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16 de janeiro de 2004
Um goleiro reserva que entra para a história

Por Marcelo Constantino

Nesta temporada os goleiros estão protagonizando histórias que cabem muito bem num velho chavão: "As voltas que o mundo dá". Em Detroit, Curtis Joseph saiu da condição de defenestrado, rifado e relegado ao time afiliado da liga menor para a de goleiro número 1 dos Red Wings. Em Phoenix, apenas alguns meses atrás, ninguém queria Brian Boucher. Da mesma forma que CuJo, ele foi deixado desprotegido no recrutamento da desistência, no começo da temporada, e nenhum time o selecionou. A comissão técnica não estava satisfeita com a produção dele e então os Coyotes buscaram negociá-lo, tal qual CuJo. Mesmo resultado, ninguém quis.

Agora ele é o fenomenal Boucher, que quebrou um recorde de 55 anos da era moderna da NHL, com cinco shutouts seguidos e 332:01 sem levar gol.

Esse norte-americano de 26 anos de idade teve um início promissor na NHL. Foi recrutado na primeira rodada (22o geral) de 1995 pelo Philadelphia Flyers. Logo depois, em 1997, conquistou a medalha de prata pela seleção americana no campeonato mundial de juniores [LINK ED. 31]. Na temporada de 1999-2000 terminou com a melhor média de gols sofridos por um novato (1.91) desde 1950-51 e levou os Flyers a uma vitória das finais da Copa Stanley, mas perdeu os jogos 5 e 7 para o New Jersey Devils na final de conferência. Sim, aquela série daquela longa partida decidida pelo gol de Keith Primeau. Sim, aquela série em que Scott Stevens praticamente arrasou com a carreira de Eric Lindros.

Em 2000-01 Roman Cechmanek foi alçado à posição de goleiro No. 1 dos Flyers e Boucher caiu para uma média de 3.27 gols por jogo. Ele começou bem a temporada, mas contundiu-se e viu Cechmanek assinar um contrato de três anos que selava a posição de No. 1 do gol para ele. Acabou negociado junto com uma escolha de terceira rodada para os Coyotes em 2002 por Michal Handzus e Robert Esche. Como reserva de Sean Burke não impressionava tanto como nos primeiros meses de Philadelphia.

Depois do constrangimento da exposição ao recrutamento da desistência, estreou na temporada levando cinco gols. Era o terceiro goleiro do time até que Zac Bierk se contundiu no início de novembro.

Com Bierk contundido, ele entrou no time para que Burke descansasse na partida de 31 de dezembro (até então Boucher sequer estava treinando com o time). Foi onde tudo começou. Vitória de 4-0 sobre os Kings, depois 6-0 sobre os Stars, 3-0 sobre os Hurricanes, 3-0 sobre os Capitals e 2-0 sobre o Wild. Cinco shutouts seguidos. Boucher começou a temporada com apenas sete em quatro temporadas.

Na vitória contra o Wild ele quebrou os dois recordes e acumulou 146 defesas durante o período. O recorde antigo é de 309:21 e quatro shutouts consecutivos, por Bill Durnan em 1949 pelo Montreal.

A chamada era moderna da NHL começou em 1943-44, quando foi colocada a linha vermelha central. Na história completa da NHL, a marca de Boucher fica em terceiro lugar, atrás de George Hainsworth, do Montreal, que ficou mais de 343 minutos sem levar um gol em 1928-29, e Alex Connell, do Ottawa, com 460 minutos em 1927-28 e seis shutouts seguidos.

Diante de um feito que o coloca definitivamente na história da liga, como ele reagiu naqueles minutos em que estava quebrando o recorde, na partida contra o Minnesota? "Eu realmente olhei para o relógio", diz Boucher. "Quando eu vi que faltavam acho que uns quatro minutos para o fim eu sabia que podia respirar tranqüilamente. Provavelmente foi a primeira vez que eu realmente estava contando o tempo. Odeio fazer isso, mas eu não sei se alguém ignoraria. Fiquei feliz que havia acabado, então poderíamos nos concentrar em apenas vencer a partida. Ainda não parei para pensar muito nisso. Quer dizer, não sei explicar o que está acontecendo. Como eu já disse, fiquei 85 jogos sem um shutout e agora eu tenho cinco seguidos. Quero apenas curtir cada minuto disso."

A bela seqüência terminou no último domingo com um disparo de Randy Robitaille, que desviou no peito do defensor David Tanabe e acabou dentro da rede, durante uma vantagem numérica do Atlanta Thrashers. Eram 6:16 do 1o período. Foi o primeiro gol em 147 tentativas. Sem chance para Boucher, cujas luvas estão a caminho do Salão da Fama do Hóquei, em Toronto.

Ainda reserva? --
E então, Boucher voltaria para a reserva? Ele ainda é o goleiro reserva de Sean Burke, outro ex-goleiro dos Flyers. O técnico Bob Francis encerra o assunto: "Sean é o nosso goleiro No. 1". Ainda mais que Burke tem 298 vitórias no currículo e certamente anseia chegar logo a 300a. Boucher sabe de seu papel: "Sean é o nosso goleiro principal, todos sabem disso. Eu me sinto bem no momento e quando você está jogando bem, você quer seguir jogando. Mas Sean tem sido o goleiro por cinco anos e tenho certeza de que eles o querem de volta. Eu faço parte de um grupo e farei o que me pedirem."

Francis manteve Boucher para a partida de terça-feira contra o Vancouver Canucks, quando sua invencibilidade terminou na derrota por 4-1.

Marcelo Constantino adoraria integrar um comando de caça a quem atende telefone dentro do cinema.
 
  CONSAGRAÇÃO Depois de bater os dois recordes contra o Minnesota Wild, Brian Boucher recebe o reconhecimento dos torcedores locais (Jim Mone/AP - 09/01/2004)

 

AS MAIS LONGAS SEQÜÊNCIAS
Goleiro
Duração
Ano
Brian Boucher, Pho
332:01
2003-4
Bill Durnan, Mon
309:21
1949
Turk Broda, Tor
245:33
1950
J.S. Giguere, Ana
237:07
2002
John Vanbiesbrouck, Phi
227:40
1999

 

O QUE ELES FALARAM
Técnico Bob Francis: "Boucher tem sido um mestre nos últimos jogos."

Manny Legace, goleiro reserva do Detroit Red Wings: "É insano, pra ser sincero. É fenomenal. É difícil conseguir sequer um [shutout]. Eu consegui um nos últimos dois anos e eu jogo num time muito bom."

Bob Hartley, técnico do Atlanta Thrashers: "Impressionante. Eui gostaria de cumprimentá-lo."

Byron Dafoe, goleiro do Atlanta Thrashers: "Há 60 outros goleiros na liga tirando o chapéu para ele. Não creio que [o recorde] vá ser quebrado, certamente não durante a minha vida"

 

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Página publicada em 14 de janeiro de 2004.