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20 de fevereiro de 2004
Os Red Wings e seus problemas com goleiros

Por Marcelo Constantino

Desde que a gerência do Detroit Red Wings começou a montar um time para vencer a Copa Stanley, lá pelo começo da década de 90, o time conta com problemas para a posição de goleiro.

Naquela época Chris Osgood era uma grande promessa. A gerência contratou Mike Vernon, goleiro que já havia conquistado uma Copa, para ser a segurança do time na temporada de 1994-95, mas ele não segurou onda e o time caiu em quatro jogos na final. Querido pela torcida, Osgood assumiu a posição de titular em 96, mas não foi suficiente frente a Patrick Roy, Joe Sakic & cia. nos playoffs. No ano seguinte, quando começaram os playoffs, Bowman reconduziu Vernon à titularidade e o time finalmente foi campeão, com um surpreendente Vernon conquistando o troféu Conn Smythe como MVP dos playoffs. Sabendo que aquilo fora apenas um lapso, a gerência o negociou logo a seguir. Em 98 os Wings venceram novamente a Copa, mas apesar de ter Osgood, que entregou no mínimo dois jogos aos adversários em plenos playoffs. Começava então uma era de críticas freqüentes quanto à estabilidade de Ozzy no gol.

Em 2001 os Wings trouxeram Dominik Hasek, um dos grandes da história, de nível Patrick Roy. Pela primeira vez em anos o Detroit saboreia o prazer de vencer uma partida graças ao seu goleiro. Depois de um começo cambaleante nos playoffs, como todo o restante do time (exceto por Steve Yzerman), Hasek segue com o time até a conquista do título, seu único, sem precisar ser brilhante.

Com toda cidade de Detroit a seus pés pedindo para que ele ficasse mais um ano (ele tinha opção contratual para mais dois), Hasek decide aposentar-se. Os Wings saem em busca de um goleiro classe A e, naquele momento, havia três disponíveis: Curtis Joseph, Ed Belfour e Byron Dafoe (à época ainda com algum crédito na NHL).

Joseph é o contratado, aceitando receber menos em Detroit do que o que seu time -- o Toronto Maple Leafs -- lhe oferecia para ficar. Ele faz uma temporada ruim com os Wings, não inspirando a confiança de ninguém. Chega a ser barrado em vários jogos pelo sempre eficiente reserva Manny Legace. Nos playoffs CuJo não fez feio, mas o time inteiro o fez e foi eliminado em quatro jogos pelo futuro vice Anaheim Mighty Ducks.

Nas férias, começa a especulação de que Hasek estaria ensaiando uma volta da aposentadoria, o que se realiza. Começa então uma sinistra novela com os Wings fazendo de tudo para negociar Joseph pela liga. De início ele parecia ter grande valor, mas a situação da NHL na temporada desmotivava qualquer investida por parte de outros times. O salário de US$ 8 milhões, a má temporada anterior, a idade e a falta de seqüência de jogos depunha contra. Sem conseguir qualquer comprador, mesmo oferecendo-o de graça com parte do salário pago, os Wings decidem mandá-lo para o time afiliado, os Grand Rapids Griffins. Ele sequer esquenta seu lugar por lá e retorna ao time, que, naquele momento, sofria com a contusão simultânea de seus dois goleiros tidos como principais. CuJo obtém então uma boa seqüência de jogos e tem boas atuações nesse período.

Os Wings desistem de negociar Joseph; enquanto isso Hasek mergulha num longo período de contusão, recuperação, contusão que não sara nunca. Até que o "Dominador" chama a imprensa e anuncia que não volta mais nesta temporada. Fim.

Alguém aqui consegue imaginar o que seria dessa organização neste momento se eles tivessem negociado CuJo por nada quando o rifaram pela liga? Estariam atrás, novamente, de mais um goleiro ou aceitariam ir com o ótimo reserva Manny Legace até o fim? Surreal.

O gerente Ken Holland afirma que esteve por negociar Joseph por duas vezes. Uma pouco antes da temporada -- possivelmente para os Bruins --, mas CuJo teve de fazer uma operação e isso acabou por desmotivar a gerência de Boston. Outra vez foi em dezembro, quando Joseph tinha boas atuações no gol dos Wings. Justamente por esse motivo -- aliado à interminável contusão de Hasek --, a gerência não o negociou.

Uma diversidade de boatos rola solta a respeito das "reais" razões para Hasek ter abandonado o barco daquela forma, falando desde que ele apenas voltou pelo dinheiro até mesmo que ele estaria evitando um embate direto com Joseph. Seja lá o que for, o fato é que o tcheco não volta a jogar em Detroit -- isso se houver uma próxima temporada na NHL --, como ele falou que seria de seu desejo. Hasek queimou seu filme em Detroit.

Nessa história toda há de se ressaltar a classe e o profissionalismo de CuJo frente a todo o processo, postura que pode ser confundida com "sangue de barata" pelos "profissionais" do futebol brasileiro, por exemplo. Diante da clássica situação do "não tem tu, vai tu mesmo" -- e no desconfortável papel do "tu" na história --, seria compreensível que Joseph se negasse a atuar pelos Wings, que forçasse uma negociação ou que não se esforçasse o suficiente nas partidas em que fosse chamado. Nada disso foi visto. Se CuJo teve alguma atuação ruim -- e ele teve algumas --, não foi por falta de esforço.

E é neste ponto que reside o foco principal dos receios em Detroit: apesar de tudo, CuJo ainda não inspira confiança de ninguém. Sim, ele tem sido um exemplo de profissional, sim, ele teve boas atuações na temporada, sim, ele é um goleiro com experiência suficiente para seguir com o time até o título. Mas falta algo mais, falta transmitir aquela segurança no gol. Vencer uma partida que o time perderia, não fosse o goleiro. Apenas Hasek deu essa segurança aos Wings na última década. É por isso que a maioria ainda torcia por algum milagre advindo do "Dominador", tido como o único que poderia levar o time a mais uma Copa Stanley.

Marcelo Constantino vai descansar no Carnaval; mas descansar não é ficar morgando sentado numa cadeira ou deitado numa cama.
 
  US$ 6 MILHÕES NO LIXO É quanto custou aos Red Wings a aventura de Hasek de volta à NHL (Paul Sancya/AP - 08/12/03)
   
 
  RECORRENDO AO RENEGADO Depois de ser esculhambado, Curtis Joseph reassume a poisção de goleiro número 1 dos Wings (Carlos Osorio/AP - 30/09/03)

 

 

 

 

 

 

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Página publicada em 18 de fevereiro de 2004.