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19 de dezembro de 2003
Duas histórias bem diferentes mas com um mesmo fim

Por Humberto Fernandes

As histórias profissionais de Bruce Cassidy, ex-treinador do Washington Capitals, e Paul Maurice, ex-treinador do Carolina Hurricanes, seguiram rumos bem distintos até os acontecimentos da última semana.

Bruce Cassidy despontou para o hóquei como um valioso prospecto, sendo escolhido na primeira rodada do recrutamento de 1983 pelo Chicago Blackhawks. Porém, sua carreira na NHL foi um desastre, atuando em apenas 36 jogos. Teve de se contentar em jogar nas outras ligas menores da América, até tornar-se treinador aos 31 anos.

Cassidy não tinha qualquer experiência como treinador na NHL quando foi contratado pelos Capitals em junho de 2002. Trazia na bagagem apenas cinco temporadas entre ligas menores e seu cartão de visita destacava o sucesso como treinador do Grand-Rapids Griffins.

Seu nome estará na história dos Capitals apenas como mais um treinador decapitado, cujo maior feito foi levar o time aos playoffs na temporada passada, sendo eliminado pelo Tampa Bay Lightning na primeira rodada. Durou apenas 28 jogos nesse ano dirigindo o time que liderava a liga em derrotas.

"Isso [a demissão] foi baseado em nossa campanha e na performance do time", declarou o gerente geral George McPhee. "Como um gerente, você está sempre analisando os jogadores e treinadores [...]. O que é perceptível é que você tem quatro ou cinco caras indo excepcionalmente bem e cinco ou seis não desempenhando todo seu potencial [...]".

Cassidy não mantinha uma boa relação com seus jogadores, fato agravado pelos problemas de comunicar-se com Jaromir Jagr. Dizem até que a estrela tcheca escolhia seus companheiros de linha e dava sugestões de estratégia por trás do treinador. Essa situação caótica tornou-se inaceitável quando Cassidy perdeu a cabeça e declarou não importar-se com os problemas familiares dos jogadores.

Duas derrotas depois e a aguardada demissão aconteceu. "Nós ainda temos a intenção de ir aos playoffs", disse McPhee, "e se nós não fizéssemos isso agora, poderíamos não ser capazes de chegar lá".

O novo treinador da equipe é Glen Hanlon, que era um dos favoritos para assumir o cargo quando Cassidy foi escolhido. É a chance de McPhee consertar o erro de ter escolhido um treinador da AHL de outra organização ao invés do treinador de seu próprio time afiliado.

Essa mudança deveria ter sido feita semanas atrás, quando a temporada ainda não estava perdida.

Paul Maurice não teve a mesma sorte e foi selecionado pelo Philadelphia Flyers na longínqua 12ª rodada do recrutamento de 1985. Sua curta carreira como jogador durou quatro temporadas e ele somente conheceria o hóquei da NHL anos mais tarde como treinador, profissão iniciada aos 26 anos.

Maurice foi efetivado como treinador do Hartford Whalers em 1995-96, após duas ótimas temporadas em uma liga menor. Comandou os Whalers e mudou-se com eles para Carolina, onde renasceram como Hurricanes.

Sua história profissional se mistura com a da equipe, por ter sido seu único comandante, e não será fácil substituir os feitos que o segundo mais jovem treinador da história da NHL deixou na Carolina. Foram 674 jogos, com 268 vitórias na temporada regular e dois títulos de divisão, em 1999 e 2002, sendo que neste último levou o time ao vice-campeonato da Copa Stanley.

Resistiu no emprego durante 30 jogos com o pior ataque da liga, até ser demitido em sua nona temporada à frente da equipe. Considerando-se que Maurice sobreviveu ao vexame da última colocação da temporada passada em virtude de sua importância na organização, a gerência teve sensatez e paciência antes de tomar qualquer decisão.

"Paul Maurice foi um treinador excepcional para essa equipe e uma parte importante da construção dessa franquia na Carolina do Norte", declarou o gerente geral Jim Rutherford. "[...] eu ainda sinto que esse time tem chances esse ano com 52 jogos restando. Eu sinto que nós precisávamos ter algumas idéias frescas em nosso vestiário".

Os Hurricanes tinham uma boa expectativa para essa temporada com a aquisição de reforços para a defesa — Danny Markov, Bob Boughner e a volta de Glen Wesley. Entretanto, não será Maurice quem poderá colher os louros de eventuais vitórias. Peter Laviolette, ex-treinador do New York Islanders, é quem vai guiar a equipe daqui pra frente.

Laviolette fez um belo trabalho em New York levando os Islanders de volta aos playoffs na temporada retrasada. Repetiu a dose e surpreendentemente foi demitido em junho.

Maurice era o treinador há mais tempo empregado na mesma equipe. Essa "honra" agora pertence a Jacques Martin, do Ottawa Senators.

Outros treinadores em perigo: Dave Tippett (Dallas Stars), Lindy Ruff (Buffalo Sabres) e Brian Sutter (Chicago Blackhawks). Tippett era treinador dos times especiais dos Los Angeles Kings quando foi contratado pelos Stars na temporada passada e fez um ótimo trabalho. Ruff sempre teve crédito por montar um time competitivo, o que não acontece pelo segundo ano consecutivo em Buffalo. Sutter sofre pela ausência dos principais jogadores da equipe por contusão, embora possua alguns bons prospectos no elenco.

Humberto Fernandes não consegue parar de ouvir a música "Hero of the Day", do álbum S&M, do Metallica.
 
  PELAS COSTAS Jaromir Jagr (ao centro) não se relacionava com o ex-treinador Bruce Cassidy, demitido após diversos problemas com o elenco do Washington Capitals (Joe Giza/Reuters - 10/12/2003)
   
 
  DESILUSÃO Pela primeira vez em toda sua história o Carolina Hurricanes não terá Paul Maurice comandando a equipe. O fiasco da temporada passada aliado à má campanha desse ano causaram a demissão do treinador (Paul Sancya/AP - 13/06/2002)

 

 

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Página publicada em 17 de dezembro de 2003.