Por
Alexandre Giesbrecht
Certa vez, alguns meses antes de ser trocado para os Capitals, Jaromir
Jagr, ainda defendendo os Penguins, declarou estar "morrendo vivo".
Isso porque liderava a artilharia da liga, que acabou ganhando ao final
da temporada de 2000-01. Ele passou a declarar abertamente que não
queria mais jogar em Pittsburgh, e a sua saída foi inevitável,
não apenas por seu desejo, mas também pela lastimável
situação financeira do time de Mario Lemieux.
Jagr foi parar em Washington, terra do time que ele tantas vezes havia
ajudado a eliminar dos playoffs na década anterior. Recebido
como ídolo, ganhou de presente um contrato de sete anos, valendo
a bagatela de US$ 11 milhões por temporada. Nada mau. Mas a produção
do jogador tcheco foi decepcionante. Em 2001-02, ele afundou junto com
o time, que sequer se classificou para os playoffs. Na temporada seguinte,
claudicaram até a sexta vaga no Leste, mas foram eliminados pelo
Tampa Bay Lightning em seis jogos – depois de vencer os dois primeiros
fora de casa.
Nesta temporada, o início é tão ou mais desolador.
O time venceu bem sua primeira partida, 6-1 em cima dos Islanders, mas
parou por aí. Seguiram-se um empate e quatro derrotas. Jagr,
que marcou quatro pontos nas duas primeiras partidas, não produziu
mais nem uma mísera segunda assistência. E o time despencou
na fraca Divisão Sudeste, só não segurando a lanterna
porque os Hurricanes conseguiram dois empates e duas derrotas.
Dois grandes motivos para esse mau início são a fraca
defesa e a produtividade dos principais astros do time. Entre eles,
Jagr. Na defesa, o único que vem rendendo bem é Steve
Eminger, justamente o mais jovem, com 19 anos. Ele é, aliás,
um dos três jogadores da equipe que ainda não completaram
a segunda década de vida.
Mas os holofotes sempre vão estar voltados para Jaromir Jagr.
Por seu currículo e salário, ele teria de liderar o time
em busca da Copa Stanley, mas não é isso que se tem visto.
Seus infinitos problemas psicológicos cada vez mais interferem
na sua produção no gelo. A imprensa tcheca tem feito um
escarcéu do seu rompimento com a ex-Miss Eslováquia Andrea
Veresova, sua namorada havia muitos anos. Seus compatriotas também
demonstram preocupação pelo fato de Jagr estar, pela primeira
vez, morando sem a sua mãe.
"Todo mundo vive coisas assim na vida. Eu também",
disse Jagr. "Não é uma sensação muito
boa. Eu não tenho superpoderes; Sou um cara normal. Quando algo
assim acontece, eu diria que é mais difícil para alguém
que trabalha fisicamente, como um jogador de hóquei, porque você
perde sua força. Sua mente não está lá,
e seu corpo não é o mesmo. Você tenta, de algum
jeito, se concentrar no hóquei."
Diz-se que Jagr adoraria uma troca para os Rangers, como tem sido cogitado
desde o fim da última temporada, mas é improvável
que algum time – mesmo os eternamente milionários e fracassados
Rangers – estejam dispostos a investir US$ 55 milhões nos
cinco anos restantes de contrato, ainda mais num jogador sempre sujeito
a mudanças radicais de humor que afetam o seu jogo. Quando foi
para Washington, ele já havia pedido para ser trocado, e acreditava-se
que ele voltaria aos seus melhores dias, mas não foi isso o que
aconteceu.
Ele teve dificuldades para adaptar-se à nova cidade, à
nova comissão técnica, a um esquema defensivo. As táticas
dos Capitals não eram centralizadas nele, como acontecia em Pittsburgh.
Na temporada passada, o técnico estreante Bruce Cassidy decidiu
dar mais liberdade a Jagr, focando nele a maioria das estratégias
ofensivas do time. Não funcionou, e ele acabou marcando dois
pontos a menos em relação a 2001-02. Sua pontuação
em cada uma das suas duas temporadas na capital americana só
não foi pior que seus dois primeiros anos na liga e que a temporada
de 1994-95, quando os times disputaram apenas 48 jogos, por causa do
locaute (por sinal, o mesmo que ameaça a liga para o ano que
vem).
"Você não pode esperar que eu tenha os mesmos números
que eu tinha em Pittsburgh", disse Jagr. "Eu não acho
que ninguém seja capaz [de marcar 120 pontos aqui], nem mesmo
Mario [Lemieux], e eu acho que ele é o maior [jogador] de todos
os tempos. A maioria dos jogadores não conseguiria ser o artilheiro
da liga com certos times."
Para esta temporada, a postura mudou. Jagr não é mais
o foco do ataque, e seu tempo de gelo tem diminuído, assim como
sua participação nas vantagens numéricas. Na última
sexta-feira, ele teve uma discussão feia com Cassidy no banco,
durante a derrota para o Dallas por 4-2. O ambiente entre os demais
jogadores não parece ruim para ele, mas o compatriota Robert
Lang, companheiro de time desde os tempos de Pittsburgh, notou que,
desde a pré-temporada, Jagr tem estado mais calado, fazendo menos
piadas, talvez reflexo da depressão que o acompanha desde o fim
do namoro com Veresova.
Jagr é um caso à parte, já que, ao contrário
da maioria dos jogadores, ele parecia mais maduro aos 23 anos que agora,
aos 31. Algo funcionava para ele antes e hoje não funciona mais.
Ele sabe disso. Só não sabe como fazer para se recuperar,
levando consigo os Caps.
|
Alexandre
Giesbrecht, publicitário, estava empolgado com os playoffs
do beisebol até ver Chicago Cubs e Boston Red Sox eliminados. |
|
|
|
|
"MORRENDO VIVO" DE NOVO?
Jaromir Jagr conseguiu quatro pontos nos dois primeiros jogos, mas
depois não fez mais nada (Joel Richardson/Washington Post) |
|