980.
Fonte: LegendsofHockey.net
Aqui, as lendas Nystrom, Potvin, Gillies e Trottier acompanham a bandeira comemorativa ao título sendo erguida no teto no Nassau Coliseum.
Fonte: CollectSports.com
Outras três bandeiras viriam depois. Era a dinastia de Long Island.
Fonte: LegendsofHockey.net
Denis Potvin e Bobby Orr. Duas lendas da NHL, dois dos melhores defensores da história, exibem o Troféu Norris que tantas vezes conquistaram.
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Página publicada em 9 de maio de 2007.