Edição n.º 62 | Editorial | Colunas | Rankings da Slot | Notas | Fotos
 
19 de dezembro de 2003
Hospital Detroit

Por Marcelo Constantino

Logo após a partida contra o Los Angeles Kings, na segunda-feira retrasada, quando Brett Hull marcou seu gol de número 732 e tornou-se o terceiro maior goleador da história da NHL, veio a primeira notícia: Chris Chelios machucara o joelho durante o jogo e ficaria fora do time de 3 a 4 semanas.

Até ali o Detroit Red Wings já vinha jogando sem Derian Hatcher (praticamente fora da temporada), Darren McCarty (retorno previsto para janeiro), Ray Whitney (que voltou contra os Kings e agravou sua contusão) e Tomas Holmstrom (retorno ainda este ano), Henrik Zetterberg (retorno ainda este ano).

No que foi uma verdadeira terça-feira negra para o time, chegaram novas notícias: o goleiro titular Dominik Hasek agravara sua contusão na virilha e estaria fora do time nas próximas semanas; Manny Legace também se machucara durante o aquecimento para o jogo contra os Kings; Steve Thomas precisava de uma cirurgia de artroscopia no joelho e perderia 5 a 6 semanas; e Steve Yzerman sentira novamente a panturrilha.

Pronto. Nada menos que dez jogadores de uma só vez na enfermaria. De uma tacada só o time estava sem seu goleiro titular e sem o reserva, estava sem uma dupla de defesa do quilate de Hatcher-Chelios e sem duas linhas inteiras de ataque. Hockeytown estava se preparando para assistir a um time misto de Detroit Red Wings e Grand-Rapids Griffins, o time afiliado. E lá estavam no gelo nomes como os dos atacantes Mark Mowers, Jiri Hudler, Darryl Bootland, Nathan Robinson, Ryan Barnes e Kevin Miller, os defensores Jamie Rivers e Niklas Kronwall, o goleiro reserva Joey MacDonald, e o novo goleiro titular do time (ao menos por esses dias): Curtis Joseph.

Joseph estava seguindo de ônibus com os Griffins para um jogo em Cleveland quando recebeu a notícia de que ele estava sendo convocado novamente para a NHL. Ele e Hudler alugaram um carro e lá se foram os dois dirigindo para Buffalo, onde atuariam pelos Wings contra os Sabres.

Felizmente para o Detroit a semana a seguir não era difícil: mesmo com três jogos fora de casa, os adversários eram os fracos Sabres, os horríveis Blackhawks, os lamentáveis Capitals e os fracos Panthers.

Mas o melhor de tudo mesmo era que havia um Doutor na equipe que manteria esse time -- meio Red Wings, meio Griffins -- entre os grandes da liga: o Dr. Pavel Datsyuk. O jovem russo, em seu terceiro ano de NHL, já vinha muito bem na temporada, mas endiabrou durante a semana e passou a ser o principal jogador do time. Se o MVP até então vinha sendo seu companheiro cativo de linha, Brett Hull (sim, pela primeira vez em vários anos, o MVP dos Red Wings não é Nicklas Lidstrom), na semana passada a balança mudou. Simplesmente Datsyuk lidera a NHL em pontos.

Nos quatro jogos entre 10 e 15 de dezembro, o jovem Pavel marcou nada menos que 11 pontos, com gols e assistências em todos os jogos. Ele comandou esse time que meteu goleadas sobre os Sabres por 7-2 (2 gols e uma assistência), Capitals por 5-1 (2 gols e 2 assistências) e Panthers por 4-1 (um gol e uma assistência), e foi derrotado na prorrogação pelos Hawks (um gol e uma assistência).

Brett Hull é taxativo, ainda que exagerado: "Ele deve ser o jogador mais talentoso da liga". E tome elogio, agora por parte do técnico Dave Lewis: "O mais importante é que temos todas essas contusões, mas Pavel tomou a frente. Temos todos esses veteranos, mas foi ele que assumiu o comando do time". E tem mais: já que o russo lidera a liga em pontos, já começou a gritaria para que ele seja selecionado para o Jogo das Estrelas. Datsyuk está realmente de bola (ou disco?) cheia(o).

