Por
Humberto Fernandes
As histórias profissionais de Bruce Cassidy, ex-treinador do
Washington Capitals, e Paul Maurice, ex-treinador do Carolina Hurricanes,
seguiram rumos bem distintos até os acontecimentos da última
semana.
Bruce Cassidy despontou para o hóquei como um
valioso prospecto, sendo escolhido na primeira rodada do recrutamento
de 1983 pelo Chicago Blackhawks. Porém, sua carreira na NHL foi
um desastre, atuando em apenas 36 jogos. Teve de se contentar em jogar
nas outras ligas menores da América, até tornar-se treinador
aos 31 anos.
Cassidy não tinha qualquer experiência como treinador na
NHL quando foi contratado pelos Capitals em junho de 2002. Trazia na
bagagem apenas cinco temporadas entre ligas menores e seu cartão
de visita destacava o sucesso como treinador do Grand-Rapids Griffins.
Seu nome estará na história dos Capitals apenas como mais
um treinador decapitado, cujo maior feito foi levar o time aos playoffs
na temporada passada, sendo eliminado pelo Tampa Bay Lightning na primeira
rodada. Durou apenas 28 jogos nesse ano dirigindo o time que liderava
a liga em derrotas.
"Isso [a demissão] foi baseado em nossa campanha e na performance
do time", declarou o gerente geral George McPhee. "Como um
gerente, você está sempre analisando os jogadores e treinadores
[...]. O que é perceptível é que você tem
quatro ou cinco caras indo excepcionalmente bem e cinco ou seis não
desempenhando todo seu potencial [...]".
Cassidy não mantinha uma boa relação com seus jogadores,
fato agravado pelos problemas de comunicar-se com Jaromir Jagr. Dizem
até que a estrela tcheca escolhia seus companheiros de linha
e dava sugestões de estratégia por trás do treinador.
Essa situação caótica tornou-se inaceitável
quando Cassidy perdeu a cabeça e declarou não importar-se
com os problemas familiares dos jogadores.
Duas derrotas depois e a aguardada demissão aconteceu. "Nós
ainda temos a intenção de ir aos playoffs", disse
McPhee, "e se nós não fizéssemos isso agora,
poderíamos não ser capazes de chegar lá".
O novo treinador da equipe é Glen Hanlon, que era um dos favoritos
para assumir o cargo quando Cassidy foi escolhido. É a chance
de McPhee consertar o erro de ter escolhido um treinador da AHL de outra
organização ao invés do treinador de seu próprio
time afiliado.
Essa mudança deveria ter sido feita semanas atrás, quando
a temporada ainda não estava perdida.
Paul Maurice não teve a mesma sorte e foi selecionado
pelo Philadelphia Flyers na longínqua 12ª rodada do recrutamento
de 1985. Sua curta carreira como jogador durou quatro temporadas e ele
somente conheceria o hóquei da NHL anos mais tarde como treinador,
profissão iniciada aos 26 anos.
Maurice foi efetivado como treinador do Hartford Whalers em 1995-96,
após duas ótimas temporadas em uma liga menor. Comandou
os Whalers e mudou-se com eles para Carolina, onde renasceram como Hurricanes.
Sua história profissional se mistura com a da equipe, por ter
sido seu único comandante, e não será fácil
substituir os feitos que o segundo mais jovem treinador da história
da NHL deixou na Carolina. Foram 674 jogos, com 268 vitórias
na temporada regular e dois títulos de divisão, em 1999
e 2002, sendo que neste último levou o time ao vice-campeonato
da Copa Stanley.
Resistiu no emprego durante 30 jogos com o pior ataque da liga, até
ser demitido em sua nona temporada à frente da equipe. Considerando-se
que Maurice sobreviveu ao vexame da última colocação
da temporada passada em virtude de sua importância na organização,
a gerência teve sensatez e paciência antes de tomar qualquer
decisão.
"Paul Maurice foi um treinador excepcional para essa equipe e uma
parte importante da construção dessa franquia na Carolina
do Norte", declarou o gerente geral Jim Rutherford. "[...]
eu ainda sinto que esse time tem chances esse ano com 52 jogos restando.
Eu sinto que nós precisávamos ter algumas idéias
frescas em nosso vestiário".
Os Hurricanes tinham uma boa expectativa para essa temporada com a aquisição
de reforços para a defesa Danny Markov, Bob Boughner e
a volta de Glen Wesley. Entretanto, não será Maurice quem
poderá colher os louros de eventuais vitórias. Peter Laviolette,
ex-treinador do New York Islanders, é quem vai guiar a equipe
daqui pra frente.
Laviolette fez um belo trabalho em New York levando os Islanders de
volta aos playoffs na temporada retrasada. Repetiu a dose e surpreendentemente
foi demitido em junho.
Maurice era o treinador há mais tempo empregado na mesma equipe.
Essa "honra" agora pertence a Jacques Martin, do Ottawa Senators.
Outros treinadores em perigo: Dave Tippett (Dallas
Stars), Lindy Ruff (Buffalo Sabres) e Brian Sutter (Chicago Blackhawks).
Tippett era treinador dos times especiais dos Los Angeles Kings quando
foi contratado pelos Stars na temporada passada e fez um ótimo
trabalho. Ruff sempre teve crédito por montar um time competitivo,
o que não acontece pelo segundo ano consecutivo em Buffalo. Sutter
sofre pela ausência dos principais jogadores da equipe por contusão,
embora possua alguns bons prospectos no elenco.
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Humberto Fernandes não consegue parar
de ouvir a música "Hero of the Day", do álbum
S&M, do Metallica. |
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PELAS COSTAS Jaromir Jagr
(ao centro) não se relacionava com o ex-treinador Bruce Cassidy,
demitido após diversos problemas com o elenco do Washington
Capitals (Joe Giza/Reuters - 10/12/2003) |
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DESILUSÃO Pela primeira
vez em toda sua história o Carolina Hurricanes não
terá Paul Maurice comandando a equipe. O fiasco da temporada
passada aliado à má campanha desse ano causaram a
demissão do treinador (Paul Sancya/AP - 13/06/2002) |
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