Desde a conquista de sua última Copa Stanley, no longínquo ano
de 1993, o Montreal Canadiens vem sofrendo bastante por causa
de diversos fatores. Primeiro, um técnico que se achava mais estrela
que Patrick Roy e o mandou para Denver. Depois, a disparidade
do dólar canadense para o dólar americano. Por último, a falta
de sorte nos playoffs, por sempre enfrentar nas fases iniciais
os times que se tornariam vencedores da Conferência Leste (Carolina,
Tampa Bay e Carolina, novamente).
Nesta temporada tudo se encaminhava para que o time continuasse
com mais do mesmo, o que significaria mais uma ida aos playoffs
com a sétima ou oitava posição do Leste, apenas para ser derrotado
por um time muito superior, prolongando por mais um ano o sonho
Hábitant.
Contudo, até agora o que se vê é um time bem mais competitivo
que nos últimos anos, ocupando a quarta colocação com cinco pontos
vantagem para o quinto e dois jogos a menos, e a seis pontos do
líder Buffalo Sabres. Isso aliado a uma boa campanha, na qual
o time só perdeu duas partidas seguidas uma vez na temporada,
e vinha de uma seqüência de cinco vitórias seguidas antes de perderem
para os Bruins em Boston, além de ter a segunda melhor defesa
do Leste, com apenas 97 gols sofridos em 35 jogos.
Mas quais seriam os motivos para tal crescimento produtivo, já
que o chefão Bob Gainey não saiu por aí contratando milhares de
jogadores nem foi feliz em seus recrutamentos a ponto de achar
um Alexander Ovechkin, um Sidney Crosby ou um Evgeni Malkin para
adicionar ao time?
O técnico
Após a saída do não muito querido Claude Julien, o Gerente Geral
Bob Gainey contratou Guy Carbonneau para ser o novo técnico da
franquia mais francesa da NHL. Porém, havia um "pequeno" detalhe.
O ex-capitão e eterno ídolo nunca havia treinado uma equipe na
liga! Com bastante argúcia, Gainey assumiu interinamente o comando
da equipe na temporada passada, nomeando Carbonneau para ser seu
auxiliar. Com isso, Guy obteve aprendizado e experiência no comando
da equipe, o que certamente o tem ajudado bastante nesta temporada,
já que a melhora no nível de jogo, na produtividade e nos números
de um time que se manteve praticamente o mesmo de 2005-06 para
2006-07, com certeza tem muito a ver com as qualidades do novo
técnico.
Ah, claro, jogadores em boa fase também ajudam um bocado a construir
uma boa campanha...
O líder
Saku Koivu é amado em Montreal e idolatrado por muitos. Seja por
seu estilo de jogo, seja por sua história
de vida belíssima, o capitão sempre foi muito querido na cidade,
motivo pelo qual muitos até hoje estão indignados pelo taco alto
recebido, que quase o cegou nos últimos playoffs, retirando-o
de combate e facilitando o caminho do Carolina rumo à Stanley...
Mesmo sendo considerado um craque, ele nunca foi um goleador,
só atingindo a marca dos 20 gols apenas duas vezes em sua carreira
(nas temporadas de 1995-96 e 2002-03, as únicas em que jogou todas
as 82 partidas). Como o próprio Koivu afirma, ele sempre foi um
playmaker, aquele jogador que constrói a jogada e dá assistências.
Mas esse ano, além de ser o vice-líder em assistências e líder
em pontos do time, ele também é o principal goleador, liderando
o time em todos os aspectos. Sempre muito utilizado no gelo em
todas as situações, o finlandês já conta com 14 gols e 21 assistências,
totalizando 35 pontos em 35 jogos até o Natal.
Mas o que tem levado Koivu a marcar mais gols? Obviamente ele
está chutando mais a gol. E o que o levou a chutar mais a gol?
Guy Carbonneau e o novo estilo de jogo dos Habs! Koivu sempre
teve uma pontaria muito boa, mas não chutava tanto quanto deveria.
Agora o capitão tem um papel mais determinante no time de vantagem
numérica, além de contar com uma imensa ajuda do super Sheldon
Souray para marcar muitos de seus gols.
O defensor
Há algumas temporadas que Souray é conhecido por ter o chute mais
potente da NHL. Sucessor do grande Al MacInnis nesse quesito,
o rei da linha azul do Montreal vem apavorando goleiros e defesas
adversárias com foguetes produzidos por seus slap shots.
