Por
Marcelo Constantino
As expectativas do Anaheim Mighty Ducks para esta temporada estavam
muito além de uma mera luta para chegar aos playoffs. Um surpreendente
vice-campeonato após uma belíssima campanha em 2003 credenciavam o time
da Disney a uma temporada como um dos grandes do Oeste, ainda que poderosas
forças como Avs, Wings, Canucks e Stars (este último em tese) estivessem
na mesma conferência.
Para esta temporada, o time sofreu uma baixa considerável: o melhor
jogador de sua breve história, Paul Kariya, recusou a oferta da gerência
para renovar contrato e foi jogar em Denver. Kariya já não era mais
a máquina ofensiva do final dos anos 90, andava meio obscurecido pelo
sistema defensivo do técnico Mike Babcock e parecia sentir falta de
seu companheiro Teemu Selanne, ao lado de quem ele teve seus melhores
dias na liga.
Com o espaço aberto pela saída de Kariya, Sergei Fedorov foi contratado
para ser a grande (e única) estrela do time. Era o tipo de situação
que o russo almejava, depois de tantos anos na sombra de Steve Yzerman
em Detroit e ainda tendo de dividir o estrelato com Lidstrom, Shanahan,
Hull, Hasek, dentre outros.
Mas eis que os Ducks são os mais novos sofredores da famosa e epidêmica
"Síndrome do time azarão que chegou às finais na temporada anterior",
ou qualquer outro título semelhante. Depois dos Devils em 96, Panthers
em 97, Capitals em 99 e Hurricanes em 2003, agora é a vez dos Mighty
Ducks.
Não se iludam com a goleada sobre o lamentável Dallas Stars no último
domingo, porque aquilo é um dos lampejos que o time tem tido na temporada.
A vitória salvou uma semana que tinha tudo para ser pra lá de lamentável,
que começou com uma derrota diante dos fracos Blue Jackets, e agravou-se
com duas goleadas seguidas, 7-2 frente aos Red Wings, no aguardado retorno
de Fedorov a Detroit, e 6-2 diante dos ainda surpreendentes Thrashers.
Um sistema baseado essencialmente na defesa foi o ponto forte dos Ducks
nos playoffs. Era difícil pacas marcar um gol neste time, tanto pelo
sistema como pela forma excepcional do goleiro Jean-Sébastien Giguere.
Hoje o time sofre gols a rodo e Giguere amarga uma prolongada temporada
no banco, tendo de assistir a atuações e números melhores de seu reserva,
Martin Gerber. Era Gerber, aliás, que estava no gol na vitória por shutout
contra os Stars no domingo. Foi o segundo shutout do time na temporada,
ambos conseguidos com Martin no gol.
Na temporada passada eles primavam pela eficiência em vencer jogos apertados,
por um gol de diferença. A realização plena disso foi nos playoffs,
onde praticamente todas as vitórias do time saíram dessa forma. Agora
o Anaheim é o time com mais derrotas em prorrogações na liga, com cinco
nas onze disputadas. Venceu duas delas somente.
Fedorov vem fazendo um bom papel, verdade seja dita. É o líder do time
em pontos, gols e assistências e vem mantendo a mesma (ir)regularidade
de suas últimas temporadas em Detroit. Levou algumas partidas para conseguir
seu primeiro ponto com o time, mas dali em diante vem atuando como deveria
atuar o jogador mais bem pago da equipe. Conseguir um +/- positivo,
coisa habitual para ele em sua carreira com os Wings, tem sido tarefa
hercúlea para qualquer jogador do Anaheim.
Lembram-se daqueles jogadores pouco conhecidos que desandaram a fazer
surpresas nos playoffs? Pois é, retornaram ao escuro. Aquela química,
o momentum prolongado, não existe mais em Anaheim.
Steve Rucchin anda longe de ser aquele central que vimos e um Vaclav
Prospal sozinho não faz verão. Todo o corpo defensivo está passos atrás
do que estava seis meses atrás, e nem houve alterações na defesa de
lá pra cá. Mas, enfim, não são os jogadores A, B ou C que são os culpados
pela campanha decepcionante do time. Nem mesmo o mais decepcionante
deles, Giguere. O time todo realmente vem sofrendo a tal inexplicável
"Síndrome". O que pode colocar em breve o técnico Babcock na corda bamba.
Os Ducks só engrenaram realmente na temporada passada após o Jogo das
Estrelas. Pode ser que isso se repita, eles podem se recuperar, crescer
e chegar fortes aos playoffs (olha lá, Giguere!). Podem repetir também
os Sabres de 2000 que, depois do vice-campeonato de 99, chegaram aos
playoffs na oitava colocação apenas para serem eliminados pelos Flyers
na primeira fase por 4-1. Enfim, conjecturas apenas.
Se é para engrenar, esta semana é ideal para os Ducks: dois jogos contra
os rivais Sharks e ainda os fracos Oilers pela frente.
Emoções diversas no amargo regresso -- De volta a
Detroit para a primeira partida contra o time em que atou por 13 anos,
Fedorov foi recebido majoritariamente por vaias, ainda que uma parte
dos torcedores o tenham aplaudido e até levado cartazes de apoio.
Bastava ele tocar no disco e as vaias o perseguiam impiedosamente. Quando
ele marcou um gol elas vieram com mais intensidade ainda, mesmo que
acompanhada de aplausos da turma que preferia reverenciá-lo.
No fim, uma goleada definitiva de 7-2, com direito a substituição de
Giguere. Os sete gols marcados pelos Wings superaram os seis marcados
durante todas as quatro partidas de playoffs contra os Ducks em 2003.
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Marcelo
Constantino dá as dicas da semana aos cinéfilos: Albergue Espanhol, uma delícia, e Irreversível, uma angústia decrescente e fascinante |
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RETORNO A DETROIT Sergei
Fedorov entra no gelo sob aplausos de alguns torcedores de Detroit.
Mas a maioria vaiou o russo (EPA - 03/12/2003) |
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REVENDO AMIGOS Fedorov e Chelios
conversam antes da partida começar (Paul Sancya/AP - 03/12/2003) |
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EX-MURALHA Jean-Sébastien
Giguere é substituído por Martin Gerber na partida
contra os Wings (Rebecca Cook/Reuters - 03/12/2003) |
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