Sejamos justos, não é apenas por causa de Datsyuk que o time se manteve. Além dele e de Hull, o central Kris Draper tem brilhado como nunca (marcou gol nas três primeiras partidas da semana) e recebido um tempo de gelo que nunca vira antes. Os defensores Mathieu Schneider e Jason Woolley têm feito uma temporada formidável, num nível superior ao de Lidstrom e Chelios.

Os Red Wings parecem jogar cada vez melhor, a despeito de cada vez mais contusões afetarem o time. Por mais estranho que pareça. Seja a energia nova trazida pelos garotos do time afiliado, seja a maior responsabilidade concedida aos titulares remanescentes, o fato é que o time alcançou os resultados que deveria alcançar caso estivesse completo.

Os Griffins --
Ao menos toda essa confusão de contusões tem servido para observar melhor a garotada advinda dos Grand Rapids. Se Hudler, de 19 anos de idade, era tido como a grande esperança dentre os jovens, um péssimo começo na NHL acabou rebaixando-o de volta aos Griffins. Ele voltou agora e tem feito boas partidas. De todos os jogadores chamados para cobrir buracos, Mowers é o que tem mais confiança da comissão técnica. Trata-se de um veterano jogador de ligas menores, com 29 anos de idade. O amigo Humberto Fernandes, conhecedor dos Griffins, informa que ele já era tido como o mais completo dos jogadores do time afiliado do Detroit. Mowers é o que tem mais tempo de gelo e um dos poucos que atua regularmente em times especiais.

Outro destaque é o defensor Kronwall, que impressionou bastante o técnico Lewis, que lhe deu um considerável tempo de jogo (média de 14 minutos por partida), em se tratando de um novato que jogava suas primeiras partidas na NHL.

CuJo e o imbróglio dos goleiros --
Joseph teve a oportunidade de começar quatro partidas seguidas pelo time e, concedidos os devidos descontos a um goleiro que não tem jogado regularmente, saiu-se bem, com exceção do lamentável gol sofrido na prorrogação contra os Blackhawks, em partida transmitida pela ESPN de madrugada para o Brasil. Vem melhorando progressivamente, como demonstrou nas partidas contra os Caps e Panthers, levando apenas um gol em cada uma. Ainda assim, CuJo não transmite confiança, problema que carrega desde seus primeiros jogos com a camisa dos Wings.

O problema dos goleiros dos Red Wings, excelente assunto para uma matéria futura, é simples: nem Dominik Hasek, nem CuJo, hoje, transmitem a confiança necessária ao time. Manny Legace sempre atua bem nas partidas em que é escalado, mas não é um goleiro que vai liderar um time ao título. Resultado: a franquia gasta mais de US$ 15 milhões com goleiros que não geram confiança. Até aqui tudo bem, o time tem superado isso. Mas o que importa no fim das contas são os playoffs.

Marcelo Constantino seguiu de férias (ou folga prolongada) para a cidade do time atual campeão mundial interclubes de futebol.
 
  BRETT HULL: 732 GOLS O gol que tornou Brett Hull o terceiro maior goleador da história da liga veio na prorrogação contra os Kings, um dia antes da terça-feira negra (Paul Sancya/AP - 08/12/2003)
   
 
  OS PACIENTES DO HOSPITAL Hatcher, McCarty, Zetterberg, Holmstrom, Yzerman, Whitney, Hasek, Chelios e Thomas. E ainda falta o goleiro reserva, Legace (fotomontagem The Slot BR)
   
 
  DUPLA DINÂMICA Quando todos apostavam na reedição da dupla Selanne-Kariya nos Avs, é a dupla Datsyuk-Hull que mais faz sucesso na liga hoje em dia. Pavel lidera a NHL em pontos, algo que não acontecia com um jogador do Detroit desde Sergei Fedorov em 1994 (Paul Sancya/AP - 19/11/2003)

 

 

Edição atual | Edições anteriores | Sobre The Slot BR | Contato | Envie esta matéria para um amigo
© 2002-03 The Slot BR. Todos os direitos reservados.
É permitida a republicação do conteúdo escrito, desde que citada a fonte.
Página publicada em 17 de dezembro de 2003.