Por
Alexandre Giesbrecht
Os bancos de penalidades estavam vazios durante o jogo de domingo, na
casa do Minnesota Wild.
Mas, ao contrário do que se pode imaginar a princípio,
não foi culpa dos juízes, que constantemente ignoram as
regras e deixam o agarra-agarra e a empurra-empurra se tornarem o atual
jogo de hóquei. E também não foi culpa da NHL,
sempre apontada como culpada de tudo de ruim que acontece no esporte.
Com razão, aliás.
Não, desta vez a culpa, se é que se pode chamar assim,
era dos próprios jogadores, mais interessados em se divertir
do que em tentar ganhar a partida a qualquer custo.
Sim, estou falando do Jogo das Estrelas.
Quando assisti ao meu primeiro Jogo das Estrelas, em 1993-94, achei
uma idéia interessante. Era algo que não tínhamos
no Brasil, que servia para integrar torcida e jogadores. Mas hoje já
não penso da mesma maneira.
A novidade acabou. Rápido, aliás. Sei que é um
clichê dizer que o Jogo das Estrelas não tem contato físico,
mas não dá para escapar dele.
O jogo é chato de se assistir, não tem a mesma intensidade
de um jogo que vale alguma coisa, mesmo que estejamos falando de um
Penguins x Blue Jackets no final de março. Realmente, ele serve
para integrar jogadores e torcida. Mas só a torcida que está
no estádio, que pagou algumas muitas dezenas de dólares
(melhor nem tentar converter para o nosso caidinho real, para a coisa
não ficar ainda pior) pelo seu ingresso e pôde vaiar Todd
Bertuzzi cada vez que ele ficava com o disco - ele é odiado em
Minnesota desde o confronto entre Wild e Canucks, nos playoffs dos ano
passado. Quem assiste pela televisão não tem, nem de longe,
a mesma experiência.
E o que dizer de um jogo que interessa ainda menos, porque não
tem jogadores de alguns times? Torcedores de Mighty Ducks, Sabres, Hurricanes,
Blackhawks, Oilers e Penguins tiveram ainda menos motivos para assistir
à partida pela TV.
Dejan Kovacevic, colunista do jornal Pittsburgh Post-Gazette, deve ter
acertado a canela da NHL com as linhas a seguir: "O hóquei
tende a ter um público regionalizado. A audiência é
razoavelmente alta em cidades que têm um time na NHL, mas extremamente
baixa naquelas que não têm. Seguindo a lógica, a
liga, em seu último ano de contrato com a [rede de televisão]
ABC, deveria aproveitar seus pontos fortes. Ao invés disso, opta
por deixar de fora cidades, com o objetivo de ter um Jogo das Estrelas
mais competitivo, como se o evento tivesse alguma competitividade na
última década. Qual é o sentido de diminuir o interesse
em 20% das cidades com presença da NHL?"
E a NHL nem precisaria ter apelado, como o fez em 1992-93, quando, apenas
para ter alguém dos então trágicos Senators, convocou
o goleiro Peter Sidorkiewicz, que acabou por terminar a temporada com
nada honrosos 3-30-3 (12,5% de aproveitamento). O quarto maior artilheiro
de todos os tempos, Ron Francis, dos Canes, foi esnobado. Dick Tarnström,
defensor (e artilheiro) dos Penguins, o 11.º zagueiro na artilharia,
certamente não envergonharia ninguém. E que tal Sergei
Fedorov, do Anaheim, Miroslav Satan, do Buffalo, e Jason Smith, do Edmonton?
A coisa só se complicaria, mesmo, na hora de selecionar alguém
de Chicago. Mas, mesmo ali, por que não convocar Steve Sullivan
e registrar mais que um traço na audiência da terceira
maior cidade norte-americana?
Já que os jogadores são, disparado, os que mais se divertem,
isso ainda daria a eles a oportunidade de reencontrar outros amigos,
que não os que vê sempre no vestiário de seu time,
em alguns casos. Sim, porque uma das maiores diversões para os
jogadores é justamente a integração com seus colegas
de profissão.
"Pergunte a qualquer jogador: a melhor parte do Jogo das Estrelas
é o dia anterior e dividir o vestiário com todo o pessoal",
lembra Joe Sakic, que foi eleito o melhor jogador do evento de domingo.
"Você vê seus amigos do resto da liga ou conhece novos
caras, a camaradagem construída no vestiário; é
muito divertido. E é um fim de semana relaxante. Provavelmente
por isso o jogo não é tão intenso."
E provavelmente por isso eu não faço mais tanta questão
de assistir a ele.
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Alexandre
Giesbrecht, publicitário, gravou as edições
do Jogo das Estrelas de 1993-94, 1995-96 e 1996-97. Depois, desistiu. |
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ESSE POVO SE DIVERTIU Os jogadores
, como Gary Roberts, Mats Sundin e Daniel Alfredsson, certamente
adoraram o jogo . Na foto, praticamente o único contato físico
entre participantes do Jogo das Estrelas (Jeff Roberson/AP - 08/02/04) |
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ESSE POVO SE DIVERTIU Além
dos jogadores, os únicos que se divertem no Jogo das Estrelas
são os torcedores que vão ao estádio (Bruce
Bisping/Star Tribune - 08/02/04) |
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