Por
Alexandre Giesbrecht
Se você tivesse de apostar no placar desta série após
quatro jogos, não tenho dúvidas de que você apostaria
nos 2-2 que agora se apresentam. É o placar do equilíbrio
que se esperava há pouco mais de uma semana, quando se soube
quem seriam os dois finalistas.
Com dois times empolgantes, que não gostam de jogar passivamente,
as previsões sempre ficaram entre seis e sete jogos para esta
final — temos garantido ao menos o jogo 6. Isso apesar do favoritismo
do Tampa Bay, até pela campanha na temporada regular e pela facilidade
com que passou pelas duas primeiras fases dos playoffs, que não
foi levado muito em conta.
E nem deveria. Pois o que se está vendo nestas finais é
um domínio do Calgary. É só lembrar que, à
exceção do jogo 2, goleada do Lightning por 4-1, o time
da Flórida marcou apenas dois gols. Felizmente para ele, um desses
gols foi o suficiente para a vitória no jogo 4. Se saísse
de Calgary com mais uma derrota e perdendo a série por 3-1, dificilmente
conseguiria a virada. Com 2-2, o domínio dos canadenses não
serviu para grande coisa, e o título ainda está ao alcance
dos norte-americanos.
Para conquistá-lo, o Tampa Bay tem de fazer exatamente o que
fez no jogo 4: deixar de reclamar do estilo de jogo dos Flames e, bem...
imitá-lo. Depois do jogo 3, o que mais se viu foi jogador do
Lightning reclamando da suposta armadilha dos Flames e que não
paravam de cometer icing com o disco.
Não, a tática do Calgary é muito diferente da famosa
armadilha, que se popularizou pelas mãos do New Jersey Devils
nos anos 90. Os Flames ficam bem postados na defesa, mas não
apenas esperando pelo adversário. Eles são agressivos
na marcação. A transição deles é
muito mais rápida. Essa combinação é mortal
e foi usada com maestria nas vitórias do time nos jogos 1 e 3.
Foi usada também no jogo 4, dominado pelo time canadense. O problema
ali foi a falta de pontaria. A torcida reclamou da atuação
dos árbitros Kerry Fraser (ouviu-se durante alguns momentos um
refrão que outras torcidas também costumam gritar em coro:
"Fraser sucks, Fraser sucks!") e Brad Watson, por causa das
duas penalidades que deixaram o time da casa com dois homens a menos
logo no início, gerando o único gol do jogo.
Mas as penalidades foram justamente marcadas, é bom frisar. Além
de uma penalidade de cinco minutos contra o Calgary no finzinho do jogo
(que deveria ter sido de apenas dois), o único pecado dos árbitros
foi o mesmo pecado que se comete em todo jogo de hóquei no gelo,
seja em outubro ou em junho: as penalidades que são marcadas
no primeiro período são sumariamente ignoradas no terceiro.
Independentemente da atuação dos árbitros, esses
dois times, que raramente se enfrentam, já se odeiam. E um já
se adaptou ao estilo de jogo do outro, aprendendo com os próprios
erros. Agora, além do resultado final da série, também
ficou imprevisível o próprio jogo 5. Como entrarão
no gelo as equipes? Será que, a partir dele, teremos jogos travados,
decididos na zona neutra?
• Para alguns, o maior adversário do Lightning nesta final
não é o Calgary, mas um tabu de 40 anos. Desde os Maple
Leafs de 1963-64, nenhum time que eliminou os Canadiens conseguiu chegar
ao título. E naquela época os playoffs tinham apenas duas
fases. Por 19 vezes desde que a liga se expandiu em 1968, o time de
Montreal foi eliminado antes das finais; em nenhuma dessas vezes, o
time que conseguiu o feito bebeu champanhe direto da Copa Stanley. O
Tampa Bay eliminou os Canadiens em 29 de abril.
• Se o tabu não for quebrado e o título ficar em
Calgary, os Flames, sextos colocados no Oeste durante a temporada regular,
tornar-se-ão o time com a pior classificação de
conferência a se sagrar campeão desde que a fórmula
atual foi implantada, em 1994, com os oito melhores de cada conferência
se classificando (e não mais os quatro melhores de cada divisão).
O recorde hoje pertence ao New Jersey, quinto no Leste em 1995. Quanto
à posição geral na liga, os Flames (12.° lugar)
também têm chance de bater o recorde, que também
é dos Devils de 1995 (nono lugar).
• Desde 1975, quando a temporada regular passou a ter 80 jogos,
apenas cinco equipes campeãs fizeram menos pontos que os 94 acumulados
pelos Flames em 2004-04: os Islanders de 1979-80 (91), os Canadiens
de 1985-86 (87), os Oilers de 1989-90 (90) e os Penguins de 1990-91
(88) e 1991-92 (87). Os Red Wings de 1996-97 também marcaram
94.
• John Tortorella, do Lightning, é o primeiro técnico
americano nas finais desde Ron Wilson, que treinava os Capitals em 1998.
Mas o último técnico americano a vencer a Copa Stanley
foi Bob Johnson, com os Penguins, em 1991.
• Ninguém deve se lembrar agora, mas na temporada de 1995-96
o Tampa Bay sofreu duas goleadas por 10-0. Uma frente aos Penguins,
a outra frente ao Calgary, que rumava para sua última participação
nos playoffs até este ano.
• Antes de a temporada começar, as casas de aposta pagavam
de US$ 75 a US$ 100 para cada dólar apostado no caso de os Flames
conquistarem o título.
• Tirado do jornal Calgary Herald de 1.º de junho:
"À esquerda do púlpito da entrevista coletiva após
o jogo 4 estava Brad Richards, que [ainda se parece com um adolescente].
À direita estava Dave Andreychuk, que jogou sua primeira partida
na NHL quando Richards mal tinha saído das fraldas. Quem você
acha que marcou mais gols da vitória em playoffs? Ora, Richards,
é claro. O terror ruivo, nascido na Ilha de Prince Edward, marcou
o único gol do jogo 4 e agora tem sete gols da vitória
nos playoffs de 2004, um recorde na NHL. Já Andreychuk tem meia
dúzia de gols da vitória em sua carreira digna de Matusalém,
com nada menos que 159 jogos no currículo."
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Alexandre
Giesbrecht, 28 anos, recomenda a leitura de "O Melhor da
Disney - As obras completas de Carl Barks". |
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TODO MUNDO QUER O DISCO Jarome
Iginla e Andrew Ference, do Calgary (de vermelho), brigam pelo disco
com Nolan Pratt e Cory Sarich, do Tampa Bay (Ted Rhodes/Calgary
Herald - 31/05/2004) |
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