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13 de fevereiro de 2004
Diversão ao vivo; sono pela TV

Por Alexandre Giesbrecht

Os bancos de penalidades estavam vazios durante o jogo de domingo, na casa do Minnesota Wild.

Mas, ao contrário do que se pode imaginar a princípio, não foi culpa dos juízes, que constantemente ignoram as regras e deixam o agarra-agarra e a empurra-empurra se tornarem o atual jogo de hóquei. E também não foi culpa da NHL, sempre apontada como culpada de tudo de ruim que acontece no esporte. Com razão, aliás.

Não, desta vez a culpa, se é que se pode chamar assim, era dos próprios jogadores, mais interessados em se divertir do que em tentar ganhar a partida a qualquer custo.

Sim, estou falando do Jogo das Estrelas.

Quando assisti ao meu primeiro Jogo das Estrelas, em 1993-94, achei uma idéia interessante. Era algo que não tínhamos no Brasil, que servia para integrar torcida e jogadores. Mas hoje já não penso da mesma maneira.

A novidade acabou. Rápido, aliás. Sei que é um clichê dizer que o Jogo das Estrelas não tem contato físico, mas não dá para escapar dele.

O jogo é chato de se assistir, não tem a mesma intensidade de um jogo que vale alguma coisa, mesmo que estejamos falando de um Penguins x Blue Jackets no final de março. Realmente, ele serve para integrar jogadores e torcida. Mas só a torcida que está no estádio, que pagou algumas muitas dezenas de dólares (melhor nem tentar converter para o nosso caidinho real, para a coisa não ficar ainda pior) pelo seu ingresso e pôde vaiar Todd Bertuzzi cada vez que ele ficava com o disco - ele é odiado em Minnesota desde o confronto entre Wild e Canucks, nos playoffs dos ano passado. Quem assiste pela televisão não tem, nem de longe, a mesma experiência.

E o que dizer de um jogo que interessa ainda menos, porque não tem jogadores de alguns times? Torcedores de Mighty Ducks, Sabres, Hurricanes, Blackhawks, Oilers e Penguins tiveram ainda menos motivos para assistir à partida pela TV.

Dejan Kovacevic, colunista do jornal Pittsburgh Post-Gazette, deve ter acertado a canela da NHL com as linhas a seguir: "O hóquei tende a ter um público regionalizado. A audiência é razoavelmente alta em cidades que têm um time na NHL, mas extremamente baixa naquelas que não têm. Seguindo a lógica, a liga, em seu último ano de contrato com a [rede de televisão] ABC, deveria aproveitar seus pontos fortes. Ao invés disso, opta por deixar de fora cidades, com o objetivo de ter um Jogo das Estrelas mais competitivo, como se o evento tivesse alguma competitividade na última década. Qual é o sentido de diminuir o interesse em 20% das cidades com presença da NHL?"

E a NHL nem precisaria ter apelado, como o fez em 1992-93, quando, apenas para ter alguém dos então trágicos Senators, convocou o goleiro Peter Sidorkiewicz, que acabou por terminar a temporada com nada honrosos 3-30-3 (12,5% de aproveitamento). O quarto maior artilheiro de todos os tempos, Ron Francis, dos Canes, foi esnobado. Dick Tarnström, defensor (e artilheiro) dos Penguins, o 11.º zagueiro na artilharia, certamente não envergonharia ninguém. E que tal Sergei Fedorov, do Anaheim, Miroslav Satan, do Buffalo, e Jason Smith, do Edmonton?

A coisa só se complicaria, mesmo, na hora de selecionar alguém de Chicago. Mas, mesmo ali, por que não convocar Steve Sullivan e registrar mais que um traço na audiência da terceira maior cidade norte-americana?

Já que os jogadores são, disparado, os que mais se divertem, isso ainda daria a eles a oportunidade de reencontrar outros amigos, que não os que vê sempre no vestiário de seu time, em alguns casos. Sim, porque uma das maiores diversões para os jogadores é justamente a integração com seus colegas de profissão.

"Pergunte a qualquer jogador: a melhor parte do Jogo das Estrelas é o dia anterior e dividir o vestiário com todo o pessoal", lembra Joe Sakic, que foi eleito o melhor jogador do evento de domingo. "Você vê seus amigos do resto da liga ou conhece novos caras, a camaradagem construída no vestiário; é muito divertido. E é um fim de semana relaxante. Provavelmente por isso o jogo não é tão intenso."

E provavelmente por isso eu não faço mais tanta questão de assistir a ele.

Alexandre Giesbrecht, publicitário, gravou as edições do Jogo das Estrelas de 1993-94, 1995-96 e 1996-97. Depois, desistiu.
 
  ESSE POVO SE DIVERTIU Os jogadores , como Gary Roberts, Mats Sundin e Daniel Alfredsson, certamente adoraram o jogo . Na foto, praticamente o único contato físico entre participantes do Jogo das Estrelas (Jeff Roberson/AP - 08/02/04)
   
 
  ESSE POVO SE DIVERTIU Além dos jogadores, os únicos que se divertem no Jogo das Estrelas são os torcedores que vão ao estádio (Bruce Bisping/Star Tribune - 08/02/04)

 

 

 

 

 

 

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Página publicada em 11 de fevereiro de 2004.