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7 de novembro de 2003
O que há com Jaromir Jagr?

Por Marcelo Constantino

A pergunta do título é feita por aqueles que, como eu, sempre esperam ver Jaromir Jagr disputando a liderança da NHL em pontos, sempre no topo da tabela de artilharia. Como ele sempre esteve, até ir jogar no Washington Capitals.

Quando Mario Lemieux anunciou sua aposentadoria da NHL, em 1997, as publicações esportivas que cobrem a NHL começaram a especular sobre quem assumiria o legado do eterno camisa 66 como melhor jogador do mundo. Várias eram as opções, Peter Forsberg, Paul Kariya, Eric Lindros (ele mesmo) e Jaromir Jagr eram nomes que geralmente apareciam como "candidatos".

Foi o próprio Lemieux quem entregou a faixa. "Pittsburgh ainda tem o melhor jogador do mundo", disse ele, numa referência direta a Jagr, o então camisa 68 dos Penguins.

Se há três atacantes na NHL que podemos considerar como os mais importantes da sua história, estes são Gordie Howe, Mario Lemieux e Wayne Gretzky. Os dois últimos dominaram a conquista do Troféu Art Ross entre 1981 e 1997, liderando a liga em pontos temporada depois de outra. Gretzky venceu dez vezes e Lemieux seis. Apenas um jogador quebrou esta regra durante esse período: Jagr, em 1995.

Lemieux passou-lhe a faixa em 1997 e Jagr liderou a NHL em pontos nos quatro anos seguintes. Diante de crescentes dificuldades econômicas -- e de pedidos insistentes do próprio --, o Pittsburgh Penguins negociou o craque para o Washington Capitals antes da temporada de 2001-2002, e ele nunca mais foi o mesmo.

Já se vão os tempos da fantástica linha de [Ron] Francis - Lemieux - Jagr, que tanto aterrorizou a liga na metade dos anos 90 pelos Penguins. Jagr em Washington não consegue render nada próximo do que rendia em Pittsburgh. Com exceção de um lampejo aqui e outro ali (como numa partida em que marcou sete pontos, uma vitória por 12-2 sobre os Panthers em janeiro de 2003), Jagr raramente tem sido aquele jogador dominante a que todos estávamos acostumados.

O que há com ele? Difícil saber. Encher a boca para dizer "ele nunca foi tudo isso" é negar sua história. Seja com ou sem Lemieux ao lado, Jagr sempre foi um jogador dominante não apenas para os Pens, mas para toda a NHL.

A gerência chegou a trazer Robert Lang e Kip Miller de Pittsburgh, em grande parte para ver se conseguia fazer o tcheco voltar ao brilho de outrora. Em vão. E não se pode dizer que o time do Washington dos últimos anos é inferior ao do Pittsburgh dos últimos anos de Jagr.

Fosse a queda nos números resultado de um aprimoramento do jogo defensivo, como acontece com vários jogadores de elite da liga, tudo bem. Mas não, ele permanece como um jogador essencialmente ofensivo, ainda criticado por dar pouca atenção aos aspectos defensivos do jogo. É verdade porém, que em Washington -- como na maioria dos demais times da liga -- o esquema de jogo não é focado em servir à sua estrela principal, como era em Pittsburgh. São raros os times que ainda se armam em função de um ou dois jogadores hoje em dia na NHL. Mais raros ainda, se é que existem, são os que têm sucesso desta forma.

Seja isso, sejam os problemas pessoais advindos do fim do namoro, seja qualquer outra coisa, ou seja uma mistura de tudo isso, o fato é que já passou do tempo para o tcheco mostrar serviço.

Jagr, que já conseguiu fazer com que a gerência de Pittsburgh demitisse o técnico Kevin Constantine, ultimamente tem sido visto discutindo com o técnico dos Caps, Bruce Cassidy, e reclamando de tudo: de quem Cassidy coloca na linha ao seu lado, do tempo de jogo que lhe é reservado, etc. Novamente azedando o clima no grupo. Pra piorar ainda andou declarando que era hora do time fazer mudanças.

A resposta do treinador também está chegando publicamente, afirmando em linhas gerais que o time precisa que seus craques joguem como craques.

Quem quer Jaromir Jagr? --
Durante as férias, havia uma grande expectativa de que Jagr seria negociado. Os Capitals o rifaram publicamente pela NHL e, evidentemente, o único mercado que o acolheria seria o New York Rangers. As negociações evoluíram bastante e, ainda que os Caps se dispusessem a assumir parte dos astronômicos US$ 55 milhões dos cinco anos restantes de contrato do tcheco de 31 anos de idade, não houve acordo com os Rangers.

O próprio jogador esteve a par das negociações: "Não eram rumores, esteve bem perto de acontecer, mas não aconteceu. Sou um jogador profissional e isso acontece todo dia. Meu trabalho é produzir no gelo, não importa o time em que eu jogar, e é isso que irei tentar fazer.

"Acontece. Por alguma razão eles tentaram me negociar. Talvez eu não tenha jogado o que eles esperavam, talvez sejam problemas financeiros ou talvez seja o locaute que está para acontecer no próximo ano. Muita coisa acontece, eles têm de tomar decisões e eles querem fazer o que for melhor para o time, e eu compreendo isso. Mas se você me perguntar se estou chateado quanto a isso, não, não estou. Cheguei aqui, estou feliz aqui e se acontecer [uma troca] na próxima semana, então vou arrumar minhas coisas e ir embora."

É um pouco de tudo isso, Jagr. Já se vão duas temporadas inteiras em Washington e não há uma alma que afirme que você seja merecedor do maior salário da liga. Os Caps devem estar realmente desesperados para cortar gastos, é natural. Afinal, trata-se de uma das maiores folhas salariais da NHL para um time que sequer consegue vencer uma rodada de playoffs. É sabido que a gerência também andou rifando Robert Lang e não teve sucesso. Nem se comprometendo a assumir o pagamento de parte do salário dele.

Se o "Tcheco-maravilha" não voltar a atuar como o MVP que já foi, é bem provável que os Caps reduzam significativamente o já reduzido preço dele no mercado e tornem a oferecê-lo, dessa vez de forma desesperada, liga afora. Triste cenário para quem já foi seguramente o melhor da NHL.

"Isso é um negócio", segue Jagr. "Se eu fosse o dono, eu tentaria a mesma coisa. Não há mágoa."

Mágoa sempre há, Jagr. Nem que seja uma pontinha.

Marcelo Constantino viu a linha de Ron Francis - Mario Lemieux - Jaromir Jagr jogar e afirma que foi uma das melhores químicas já vistas na última década da NHL.
 
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  AUGE Ainda como capitão do Pittsburgh Penguins, quando ainda era o melhor jogador em atividade na NHL (Jamie Squire/Allsport)
   
 
  DECLÍNIO Com outra camisa, atuando pelo Washington Capitals, time onde nunca mais reviveu os bons momentos de Pittsburgh (Elsa/Getty Images - 22/10/2003)

 

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Página publicada em 5 de novembro de 2003.