Por
Marcelo Constantino
Logo após a partida contra o Los Angeles Kings, na segunda-feira retrasada,
quando Brett Hull marcou seu gol de número 732 e tornou-se o terceiro
maior goleador da história da NHL, veio a primeira notícia: Chris Chelios
machucara o joelho durante o jogo e ficaria fora do time de 3 a 4 semanas.
Até ali o Detroit Red Wings já vinha jogando sem Derian Hatcher (praticamente
fora da temporada), Darren McCarty (retorno previsto para janeiro),
Ray Whitney (que voltou contra os Kings e agravou sua contusão) e Tomas
Holmstrom (retorno ainda este ano), Henrik Zetterberg (retorno ainda
este ano).
No que foi uma verdadeira terça-feira negra para o time, chegaram novas
notícias: o goleiro titular Dominik Hasek agravara sua contusão na virilha
e estaria fora do time nas próximas semanas; Manny Legace também se
machucara durante o aquecimento para o jogo contra os Kings; Steve Thomas
precisava de uma cirurgia de artroscopia no joelho e perderia 5 a 6
semanas; e Steve Yzerman sentira novamente a panturrilha.
Pronto. Nada menos que dez jogadores de uma só vez na enfermaria. De
uma tacada só o time estava sem seu goleiro titular e sem o reserva,
estava sem uma dupla de defesa do quilate de Hatcher-Chelios e sem duas
linhas inteiras de ataque. Hockeytown estava se preparando para assistir
a um time misto de Detroit Red Wings e Grand-Rapids Griffins, o time
afiliado. E lá estavam no gelo nomes como os dos atacantes Mark Mowers,
Jiri Hudler, Darryl Bootland, Nathan Robinson, Ryan Barnes e Kevin Miller,
os defensores Jamie Rivers e Niklas Kronwall, o goleiro reserva Joey
MacDonald, e o novo goleiro titular do time (ao menos por esses dias):
Curtis Joseph.
Joseph estava seguindo de ônibus com os Griffins para um jogo em Cleveland
quando recebeu a notícia de que ele estava sendo convocado novamente
para a NHL. Ele e Hudler alugaram um carro e lá se foram os dois dirigindo
para Buffalo, onde atuariam pelos Wings contra os Sabres.
Felizmente para o Detroit a semana a seguir não era difícil: mesmo com
três jogos fora de casa, os adversários eram os fracos Sabres, os horríveis
Blackhawks, os lamentáveis Capitals e os fracos Panthers.
Mas o melhor de tudo mesmo era que havia um Doutor na equipe que manteria
esse time -- meio Red Wings, meio Griffins -- entre os grandes da liga:
o Dr. Pavel Datsyuk. O jovem russo, em seu terceiro ano de NHL, já vinha
muito bem na temporada, mas endiabrou durante a semana e passou a ser
o principal jogador do time. Se o MVP até então vinha sendo seu companheiro
cativo de linha, Brett Hull (sim, pela primeira vez em vários anos,
o MVP dos Red Wings não é Nicklas Lidstrom), na semana passada
a balança mudou. Simplesmente Datsyuk lidera a NHL em pontos.
Nos quatro jogos entre 10 e 15 de dezembro, o jovem Pavel marcou nada
menos que 11 pontos, com gols e assistências em todos os jogos.
Ele comandou esse time que meteu goleadas sobre os Sabres por 7-2 (2
gols e uma assistência), Capitals por 5-1 (2 gols e 2 assistências)
e Panthers por 4-1 (um gol e uma assistência), e foi derrotado na prorrogação
pelos Hawks (um gol e uma assistência).
Brett Hull é taxativo, ainda que exagerado: "Ele deve ser o jogador
mais talentoso da liga". E tome elogio, agora por parte do técnico Dave
Lewis: "O mais importante é que temos todas essas contusões, mas Pavel
tomou a frente. Temos todos esses veteranos, mas foi ele que assumiu
o comando do time". E tem mais: já que o russo lidera a liga em pontos,
já começou a gritaria para que ele seja selecionado para o Jogo das
Estrelas. Datsyuk está realmente de bola (ou disco?) cheia(o).
