Por
Marcelo Constantino
A pergunta do título é feita por aqueles que, como eu, sempre esperam
ver Jaromir Jagr disputando a liderança da NHL em pontos, sempre no
topo da tabela de artilharia. Como ele sempre esteve, até ir jogar no
Washington Capitals.
Quando Mario Lemieux anunciou sua aposentadoria da NHL, em 1997, as
publicações esportivas que cobrem a NHL começaram a especular sobre
quem assumiria o legado do eterno camisa 66 como melhor jogador do mundo.
Várias eram as opções, Peter Forsberg, Paul Kariya, Eric Lindros (ele
mesmo) e Jaromir Jagr eram nomes que geralmente apareciam como "candidatos".
Foi o próprio Lemieux quem entregou a faixa. "Pittsburgh ainda tem o
melhor jogador do mundo", disse ele, numa referência direta a Jagr,
o então camisa 68 dos Penguins.
Se há três atacantes na NHL que podemos considerar como os mais importantes
da sua história, estes são Gordie Howe, Mario Lemieux e Wayne Gretzky.
Os dois últimos dominaram a conquista do Troféu Art Ross entre 1981
e 1997, liderando a liga em pontos temporada depois de outra. Gretzky
venceu dez vezes e Lemieux seis. Apenas um jogador quebrou esta regra
durante esse período: Jagr, em 1995.
Lemieux passou-lhe a faixa em 1997 e Jagr liderou a NHL em pontos nos
quatro anos seguintes. Diante de crescentes dificuldades econômicas
-- e de pedidos insistentes do próprio --, o Pittsburgh Penguins negociou
o craque para o Washington Capitals antes da temporada de 2001-2002,
e ele nunca mais foi o mesmo.
Já se vão os tempos da fantástica linha de [Ron] Francis - Lemieux -
Jagr, que tanto aterrorizou a liga na metade dos anos 90 pelos Penguins.
Jagr em Washington não consegue render nada próximo do que rendia em
Pittsburgh. Com exceção de um lampejo aqui e outro ali (como numa partida
em que marcou sete pontos, uma vitória por 12-2 sobre os Panthers
em janeiro de 2003), Jagr raramente tem sido aquele jogador dominante
a que todos estávamos acostumados.
O que há com ele? Difícil saber. Encher a boca para dizer "ele nunca
foi tudo isso" é negar sua história. Seja com ou sem Lemieux ao lado,
Jagr sempre foi um jogador dominante não apenas para os Pens, mas para
toda a NHL.
A gerência chegou a trazer Robert Lang e Kip Miller de Pittsburgh, em
grande parte para ver se conseguia fazer o tcheco voltar ao brilho de
outrora. Em vão. E não se pode dizer que o time do Washington dos últimos
anos é inferior ao do Pittsburgh dos últimos anos de Jagr.
Fosse a queda nos números resultado de um aprimoramento do jogo defensivo,
como acontece com vários jogadores de elite da liga, tudo bem. Mas não,
ele permanece como um jogador essencialmente ofensivo, ainda criticado
por dar pouca atenção aos aspectos defensivos do jogo. É verdade
porém, que em Washington -- como na maioria dos demais times
da liga -- o esquema de jogo não é focado em servir à
sua estrela principal, como era em Pittsburgh. São raros os times que
ainda se armam em função de um ou dois jogadores hoje em dia na NHL.
Mais raros ainda, se é que existem, são os que têm sucesso desta forma.
Seja isso, sejam os problemas pessoais advindos do fim do namoro, seja
qualquer outra coisa, ou seja uma mistura de tudo isso, o fato é
que já passou do tempo para o tcheco mostrar serviço.
Jagr, que já conseguiu fazer com que a gerência de Pittsburgh demitisse
o técnico Kevin Constantine, ultimamente tem sido visto discutindo com
o técnico dos Caps, Bruce Cassidy, e reclamando de tudo: de quem Cassidy
coloca na linha ao seu lado, do tempo de jogo que lhe é reservado, etc.
Novamente azedando o clima no grupo. Pra piorar ainda andou declarando
que era hora do time fazer mudanças.
A resposta do treinador também está chegando publicamente, afirmando
em linhas gerais que o time precisa que seus craques joguem como craques.
Quem quer Jaromir Jagr? -- Durante as férias, havia uma grande expectativa
de que Jagr seria negociado. Os Capitals o rifaram publicamente pela
NHL e, evidentemente, o único mercado que o acolheria seria o New York
Rangers. As negociações evoluíram bastante e, ainda que os Caps se dispusessem
a assumir parte dos astronômicos US$ 55 milhões dos cinco anos restantes
de contrato do tcheco de 31 anos de idade, não houve acordo com os Rangers.
O próprio jogador esteve a par das negociações: "Não eram rumores, esteve
bem perto de acontecer, mas não aconteceu. Sou um jogador profissional
e isso acontece todo dia. Meu trabalho é produzir no gelo, não importa
o time em que eu jogar, e é isso que irei tentar fazer.
"Acontece. Por alguma razão eles tentaram me negociar. Talvez eu não
tenha jogado o que eles esperavam, talvez sejam problemas financeiros
ou talvez seja o locaute que está para acontecer no próximo ano. Muita
coisa acontece, eles têm de tomar decisões e eles querem fazer o que
for melhor para o time, e eu compreendo isso. Mas se você me perguntar
se estou chateado quanto a isso, não, não estou. Cheguei aqui, estou
feliz aqui e se acontecer [uma troca] na próxima semana, então vou arrumar
minhas coisas e ir embora."
É um pouco de tudo isso, Jagr. Já se vão duas temporadas inteiras em
Washington e não há uma alma que afirme que você seja merecedor
do maior salário da liga. Os Caps devem estar realmente desesperados
para cortar gastos, é natural. Afinal, trata-se de uma das maiores folhas
salariais da NHL para um time que sequer consegue vencer uma rodada
de playoffs. É sabido que a gerência também andou rifando Robert Lang
e não teve sucesso. Nem se comprometendo a assumir o pagamento de parte
do salário dele.
Se o "Tcheco-maravilha" não voltar a atuar como o MVP que já foi, é
bem provável que os Caps reduzam significativamente o já reduzido preço
dele no mercado e tornem a oferecê-lo, dessa vez de forma desesperada,
liga afora. Triste cenário para quem já foi seguramente o melhor da
NHL.
"Isso é um negócio", segue Jagr. "Se eu fosse o dono, eu tentaria a
mesma coisa. Não há mágoa."
Mágoa sempre há, Jagr. Nem que seja uma pontinha.
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Marcelo
Constantino viu a linha de Ron Francis - Mario Lemieux - Jaromir
Jagr jogar e afirma que foi uma das melhores químicas já vistas
na última década da NHL. |
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AUGE Ainda como capitão
do Pittsburgh Penguins, quando ainda era o melhor jogador em atividade
na NHL (Jamie Squire/Allsport) |
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DECLÍNIO Com outra
camisa, atuando pelo Washington Capitals, time onde nunca mais reviveu
os bons momentos de Pittsburgh (Elsa/Getty Images - 22/10/2003) |
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