Por: Humberto Fernandes

Nas últimas semanas vários rumores indicaram que Ken Holland, gerente geral do Detroit Red Wings, estaria disposto a movimentar a equipe através de uma troca de impacto. Holland supostamente negocia a aquisição de uma estrela para fortalecer o time nos playoffs. Considerando que os Red Wings estão cerca de US$ 3 milhões abaixo do teto salarial, os rumores fazem muito sentido.

Quem é o jogador cujo nome é o recordista de especulações da temporada? Uma dica: ele é sueco, joga no pior time da liga e está no último ano de seu contrato. Acertou quem respondeu Peter Forsberg.

E o que Holland, os Red Wings e Forsberg têm em comum? É o que vários fãs dos Wings tentam responder, principalmente depois das últimas publicações da imprensa especializada.

Sobre Peter Forsberg

O jogador foi capa de TheSlot.com.br quando nosso colunista e ditador Alexandre Giesbrecht bancou sua saída do Philadelphia Flyers. Dois meses depois a situação é ainda mais evidente: os Flyers 2007 são favoritíssimos ao primeiro lugar... no recrutamento. Menor número de vitórias e pior ataque da liga, maior número de derrotas e pior defesa. Não há nada que possa ser feito para salvar a temporada e os Flyers precisam obrigatoriamente pensar na próxima. Isso inclui negociar seu maior jogador para iniciar a reformulação da equipe, afinal não se constrói uma equipe ao redor de um atleta que em julho completará 34 anos.

Forsberg também protagonizou a matéria de Marcelo Constantino na última edição, quando foi considerado a maior decepção da temporada, graças principalmente ao seu histórico de contusões ao longo do ano, que inclui problemas nas costas, cabeça, pulso, virilha, tornozelo e pé. Difícil imaginar como alguém pode suportar tanta dor.

Quando penso no tipo de jogador que ele é, lembro-me da capa da histórica 100.ª edição dessa publicação. Aos olhos do especialista Eduardo Costa, trata-se do maior jogador da era ESPN no Brasil. O único capaz de superar Jaromir Jagr e Mario Lemieux.

Três anos depois de deixar o Colorado Avalanche, Forsberg ainda tem energia e talento suficientes para ser um jogador decisivo nos playoffs, desde que no time certo. Ele não pode ser o carregador de piano. Deve ser escalado na segunda linha de ataque, jogando menos minutos por noite e eventualmente sendo poupado de partidas consecutivas na temporada regular. Tudo para que seu corpo esteja preparado para a batalha da pós-temporada, onde ele sempre fez a diferença.

Forsberg... em Detroit?


"Jamais! Ele sempre foi o carrasco dos Red Wings."
"Ele brigou com o Igor Larionov no inesquecível 26 de março de 1997."
"Forsberg NÃO!"

São frases típicas de fãs dos Red Wings em resposta aos rumores que ligam o jogador ao seu eventual próximo time. Mas se voltarmos no tempo, para 1999 e 2002, respectivamente, provavelmente encontraríamos torcedores respondendo "Chelios NÃO!" e "Hull em Detroit? Nem pensar!", graças ao passado desses então odiados jogadores. Hoje Chelios e Hull são ídolos em Detroit, decisivos na última conquista da equipe, em 2002. Os fãs estavam enganados.

Com Forsberg a situação pode se repetir. Hoje odiado, amanhã um de nós. Não estamos falando de Claude LeTurtle ou Patrick Wah, esses sim eternamente inimigos de Detroit.

Eu me pergunto: por que não Forsberg? Ele ainda é um dos maiores atacantes do mundo, certamente gostaria de jogar na equipe onde já atuam sete suecos — incluindo vários companheiros de seleção — e se há alguma "desonra" nisso estaria toda do lado do Avalanche e seus fãs, que detestariam ver um de seus maiores ídolos vestindo a camisa do maior rival.

Darren McCarty, herói em Detroit, ao ter seu contrato rescindido prometeu aos fãs que não jogaria nos Avs. Brendan Shanahan foi para a Conferência Leste. Sergei Fedorov para Anaheim e em seguida Columbus. Não seria desgosto algum ver Forsberg decidindo jogos a favor dos Red Wings. Triste seria ver McCarty em Denver. E vamos deixar mais essa tristeza, de ver um ídolo no inimigo, para os fãs dos Avs, que sequer vão aos playoffs.

Forsberg em Detroit!


Desgosto é ser eliminado na primeira ou segunda rodada dos playoffs. E é certo que isso acontecerá com o atual time dos Red Wings se nada for feito.

Há bastante espaço na folha salarial, mais do que o suficiente para comportar o restante do salário de Forsberg a partir do dia-limite de trocas. Dinheiro não investido é dinheiro perdido. O que a equipe deixa de gastar nesse ano não acumula para o ano seguinte. Pra que dormir com US$ 3 milhões debaixo do colchão quando o time visivelmente carece de poder e está fadado ao fracasso?

A conjuntura é favorável ao time que se arriscar a adquirir o jogador. Forsberg será agente-livre irrestrito ao fim da temporada e poderá negociar novamente com os Flyers se assim as partes desejarem. Os Red Wings poderiam praticamente "alugá-lo", pagando um preço bem abaixo do necessário. E ele seria essencial para as pretensões do time, se Holland pensa que pode vencer a Copa.

Dos 47 jogos dos Flyers na temporada, Forsberg disputou 31. Com ele no gelo a equipe venceu 11 vezes e conquistou 38,7% dos pontos disputados. Sem o sueco a equipe não venceu nenhuma das 16 partidas. Seus números individuais registram oito gols e 28 pontos. Se ele é capaz de fazer isso jogando praticamente sozinho, imagine em um time de verdade.

Não há razão alguma para continuar na Philadelphia. Um novo time pode revigorar Forsberg e torná-lo capaz de decidir jogos e talvez até a Copa, algo que os Flyers não podem oferecer no momento.

Até o dia-limite de trocas todas as atenções estarão voltadas para o jogador e há várias equipes interessadas em seus serviços, mas nenhuma outra em que haja tanta história pra contar antes mesmo da negociação de fato acontecer.

Da minha parte Forsberg está perdoado. Ele pode vestir a camisa dos Red Wings, desde que o faça com a garra de sempre. Talento não vai faltar.

Para quem ainda é contrário à idéia, preste atenção: Forsberg tem a quarta maior média de assistências por jogo na história da NHL, atrás apenas de Wayne Gretzky, Mario Lemieux e Bobby Orr.

Humberto Fernandes sabe que pode se arrepender desse artigo, mas quis correr o risco.
Len Redkoles/Getty Images
Forsberg ainda é um atacante dominador. Ele precisa de um time de verdade, onde não precise carregar o piano.
(18/01/2007)
Jim McIsaac/Getty Images
O Philadelphia Flyers só vence jogos quando Forsberg está no gelo. Para o azar da equipe o sueco disputou apenas dois terços das partidas.
(11/01/2007)
Gregory Shamus/Getty Images
Forsberg cabe direitinho na imagem acima, ao lado de seus compatriotas Henrik Zetterberg e Nicklas Lidstrom.
(17/01/2007)
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Página publicada em 24 de janeiro de 2007.