Edição n.º 54 | Editorial | Colunas | Rankings da Slot | Notas | Fotos
 
24 de outubro de 2003
Caps afundam junto com Jagr

Por Alexandre Giesbrecht

Certa vez, alguns meses antes de ser trocado para os Capitals, Jaromir Jagr, ainda defendendo os Penguins, declarou estar "morrendo vivo". Isso porque liderava a artilharia da liga, que acabou ganhando ao final da temporada de 2000-01. Ele passou a declarar abertamente que não queria mais jogar em Pittsburgh, e a sua saída foi inevitável, não apenas por seu desejo, mas também pela lastimável situação financeira do time de Mario Lemieux.

Jagr foi parar em Washington, terra do time que ele tantas vezes havia ajudado a eliminar dos playoffs na década anterior. Recebido como ídolo, ganhou de presente um contrato de sete anos, valendo a bagatela de US$ 11 milhões por temporada. Nada mau. Mas a produção do jogador tcheco foi decepcionante. Em 2001-02, ele afundou junto com o time, que sequer se classificou para os playoffs. Na temporada seguinte, claudicaram até a sexta vaga no Leste, mas foram eliminados pelo Tampa Bay Lightning em seis jogos – depois de vencer os dois primeiros fora de casa.

Nesta temporada, o início é tão ou mais desolador. O time venceu bem sua primeira partida, 6-1 em cima dos Islanders, mas parou por aí. Seguiram-se um empate e quatro derrotas. Jagr, que marcou quatro pontos nas duas primeiras partidas, não produziu mais nem uma mísera segunda assistência. E o time despencou na fraca Divisão Sudeste, só não segurando a lanterna porque os Hurricanes conseguiram dois empates e duas derrotas.

Dois grandes motivos para esse mau início são a fraca defesa e a produtividade dos principais astros do time. Entre eles, Jagr. Na defesa, o único que vem rendendo bem é Steve Eminger, justamente o mais jovem, com 19 anos. Ele é, aliás, um dos três jogadores da equipe que ainda não completaram a segunda década de vida.

Mas os holofotes sempre vão estar voltados para Jaromir Jagr. Por seu currículo e salário, ele teria de liderar o time em busca da Copa Stanley, mas não é isso que se tem visto. Seus infinitos problemas psicológicos cada vez mais interferem na sua produção no gelo. A imprensa tcheca tem feito um escarcéu do seu rompimento com a ex-Miss Eslováquia Andrea Veresova, sua namorada havia muitos anos. Seus compatriotas também demonstram preocupação pelo fato de Jagr estar, pela primeira vez, morando sem a sua mãe.

"Todo mundo vive coisas assim na vida. Eu também", disse Jagr. "Não é uma sensação muito boa. Eu não tenho superpoderes; Sou um cara normal. Quando algo assim acontece, eu diria que é mais difícil para alguém que trabalha fisicamente, como um jogador de hóquei, porque você perde sua força. Sua mente não está lá, e seu corpo não é o mesmo. Você tenta, de algum jeito, se concentrar no hóquei."

Diz-se que Jagr adoraria uma troca para os Rangers, como tem sido cogitado desde o fim da última temporada, mas é improvável que algum time – mesmo os eternamente milionários e fracassados Rangers – estejam dispostos a investir US$ 55 milhões nos cinco anos restantes de contrato, ainda mais num jogador sempre sujeito a mudanças radicais de humor que afetam o seu jogo. Quando foi para Washington, ele já havia pedido para ser trocado, e acreditava-se que ele voltaria aos seus melhores dias, mas não foi isso o que aconteceu.

Ele teve dificuldades para adaptar-se à nova cidade, à nova comissão técnica, a um esquema defensivo. As táticas dos Capitals não eram centralizadas nele, como acontecia em Pittsburgh. Na temporada passada, o técnico estreante Bruce Cassidy decidiu dar mais liberdade a Jagr, focando nele a maioria das estratégias ofensivas do time. Não funcionou, e ele acabou marcando dois pontos a menos em relação a 2001-02. Sua pontuação em cada uma das suas duas temporadas na capital americana só não foi pior que seus dois primeiros anos na liga e que a temporada de 1994-95, quando os times disputaram apenas 48 jogos, por causa do locaute (por sinal, o mesmo que ameaça a liga para o ano que vem).

"Você não pode esperar que eu tenha os mesmos números que eu tinha em Pittsburgh", disse Jagr. "Eu não acho que ninguém seja capaz [de marcar 120 pontos aqui], nem mesmo Mario [Lemieux], e eu acho que ele é o maior [jogador] de todos os tempos. A maioria dos jogadores não conseguiria ser o artilheiro da liga com certos times."

Para esta temporada, a postura mudou. Jagr não é mais o foco do ataque, e seu tempo de gelo tem diminuído, assim como sua participação nas vantagens numéricas. Na última sexta-feira, ele teve uma discussão feia com Cassidy no banco, durante a derrota para o Dallas por 4-2. O ambiente entre os demais jogadores não parece ruim para ele, mas o compatriota Robert Lang, companheiro de time desde os tempos de Pittsburgh, notou que, desde a pré-temporada, Jagr tem estado mais calado, fazendo menos piadas, talvez reflexo da depressão que o acompanha desde o fim do namoro com Veresova.

Jagr é um caso à parte, já que, ao contrário da maioria dos jogadores, ele parecia mais maduro aos 23 anos que agora, aos 31. Algo funcionava para ele antes e hoje não funciona mais. Ele sabe disso. Só não sabe como fazer para se recuperar, levando consigo os Caps.

Alexandre Giesbrecht, publicitário, estava empolgado com os playoffs do beisebol até ver Chicago Cubs e Boston Red Sox eliminados.
 
  "MORRENDO VIVO" DE NOVO? Jaromir Jagr conseguiu quatro pontos nos dois primeiros jogos, mas depois não fez mais nada (Joel Richardson/Washington Post)

 

 

Edição atual | Edições anteriores | Sobre The Slot BR | Contato | Envie esta matéria para um amigo
© 2002-03 The Slot BR. Todos os direitos reservados.
É permitida a republicação do conteúdo escrito, desde que citada a fonte.
Página publicada em 22 de outubro de 2003.