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4 de junho de 2004
Tudo — tudo mesmo — continua imprevisível

Por Alexandre Giesbrecht

Se você tivesse de apostar no placar desta série após quatro jogos, não tenho dúvidas de que você apostaria nos 2-2 que agora se apresentam. É o placar do equilíbrio que se esperava há pouco mais de uma semana, quando se soube quem seriam os dois finalistas.

Com dois times empolgantes, que não gostam de jogar passivamente, as previsões sempre ficaram entre seis e sete jogos para esta final — temos garantido ao menos o jogo 6. Isso apesar do favoritismo do Tampa Bay, até pela campanha na temporada regular e pela facilidade com que passou pelas duas primeiras fases dos playoffs, que não foi levado muito em conta.

E nem deveria. Pois o que se está vendo nestas finais é um domínio do Calgary. É só lembrar que, à exceção do jogo 2, goleada do Lightning por 4-1, o time da Flórida marcou apenas dois gols. Felizmente para ele, um desses gols foi o suficiente para a vitória no jogo 4. Se saísse de Calgary com mais uma derrota e perdendo a série por 3-1, dificilmente conseguiria a virada. Com 2-2, o domínio dos canadenses não serviu para grande coisa, e o título ainda está ao alcance dos norte-americanos.

Para conquistá-lo, o Tampa Bay tem de fazer exatamente o que fez no jogo 4: deixar de reclamar do estilo de jogo dos Flames e, bem... imitá-lo. Depois do jogo 3, o que mais se viu foi jogador do Lightning reclamando da suposta armadilha dos Flames e que não paravam de cometer icing com o disco.

Não, a tática do Calgary é muito diferente da famosa armadilha, que se popularizou pelas mãos do New Jersey Devils nos anos 90. Os Flames ficam bem postados na defesa, mas não apenas esperando pelo adversário. Eles são agressivos na marcação. A transição deles é muito mais rápida. Essa combinação é mortal e foi usada com maestria nas vitórias do time nos jogos 1 e 3.

Foi usada também no jogo 4, dominado pelo time canadense. O problema ali foi a falta de pontaria. A torcida reclamou da atuação dos árbitros Kerry Fraser (ouviu-se durante alguns momentos um refrão que outras torcidas também costumam gritar em coro: "Fraser sucks, Fraser sucks!") e Brad Watson, por causa das duas penalidades que deixaram o time da casa com dois homens a menos logo no início, gerando o único gol do jogo.

Mas as penalidades foram justamente marcadas, é bom frisar. Além de uma penalidade de cinco minutos contra o Calgary no finzinho do jogo (que deveria ter sido de apenas dois), o único pecado dos árbitros foi o mesmo pecado que se comete em todo jogo de hóquei no gelo, seja em outubro ou em junho: as penalidades que são marcadas no primeiro período são sumariamente ignoradas no terceiro.

Independentemente da atuação dos árbitros, esses dois times, que raramente se enfrentam, já se odeiam. E um já se adaptou ao estilo de jogo do outro, aprendendo com os próprios erros. Agora, além do resultado final da série, também ficou imprevisível o próprio jogo 5. Como entrarão no gelo as equipes? Será que, a partir dele, teremos jogos travados, decididos na zona neutra?

• Para alguns, o maior adversário do Lightning nesta final não é o Calgary, mas um tabu de 40 anos. Desde os Maple Leafs de 1963-64, nenhum time que eliminou os Canadiens conseguiu chegar ao título. E naquela época os playoffs tinham apenas duas fases. Por 19 vezes desde que a liga se expandiu em 1968, o time de Montreal foi eliminado antes das finais; em nenhuma dessas vezes, o time que conseguiu o feito bebeu champanhe direto da Copa Stanley. O Tampa Bay eliminou os Canadiens em 29 de abril.

• Se o tabu não for quebrado e o título ficar em Calgary, os Flames, sextos colocados no Oeste durante a temporada regular, tornar-se-ão o time com a pior classificação de conferência a se sagrar campeão desde que a fórmula atual foi implantada, em 1994, com os oito melhores de cada conferência se classificando (e não mais os quatro melhores de cada divisão). O recorde hoje pertence ao New Jersey, quinto no Leste em 1995. Quanto à posição geral na liga, os Flames (12.° lugar) também têm chance de bater o recorde, que também é dos Devils de 1995 (nono lugar).

• Desde 1975, quando a temporada regular passou a ter 80 jogos, apenas cinco equipes campeãs fizeram menos pontos que os 94 acumulados pelos Flames em 2004-04: os Islanders de 1979-80 (91), os Canadiens de 1985-86 (87), os Oilers de 1989-90 (90) e os Penguins de 1990-91 (88) e 1991-92 (87). Os Red Wings de 1996-97 também marcaram 94.

• John Tortorella, do Lightning, é o primeiro técnico americano nas finais desde Ron Wilson, que treinava os Capitals em 1998. Mas o último técnico americano a vencer a Copa Stanley foi Bob Johnson, com os Penguins, em 1991.

• Ninguém deve se lembrar agora, mas na temporada de 1995-96 o Tampa Bay sofreu duas goleadas por 10-0. Uma frente aos Penguins, a outra frente ao Calgary, que rumava para sua última participação nos playoffs até este ano.

• Antes de a temporada começar, as casas de aposta pagavam de US$ 75 a US$ 100 para cada dólar apostado no caso de os Flames conquistarem o título.

• Tirado do jornal Calgary Herald de 1.º de junho: "À esquerda do púlpito da entrevista coletiva após o jogo 4 estava Brad Richards, que [ainda se parece com um adolescente]. À direita estava Dave Andreychuk, que jogou sua primeira partida na NHL quando Richards mal tinha saído das fraldas. Quem você acha que marcou mais gols da vitória em playoffs? Ora, Richards, é claro. O terror ruivo, nascido na Ilha de Prince Edward, marcou o único gol do jogo 4 e agora tem sete gols da vitória nos playoffs de 2004, um recorde na NHL. Já Andreychuk tem meia dúzia de gols da vitória em sua carreira digna de Matusalém, com nada menos que 159 jogos no currículo."

Alexandre Giesbrecht, 28 anos, recomenda a leitura de "O Melhor da Disney - As obras completas de Carl Barks".
TODO MUNDO QUER O DISCO Jarome Iginla e Andrew Ference, do Calgary (de vermelho), brigam pelo disco com Nolan Pratt e Cory Sarich, do Tampa Bay (Ted Rhodes/Calgary Herald - 31/05/2004)

 

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Página publicada em 2 de junho de 2004.