Desde 2003-04, temporada em que marcou 15 gols (o recorde disparado
em sua carreira), os números ofensivos de Souray só aumentam,
sem, contudo, o defensor se esquecer de qual é realmente sua posição
e voltar para marcar.
Líder do time nos gols em vantagem numérica (10), Souray é um
elemento essencial nessa boa fase dos Canadiens. Ele vem competindo
jogo a jogo com Koivu pela liderança do time em gols, assistências
e pontos. Graças a ele, a equipe de VN do time é a melhor da liga,
sempre fazendo estragos por onde passa.
As equipes especiais
A vantagem numérica dos Habs está impressionante nesta temporada.
É difícil achar um jogo em que eles não façam pelo menos um gol
com um homem a mais no gelo. Mais um mérito de Carbonneau, que
soube montar um esquema efetivo, aproveitando o melhor de seus
jogadores.
Basicamente, a equipe de VN dos Canadiens funciona assim: Souray
se desmarca na linha azul, alguém joga o disco açucarado para
ele, que solta a bomba certeira. Muitas vezes entra. Quando o
goleiro ou a defesa tem sorte em conseguir rebater, lá está Koivu,
em frente ao gol, para pegar o rebote e marcar ele mesmo. Simples,
não? Mas bastante eficiente. Quando Souray não está no gelo (já
que até ele precisa de descanso), Andrei Markov faz as vezes de
defensor que fica na linha azul para soltar a bomba, motivo pelo
qual o russo já tem 22 assistências na atual temporada.
A equipe de desvantagem numérica de Montreal é um exemplo a ser
seguido pelas outras equipes! Quem não quer levar poucos gols
com um jogador a menos e ainda marcar vários gols nessa situação?
Os Canadiens querem! E estão conseguindo. Com Huet sempre fenomenal
segurando lá atrás, Koivu pega o disco sem dono, sai em disparada,
e rola para o jovem artilheiro Christoph Higgins, que manda para
o fundo da rede, levando sua torcida ao delírio e o time adversário
ao desespero.
Os goleiros
Ao que parece, "Cristo-wall" Huet não era apenas um goleiro de
sorte na temporada passada. Repetindo suas sólidas atuações e
seus números excelentes (com 93,1% de defesas, e 2,36 gols sofridos
por jogo), ele continua a ser um dos pilares do Montreal. Apesar
de sua crescente melhoria, o time ainda apresenta falhas no setor
defensivo, como o fato de permitir que o time adversário chute
mais de 30 vezes ao gol de Huet toda noite.
Isso faz com que o francês se canse... Mas o suíço David Aebischer,
mesmo não tendo números tão impressionantes quanto seu colega
de time, vem segurando bem as pontas enquanto Huet tem seu merecido
descanso.
Os coadjuvantes
Alexei Kovalev. O que falar de Kovalev? Se ele repetisse nos Habs
o mesmo desempenho que teve pela Rússia nas Olimpíadas de janeiro,
já estaria de bom tamanho... E Sergei Samsonov pode ser muito
útil à equipe, por sua velocidade e experiência, mas ainda parece
não ter se adaptado ao time.
Por enquanto, o russo que mais arranca suspiros da torcida é Alexander
Perezhogin. Apesar de ainda não ser unanimidade no time principal,
tendo que lutar arduamente pela sua vaguinha entre os titulares,
a "flecha das estepes" já mostra lampejos do jogador que pode
vir a ser, como naquele gol esplêndido contra os Leafs, no qual
ele driblou todo o time de Toronto antes de finalizar e levar
ao delírio a torcida do Centre Bell!
Michael Ryder perdeu sua vaga na linha principal para Higgins,
que vem fazendo mais gols que o artilheiro da temporada passada.
E olha que Higgins esteve bastante tempo no departamento médico...
Mesmo não contando com um Kovalchuk, um Crosby, um Ovechkin, ou
até mesmo um Tuomo Ruutu, os Canadiens também têm alguns jovens
de futuro promissor, como Guillaume Latendresse, que vem fazendo
uma bela temporada de estréia com 8 gols e 15 pontos.
Se a carruagem não desandar, tudo leva a crer que esse ano os
Habs podem sonhar com vôos mais altos e sair da fila para erguer
mais uma flâmula de campeão no teto do Centre Bell. Claro, se
nenhum juiz deixar de marcar as penalidades homicidas em cima
de Koivu...
Igor Vasconcelos aderiu às
seguintes campanhas: “Dallas Drake no All Star Game”,
“uma Stanley para Drake”, “uma Copa em homenagem
à filha de Bob Gainey” e “Stallone Cobra para
presidente”.