Sejamos justos, não é apenas por causa de Datsyuk que o time se manteve.
Além dele e de Hull, o central Kris Draper tem brilhado como nunca (marcou
gol nas três primeiras partidas da semana) e recebido um tempo de gelo
que nunca vira antes. Os defensores Mathieu Schneider e Jason Woolley
têm feito uma temporada formidável, num nível superior ao de Lidstrom
e Chelios.
Os Red Wings parecem jogar cada vez melhor, a despeito de cada vez mais
contusões afetarem o time. Por mais estranho que pareça. Seja a energia
nova trazida pelos garotos do time afiliado, seja a maior responsabilidade
concedida aos titulares remanescentes, o fato é que o time alcançou
os resultados que deveria alcançar caso estivesse completo.
Os Griffins -- Ao menos toda essa confusão de contusões tem servido
para observar melhor a garotada advinda dos Grand Rapids. Se Hudler,
de 19 anos de idade, era tido como a grande esperança dentre os jovens,
um péssimo começo na NHL acabou rebaixando-o de volta aos Griffins.
Ele voltou agora e tem feito boas partidas. De todos os jogadores chamados
para cobrir buracos, Mowers é o que tem mais confiança da comissão técnica.
Trata-se de um veterano jogador de ligas menores, com 29 anos de idade.
O amigo Humberto Fernandes, conhecedor dos Griffins, informa que ele
já era tido como o mais completo dos jogadores do time afiliado do Detroit.
Mowers é o que tem mais tempo de gelo e um dos poucos que atua regularmente
em times especiais.
Outro destaque é o defensor Kronwall, que impressionou bastante o técnico
Lewis, que lhe deu um considerável tempo de jogo (média
de 14 minutos por partida), em se tratando de um novato que jogava suas
primeiras partidas na NHL.
CuJo e o imbróglio dos goleiros -- Joseph teve a oportunidade de
começar quatro partidas seguidas pelo time e, concedidos os devidos
descontos a um goleiro que não tem jogado regularmente, saiu-se bem,
com exceção do lamentável gol sofrido na prorrogação contra os Blackhawks,
em partida transmitida pela ESPN de madrugada para o Brasil. Vem melhorando
progressivamente, como demonstrou nas partidas contra os Caps e Panthers,
levando apenas um gol em cada uma. Ainda assim, CuJo não transmite confiança,
problema que carrega desde seus primeiros jogos com a camisa dos Wings.
O problema dos goleiros dos Red Wings, excelente assunto para uma matéria
futura, é simples: nem Dominik Hasek, nem CuJo, hoje, transmitem a confiança
necessária ao time. Manny Legace sempre atua bem nas partidas em que
é escalado, mas não é um goleiro que vai liderar um time ao título.
Resultado: a franquia gasta mais de US$ 15 milhões com goleiros que
não geram confiança. Até aqui tudo bem, o time tem superado isso. Mas
o que importa no fim das contas são os playoffs.
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Marcelo
Constantino seguiu de férias (ou folga prolongada)
para a cidade do time atual campeão mundial interclubes
de futebol. |
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BRETT HULL: 732 GOLS O gol
que tornou Brett Hull o terceiro maior goleador da história
da liga veio na prorrogação contra os Kings, um dia
antes da terça-feira negra (Paul Sancya/AP - 08/12/2003) |
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OS PACIENTES DO HOSPITAL Hatcher,
McCarty, Zetterberg, Holmstrom, Yzerman, Whitney, Hasek, Chelios
e Thomas. E ainda falta o goleiro reserva, Legace (fotomontagem
The Slot BR) |
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DUPLA DINÂMICA Quando
todos apostavam na reedição da dupla Selanne-Kariya
nos Avs, é a dupla Datsyuk-Hull que mais faz sucesso na liga
hoje em dia. Pavel lidera a NHL em pontos, algo que não acontecia
com um jogador do Detroit desde Sergei Fedorov em 1994 (Paul Sancya/AP
- 19/11/2003) |
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