Por
Marcelo Constantino
Desde que a gerência do Detroit Red Wings começou a montar um time para
vencer a Copa Stanley, lá pelo começo da década de 90, o time conta
com problemas para a posição de goleiro.
Naquela época Chris Osgood era uma grande promessa. A gerência contratou
Mike Vernon, goleiro que já havia conquistado uma Copa, para ser a segurança
do time na temporada de 1994-95, mas ele não segurou onda e o time caiu
em quatro jogos na final. Querido pela torcida, Osgood assumiu a posição
de titular em 96, mas não foi suficiente frente a Patrick Roy, Joe Sakic
& cia. nos playoffs. No ano seguinte, quando começaram os playoffs,
Bowman reconduziu Vernon à titularidade e o time finalmente foi campeão,
com um surpreendente Vernon conquistando o troféu Conn Smythe como MVP
dos playoffs. Sabendo que aquilo fora apenas um lapso, a gerência o
negociou logo a seguir. Em 98 os Wings venceram novamente a Copa, mas
apesar de ter Osgood, que entregou no mínimo dois jogos aos adversários
em plenos playoffs. Começava então uma era de críticas freqüentes quanto
à estabilidade de Ozzy no gol.
Em 2001 os Wings trouxeram Dominik Hasek, um dos grandes da história,
de nível Patrick Roy. Pela primeira vez em anos o Detroit saboreia o
prazer de vencer uma partida graças ao seu goleiro. Depois de um começo
cambaleante nos playoffs, como todo o restante do time (exceto por Steve
Yzerman), Hasek segue com o time até a conquista do título, seu único,
sem precisar ser brilhante.
Com toda cidade de Detroit a seus pés pedindo para que ele ficasse mais
um ano (ele tinha opção contratual para mais dois), Hasek decide aposentar-se.
Os Wings saem em busca de um goleiro classe A e, naquele momento, havia
três disponíveis: Curtis Joseph, Ed Belfour e Byron Dafoe (à época ainda
com algum crédito na NHL).
Joseph é o contratado, aceitando receber menos em Detroit do que o que
seu time -- o Toronto Maple Leafs -- lhe oferecia para ficar. Ele faz
uma temporada ruim com os Wings, não inspirando a confiança de ninguém.
Chega a ser barrado em vários jogos pelo sempre eficiente reserva Manny
Legace. Nos playoffs CuJo não fez feio, mas o time inteiro o fez e foi
eliminado em quatro jogos pelo futuro vice Anaheim Mighty Ducks.
Nas férias, começa a especulação de que Hasek estaria ensaiando uma
volta da aposentadoria, o que se realiza. Começa então uma sinistra
novela com os Wings fazendo de tudo para negociar Joseph pela liga.
De início ele parecia ter grande valor, mas a situação da NHL na temporada
desmotivava qualquer investida por parte de outros times. O salário
de US$ 8 milhões, a má temporada anterior, a idade e a falta de seqüência
de jogos depunha contra. Sem conseguir qualquer comprador, mesmo oferecendo-o
de graça com parte do salário pago, os Wings decidem mandá-lo para o
time afiliado, os Grand Rapids Griffins. Ele sequer esquenta seu lugar
por lá e retorna ao time, que, naquele momento, sofria com a contusão
simultânea de seus dois goleiros tidos como principais. CuJo obtém então
uma boa seqüência de jogos e tem boas atuações nesse período.
Os Wings desistem de negociar Joseph; enquanto isso Hasek mergulha num
longo período de contusão, recuperação, contusão que não sara nunca.
Até que o "Dominador" chama a imprensa e anuncia que não volta mais
nesta temporada. Fim.
Alguém aqui consegue imaginar o que seria dessa organização neste momento
se eles tivessem negociado CuJo por nada quando o rifaram pela liga?
Estariam atrás, novamente, de mais um goleiro ou aceitariam ir com o
ótimo reserva Manny Legace até o fim? Surreal.
O gerente Ken Holland afirma que esteve por negociar Joseph por duas
vezes. Uma pouco antes da temporada -- possivelmente para os Bruins
--, mas CuJo teve de fazer uma operação e isso acabou por desmotivar
a gerência de Boston. Outra vez foi em dezembro, quando Joseph tinha
boas atuações no gol dos Wings. Justamente por esse motivo -- aliado
à interminável contusão de Hasek --, a gerência não o negociou.
Uma diversidade de boatos rola solta a respeito das "reais" razões para
Hasek ter abandonado o barco daquela forma, falando desde que ele apenas
voltou pelo dinheiro até mesmo que ele estaria evitando um embate direto
com Joseph. Seja lá o que for, o fato é que o tcheco não volta a jogar
em Detroit -- isso se houver uma próxima temporada na NHL --, como ele
falou que seria de seu desejo. Hasek queimou seu filme em Detroit.
Nessa história toda há de se ressaltar a classe e o profissionalismo
de CuJo frente a todo o processo, postura que pode ser confundida com
"sangue de barata" pelos "profissionais" do futebol brasileiro, por
exemplo. Diante da clássica situação do "não tem tu, vai tu mesmo" --
e no desconfortável papel do "tu" na história --, seria compreensível
que Joseph se negasse a atuar pelos Wings, que forçasse uma negociação
ou que não se esforçasse o suficiente nas partidas em que fosse chamado.
Nada disso foi visto. Se CuJo teve alguma atuação ruim -- e ele teve
algumas --, não foi por falta de esforço.
E é neste ponto que reside o foco principal dos receios em Detroit:
apesar de tudo, CuJo ainda não inspira confiança de ninguém. Sim, ele
tem sido um exemplo de profissional, sim, ele teve boas atuações na
temporada, sim, ele é um goleiro com experiência suficiente para seguir
com o time até o título. Mas falta algo mais, falta transmitir aquela
segurança no gol. Vencer uma partida que o time perderia, não fosse
o goleiro. Apenas Hasek deu essa segurança aos Wings na última década.
É por isso que a maioria ainda torcia por algum milagre advindo do "Dominador",
tido como o único que poderia levar o time a mais uma Copa Stanley.
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Marcelo
Constantino vai descansar no Carnaval; mas descansar não
é ficar morgando sentado numa cadeira ou deitado numa cama. |
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US$ 6 MILHÕES NO LIXO É
quanto custou aos Red Wings a aventura de Hasek de volta à
NHL (Paul Sancya/AP - 08/12/03) |
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RECORRENDO AO RENEGADO Depois
de ser esculhambado, Curtis Joseph reassume a poisção
de goleiro número 1 dos Wings (Carlos Osorio/AP - 30/09/03) |
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